Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 19
Capítulo 19 - Obrigada e volte sempre


Notas iniciais do capítulo

Garota estranha eu estou rodeado de garotas estranhas - ele suspirou, fechando os olhos e se esticando para tirar mais uma soneca, antes de ter que começar a trabalhar duro. Ah, isso seria difícil, pelo jeito



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168480/chapter/19

— Ohayo… - com os cabelos completamente em desordem, parecendo um cenário de pós-guerra, e a camiseta enorme e desajustado no corpo que ela usava como pijama, Utau adentrou a cozinha arrastando as pantufas fofas e cor-de-rosa.

— Ohayo, Utau-chan… - Souko respondeu amavelmente, completamente disposta mesmo àquela hora, o que seria impensável em outros tempos – Dormiu bem?

A resposta para essa pergunta era “não” mas Utau não queria preocupar Souko. Era sábado, e ela agradecia aos céus por não ter tido que levantar cedo, mas ultimamente andava dormindo muito mal. Realmente, a casa dos Souma havia se tornado um tipo de albergue nos últimos dias… Chiharu agora dividia o quarto com Utau, e Kukai dormia no chão da sala. O sofá ainda era propriedade de Ikuto.

Apenas isso não seria um problema realmente, mas Chiharu não era muito de falar, e estava sempre calada, o que tornava a convivência com ela no mesmo cômodo algo desagradável, e até certo ponto, perturbador. Na verdade, ela e Utau não havia trocado mais do que duas palavras naquele pequeno período, e essas palavras eram em resumo “bom dia” e “boa noite”.

No entanto, por mais que estivesse incomodada com a situação, não havia como Utau culpá-la por isso, afinal. No acidente de carro que havia ocorrido no mês anterior, os pais de Chiharu haviam morrido, e eles eram agora a única família que ela possuía. Sem tios, sem avós, nem ninguém mais, ela passou esse tempo todo no hospital esperando alguém que pudesse cuidar dela, até que Souko se dispôs a ficar com a garota, assim que foi contatada.

Devia ser muito difícil para ela, Utau não podia calcular o quanto, depois de tudo, ainda ter que ficar na casa de completos estranhos, dessa forma. Mesmo sabendo disso, porém… Utau não conseguia calar aquela vozinha egoísta no fundo da sua mente, que ainda sentia falta de dormir com Kukai no mesmo quarto. Não era a mesma coisa dormir sem os resmungos ou o som da respiração dele ao seu lado, Chiharu era silenciosa demais… e Utau havia se acostumado com o Kukai barulhento e agitado sempre com ela. Corando furiosamente com esse pensamento, ela desviou a atenção abrindo a geladeira para pegar o leite, forçando-se a parar de pensar nisso.

– O que está fazendo, okaa-san? – indagou, virando-se para pegar o cereal no armário.

Souko estava sentada na mesa da cozinha, com um jornal aberto na seção de classificados, e alguns deles estavam circulados em vermelho. Ela ergueu os olhos e sorriu para a filha, antes de responder.

— Com o Ikuto-chan e a Chiharu-chan vindo morar com a gente, essa casa ficou muito pequena, não é Utau? Eu e Tohru-san pensamos que deveríamos arrumar uma casa maior…

— M-mas… eu gosto daqui! – Utau exclamou, incoerentemente. Souko riu por um tempo, achando incrível que Utau pudesse ter passado a gostar de uma casa da qual ela tanto reclamava no início. O fato é que todas as boas memórias de Utau vinham dessa casa velha e pequena, e ela se sentia insegura de se desfazer delas logo agora.

— Eu também gosto dessa casa… mas não há o que fazer, certo? Kukai-kun não pode ficar dormindo no chão para sempre! Vai ser um pouco difícil agora, mas se nós economizarmos, podemos conseguir um bom lugar. Veja só essa, é bem perto da escola…

Utau já não ouvia mais nada, e se resignou a comer seu cereal em silêncio, enquanto sua mãe desdobrava toda a informação conseguida de imobiliárias da cidade, que não eram realmente muitas. Ela não queria ter que se mudar, mas também não aguentava ter tanta gente morando num lugar que obviamente não servia para todos eles. Era egoísta querer ficar daquela forma apenas por causa das suas próprias vontades irracionais. E Utau estava lutando muito para deixar de ter pensamentos egoístas como esses ultimamente.

— Ohayo… - uma voz inexpressiva e baixa veio da porta, sobressaltando a loira logo quando ela estava pensando consigo mesma se seria maldade expulsar Ikuto de casa e dar o sofá para Chiharu.

— Ah, ohayo, Chiharu-chan… - Utau tentou ser simpática, mas a garota apenas virou o rosto, e caminhou até a fruteira, pegando uma maçã e começando a comer em silencio. Ela estava ainda tão pálida e desanimada como no dia em que chegou, mas as olheiras abaixo dos seus olhos pareciam mais fundas, e eles estavam bem inchados e um tanto vermelhos também.

“Ela passou a noite chorando de novo…” Utau concluiu por si só. Desde que começaram a dividir o quarto, não era incomum acordar no meio da madrugada e ouvir os soluços baixinhos vindos do banheiro.

— Ara, você está pronta para começar a ir na escola segunda-feira, Chiharu-chan? Eu já fiz a sua matrícula, só falta conseguirmos o seu uniforme… - Souko contou, animada.

— Arigatou gozaimasu – Chiharu respondeu num sopro de voz, quase inaudível. Ela baixou os olhos, e Utau tinha certeza de que a última coisa que passava na cabeça da garota era a escola.

— Você está em que série? – Utau tentou iniciar uma conversa cordial, e Souko a aprovou com o olhar pela iniciativa. Chiharu parecia surpresa por terem demonstrado interesse nela tão repentinamente.

— Nono ano, do ginásio – ela respondeu, com a voz baixa e rouca pela falta de uso.

— Você vai ser colega dos meus amigos, então! Da Amu, da Rima, do Nagi e do Tadase também! – Utau exclamou – Se você quiser, eu posso apresenta-los para você, e então você já terá conhecidos na sala de aula.

— Obrigada, não é necessário. Eu estou bem… - a garota corou ligeiramente, baixando o olhar desconfortavelmente para a maçã em suas mãos. Utau pensou que talvez tivesse exagerado na animação, depois de tudo, e sentiu-se meio patética em suas tentativas de ajudar Chiharu. Ela não tinha a menor noção de como lidar com esses assuntos delicados.

— Ah, Utau-chan! – Souko pareceu lembrar-se de algo, ao reparar que a filha já havia terminado de comer – Acorde o Kukai-chan, eu quero colocar o futon para tomar sol! E você, Chiharu-chan, não quer me ajudar com o jardim hoje?

Enquanto Souko levava Chiharu para o lado de fora, Utau se encaminhou para a sala, espreguiçando-se e bocejando longamente. No chão, Kukai ainda roncava, espalhado no futon de qualquer jeito, com os braços e pernas pro lado de fora. E o sofá onde Ikuto geralmente dormia até o meio-dia, ainda mais em dias como aquele, estava absolutamente vazio. Estranho. Onde aquele garoto teria ido a essa hora da manhã?

— Hoy, Kukai… - Utau cutucou-o com o pé nas costelas – Você viu aonde o Ikuto foi?

— Hm… - ele resmungou, virando-se e dormindo novamente. Utau pisou nele com mais força, chacoalhando por um momento.

—Heeyy, Kukai! Acorda, garoto! Eu estou falando com você!

— Não… hmm, Utau… n-não toque aí… nós não podemos… alguém… pode ver…

— IDIOTA, QUE MERDA VOCÊ TÁ SONHANDO AÍ?!?! –  um chute direto no estômago, e Kukai estava completamente desperto, sentado sobre o futon,  envergado e encolhido, sem nem saber o que havia feito para merecer um tratamento tão áustero logo de manhã.

— Bom dia pra você também Utau…? – ele levantou os olhos sonolentos, sem ligar para o fato de ter apanhado sem razão aparente, já acostumado a ser tratado dessa maneira.

— Idiota, você deveria parar de pensar em besteiras e acordar logo! – Utau colocou as mãos na cintura, sem querer se deixar abalar pelo fato de Kukai ser um maldito nudista que dormia sem camisa - Onde o Ikuto foi?

— E como é que eu vou saber? – ele foi levantando lentamente, tentando enrolar o futon para um canto – Ah, Bom dia Chiharu-chan… - murmurou para a pequena garota que os observava silenciosa e inexpressivamente do portal que dava acesso à cozinha. Desde quando ela estava ali?

— Hunf, coloque logo uma camiseta, estúpido! – Utau ordenou, antes de sair em direção ao seu quarto para trocar de roupa. Estava no meio do caminho da escada, quando ouviu um barulho vindo da porta dos fundos.

— Bom dia, família… - Ikuto murmurou, retirando o casaco e pendurando no encosto de uma cadeira. Utau curvou-se pelo corrimão da escada, para enxerga-lo.

— Onde você estava, garoto! Você não acorda tão cedo desde que estudava, e ia apenas para dormir na sala de aula que eu sei! – Utau exclamou, fitando-o apenas por uma parte que conseguia enxergar por baixo da porta.

— Eu arrumei um emprego. – ele respondeu simplesmente, dando de ombros.

— O QUE?! – Kukai, Utau e até Souko, que estava ocupada com outra coisa, exclamaram ao mesmo tempo. Chiharu olhou de um para o outro, assustada.

— O que foi? É tão estranho assim eu arrumar um trabalho? É apenas como atendente da loja de conveniência, nada demais…

— Querido… você não precisava fazer isso só por que eu disse que estávamos com alguns probleminhas! Eu e o Tohru-san podemos cuidar disso sozinhos… - Souko exclamou, segurando o filho, que era mais alto do que ela, pelos ombros.

— Eu queria fazer isso. Ficar em casa o dia inteiro cansa, e… eu não queria ser um peso para você, kaa-san, é isso... – ele virou o rosto, seguindo caminho pela sala. Souko sorriu, cheia de orgulho pelo seu filhinho prestativo, embora seu senso de mãe apitasse, dizendo que não era apenas isso.

— Não acredito que contrataram você! O que eles tem na cabeça? – Utau admirou-se, e Ikuto teria bagunçado ainda mais seus cabelos se ela não estivesse no alto da escada. Ela riu, ainda achando aquela ideia absurda. Só acreditaria quando visse com seus próprios olhos Ikuto usando um uniforme!

— Você diz isso por que não viu a outra funcionária de lá. Uma chata. Consegue ser mais chata do que você, e parece saída de um catálogo de roupas para visual-kei. Em uma cidade desse tamanho, você não pode negar que é no mínimo escandaloso, certo? – ele explanou, jogando-se no sofá. – E ela ficou me ignorando o tempo todo que eu estava lá, enquanto o dono me mostrava as coisas…

— E era bonita pelo menos? – Kukai indagou, animado, mas quando viu o olhar absolutamente gélido que Utau o lançou, engoliu em seco – E-eu vou tomar café da manhã…

Utau terminou de subir as escadas, e restaram apenas Chiharu e Ikuto na sala. Ele arqueou a sobrancelha para ela, intrigado, que ofegou e saiu correndo, pelas escadas.

— Garota estranha… eu estou rodeado de garotas estranhas… - ele suspirou, fechando os olhos e se esticando para tirar mais uma soneca, antes de ter que começar a trabalhar duro. Ah, isso seria difícil, pelo jeito…

-

— Irashaimasen… ah, são só vocês… – revirando os olhos, o mau-humorado atendente de cabelos azulados e avental cinza desdenhou seus clientes, sem nenhuma cerimônia – O que vocês querem?

— Nunca pensei que ouviria um “irashaimasen” de você, Onii-chan!  - Utau bradou, vitoriosa deixando Ikuto ainda mais nervoso – Se acrescentasse um “ojou-sama” seria perfeito!

— Diga logo o que vocês querem! – ele ficou impaciente. Trabalhar não era tão fácil quanto supunha, e ter que ficar aguentando atender pessoas o dia inteiro estava acabando com sua resistência. Ele estava mais emburrado do que nunca, parecia mais um gato em que estavam tentando dar banho.

— Que maneira de tratar seus clientes! – Utau censurou, apontando para ele com o indicador – É melhor ser mais gentil se quer manter esse emprego! Eu e a Chiharu estávamos passeando, e eu queria mostrar a cidade para ela – ela indicou a garota loira ao seu lado, que no momento parecia distraída lendo títulos das revistas que estavam na banca. Ela não era muito de falar, mas se abstraía da realidade com facilidade. – Mas como não tem nada pra ver nessa cidade, nós resolvemos visitar você no seu emprego! Então, como está indo?

— Como você pode ver, o movimento é bem grande… - Ikuto mostrou a loja completamente vazia, exceto por Utau e Chiharu – E aquela dali é a Terrível Demônio. – ele se aproximou de Utau por cima do caixa para cochichar, e apontou para o outro lado da loja.

Uma garota, aparentemente com a mesma idade de Utau, talvez um pouco mais velha. Tinha cabelos castanho-acinzentados, quase platinados. Os olhos eram igualmente cinzas, frios e sem emoção. Ela estava lixando as unhas, pintadas de preto, e tinha muitos acessórios e joias, de couro, com caveiras e spikes. Suas orelhas, que apareciam através dos cabelos ondulados e mal presos, eram cobertas por piercings e brincos. Ela vestia uma camiseta branca simples, e saia preta, com meias-calça, mas o avental da loja cobria quase toda sua roupa. Segundo as informações que Ikuto dividiu, ela se chamava Shinohara Emiri, e estudava na mesma escola de Utau, mas estava no terceiro ano. Ainda, era filha do dono da loja, o que garantia a ela permissão irrestrita para se aproveitar dos outros funcionários como queria. Ikuto estava livremente incluído nisso, e isso explicava o mau-humor tangente dele.

— Ela parece um doce… - Utau comentou ironicamente, apoiando-se no balcão – Então, que horas você sai hoje?

— Não sei. Talvez daqui uma hora ou duas. Não espere por mim, irmãzinha… – ele sorriu enigmaticamente, e foi a vez de Utau revirar os olhos. até parece que naquela cidade tinha algum lugar para Ikuto ir durante a noite.

— Você vai querer alguma coisa, Chiharu? – Utau indagou para a garota, depois de pegar alguns doces para si mesma, e um salgadinho para Kukai. Chiharu apenas estendeu um pote de pudim que ela havia acabado de pegar – Só isso? – Chiharu acendou afirmativamente com a cabeça, e Utau se preparou para pagar.

Ikuto foi abrir o caixa para receber o dinheiro, mas a gaveta fez um barulho estranho, e não quis abrir quando ele apertou o botão. Ele continuou insistindo, aplicando cada vez mais força.

— Droga, essa coisa não quer abrir… - ele resmungou, sem paciência.

— Idiota, você emperrou o caixa de novo… - uma voz seca e monótona interrompeu. Utau viu que a garota havia se aproximado, e empurrado Ikuto para o lado. Ela deu algumas batidas em lugares estratégicos, e apertou o botão novamente, abrindo o caixa. Sem esperar por resposta, pegou o dinheiro que Utau estendia, e entregou a ela o troco. Colocou tudo em uma sacola, e entregou para ela também – Obrigada pela preferência, e volte sempre – entoou sem nenhuma mudança no tom, curvando-se rapidamente, e então virando-se para voltar para o seu lugar de antes.

— Viu o que eu disse? – Ikuto sussurrou, sem que ela fosse capaz de ouvir – Um demônio!

— Assustador… - Chiharu murmurou para si mesma, em voz bem baixa, quase encolhendo-se atrás de Utau.

— Não sei, eu gostei dela! – Utau revidou, apenas para irritar mais Ikuto – Certo, vamos indo, Chiharu! Eu ainda não te mostrei a pracinha do outro lado da rua, o grande centro de entretenimento desse lugar!

Enquanto saiam, ouvindo o longo e pesado suspirar de Ikuto por ter sido deixado sozinho novamente para trás, as duas garotas continuaram a andar pela rua. Iam voltar para casa, depois de dar a volta no parque, mas algumas figuras familiares chamaram a atenção de Utau. Ela franziu os olhos,vendo as duas silhuetas atravessando a rua rapidamente, e se ocultando em uma divisa afastada, entre dois prédios. Aquilo não podia ser…

— Tadase e Nadeshiko! – ela exclamou, sobressaltando Chiharu que estava calmamente tentando comer seu pudim – Vamos Chiharu, corre!

— O que? – ela engasgou, ao ser puxada pelo braço pela entusiasmada Utau. Estava quase se arrependendo de ter aceitado o convite para sair dela.

— Aqueles ali, são meus amigos! Eles estão saindo! – Chiharu continuou sem entender – Nós temos que segui-los!!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yoo, minna-san~ Capítulo de transição da história, mais para mostrar a personagem nova... aqui está ela: http://www.zerochan.net/144694

Espero que tenham gostado~ as emoções e coisas mais importantes ficaram para o próximo, gomen XD

Até lá~e não se esqueçam dos reviews!