Marco Aurélio saiu do elevador que levava para o seu quarto, ele ficava no terceiro andar, um local amplo só para ele, quase sem nenhum móvel para que não atrapalhasse os movimentos da cadeira de rodas. Olhou ao redor, para os móveis nada comuns espalhados por seu quarto.

Ele olhou para a parafernália de equipamentos médico-hospitalares, seu pai havia utilizado aquele mesmo quarto antes de vir a falecer, sentia saudades do velho, eles foram muito unidos até mesmo na saúde.

Por quê? Acordava todos os dias se fazendo essa pergunta, logo ele que amava a vida. Por que tinha que ir sem ter realizado todos os sonhos, sem ter amado de verdade ou sem ter tido a oportunidade de deixar seu registro?

Não encontrava as respostas e a cada dia que olhava para o irmão, o rancor crescia como uma erva daninha corrompendo sua alma, por que Henrique tinha que ser sua cópia fiel e saudável, por que ele merecia viver mais?

Ele sabia que o irmão também havia gostado de Laura, mas só dessa vez não deixaria o irmão conseguir tudo, Laura seria dele e usaria de todos os artifícios para conquistá-la, até mesmo sua doença, ele tinha o direito ser feliz ou não tinha?

Aproximou a cadeira de rodas do leito para deitar-se precisava usar a força do braço para apoiar todo o peso de seu corpo, o que poderia ser difícil inicialmente para um deficiente não era problema para ele, pois antes de tudo acontecer ele praticava ginástica olímpica.

Transferiu seu corpo para a cama, mas ao contrário do que pensou o esforço tornava-se excessivo a cada dia, respirou profundamente quando sentiu algo quente escorrer pelo seu nariz e sem querer engolfou sangue pela boca.

Droga!! Não queria ir para o hospital, mas precisaria de ajuda. Hoje a noite seria longa, pegou o frasco de sua mesa, retirando um comprimido e tomou seu remédio sabendo que daqui a pouco a febre tomaria conta de seu corpo. Assim, chamou a única pessoa que poderia estar ao seu lado naquele momento.

Esperou alguns minutos, o elevador se abria e Jaqueline entrava esbaforida e com seu rosto preocupado, ela pegou seu pulso, preparou seu braço para medir a pressão e depois tocou sua testa.

- Tudo bem, Marco! – seus olhos demonstravam fibra – Nós iremos vencer mais essa noite.

- Eu vencerei! – quis demonstrar segurança, mas sua voz fraquejou – Só não me deixa sozinho.