Jaqueline velava à noite ao lado de Marco, o vaporizador estava ligado e ela fazia de tudo para que a febre cedesse. Ela se sentia tão impotente diante de tamanha crueldade, o destino era uma foice que ceifava a vida sem pensar na injustiça.

Cinco anos após a separação e reorganizado sua vida, ela conheceu Paulo Ricardo Vieira na recepção do hospital, ela trabalhava como enfermeira chefe e ele fazia alguns exames de rotina.

- Desculpe! – ele esbarrou nela derrubando as pranchetas – Sou um desastrado – se agachou para ajudá-la – Aqui está! Posso lhe pagar um café para me redimir?

A paixão surgiu de imediato, foi impossível não amá-lo e ela foi feliz enquanto estiveram juntos, mas perdê-lo foi como perder uma parte de si e agora ver um rapaz tão doce quanto Marco Aurélio, lutando da mesma forma quando não havia mais esperanças, ele era um guerreiro e ela não mediria esforços para prolongar sua vida.

Os gêmeos a aceitaram bem, ambos eram carentes de afeto e tê-los por perto foi um conforto, enquanto não podia ter sua filha da mesma idade e foi impedida pelo seu ex-marido de vê-la e até mesmo de falar com sua própria filha, ele havia ganhado a guarda por abandono de lar, pois na época nem tinha um emprego descente.

- Você vai ser nossa nova mãe? – Marco havia lhe perguntado com os olhos lacrimejantes – Vai nos amar como ela?

- Não quero tomar o lugar de sua mãe! – disse com sinceridade olhando para um Luiz amuado – Porém, posso ser uma grande amiga, eu tenho uma filha da mesma idade – pegou a foto da bolsa e amostrou para eles – estou proibida de vê-la e talvez eu me sinta menos só se tiver vocês ao meu lado.

Luiz olhou para a foto por sobre o ombro de irmão, seu olhar já não era de zanga, mas de entendimento, eles sabiam o que era perder alguém que se amava, Marco e Luiz seguraram sua mão de cada lado dando-lhe um sopro de esperança em sua vida. 

Seu peito doeu em culpa, por saber que foi mais mãe para os dois do que para sua própria filha. A respiração regular de Marco a tranqüilizou, pôs a mão na fronte dele e percebeu que a febre cedia, ela desabou no sofá e cochilou um pouco, quando acordou Luiz já estava acordado e com o uniforme da escola.

- Ele teve outra crise? – Luiz disse sem demonstrar nenhuma emoção – Eu fico com Marco, afinal você tem que sair com a Laura. Pedi para Janaína ligar avisando que vou faltar.

- O que seria de mim sem você? – levantou um pouco zonza pela noite mal dormida – Luiz, não precisa bancar o durão comigo – beijou sua face – vou me trocar.

Jaqueline saiu do quarto tendo a certeza de que quem mais sofria pelo irmão era Luiz, carregava em sua alma a grande culpa por ser sadio e não compartilhar a doença de Marco.