Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 20
Capítulo 20 - O nosso lugar secreto


Notas iniciais do capítulo

"Como peças de um quebra-cabeça, os sentimentos entre eles se conectavam e se sobrepunham, encaixando-se perfeitamente. Estavam enfim completos."



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Segurando Chiharu pelo braço, Utau andou da maneira mais discreta que podia pelo mesmo caminho onde viu Nadeshiko e Tadase se esgueirando. Entre a curiosidade infinita e o bom senso, ela ficava eternamente com o primeiro, e arrastava a inocente Chiharu com ela sem pensar duas vezes nisso. As duas entraram pela viela afastada, e viram os dois jovens andando lado a lado, lentamente, aproveitando o fato de estarem longe de olhares especulativos ali naquela rua mais afastada. Eles estavam pouco mais a frente, e Utau mal conseguia ouvir o que falavam, mas se fosse para mais perto, seria pega no flagra.

— Que chato, eles só estão caminhando um do lado do outro, e conversando… não estão nem dando as mãos… - Utau franziu os olhos, espionando pelo canto da casa que ficava na esquina do beco. Chiharu se abaixou, para espiar também – O que será que eles estão falando…? Vamos, Chiharu! Eu quero ouvir…

Ela segurou a garota pelo pulso e elas se aproximaram apenas um pouco, ocultas por uma coluna da construção que era mais elevada que as outras. Viram Tadase e Nadeshiko conversando amigavelmente, como os velhos conhecidos que eram, pelo caminho. Não havia nada demais nisso, ao que parecia. A viela era meio escura e completamente deserta exceto por eles quatro, mas os dois não pareciam se importar nem um pouco com isso.

— Ela é bonita… parece ser tão refinada… - Chiharu observou, com o tom de voz contido – Por que alguém como ela está em um lugar assim?

Utau ficou surpresa com a repentina demonstração de interesse de Chiharu, que estava sempre tão apática e parecendo fora de lugar, mas tentou não esboçar reação, ou ela poderia acabar constrangida.

— Eles são amigos de infância, e algo me diz que já tiveram alguma coisa um com o outro, mas a família dela é contra… - Utau resumiu rapidamente, e Chiharu pareceu ainda mais curiosa, com os olhos azuis-claros brilhando tenuamente. – Então, parece que eles estão se encontrando escondido ou algo assim… Ah, eles estão falando algo… - ela apurou os ouvidos, e a garota menor fez o mesmo.

— … você se lembra, Hotori-kun, de quando nós vínhamos por esse caminho? Você sempre dizia que era perigoso, e que devíamos ir pelo caminho mais longo, mas eu prefiro muito mais esse atalho…

— Eu preferia o caminho mais longo por que queria ficar mais tempo com você… - Tadase murmurou timidamente. Nadeshiko ofegou, corando e virando o rosto.

— É isso aí, Tada-chan! – Utau vibrou, muito orgulhosa das iniciativas do seu pequeno Tadase. Ele estava evoluindo tão rápido, ela estava tão feliz por isso.

— Tada-chan? – Chiharu ergueu os olhos, na dúvida se Utau estava falando da garota ou do garoto.

— Você saberia quem é se fosse à escola como deveria… - Utau aproveitou para comentar, e Chiharu virou o rosto, constrangida – O Tadase é o garoto. Ele seria seu colega de aula, vocês poderiam até ser amigos.

— N-não fale assim, Utau-san… - ela baixou a voz.

— Ei, você não quer ver eles? Eu acho que a Nadeshiko está levando o Tadase para algum lugar… - Utau voltou a olhar para frente, mas eles estavam ainda mais afastados, e ela não escutava o que diziam.

— Eles namoram? – Chiharu sussurrou, ainda curiosa.

— Eu espero que sim… - Utau soltou uma risada estranha, e Chiharu, por um breve momento, sentiu medo dela. – Ah, olha, eles estão se afastando…

Utau olhou ao redor, mas não havia nenhum lugar onde pudesse se esconder, para seguir os dois sem que fosse vista, e começou a se desesperar, louca para saber o que eles faziam. Se Nadeshiko estava ali, e com Tadase, então provavelmente havia saído escondida. Nagihiko jamais permitiria… Mas se eles estavam ali, haviam combinado de se encontrar… Como haviam feito para se comunicar? E ainda, o que eles estavam planejando… será que iriam namorar escondido? Ah, era tanta coisa que ela precisava saber! E eles estavam se afastando, lentamente pelo caminho, deixando-a para trás sem as suas respostas.

— Hey… - Chiharu chamou em voz baixa, puxando a manga do casaco de Utau – Se eles acabaram de ir por ali, por que aquela garota está do outro lado? – ela apontou para a rua, e Utau quase engasgou. Nagihiko estava se aproximando rapidamente, e pelo que parecia, pretendia vir naquela direção. Isso era ruim, muito ruim.

— Hm… Olá, Souma-san… - Nagihiko estancou, ao ver Utau agachada atrás de uma parede, acompanhada de outra garota que ele não conhecia. Ela se ergueu, colocando-se na frente do garoto, como se quisesse interromper a visão que ele tinha daquela rua lateral. – O que faz por aqui?

— E-eu estou levando a minha prima para conhecer a cidade… Essa é Hoshina Chiharu, ela está morando lá em casa agora… - Utau apresentou, visivelmente nervosa, e Chiharu tremia dos pés à cabeça, olhando nervosamente para Nagihiko, e de volta para o caminho atrás delas, onde já não se via mais ninguém. Ela não estava entendendo o que acontecia, mas não era boba de não perceber que Utau tentava distrair Nagihiko, talvez. Lembrou que ela disse que a família de Nadeshiko não aprovava o tal relacionamento, e esse garoto, isto se fosse mesmo um garoto, deveria ser irmão dela, evidentemente. Eles eram idênticos, embora o garoto não tivesse aquele mesmo ar de delicadeza e perfeição ao seu redor, ainda era lindo, e parecia nervoso.

— Prazer em conhecê-la – ele se curvou rapidamente, e Chiharu fez apenas um pequeno sinal com a cabeça – Etto… vocês por acaso viram a minha irmã? Ela saiu para fazer compras, mas não encontro ela em loja alguma…

Aí estava, uma das desvantagens de morar numa cidade que era um ovo. Claro que Nagihiko já devia ter rodado em todas as lojas do lugar, e Nadeshiko não estaria em nenhuma. Era impossível fazer qualquer coisa escondida em um lugar como aquele.

— Não, não vi ninguém. Não é Chiharu-chan? – Utau cutucou a garota, que mal tinha coragem de levantar os olhos do chão. Ela parecia mais um chihuahua, tremendo e se encolhendo toda.

— Ah, então está bem. Eu vou indo. Foi um prazer conhecê-la, Hoshina-san – ele disse novamente, e ia se encaminhar para o lado da viela.

— O-onde você vai?! – Utau praticamente se jogou em cima dele, segurando-o pelos ombros. Nagihiko recuou, quase em choque, temendo pela saúde mental de Utau. Ela parecia fora de si. Ele não a conhecia assim tão bem, mas ela parecia tão mais… normal… vista de longe. Ele sentia pena de Kukai por ter que conviver com uma irmã assim. Em contrapartida, ter que cuidar de Nadeshiko não era nada demais. – Por que está indo por aí?

— Por essa rua atrás de você. É um atalho para a minha casa… - ele respondeu, já quase perdendo paciência.

— Para… a sua casa? – Utau o encarou, incrédula. Mas se aquele caminho levava à residência dos Fujisaki, o que raios Tadase estava fazendo indo para lá? – Você não pode ir agora! – Utau segurou Nagihiko, quando ele fez menção de sair novamente.

— Por quê? – ele já estava exasperado, completamente sem ação diante daquele bloqueio inesperado. Chiharu, logo atrás de Utau, parecia apenas estar pedindo desculpas, com um olhar de absoluto arrependimento por ter aceitado vir junto com a prima no fim das contas.

— Eu não vi a Nadeshiko, mas quem sabe ela não parou para comer alguma coisa? Vamos olhar no café, ela pode estar lá! E então, a gente aproveita e toma um café também, a Chiharu-chan disse que estava morrendo de fome, não é, Chi-chan?

— E-eu… - Chiharu nem teve a chance de responder, pois Utau a interrompeu com um gesto.

— Obrigado pelo convite, Souma-san, mas eu tenho que…

— Ah, vamos, é só um café! – Utau insistiu, virando Nagihiko para que ele não olhasse mais para aquela rua – Nós temos muitas coisas para conversar, e você pode conhecer melhor a Chi-chan, ela precisa fazer mais amigos! Vamos, vamos! Vai ser divertido~ – ela foi puxando Nagihko pelo braço, sem dar a ele a chance de responder, e Chiharu a seguiu com seus passinhos rápidos e curtos, completamente levada pela sequencia rápida de eventos. Tadase estava devendo uma à Utau.


~


Enquanto Utau levava Nagihiko para longe, Tadase e Nadeshiko seguiam o seu caminho, completamente alheios ao fato de que estavam correndo perigo de serem pegos. Estavam felizes por estar juntos, e esqueciam-se de todos os problemas do mundo lá fora, apreciando plenamente a companhia um do outro.

Provavelmente, Tadase não deveria estar indo com Nadeshiko logo para a casa dela. De todos os lugares, aquele certamente era o mais perigoso… e o mais proibido para ele. Se a mãe dela por acaso o visse por perto, ele nem conseguia imaginar o que poderia acontecer. E ainda mais, se ela o visse na companhia de Nadeshiko. Ele seria, no mínimo, exilado do país, em algum lugar como a Groelândia, ou qualquer coisa assim.

Mas havia um bom motivo para eles estarem indo diretamente para lá. Um lugar especial, para os dois, que Nadeshiko desejava revisitar junto com Tadase. A casa na árvore onde eles brincavam quando crianças, a sua “base secreta”. Ela ainda estava lá, no bosque que circundava a propriedade dos Fujisaki. Mesmo que não fizesse sentido isso, Nadeshiko queria ir lá de novo. Queria ir lá com Tadase. Aquele local era especial para eles, e era onde estavam as suas melhores lembranças da infância. Ela queria reencontrar com aquela criança que um dia havia sido, e Tadase estaria com ela em todos esses momentos.

Depois de seguir pela viela estreita entre os dos prédios, o caminho se estreitava, e começava a descer. A rua era pavimentada por pedrinhas redondas, que se encaixavam umas nas outras, e árvores altas circundavam todo o caminho, juntando seus galhos no topo, formando uma espécie de túnel verde. A luz que penetrava pelos ramos entrelaçados e chegava até ali era quase etérea. Tadase se lembrava de correr por aquela rua, para ir visitar Nadeshiko, e imaginar que estava em algum reino mágico, onde ele era o Rei que corajosamente avançava pela floresta mágica, para resgatar sua linda Princesa das garras de um terrível dragão. Era tudo tão mais simples quando ele pensava dessa forma…

Nadeshiko caminhava distraidamente, olhando para a luz acima, e Tadase mal podia acreditar que ela estava ali, novamente, tão bela como sempre. Como uma maravilhosa obra do destino, eles haviam retornado para aquela mesma cidade, naquele mesmo caminho… Ela estava ali, ao seu lado, depois de tantos anos… E sim, os sentimentos que ele sempre nutriu por ela não haviam diminuído com a passagem do tempo. Pelo contrário, esses sentimentos cresceram junto com ele, e no fundo, eles sempre deram a ele a certeza de que um dia eles voltariam a se encontrar.

Tadase esticou o braço. Apenas alguns poucos centímetros, e as costas dos seus dedos tocaram delicadamente na mão dela. Ela estremeceu, com o rosto ficando em chamas instantaneamente. Tadase sorriu com afeição, avançando para um pouco mais perto dela, e entrelaçando seus dedos.

— H-hotori-kun… - Nadeshiko ofegou, com o coração batendo rápido, mas não afastou sua mão da dele.

— Já faz muito tempo que eu quero andar assim com você de novo… - Tadase confessou, timidamente.

— E-eu… também… -ela admitiu, e apertou a mão dele com mais força, aproximando-se até que pudesse escorar a cabeça no ombro de Tadase. Lembrou que quando eram crianças, e saiam correndo de mãos dadas por aquele mesmo caminho, Tadase costumava ser bem menor do que ela e que Nagi. Mas agora, ele era pouca coisa mais alto. Seus ombros também eram mais largos, e ele tinha um comportamento muito mais maduro. Não era mais o garotinho que chorava cada vez que caia nas pedras. Mas aqueles olhos brilhantes e cálidos, de um vermelho doce e gentil… esses nunca mudaram, em todos os seis anos que estiveram separados.

Logo puderam avistar a cerca de madeira que rodeava a floresta. Era uma cerca precária, levando em conta como era a casa da família Fujisaki, mas aquilo apenas marcava a divisa das terras, e ainda havia um muro de pedras enormes que dividia a mansão do resto da floresta, mais a frente. Os dois pularam a cerca facilmente, e parecia muito menos complicado agora que eram mais altos e menos desajeitados do que quando pequenos. Tadase não largou a mão de Nadeshiko nem mesmo nesse momento.

Os dois conseguiram encontrar facilmente a trilha marcada no chão de terra, entre as folhagens rasteiras e as árvores típicas da região. O caminho aos poucos se tornara conhecido, e de repente, era como se a passagem do tempo fosse inexistente. Os dois sorriam com saudosismo, ao serem recebidos por aqueles cantos familiares dos passarinhos, e pelas árvores que continuavam as mesmas.

— Olha, Hotori-kun! – Nadeshiko exclamou, apontando para uma delas – Lembra, quando nós decidimos marcar o caminho até a casa na árvore? – ela mostrou um pedaço de tecido vermelho desbotado, desgastado pelo tempo, amarrado em um galho baixo. Poucos metros à frente, em outra árvore, havia mais um pedaço de tecido da mesma cor, e na outra mais adiante, o mesmo acontecia.

— Ainda está aqui… - Tadase sorriu com a recordação. Havia sido ideia dele, marcar o caminho para não se perderem. Nadeshiko trouxe um vestido antigo, que não servia mais nela, e foi isso o que eles usaram para demarcar todo o trajeto. Nagihiko ia à frente, liderando a excursão, como sempre. Nadeshiko cortava uma tira do tecido, e Tadase amarrava na árvore. Ele lembrava que ela havia repreendida pela mãe depois disso, por estragar suas roupas, e ficou quase uma semana sem poder sair para brincar. Tadase sempre se culpou por isso, afinal, a ideia fora sua… mas Nadeshiko não parecia ligar para isso nenhum pouco.

Enquanto ele tocava no tecido envelhecido, tomado pelas lembranças da infância, Nadeshiko não conseguiu mais se conter, e fez aquilo desejava ter feito desde o dia em que reviu Tadase pela primeira vez, na padaria. Ela segurou com força o casaco que ele usava, abraçando-o pelas costas, sentindo todo o corpo dele junto ao seu.

— F-fujisaki-san… - Tadase arquejou.

— Eu queria… abraçar você, desde que cheguei… - ela confessou, em voz baixa. Tadase virou para ela, rodeando-a em um abraço apertado e necessário. Ele também, queria a mesma coisa. E, se os dois queriam o mesmo, por que eles ainda não estavam juntos, como desejavam tanto? Por que haviam tantos obstáculos, tantas interferências…? Eles teriam que enfrentar muitas coisas, juntos, para enfim ser felizes da maneira que desejavam, isso era fato.

— Vamos? Antes que fique tarde… - ele sussurrou, calmamente. Nadeshiko acenou com a cabeça, e sem soltá-lo do abraço, os dois continuaram a caminhar. Mais do que nunca, pareciam um casal de namorados. Tadase desejava ardentemente que fossem oficialmente um, e então não se sentiria tão inseguro cada vez que ouvisse outros garotos falando sobre Nadeshiko, ou quando Nagihiko dizia que ele não tinha o direito de perguntar sobre ela, já que eles não tinham nada a ver um com o outro. Na verdade, Tadase queria mais do que qualquer coisa uma maneira de provar a todos que Nadeshiko era dele, e somente dele. Era um desejo egoísta, ele sabia disso. Mas não podia evitar. Apesar de tudo, ele era meio egoísta com as coisas que gostava.

Não muito tempo de caminhada depois, eles puderam divisar em meio à clareira, a maior árvore do lugar, onde estava a modesta casa de madeira construída nos seus galhos. Estava deteriorada pelo tempo, e muitas plantes cresciam entre as frestas, tomando conta de quase toda ela. A escada que levava até lá em cima ainda estava ali, embora faltassem alguns degraus.

— Está aqui… - os olhos de Nadeshiko brilharam, e ela começou a lacrimejar, apenas de olhar para aquele lugar. As recordações inundavam sua mente, e ela se agarrou ao braço de Tadase com força. Queria tanto poder voltar, àquele tempo onde não havia tristeza, não havia problemas a se preocupar, onde tudo era belo e simples. Tadase a abraçou, e ela sentiu o peso que sentia em seu coração se aliviar. Ela estava em casa novamente, estava nos braços daquele que amava. Tudo estava começando a dar certo…

— Parece muito menor do que eu me lembrava… - Tadase comentou, acariciando de leve os ombros da garota, e ela sorriu.

— É por que nós crescemos… - ela respondeu, e suspirou.

— Você quer subir lá? – ele indagou, avaliando rapidamente o estado das madeiras que formavam a escada até em cima. Apesar do tempo que passou, ainda estavam firmes, e aguentariam o peso deles dois, ele já sabia.

— Eu quero! – ela exclamou, e já foi tomando a frente para subir. O seu sorriso se iluminou, e Tadase teve um vislumbre da garota animada e pequena com quem brincava ali naquele lugar. Nadeshiko juntou a barra do vestido branco que usava, que ia até abaixo dos joelhos, e como estava usando uma bota de couro marrom, de amarrar, não teve problemas em escalar a velha escada de madeira.

A subida foi muito mais fácil do que costumava ser antes, e logo que ela se firmou no topo da casa, Tadase começou a subir. Enquanto ele avançava, ela se esgueirou para dentro do recinto, onde mal conseguia caber, mesmo sentada. Passou a mão pelas tábuas, vazias, e percebeu que não havia nenhum dos objetos que eles costumavam deixar ali. Revistas velhas, bonecas, bolas carrinhos… Nadeshiko lembrava que o lugar era cheio de coisas, um verdadeiro arsenal de brinquedos. Mas agora estava vazio. Na verdade… estava estranhamente vazio. Limpo… Em um lugar como esse, não deveriam ter se instalado insetos, plantas, aranhas…?

— Espero que não se importe, Fujisaki-san… - Tadase chamou timidamente, assim que conseguiu subir – Mas, eu estive aqui logo que cheguei na cidade… Limpei a casinha, e levei as coisas velhas que estavam aqui…

— Você fez isso? – ela não parecia zangada pela evidente invasão de propriedade, mas absolutamente admirada com a atitude de Tadase.

— Sim. Eu não aguentei ver esse lugar tão deteriorado como estava, queria fazer alguma coisa para recuperar aquelas memórias. – ele sorriu, aproximando-se dela. O espaço não era amplo o suficiente para que os dois entrassem juntos, então ele sentou com as pernas para o lado de fora da porta.

— Obrigada, Hotori-kun… por ser tão cuidadoso… com esse lugar… e comigo… Obrigada… - ela sorriu docemente, segurando a mão dele com ambas as suas, de maneira carinhosa. – Cada vez mais, eu posso ver que fiz a escolha certa, naquela época, e agora…

— Escolha?

— Sim… Você, Hotori-kun, é a minha escolha. – Nadeshiko corou ligeiramente, e levantou o olhar – Eu quis voltar para o Japão, para ter a oportunidade de vê-lo novamente. Eu não sabia onde você estava, mas tinha esperança de que uma hora fossemos nos encontrar de novo. E então, quando eu cheguei… você já estava aqui! Eu mal pude acreditar… - ela se aproximou um pouco mais, tirando a mecha de cabelo que caia na frente dos seus olhos, para enxergar Tadase melhor – Isso só faz com que eu acredite ainda mais nesse destino que nos uniu… e é por isso que eu sei que fiz a escolha certa… quando me apaixonei por você…

— Fujisaki-san! – Tadase sussurrou, surpreso com aquelas palavras. Desejou ouvir isso por tanto tempo, e agora, estava ali, diante dele. Ele queria ter tido a oportunidade de dizer antes, de ver o rosto dela mudar quando enfim dissesse em voz alta as palavras que tanto sonhou em dizer, que passou horas e horas desperto, imaginando como seria o momento perfeito. Mas na vida não existem roteiros perfeitos, e ele não deveria desperdiçar mais nenhuma oportunidade. Já havia perdido tempo demais até agora. – Você sabe, não sabe? Que eu amo você… desde aquela época, até agora… eu nunca deixei de te amar. Você é a pessoa mais importante para mim, o meu tesouro mais precioso… - ele fechou os olhos, acariciando o rosto de Nadeshiko e tocando suas testas. Seus corações batiam em uníssono, como trilha sonora daquele instante tão esperado por ambos. No seu mundo perfeito, só existiam eles dois, e aquela base secreta. Não necessitavam de mais nada.

— Eu também amo muito você… - ela murmurou com sua voz melódica, e Tadase sorriu nervosamente, sentindo que o momento certo estava se aproximando. Sua frequência cardíaca estava tão alta que provavelmente quebraria um medidor, e ele mal podia sentir o ambiente ao seu redor. Nadeshiko estava tão perto agora… seu perfume doce, de flores, o inebriava completamente, ele nem sabia mais ao certo o que fazia ou o que pensava. A pele dela era tão macia… e os olhos dourados, cor-de-mel, tão cintilantes…

Antes que percebesse, ou sequer entendesse o que estava fazendo, Tadase sentiu a maciez dos lábios dela tocando os seus. Ele havia a beijado? Ou fora ela quem terminou com a distância entre eles? Já não importava mais. Tadase fechou os olhos e aprofundou o toque, segurando com delicadeza o rosto de Nadeshiko ao trazê-la para mais perto. Seu mundo estava completo de novo.

Como peças de um quebra-cabeça, os sentimentos entre eles se conectavam e se sobrepunham, encaixando-se perfeitamente. O sonho que sempre tivera tornou-se realidade, Nadeshiko fechou os olhos assustada, abraçando com força o garoto a sua frente, como se temesse que ele fosse sumir assim que voltasse a abri-los. Deixou que Tadase invadisse seus lábios, de forma inexperiente e quase desajeitada, os dois se descobriam um pouco mais. As lágrimas de alegria transbordaram dos seus olhos sem o seu consentimento, e todas as cicatrizes causadas pela brusca separação pareciam nunca ter existido.

Nadeshiko ainda tinha medo de abrir os olhos, quando eles enfim se afastaram. Queria gravar cada milésimo de segundo daquele sonho em sua mente, e temia que tudo fosse desaparecer em um instante, assim que alcançasse.

— Eu estou aqui… - ouviu a voz suave de Tadase tranquilizando-a, e a mão dele segurando a sua. Ele acariciou uma mecha do seu cabelo, e ela abriu os olhos lentamente. Lá estava ele, bem à sua frente, com o seu sorriso lindo. Ela podia ver claramente. Não enxergava nada além dele. Seu coração se preencheu com aquele sentimento único, aconchegante, familiar… que só ele era capaz de proporcionar.

— Eu sei que você está aqui… - ela suspirou, aliviada. Sorriu, então, e pulou para os braços de Tadase. A casa de madeira rangeu com o movimento, e os dois estancaram, repentinamente temerosos de que tudo fosse desabar. Mas nada aconteceu, e eles apenas riram, da mesma forma despreocupada e divertida de uma criança, que não precisa se preocupar com nada.

Depois de tanta angústia, ela encontrara o seu sonho, aquilo pelo qual tanto ansiara. Ela sentia medo, como sempre… mas havia alcançado Tadase, de alguma forma, seus sentimentos estavam unidos agora. Eles enfrentariam o que fosse para estar juntos. Iriam juntos rumo ao amanhã, e jamais olhariam para trás. Nesse mesmo lugar, mesmo que mais dez anos se passassem. Mesmo que tivessem que lutar contra o mundo todo. Por que eles tinham um ao outro para se apoiarem, e ninguém mais iria se colocar entre eles.










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Notas finais do capítulo

Ya~hoo~ minna-san! Shiroyuki desu~~ ヽ(゜∇゜)ノ

Eu sei que o capítulo demorou, mas as minhas aulas começaram, e eu ainda tenho trabalho, meu horário aumentou, e eu estou sem tanto tempo quanto tinha antes. Com os trabalhos da faculdade pra fazer, e mais outras coisas, eu fico cansada e sem inspiração nenhuma pra escrever... mas vou tentar compensar com capítulos maiores, talvez~

Esse capítulo foi todo Tadashiko, então vou dedicar ele à Teffy-senpai, que ama esse casal e anda impaciente com as minhas demoras~ espero que isso te deixe mais feliz, senpai!
(づ ̄ ³ ̄)づ ~ se não resolver, eu embrulho o Nagi em papel celofane e te mando pelo correio, okay? //apanha

Bem, particularmente eu acho esse capítulo muito fofo, e se não me falha a memória (ela quase sempre falha) é um dos meus primeiros Tadashikos, com assim, a Nadeshiko sendo uma garota de verdade. Isso é estranho '-' Mas espero que tenha ficado bom~~

Vou ficar aqui ansiosa, esperando pelos reviews de vocês!! (ノ ̄ー ̄)ノ

matta nee~