Um Velho Conto De Amor escrita por nuuuvia xD


Capítulo 2
Capítulo 2




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Achou o endereço, uma casinha de madeira, e batera à porta. Logo após escutou burburinhos e passos. Tocara outra vez. Passos rápidos e risadas. Teve medo de entrar ali e deparar-se com uma cena constrangedora. Nessa hora, alguém gritara: "Abre a  porta, menino!", obedecendo de imediato. A sala pequena tinha uma janela, um sofá abaixo de um desenho a carvão de crianças brincando em uma cachoeira e uma entrada à cozinha. Entre o sofá e a entrada, havia um corredor mediano, de onde veio correndo uma moça de traços orientais como os de uma japonesa, descabelada e risonha, trajada em uma camisola de alças que chegava unicamente a cobrir metade de suas coxas.

Virou-se no segundo que chocar-se-ia com a parede, agitando os cabelos de ébano, escorando-se a ofegar, sem perceber o entregador à porta, embasbacado e vermelho feito um tomate. Um homem louro corria apenas de calções até ela, e falava algo em francês, abraçando-a. Estevão era experiente em jogatinas, alcóol, festas entre amigos, temperos, épocas de colheita e alimentos de qualidade, mas ainda não havia se envolvido com nenhuma mulher. Houvera flertado com várias moças apresentadas pelos amigos e limitava-se a isso. Ver as pernas claras e suaves tocando-se às fortes e masculinas, o roçar dos braços, despertou uma sensação de descoberta e curiosidade, misturada ao choque da realidade. Mesmo que direcionasse a vista às próprias pernas, não conseguia deixar de perceber a cena; era-lhe algo inovador.

A moça, repentinamente, contorceu-se para livrar o corpo das mãos masculinas e posicionou-se entre o sofá e Estevão, examinando-o sorrindo. Murmurou algo como: “Acho que não é o garotinho de recados de ontem...” e aproximou-se devagar, estendendo uma mão ao seu rosto e logo baixando-a. Espichou-se para juntar seu rosto com o dele, e fechou os olhos. Queria brincar com ele. Estevão quis fugir e não quis; quis impedi-la, mas também não quis afastá-la; quis ralhar-lhe, sem achar a coragem. A vivacidade e meiguice do rosto, a promiscuidade e beleza estavam envolvendo-o de um modo que não conhecia, mas ele sabia que aquele fulgor não podia ir além de um momento de fogo que queima depressa e esvai-se com o primeiro sopro de vento.

Imóvel, assistia sua vagareza em aproximar os lábios. O que nunca aconteceu, pois outra mão entremeou-os, recuando a japonesa seminua e levando-a à entrada do corredor. Viu que era outra moça, cabelos longos e louros trançados, vestido florido azulado. Retornou até o homem e puxou-o pelo braço, repreendendo-o e empurrando-os para dentro do corredor outra vez, com ares de mãe quando não quer os filhos malcriados por perto. Em seguida, chamou o rapaz à cozinha, com um sotaque afrancesado, e ele carregou os sacos com doces de frutas e peixes atrás dela.

-Deixe os sacos na mesa enquanto busco pelo dinheiro. - seu passar era bonito, elegante, semelhante a sua voz com forte sotaque.

A cozinha simples não possuia porta nem cortinado. Era especialmente pintada de um amarelo muito suave nas paredes. A mesa tinha um recorte incomum, em hexágono, com seis cadeiras. A pia ficava do outro lado do aposento, emcimada por uma janela entreaberta. Olhando-a por alguns minutos, remexendo o armário, gavetas da pia, vasculhando um cesto de frutas e os objetos em volta, estranhava a familiaridade com aquele rosto, sem lembrar em nenhum momento de onde a conhecia. Isso o deixara inquieto, e para distrair-se, indagou-lhe polidamente:

-Hã, a senhorita mudou-se para esta casa a muito tempo?Pergunto-lha, pois moro pelas proximidades e apenas hoje fui reparar que este casebre abandonado era habitado.

-Oh, oui, viemos da França há algumas semanas. Alguns conhecidos de meu irmão, o rapaz que estava na sala, ajudaram-nos a achar este lugar pacato e simples. No momento que chegamos, encantei-me pela diferença de costumes! Para alguém como eu, que sempre viveu junto ao alvoroço, esta cidade é muito simpática e romântica. - animou-se a dizer ela, sorrindo discretamente, ao que parou e pôs as mãos à cintura. -Meu Senhor! Mas o que há com esta casa, onde tudo some?Venha comigo até a despensa, quiçá não me esqueci do dinheiro lá... Acompanhe-me, por favor.

Seguiu-a, um pouco ansioso. Atravessando a cortina ao fundo da cozinha, a moça acendeu quatro velas já posicionadas em uma prateleira, organizando-as em seguida em quatro bases de metal fixadas às outras prateleiras. Não estava tão escuro, mas ele nem se apercebera disso. Poucas coisas estavam estocadas ali: um pedaço de queijo, pães, geléias de sabores diversos, já na metade, cenouras, beterrabas, batatas e outros legumes, várias frutas.

Enquanto ela procurava, notara que ela passava a mão por debaixo de cada uma das pequenas prateleiras. Olhou por baixo da mais próxima e viu que a metade de trás da prateleira possuia um compartimento escondido, de uns dois centímetros de altura. Antes de conseguir voltar à posição inicial, ela o flagrou e disse para ajudá-la a achar o maldito dinheiro, no que ele obedeceu no mesmo instante. Passou a mão por cada uma, remexendo também nos alimentos. Chegando ao fim, de joelhos, sentiu roçar o vestido florido em seu ombro e apenas ouviu-a dizer, envergonhado de olhá-la daquele ângulo baixo:

-Oh, esqueci-me de avisar-te, nestas tenho certeza de que não guardaria nada. Não se dê ao trabalho de procurar aí.

E levantou-se vagarosamente, sentindo a maciez do tecido com o antebraço. Olhou os compartimentos das outras prateleiras, mas não havia nada. A fragância dos cabelos dela repentinamente invadiu suas narinas com um aroma estonteante. Parou o que fazia e ficou a olhá-la. Era óbvio que já a encontrara antes, contudo, parecia impossível reconhecê-la.

-Talvez, se ela solta-se os cabelos...?- murmurou. Teve ânsia de retirar-lhe a fita que prendia as mechas louras. Manteve-se no lugar para não assustá-la. Examinou toda a extensão de seu corpo, veio-lhe um relampejo de memória, que esvaiu-se como veio. Então, a garota girou o corpo alguns centímetros e abriu lentamente os olhos e a boca, e esta imagem permitiu-o rebuscar a imagem de antes, surpreendendo-o.

-Eu estive a tua procura por tanto tempo e, quando entro na tua casa e olho-te nos olhos, não te reconheço! Como pude ser tão rude?Nem ao menos a voz inigualável que admirei tanto, não a percebi. Sibelle, a primeira vez que te vi naquele bar, senti-me...

-Oh. Desculpe-me, não me agrada falar sobre isso com desconhecidos. Mesmo que eu esteja me expondo por minha vontade, prefiro manter uma respeitosa distância de meus fãs e ouvintes. Procure entender, meu intuito é evitar problemas. -respondeu-lhe com pesar.

-Oh, não, não me entendas mal, elogio-te, apenas. Tua voz é abençoada; se encontrasse-me com um anjo, este teria uma voz como a tua. É uma voz inesquecível e viciante, tanto que lhe persegui por todos os cafés, teatros, até cheguei a cabarés perguntando por ti, mas sumiste da cidade.

-Apresentei-me nas redondezas no período que estive aqui. Ora, porque não fazia então como os outros? Escrevia-me uma carta, se desejavas tanto dizer-me galanteios. Conheço algumas dançarinas, possivelmente as encontraste em algum lugar...

-Precisava mirar estes olhos de mel uma segunda vez. -ele falava com paixão, sem sombras do acanhamento de antes.

-Ora, finalmente encontrei meu dinheiro! Realmente, eu nunca me lembraria do lugar exato de seu esconderijo. Agora, acertemos a conta na cozin...

-E também ansiava por desfrutar do brilho dos teus cabelos e da beleza da tua pele. Sei que pareço imprudente, mas não posso evitar minha emoção. -entrecortou-a, engolindo a seco e atrapalhando-se um pouco. Buscava seu olhar que ia e vinha pela despensa, tentando fugir-lhe. Agarrou o maço de notas, pôs de lado e tocou-lhe a face. Respirava com dificuldade, o que não lhe atrapalhou o impulso de beijá-la com vontade, muito furtivamente. Afastando-se, deparou-se com sua expressão surpresa. Ela não pode sentir o que lhe atingiu os lábios como gostaria, entretanto, surpreendeu-se mesmo assim com a ação repentina.

Estevão retirou três notas do maço e disse-lhe que a conta fechava naquele valor. Segurou seu pequeno chapéu e sorriu-lhe, tímido, e saiu correndo dali. Ouviu-a pedir para esperar, mas não conseguiu atender desta vez, queria sentir o ar puro, ver as árvores, perceber a abóbada celeste acima da Terra, já que havia realizado seu grande desejo de confessar-se. A coragem surgiu com força, empurrando as palavras pela sua boca e foi substituída por uma euforia intensa.

Sibelle correu para alcançá-lo, sem sucesso. Assistiu-o sair quase correndo de sua casa, insatisfeita com o beijo simplório, mesmo que negasse sua frustração. Ficara devendo ao entregador, o que não era justo aos olhos de pessoas honestas como ela e seu irmão. Decidiu que pagaria o restante quando voltasse a loja e o visse novamente.


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Notas finais do capítulo

as coisas aconteceram meio rápido... mas vem muito mais por aí!
;P



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