- Você me parece melhor – comentou Luna, enquanto completava as lacunas de algum jogo do “O’ pasquim”, senhor Bins continuava sua aula sem notar, ou ligar para isso – Papai me dizia que o melhor remédio para insônia é um pêlo da cauda de unicórnio mergulhado em suco de abóbora.

- Não estou com insônia – falei sem animação, a aula de História da Magia causava sono, era impossível ter insônia enquanto você ouve o professor Bins falando durante duas horas sobre a revolta dos duendes.

- Então porque você tomou tanta poção do sono? Estava tendo pesadelos?

- Não... Espere, por quê?

- Ora, a poção do sono é para fazer dormir sem sonho, certo?

Luna tinha razão. A Poção do Sono tinha várias propriedades. Amenizar a dor em enfermos, acalmar os ansiosos, e claro, fazer dormir os insones, mas fazer dormir sem se preocupar com sonhos. Mas, depois de semanas a tomando diariamente eu continuava a sonhar com Tom, e se me permito dizer, a cada dia era mais intenso, mais forte. Mesmo acordada eu conseguia ouvir sua voz em minha cabeça. “Ginevra” ele dizia, “Não tarde a me encontrar, Minha Senhora”, e isso apenas me forçava a querer sair de onde quer que eu estivesse e me enfiar em meu quarto, ou qualquer lugar que fosse possivel eu cochilar sem ser atrapalhada. Então estaria a poção do sono alterada? Ou estaria Tom, tão intenso em minha imaginação de modo que a poção não conseguia afugentá-lo. Pois era minha imaginação, não era? Enquanto Lorde Voldemort estava lá fora recrutando mais e mais Comensais, causando mais e mais, dor e desespero, Tom Riddle era apenas um fruto da imaginação, uma cópia do que eu queria que ele fosse. Ele era meu porto seguro, meu segredo particular, o único que entendia, mas eu sabia que ele não existia. Era apenas minha imaginação... Certo? Seria a poção que estaria alterada? Ou seria... Minha mente? Balancei a cabeça para afugentar a ideia, eu não devia pensar em tais coisas. Eu estava sã, como sempre fora, apenas me viciei em algo inatingível.

Hermione e Ron não afastavam os olhos de mim. Harry apenas se mantinha calado, me fitando ora sim, ora não. Minha aparência melhora depois que saí da ala-hospitalar. Passei a me alimentar melhor, a me vestir melhor e a me mostrar melhor. Mas eu não estava melhor. Antes eu me considerava boa, em mente, e em corpo, minha saúde estava perfeita, muito bem, obrigada. Mas agora... Agora me tiraram meus frascos de poções do sono. Agora me vigiavam de perto, não me permitiam ficar sozinha. Estavam preocupados comigo. Os professores me dirigiam olhares preocupados e questionadores, todos perguntavam como eu me sentia. Eu estava bem, muito bem, mas agora eu não estava mais. Eu passava menos tempo com Tom, e eu não queria isso. Eu era acordada á noite por Bichento que eu sabia que era Hermione quem colocava em meu dormitório. Eu não tinha mais meu Tom, como tinha antes. Não tinha mais meu Tom, como eu queria ter. Queriam nos afastar... Todos queriam me proteger dele, embora ninguém necessariamente soubesse que era dele. Pensavam em me proteger de mim mesma, acho eu.

Mas eu não iria deixar. Minha vida, meu Tom, meus sonhos. Não poderiam me vigiar para sempre.

- Querem nos separar, Minha Senhora – falou Tom, com acariciando meus cabelos de forma tão singela e gentil, que só mesmo em sonho para ser verdade – Logo agora que eu tinha tantos planos para nós.

- Como você sabe, Tom? – eu não havia contado o que estavam fazendo. Não havia contado que queriam nos separar.

- Sou parte de você – disse ele sorrindo – O que você sente, eu sinto. O que fazem a você, também fazem a mim.

- Não se preocupe, meu Lorde – falei me virando para ele, sorrindo, como só ele me fazia sorrir – Também fiz meus planos. Não podem nos separar.

- E a cada dia que passa, você me faz admirá-la mais, Minha Senhora – segredou-me ele, com os lábios em meu ouvido.

Antes que pudesse aproveitar ainda mais o momento, um miado estridente me fez abrir os olhos.

- Bichento – praguejei.