Um Velho Conto De Amor escrita por nuuuvia xD


Capítulo 1
Capítulo 1




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Desde que Estevão conhecera Sibelle, uma jovem cantora francesa, que viera da França para o Brasil em busca de novos horizontes, sua vida despreocupada e um tanto tediosa fora irradiada pelos cabelos dourados daquela moça ingenuamente sensual. Trabalhava com o pai numa loja de iguarias importadas como vendedor e entregador, já que o pai era avarento demais para pagar outros funcionários. Ouvira boatos de todos os tipos sobre ela, dando importância a apenas um, que captara da conversa de duas senhoras que analisavem produtos da loja.

A francesa teria vindo encorajada por uma dançarina, sua amiga, e agora dividiam um casebre abandonado na mesma rua onde ele morava, e meses depois, enciumado, o namorado de uma delas perseguira-as até a capital; porém, boatos são boatos, e após algumas semanas, ao olhar para as fuças do homem, descobrira um rapaz de cabelos tão dourados e feição tão marcante quanto os de Sibelle, com a diferença de que ele aparentava certa brutalidade  nos traços. Nem era preciso pensar muito para descobrir o parentesco entre os dois, o que aliviou a aflição de Estevão. "Uma ninfa de voz suave e muito pura, se comparada às jovens brasileiras, ávidas, quentes, convidativas", às vezes pensava, em seus momentos de poesia.

Uma velha vizinha, com ares de quem fora uma dessas libertinas em moça, quando Estevão perguntou-lhe se sabia algo sobre ela, disse-lhe, eufórica: "Se já hoje encanta tanta gente com aquela voz intensa e forte, imagine quando for famosa por toda esta terra! Conversamos um dia; deve de ter menos de 20 anos, mas é tão educadinha." Não poderia ser mais idealizada a francesinha cantora, como fora apelidada por gente que, com certeza, invejava-a. Aos olhos de um homem, enebriado por sua beleza, tornava-se uma deusa; mas esses casos não convêm ao momento.

O drama deste rapaz uns tantos anos mais velho que ela e de tantos outros mais moços que a conheciam sucedia-se por causa do irmão gêmeo ressabiado e ciumento, que temia por demais que a irmã se portasse como as amigas e colegas dela, pois era exposta ao mundo de orgias mascaradas nos teatros, boates e cafés; mesmo assim, Sibelle dificilmente falava com homens, por um receio óbvio de tornar-se ambiciosa e luxuriosa como as outras. Não eram ricos ou importantes, contudo, a honra para os dois irmãos era quesito importantíssimo, em qualquer circunstância.

Já Estevão adorava jogos de azar, ou seja, sua reputação era duvidosa. Fora num de seus bares preferidos que dera com Sibelle e um pianista maltrapilho, magrelo e fumante. A entrada dela no pequeno palco paralizou o lugar. Vestia um longo traje de seda verde-água escuro, de gola alta, sem mangas, decotado nas costas, bordado nas extremidades por uma linha brilhante e preta, parecido com renda. Os cabelos compridos, soltos, todos para um lado só. A sensação de ouví-la fora muita reconfortante, sem agonias ou lágrimas beirando os olhos. Quando soube que ela vivia tão simploriamente, impressionou-se com o contraste do vestido muito bem-feito, algo que não se encontra em qualquer vitrina. Ainda que não fosse especialista em alfaiataria, era conhecedor de produtos de boa qualidade. 

Procurou-a por outros bares, sem encontrá-la. Até seus companheiros de jogos não a avistaram mais. Depois de ficar exausto, observando restaurantes chiques, espreitando a entrada de teatros, falou até com dançarinas, cantoras, prostitutas... Ela não existia mais. Conseguiu contato com o pianista, que apenas sabia seu nome, que "cheirava bem" e que as músicas que cantava eram bonitas como ela. Então desistiu, pois parecia que ela não dava informações a ninguém e pouco se expunha à sociedade. Até que numa manhã, em que o filho deveria entregar compras em domicílio, percebeu a proximidade de sua casa com um dos locais de entrega e ficou curioso. 


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