Eles nos levaram para o barco deles, era muito grande e havia milhares de piratas. Eles abriram passagem pra gente, eu ainda não via quem estava segurando a faca em meu pescoço, mas pela mão branca eu poderia dizer que era o cara bonito dos olhos claros.

O pirata me levou pra dentro de uma cabine grande do navio junto com o Justin, eles nos tacaram sem piedade contra a parede e caímos juntos ali, minha respiração estava muito ofegante eu não sei se Justin tinha notado isso, mas eu tinha sérios problemas respiratórios e minha respiração estava muito desrregularizada.

– Turistas - o pirata bonito deu um sorriso de lado - Com todo respeito rapaz, essa espada fica muito melhor comigo - ele disse colocando a espada na lateral do seu corpo - Bom, vocês fiquem aí por enquanto, logo logo direi qual será a serventia de vocês.

Ao lado do pirata bonito estava um bem feio até, eu conseguia sentir o seu cheiro de criaturas marinhas de onde eu estava, aquilo me deu ância de vômito mas tentei me controlar. Primeiro saiu o pirata feio e depois o mais bonito, fechando a porta atrás de si.

Olhei meu ferimento no braço e vi o quanto estava sangrando, meu vestido florido agora estava cheio de sangue, e só agora eu podia ver o quanto estava doendo. Justin parecia olhar também, ele puxou a camisa que usava e arrancou um pedaço de pano, pegou meu braço e começou a amarrar em mim para estancar o sangue. Enquanto ele amarrava eu olhava o lugar onde estávamos presos, era tão horrível quanto todo aquele barco. Parecia uma antiga sala, que não a utilizavam por muito tempo.

Era muito empoeirada, havia uma mesa de madeira em um canto coberta por teias de aranhas. Nela havia apenas um porta lápis e caneta que era muito, muito antigo. A luz acima de nós estava piscando como se fosse desligar a qualquer minuto, a sala era silenciosa demais, só havia o barulho da nossa respiração.

A parede de madeira estava sendo comida por milhares de cupins, e no canto direito havia uma caveira entre as teias de aranha. Um esqueleto humano com as mãos pra cima preso por uma algema.

– Oh meu Deus! - eu disse sentindo meu coração apertar. Eu tinha a leve impressão de que se eu não tomasse meus remédios pra respiração eu ia acabar tendo um ataque deprimente na frente do Justin.

– Espero que não terminemos assim.. - Disse Justin olhando o mesmo esqueleto que eu. Eu não pude concordar com ele porque o ar me faltava, ainda mais naquela sala sem nenhuma ventilação, mas eu não precisava dizer nada, estava óbvio.

– Relaxem - disse o pirata mais novo e bonito entrando na sala onde a gente estava, o golpe de ar que entrou me fez feliz por alguns instantes, inspirei aquele ar cheio de gotículas salgadas e me senti bem por alguns instantes.

– Pelo menos a menina não vai morrer daquele jeito, já o rapaz eu não posso ter tanta certeza. Venha, levante Mocinha.

– Eu não vou! - eu me encolhi, senti que Justin se aproximou de mim como se quisesse me acolher, mas acho que ele ficou sem graça de fazer isso.

– Ah, mas ande logo! - ele me puxou pelo braço machucado e eu gritei de dor, ele não quis saber se estava machucando ou não, só me tirou dali e fechou a porta antes que eu pudesse ver Justin.

No navio todos os piratas trabalhavam, nenhum percebeu minha presença ali junto com o pirata mais novo. O céu estava azul, mas havia algumas nuvens branquinhas passeando por ali, as gaivotas estavam dando seus razantes, a brisa estava gelada mas não corria risco de uma tempestade.

O pirata ainda me segurava pelo braço, ele me levou para uma escada que me levava pro último andar, mas ele andava rápido demais e eu não conseguia acompanhar seus passos, então tropecei em quase todos os degraus e ele pareceu não se importar. Ele abriu uma porta e me jogou lá dentro, a luz do dia fez com que eu visse o que tinha lá. Era um quarto, um quarto bonito que tinha uma cama bem forrada, uma estante com um aquário e um armário de madeira polido.

Na mesma parede da cama tinha uma porta que eu não fazia idéia do que era e foi pra lá que ele me empurrou, ele abriu a porta e me jogou dentro do banheiro:

– Tome um banho - ele exigiu sério, depois saiu e foi no armário. Eu fiquei meia assustada acompanhando cada movimento dele.

O pirata pegou uma camisola grande dos anos de mil quinhentos e lá vai fumaça, mas estava branquinha e parecia cheirosa. Ele jogou pra mim e exigiu pela segunda vez:

– Vista-se e me espere aqui!

– Eu não vou fazer isso! - eu disse decidida, algo me dizia que o pirata iria querer me usar.

– O que você disse?! - seu olhar transbordou de raiva.

– Eu não vou fazer isso, isso que eu disse. Quer que eu repita?! - Eu disse ainda mais séria.

– Você tem noção do que você esta falando, e com quem está.. - eu o interrompi.

– EU NÃO VOU FAZER ISSO! - eu gritei pela terceira vez. O pirata perdeu a paciência e me empurrou pra dentro do banheiro fechando a porta. Eu caí no canto e comecei a chorar baixinho. Eu estava perdida.

[...]

Terminei meu banho e me sentei na cama do quarto, eu ainda chorava baixinho. Eu estava me sentindo um pouco melhor por estar com roupas limpas e por poder ter feito minha higiene, mas estava um pouco assustada com o que aquele pirata ia fazer comigo.

A camisola que eu vestia era longa, ia até meus pés. Eu abracei meus joelhos e fiquei olhando o mar pela janela que tinha ali no quarto. Não demorou muito e a porta do quarto se abriu e eu recusei olhar.

– Está se sentindo melhor? - Ele perguntou e eu não respondi.

Ele sentou ao meu lado e passou a mão em minha perna.

– NÃO ME TOCA! - eu gritei, ele se assustou, mas logo abriu um sorriso de lado.

– Deixa eu cuidar do seu machucado?

– EU NÃO QUERO!

– Porque você está gritando garota?!

– PORQUE EU QUERO!

Ele revirou os olhos e levantou da cama andando até a estante onde ficava o aquário. O pirata pegou uma caixinha de remédios e se sentou ao meu lado pegando meu braço, eu puxei com força meu braço mas ele era mais forte. Ele desfez o laço que Justin tinha feito no meu braço e começou a cuidar do meu ferimento, eu comecei a olhar pra ele sem entender direito o porque ele estava fazendo aquilo:

– Meu nome é Oscaliz.

– Sua mãe tem uma criatividade Divina, hein.. - Eu cuspi as palavras e voltei a olhar o mar, ele ignorou o comentário assim como sempre Justin fazia.

– E o seu?

– Não te interessa.

– Huum - ele passou um medicamento que meu braço ardeu, eu gemi baixinho e ele voltou a falar - Sabe, eu queria te dizer que não vou te fazer nenhum mal.. Bom, eu não sei se é mal você.. ser minha namorada.

– Ah claro, a gente já se conhece a bastante tempo pra sermos namorados não é? - Desta vez eu olhei pra ele e encontrei seu olhar, era difícil entender o que ele queria dizer com os olhos e então eu continuei - Sei como é dificil ficar aqui no mar sem nenhuma mulher pra ficar com você, mas eu não tenho cara de garota de programa e principalmente de prostituta de Pirata.

– Ei, Ei ! - ele olhou assustado e depois deu um longo suspiro - Ok, você tem razão - Ele terminou o curativo e colocou meu braço devagar sobre a cama - Dorme um pouco, mais tarde eu volto aqui.

– E o que você vai fazer com o Justin?! - Desta vez eu perguntei hesitante - Com o meu amigo que está lá em baixo..

– Isso depende de você - Seus olhos cintilaram e ele caminhou pra fora do quarto, eu sabia que ele queria dizer que dependia de mim aceitar a proposta de ser namorada dele, mas eu sabia que aceitar aquela proposta seria o fim. Primeiro eu seria dele e depois seria de todos aqueles piratas lá embaixo, eu quase tinha certeza disso.

Meus olhos pesaram e eu deitei na cama devagar, minha respiração agora estava bem melhor, eu só estava um pouco nervosa com tudo o que estava acontecendo e quase não consegui dormir pensando no Justin, que estava lá embaixo naquela sala toda suja. Mas o sono venceu a guerra entre a razão e o cansaço.