_ Estou aqui. O que quer? – falou soprando um ar gelado no ouvido de quem a libertava da solidão.

Um garoto franzino e pálido feito cera olhava para mim. Estaria ele assustado com a minha aparência, pois na verdade não via meu reflexo e não sabia como me apresentava. Ele ajeitou os óculos de meia-lua como que para confirmar a minha presença e dispôs-se a falar confiante.

_ Eu só queria confirmar se essa lenda urbana era verdadeira. Espera um pouco! – o garoto pegou algo em se bolso e o apontou para mim – Diga “xiiisss”!

Um brilho ofuscante saiu tornando meu humor mais que ácido.

_ Agora vou para casa! Tchau fantasma.

Ele deu “adeuzinho” e desceu a escadaria para o primeiro andar, mas quando deu por si havia retornado para a mesma escadaria do segundo andar, na ala norte, mais precisamente, sorriu malicioso, onde estava.

_ Ma-maneiro! – ele gaguejou e agora não parecia mais tão confiante. – Isso foi mu-muito legal, mas agora eu quero ir pra casa!

_ Esse é o seu desejo? – olho para ele com cara de poucos amigos. – Talvez devesse pensar melhor porque para isso existe um mas... Está pronto para trocá-lo por sua alma?

_ Como é que é?

_ Você é retardado ou o quê? Tenho que  soletrar pra você entender? T-r-o-c-a-s-u-a-a-l-m-a-p-e-l-o-d-e-s-e-j-o-d-e-i-r-p-a-r-a-c-a-s-a.

_ Isso não é justo!

_ Bem... A vida não é justa mesmo senão você estaria aqui no meu lugar.

_ Mas como vou para casa sem alma?

_ Nossa! Palmas para ele... – aplaudiu entusiasmada. – Agora você apresentou o Q.I de um gênio da lâmpada maravilhosa. Simples! É um acordo.

Ele continua com cara de um ponto de interrogação.

_ Você quer ir para casa, mas para isso precisa me ajudar. Se conseguir desvendar porque estou aqui estará em sua casa, do contrário eu fico com a sua alma e será como se nunca tivesse existido. Ah! E para que não pense que existe outra opção sua alma será minha do mesmo jeito se não concordar.

_ Eu hein! Lê pensamentos?

_ Quase!

_ Parece que se não estou frito ficarei assado. Vamos começar do princípio. Eu me chamo Sora Takenaka. E você? Quem foi? Sabe o seu nome?

_ Humm. Não, mas me lembro da história que meu pai me contava para dormir: “Era uma noite escura e sem estrelas. Somente o luar iluminava o céu noturno, mas em vez de plácida e translúcida, uma lua tingida de sangue nos iluminava. Sua mãe dormia na cadeira de balanço enquanto esperava pela minha volta tardia do trabalho. A barriga protuberante de seis meses  mexia enquanto respirava tranqüilamente dormindo o sono dos justos. Aproximei-me devagar para não assustá-la e com um sorriso fui recebido. Enfim... Ela me disse: Sonhei com uma menina! E já escolhi um nome. Quero que ela tenha uma alma forte que sobreviva às trevas. E por isso se juntam duas sílabas (Trevas) e (Alma), mais o sobrenome (Ray).”

_ Ah! Pudera. Por isso você parece um pouco diferente, é mestiça. Ray é o sobrenome do seu pai, suponho. Mas se foi sua mãe quem escolheu o nome para você então seu primeiro nome deve ser em japonês... Preciso de um dicionário. Tudo bem se for até a minha sala?