O Filho dos Mares escrita por Lieh


Capítulo 3
Annabeth VS. Annabeth


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!



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Já era fim de tarde. Eu estava sentada na porta do meu chalé, ainda com os pensamentos vidrados no que Grover havia me contado.

Não vou dizer que eu não estava ansiosa para a noite, onde tudo seria decidido. Mas eu também estava numa verdadeira luta interna, literalmente falando.

De um lado, estava a Annabeth que se orgulha de si mesma; a que pensa pela lógica e vê soluções simples para os problemas que a outra Annabeth transforma no monstro mais indestrutível. 

Senhoras e Senhores, na arena de combate Annie Racional!

Combatendo do outro lado da minha mente, está a Annie que só enxerga aquilo que deseja sem se importar com nada, que faz tempestade em copo d’água, e o mais grave para uma filha de Atena: toma atitudes sem pensar.

Apresento a vocês, Annie Sem Noção.

E lá vamos nós ao primeiro round da briga dessas duas pessoas que ao mesmo tempo são uma, que acabaram por resolver se dividir e transformar minha mente num ringue de boxe. E eu era a juíza.

Annie Racional se posicionava para os primeiros golpes. Avançou para Annie Sem Noção com um gancho de direita pronto para acertar bem no meio da cara dela berrando:

“Annabeth Chase, me escute! É ridículo essa sua preocupação com esta missão. Você não é obrigada a aceitar, não é da sua conta. Nossa mãe não vai apoiar você nessa empreitada. E mais: Você parou para pensar que como filha de Atena, se você for inventar de entrar num barco, Poseidon vai transformá-la em espuma do mar?! Pense Annabeth, e não deixe essa louca dentro de você domar suas atitudes. Você vai se arrepender desta missão guarde minhas palavras. Outras oportunidades virão, tenha paciência. Você esperou tanto tempo, então você pode esperar muito mais. Não seja precipitada e tola!”.

Com isso, Annie Racional concluiu seu gancho de direita, derrubando Annie Sem Noção no ringue. Ela se levantou em posição defensiva dos golpes de Annie Racional. Desviou dos socos da adversária, abaixou-se pronta para dar um uppercut*, desferindo:

“Annabeth, não dê ouvidos a ela! Essa é a sua chance, você não vai ter outra oportunidade como essa na sua infeliz vida! E daí que você tem que salvar um filho de Poseidon?! Grande merda! Salve o idiota do semideus que se perdeu e prove que você não é uma inútil! Assim você terá mais chances de conseguir outras missões, sua boba! Não foi assim com Luke e Clarisse? Os dois começaram com missões insignificantes como essa! Em se tratando de nossa mãe, ela não vai ser cruel a ponto de atrapalhar sua vida, tudo pode ser negociado no diálogo. Você vai convencê-la!”

Enquanto terminou de falar, Annie Sem Noção desferiu o uppercut acertando em cheio o queixo de Annie Racional que tentou desviar, fracassando. Ela caiu de cara no chão praguejando os piores xingamentos em grego, e estou fazendo um grande favor a você em não repeti-los aqui.

Não precisei fazer aquele negócio de contar o tempo, pois Annie Racional se levantou e se posicionou novamente. O gongo soou e as duas voltaram a desferir socos, golpes e todas as demonstrações de carinho e amor que vemos numa luta de boxe.

Estava um caos! Uma dor de cabeça infernal se apoderou da minha mente, latejando e girando junto com a briga de Annie VS. Annie. Eu estava pirando.

- Argh, parem com isso! – gritei frustrada, batendo o pé e segurando a cabeça.

- Annabeth? – uma voz maravilhosamente conhecida me chamou.

Ah, deuses, agora que eu quero ir para o Mundo Inferior! Já falei que eu posso ser útil a Perséfone?

Senti meu rosto esquentar quando olhei para cima e dei de cara com um par de olhos castanhos claros, quentes e aconchegantes me encarando.

-Ah... Oi Luke.

Devo estar parecendo muito estúpida ou muito louca, porque Luke franziu as sobrancelhas para mim. Claro, tirando o fato de que eu estava gritando comigo mesma, ninguém ia pensar que eu enlouqueci. Hum-Hum.

- Você está bem, Annie? Parece cansada...

- Não é nada, só uma dor de cabeça passageira.

Ótima desculpa a minha. Luke já está acostumado em ouvir isso de mim, ele até brinca dizendo que eu penso demais e deveria dar férias ao meu cérebro. Naquele momento era o que eu mais queria.

Luke deu um sorriso de compreensão. E francamente falando, mesmo não sendo um sorriso de todos os dentes à mostra, foi o suficiente para fazer o meu coração disparar. Conheço-o há muitos anos, e desde pequena sempre o achei bonito, não vou mentir. Mas antes disso, eu o admiro muito.

Eu sempre quis ser corajosa, e tão boa espadachim como ele. Praticamente tudo o que eu sei de luta eu aprendi com Luke. Além disso, ele me protegeu e cuidou de mim quando eu era criança.

O sol estava se pondo e refletindo-se no cabelo cor de areia do meu amigo, deixando-o levemente dourado. Era um rapaz alto e atlético por treinar bastante. A única coisa que poderia ser considerada assustadora nele era a singular cicatriz branca que ia embaixo do olho direito até o queixo, como um corte de faca.

Luke se sentou ao meu lado no batente do chalé, observando os últimos raios de sol se esconder nas nuvens. A vista do acampamento era realmente linda, pois lá no horizonte era possível ver as águas do mar da praia do estreito de Long Island, e mais a frente, as colinas, misturando-se ao barulho do riacho e o cheiro da plantação de morangos.

Estava perfeito. Eu desejava do fundo do meu coração que aquele momento durasse para sempre. Luke sempre perto de mim, nós dois apreciando, juntos, aquela bela paisagem coroada pela inspiração de Apolo.

Suspirei de contentamento. Luke, que tinha os olhos fixos no horizonte, se virou para me encarar, feliz por compartilhar comigo aquele momento só nosso.

No entanto, sua expressão de repente ficou franzina, obscura. Ele passou a me fitar com um olhar penetrante.

- Luke? – o chamei.

- Annabeth, você gostaria que tudo isso durasse para sempre?

Não entendi o porquê daquela pergunta. Tive a leve impressão que ele sabia o que eu estava pensando.

- Você sabe Luke que por mim, certas coisas não mudariam – corei, esperando sinceramente que ele não tenha percebido – É difícil para mim, aceitar mudanças. Não sei dizer se isso é algo louvável ou um defeito meu... – Parei, olhando novamente para o horizonte escurecido. De alguma forma, eu não estava gostando do rumo daquela conversa. Algo em mim dizia que as coisas iam mudar. O problema é que eu nunca estarei preparada para mudanças.

Eu sabia que era covardia da minha parte querer que tudo durasse para sempre. Eu sabia que as pessoas mudam, o mundo muda constantemente, e que somos nós que temos que nos adequar a vida.

Eu sabia disso, entretanto, nunca compreendi e aceitei.

Porque eu tenho medo.

Essa é a grande verdade que eu jamais admitiria para Luke ou qualquer pessoa. Eu tenho medo de não conseguir me adequar ao mundo e suas mudanças, de não conseguir me encaixar, de me encontrar. Tudo iria evoluir melhorar, enquanto eu iria permanecer do jeito que estou: fraca.

Estremeci com esses pensamentos, estes os mais sombrios da minha mente, que eu fazia questão de empurrá-los para o canto mais obscuro tentando ao máximo não pensar neles.

Encarei Luke que olhava fixamente para o chão, ainda com aquela expressão sombria. Seja lá o que estivesse pensando, eram tão animadores quanto os meus FPC instigantes.

- Algumas mudanças são para melhor, Annie – começou ele olhando para mim dessa vez com um semblante mais suave – Às vezes é tão fácil se adequar quanto respirar, porque você nem percebe que alguma coisa mudou. Sua vida continua a mesma, assim como os seus sonhos e desejos. Nem todas as mudanças são ruins... – Ele suspirou olhando de forma distante para o horizonte – Algumas são necessárias... Mas não ruins.

Mordi o lábio inferior encarando o perfil de Luke. Definitivamente eu não estava gostando daquela conversa, porque senti um arrepio na espinha nada agradável, fazendo os pêlos dos meus braços eriçarem.

Nunca senti receio ou algo próximo do medo na presença dele, mas aquele silêncio aterrador foi uma exceção. Mesmo com a brisa quente de verão, anunciando a chegada da noite, ainda sim senti um frio anormal.

Levantei-me suspirando.

- Acho que é melhor nós irmos nos aprontar para o jantar... – declarei.

A expressão de Luke suavizou com aquele seu sorriso compreensivo... Porém, não era natural, era quase forçada.

- Pense no que eu disse Annabeth. Um dia você vai entender e verá que tenho razão. Até daqui a pouco.

Assim, meu grande amigo se retirou para o chalé de Hermes, deixando-me estática no meu lugar encarando suas costas.

Novamente o frio anormal e o arrepio na espinha se manifestaram.

Como líder do chalé de Atena, eleita por unanimidade mesmo eu não sendo a mais querida, porém a campista com mais verões, eu tinha como tarefa organizar os meus irmãos para nos dirigirmos para o pavilhão do refeitório. Nessa hora do dia, ou melhor, da noite, quando todos se encontram após um dia inteiro de atividades, é que aproveitamos para deixar o chalé em ordem. Falando assim até parece que nós campistas no geral somos muito organizados...

Doce engano seu.

Praticamente todos os chalés, com uma exceção talvez do chalé de Afrodite, estão sempre uma verdadeira bagunça. Quando eu digo bagunça, é uma bagunça mesmo. E pode ter certeza que eu e os meus outros irmãos estamos na lista de bagunceiros do acampamento, não no título de campeões, pois o chalé de Hermes detém a fama de bagunceiros desde sempre.

Mas posso dizer que a bagunça do meu chalé tinha um justificativa plausível: não era uma bagunça qualquer, era uma bagunça organizada! Além do mais, eram coisas muito úteis e interessantes que ficavam espalhados pelo cômodo em que todos partilhavam, podendo ser chamado de uma espécie de sala bem ampla. Talvez os dormitórios fossem os únicos que seguiam os padrões de bagunça comum.

Então, antes do jantar, aproveitávamos o intervalo para deixar tudo bonitinho, mas é claro que eu vou dizer que cooperávamos uns com os outros e não brigávamos durante a arrumação.

Outro engano seu.

Meus irmãos discutem. Bastante. E eu, particularmente por ser a líder era a que mais discutia.

Provavelmente foi por isso que Grover se assustou um pouco quando chegou à porta do chalé e me encontrou tendo uma conversa agradável com meu querido irmão, Malcom.

- Eu já falei, e eu não vou repetir: esses mapas têm que ficar em cima das prateleiras! Se ficar em cima das mesas vai criar sujeira!

- Mas Annabeth – argumentava Malcom – Toda vez que nós precisarmos desses mapas vai bagunçar as prateleiras mexendo neles! Os mapas têm que ficar nas mesas! É muito mais fácil de alcançar...

Mesmo zangada com meu irmão, não pude deixar de rir com seu argumento. É que o coitadinho não foi abençoado com o pó de crescimento...

- Olha Malcom, me escuta: você não quer que algum bicho entre aqui no chalé e faça desses montes de mapa um ninho, ou coisa pior, né?

Meu irmão franziu as sobrancelhas com uma careta. No chalé de Atena é regra é essa: quem tem melhor argumento tem suas vontades correspondidas. Não era só por ser a mais velha que eu era a líder.

Grover pigarreou chamando minha atenção. Malcom continuava com a cara de quem comeu e não gostou, saindo então para terminar a faxina. Dirigi-me a porta e cumprimentei meu amigo sátiro.

- Ei, menino-bode! Vejo que já está melhor.

A aparência de Grover estava bem melhor do que da última vez que eu o vi naquela tarde. Os arranhões no rosto não passavam de finas cicatrizes, os cascos estavam sem as bandanas. Só o braço que continuava enfaixado.

- É já estou melhorando... Eu vim perguntar Annabeth se você não quer me acompanhar na reunião do Conselho agora. – Ele engoliu em seco, me encarando de forma suplicante. Senti pena dele. E claro que eu iria acompanhá-lo, não ia o deixar passar por isso sozinho.

- Claro, Grover, eu só me pergunto se vão me deixar assistir a audiência.

- Ah, deixam sim, você é minha amiga, não se preocupe.

Grover olhou ansioso para a floresta mexendo no braço machucado. Respirei fundo dando um sorriso de encorajamento para ele.

- Espere só um minuto que nós já vamos está bem?

Ele assentiu, enquanto eu entrava novamente no meu chalé. Procurei Malcom e o avisei para continuarem a faxina que eu iria resolver uns problemas. Não lhe dei detalhes, mesmo que meu irmão tenha ficado se roendo de curiosidade. Alguns dos meus companheiros me olharam feio quando me viram abandonar a arrumação. Dane-se, Grover era mais importante naquele momento, depois eu me entenderia com os meus irmãos.

Juntei-me ao meu amigo sátiro nos dirigindo para a floresta. O percurso não era longo, mas pareceu que foram horas, porque nós dois ficamos num silêncio tenso. Já havia escurecido há um tempinho, o que deixava o clima bem assustador. Ao longe era possível ouvir o barulho dos grilos e da correnteza do riacho, mas mesmo essa demonstração de vida não me deixou mais tranqüila.

Entramos numa pequena trilha de folhas secas, cortada  bem no meio de densas árvores. Lá na frente um conjunto de folhas formava um portal para a entrada de uma pequena clareia, e como eu vivia há muito tempo no acampamento eu sabia que atrás daquela clareia era possível chegar ao rio.

Adentramos, já com todos os participantes da audiência presentes, incluindo os três anciãos sátiros, Quíron e o Senhor D. Algumas dríades e naíades também estavam presentes.

Os anciãos olharam para Grover quando ele entrou no campo de visão deles. O ancião do meio não parecia contente com o que via.

- Está atrasado há dez minutos, Sr. Underwood.

 As orelhas de Grover ficaram vermelhas.

- Desculpe senhor.

- O que esta meio-sangue faz aqui? – perguntou o sátiro da direita. Eu não me recordava os seus nomes, pois eu sempre fazia confusão. Eles eram muito parecidos.

-Estou o apoiando, senhor. Grover é meu amigo – respondi de forma corajosa, encarando os três sátiros firmemente.

- Que seja, vamos começar logo com isso porque eu quero jantar.

Adivinhem quem disse isso? Se você disse senhor D acertou!

 Hoje e como sempre ele continuava com as suas vestes havaianas com estampas de tigre, bermudas e sandálias, sentado, ou melhor, esparramado numa cadeira de praia, deixando sua volumosa barriga em destaque. O senhor D seria um ótimo garoto propaganda de marca de sandálias, tipo as Havaianas ou alguma cerveja.

A imagem que me veio à mente era hilária e precisei de todo o meu autocontrole para segurar o riso: Dionísio num comercial de TV da Brahma, no meio de uma roda de pagode na praia, cheia de mulheres de biquíni, com ele levantando uma garrafa dizendo: “Brahma, resfreca até pensamento!”

Que horror!

Já pode parar Annabeth, eu deixo.

Ok.

- Sr. Underwood, aproxime-se.

Grover olhou para mim e eu tentei lhe transmitir o melhor sorriso de encorajamento, murmurando “Boa sorte”.

Meu amigo foi até o que parecia ser o centro da clareia, se posicionado em frente aos anciãos do Conselho seguidos Quíron e o senhor D, ficando de costas para mim. Quanto a mim, fiquei um pouco atrás dele, próximo a uma bela dríade que olhava fixamente para a cena que se desenrolaria a seguir.

O sátiro do meio, que eu acabei lembrando que se chamava Sileno, dirigiu-se a Grover:

- Sr. Underwood, explique-se sobre o fracasso de sua missão e o porquê do meio-sangue que lhe foi designado a proteger e escoltar até o acampamento não estar presente.

Grover estremeceu nervosamente, iniciando sua narrativa, os mesmos fatos que contou a mim naquela tarde. Não vou dizer que vê-lo tão aflito e nervoso não me deixou no mesmo estado. Porém a dríade que estava próxima a mim parecia que ia desmaiar a qualquer momento.

Após alguns minutos, Grover concluiu a sua história. O silêncio que se instaurou foi tenso, antecipando as palavras dos conselheiros. Os três sátiros estavam sussurrando freneticamente. Ficaram assim por mais alguns minutos o que me deixou muito impaciente e mais nervosa.

Em dado momento, Quíron também entrou na conversa, mas por mais que eu apurasse meus ouvidos não era possível entender o que diziam, e eu temia me aproximar mais. Achariam que eu já estava abusando, já que não era nem para eu estar presente. Dionísio continuava esparramado na cadeira parecendo entediado só prestando atenção na conversa.

As dríades e naíades também estavam tendo sua assembléia particular, discutindo sobre o que Grover havia contado. Elas não falavam de forma baixa como os outros. Meu velho amigo sátiro parecia entender a discussão do conselho, pois ele estava mexendo novamente no seu braço enfaixado, significando que não era algo de bom. Eu conhecia Grover o suficiente para saber que quando ele está nervoso tende a ter tics.

Passado alguns instantes que pareceram horas, o conselho encerrou a assembléia particular, dirigindo-se novamente para Grover. Dessa vez o sátiro da direita que perguntou o que eu estava fazendo lá, Leneu, dirigiu-se:

- Sr. Underwood, o senhor tem consciência que essa foi a sua segunda chance, em decorrência do fracasso total de sua última missão. – Ele parou olhando para mim, deixando-me constrangida e com raiva. Ele estava falando de Thalia, Luke e eu, claro. – Portanto, o correto seria que nós não o deixássemos receber nenhuma missão por um longo tempo, ficando o senhor confinado no acampamento por tempo indeterminado, sendo decidido posteriormente a carreira que o senhor iria seguir o que já deixo bem claro que não seria a de Buscador de Pã.

Grover baliu nervoso, apoiando-se de um casco para outro. A dríade ao meu lado soltou um soluço alto, fazendo meu amigo se virar para ela. Ele disse alguma coisa quase inaudível, e pela leitura de seus lábios percebi que ele disse “Júniper”. Ela por sua vez sufocou outro soluço. Não entendi.

Leneu olhou desdenhoso para a dríade que parecia se chamar Júniper, fazendo-a se encolher, continuando:

- Contudo, e o senhor tem que dar graças aos deuses por isso, Quíron convenceu o conselho a lhe dar uma última chance. E essa é a última mesmo, Sr. Underwood. Fracasse e as chances de você conseguir sua licença de Buscador será zero. Para isso, o senhor terá que trazer o meio-sangue perdido sã e salvo para o acampamento, podendo pedir ajuda a algum campista...

O sátiro da frente, Sileno riu de forma irônica. O sátiro da esquerda, que eu me lembrei que se chamava Maron, parecia entediado. Minha raiva era tanta que eu já estava enxergando tudo vermelho. Vamos ver se ele continuaria com esse sorrisinho irônico se eu o colocasse num espeto! Se bem que carne de sátiro não deve ter um gosto muito bom...

Eca! Eu não ia querer comer esse burro!

- Por fim, Sr Underwood – continuou Leneu – Termine sua missão de forma satisfatória. O senhor não tem um histórico muito bom. Então aproveite essa oportunidade. O senhor pode partir amanhã. Essa reunião está encerrada.

- Graças aos deuses! – exclamou o senhor D levantando-se e indo em direção ao bosque levando sua cadeira de praia.

Quíron sorriu para Grover de forma encorajadora. Não sei qual foi a resposta dele, porque não vi sua expressão. Ele se virou para onde eu estava juntamente com a dríade chamada Júniper, que parecia bem mais calma, porém seu semblante ainda demonstrava preocupação.

- Bom, não é tão ruim – comentei com ele, nós dois já próximos – Além do mais você pode pedir ajuda...

- Sim, Annabeth, mas que campista vai aceitar essa missão junto comigo?

Olhei de forma nervosa para as árvores. Eu ainda estava em conflito comigo mesma sobre aquela missão, mas eu ainda não havia cogitado a possibilidade de Grover me querer como companhia. Mas era o que estava parecendo porque ele olhou de forma muito significativa para mim.

Júniper aproximou-se mais chamando por Grover. Os dois se dirigiram para um canto mais afastado da clareia, conversando rapidamente.

Levantei uma sombrancelha. Estava acontecendo alguma coisa entre esses dois que eu não estava sabendo.

Já estava me retirando em direção ao bosque perto da trilha, quando Quíron aproximou-se de mim trotando ao meu lado.

- Vejo que é um resultado já esperado – começou ele – Grover vai se sair bem se tiver as companhias certas. Apenas dois campistas, obviamente, com um deles liderando – Ele olhou de esguelha para mim fazendo o meu estômago dar voltas. – Após o jantar vou convocar uma reunião com os líderes do chalé e oferecer a missão. E eu espero sinceramente, Annabeth que você aceite.

Eu parei de caminhar bem no meio da trilha de folhas secas, com Quíron na minha frente, fitando-me.

- Quíron, eu desejo a missão, você sabe disso. Mas...

- Mas?

- Eu não posso – suspirei frustrada – Não posso me aventurar em alto mar e ainda por cima salvar um filho de Poseidon.

- Ora que isso, Annabeth. Não deixe os conflitos entre sua mãe e o Deus do Mar influenciar sua decisão. Esses problemas se restringem aos dois, os filhos de ambos não têm nada a ver com isso. Em relação ao seu temor ao mar, acho que pode ser resolvido com uma pequena oferta a Poseidon – Continuamos a andar dessa vez em silêncio.

Quando já estávamos chegando à área dos chalés, Quíron voltou-se novamente para mim:

- Pense nisso, Annabeth. E não tema o que Lady Atena vai achar. Tudo pode ser resolvido no diálogo. – Ele piscou de forma marota e continuou andando me deixando sozinha com os meus pensamentos.

Suspirei em frustração. A briga dentro de mim, entre os meus eu só ficou pior. Annie Racional VS Annie Sem Noção gritavam e se batiam dentro de mim.

Enquanto a minha decisão final ficava cada vez mais confusa.

Mas eu não tinha tempo. Eu precisava terminar a faxina do meu chalé, meus irmãos não estavam nada contentes em eu tê-los deixado, enquanto a reunião de Quíron seria dali a pouco, depois do jantar.

Eu tinha que decidir, e uma vez decidida eu não ia voltar atrás.

Algo dentro de mim já dizia a resposta para aquele conflito. Resolvi ouvi-lo e seguir seus conselhos.

Então me decidi.

A Annie Perdedora caiu no ringue com um belo cruzado de direita, enquanto a Annie Vencedora pulava em vitória.

*N/A Uppercut: golpe desferido de baixo para cima visando atingir o queixo do oponente.


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