-Concentre-se! –A voz de Liz saiu em um sussurro, ecoando diversas vezes em minha mente.

 Com os olhos fechados respirei calmamente, sentindo tudo que acontecia a minha volta: A brisa fria e relaxante que passeava por nós acarinhando meu rosto, as finas e quase imperceptíveis gotículas da chuva que começava a se formar sobre a cidade de Forks, o calor que meu corpo emanava, a força e a energia que vinha das asas presas atrás de mim.

-Agora... Pense em algo que a irrite, que a chateia. –Liz oscila, era quase palpável sua indecisão entre ser avó ou ser a orientadora. Nessas horas ela sempre fazia o mesmo, guardavas os sentimentos e agia racionalmente. -Algo que realmente a magoe!

  Pensei na vida que tinha antes e naquela que tenho agora – Não que isso me irritasse – Eu gosto de quem eu sou e da vida que tenho, eu só não gosto de ter que esconder a verdade.

-Vamos Alice! Centralize seus pensamentos, fixe-os em algo que a incomode. –Liz  voltou a pedir.

-Eu estou tentando. –Sibilei apertando os olhos com mais força que o necessário.

  Algo irritante, meu cérebro trouxe a imagem do louro alto, com músculos perfeitos, de olhos estranhos...

-Não está funcionando Alice! –Vovó pressionou interrompendo meus pensamentos.

 Realmente não iria funcionar, eu não odiava Jasper, não o detestava, o que detestava era a atitude de superioridade que muitas vezes ele adotava, a forma como eu me sentia estranhamente vulnerável na presença dele, odiava ansiar tanto o seu toque.

-Isso! Muito bem. Continue. –Liz parabenizou em um murmúrio quase inaudível.

  Sentir a brisa suave se transformar em uma ventania voraz, chicoteando tudo a nossa volta.

 -Mais forte. Junte mais pensamentos negativos.  Algo que a magoe.

 Medo, abandono, rejeição... Suspirei fortemente antes mesmo de conseguir pensar no próximo: Meus pais, isso me magoava.  As duas pessoas que deveriam me apoiar, me defender, me aceitar do jeito que sou me largaram, deixaram-me de lado.

-Certo Alice! Está ótimo. Agora desconecte qualquer tipo de ligação que você possa ter com a natureza.

 Eles me abandonaram, me rejeitaram, então por que motivo Jasper me entenderia? Por que ele me aceitaria se nem meus pais foram capazes de me aceitar?

-Alice! Tudo bem já chega. –Liz berrou.

-Eles deveriam me amar. –Sussurrei as palavras prendo as lagrimas, a dor!

-Querida, acalme-se! Chega, abra os olhos. –O tom suplicante de Liz chegava aos meus ouvidos ao mesmo tempo que mil imagens preencheram minha mente, os dias da transformação, a voz de minha mãe chamando-me de aberração, o medo nos olhos de meu pai, e o sorriso falso e mentiroso que estampava seu rosto enquanto ele murmurava em meu ouvido “Vai ficar tudo bem”

-Não ficou tudo bem! Não está tudo bem!

  Uma rajada de vento frio me jogou para longe, abrir os olhos para a realidade, só agora percebendo que me encontrava a uns dois metros do chão e as asas continuavam fechadas –Eu estava levitando – Liz criou uma barreira contra uma árvore evitando que meu corpo se chocasse contra a mesma, com um simples movimento de suas mãos ela trouxe meu corpo para baixo delicadamente. Tentei me equilibrar, um esforço em vão. Assim que meus pés tocaram o chão meus joelhos cederam. Fico ali ofegante, absolutamente sem forças.

-Querida! Ai meu Deus. Você está bem? Eu... Eu sinto muito. Fui tão imprudente, não deveria ter insistido, Você se machucou? –Os joelhos de Liz estavam apoiados na terra ao meu lado, suas mãos sobre meus ombros enquanto suas palavras saiam em uma velocidade sobre-humana.

-Eu, eu não sei. –Disse com dificuldade. Não importa a quantidade de ar que estou inalando nunca parece suficiente.

-Eu sinto muito, muito mesmo! Isso não deveria ter acontecido.  –Seus olhos transbordavam tristeza.

-Não foi sua culpa! –Sussurrei ainda tentando me recuperar. 

-Eu só me assustei com o acontecido, achei que se você conseguisse separar suas emoções dos elementos o incidente que aconteceu na escola não se repetiria.  –Havia contado a Liz sobre minha discussão com Jasper –Omitindo alguns fatos, como a visão, a dor e a corrida pela estrada. –Assim que mencionei a ventania que havia causado uma mascara de preocupação moldou seu rosto pelo restante do dia. -Deus! Como isso foi perigoso.

-Liz acalma-se, Eu estou bem não estou?! –Tentei tranquiliza-la, minha respiração estável e uma enorme dor no coração.

-Você fez um ciclo Alice! Não era um escudo, uma simples ventania ou qualquer outra coisa que tenhamos feito antes! Era um ciclo. –Ela exasperou, levantando-se com as mãos na cabeça. Acompanhei com meus olhos seus pés andando de um lado para o outro.

 Suspirei fortemente antes de imitar seus movimentos e me por de pé.

-Sim, eu fiz... fiz um ciclo? Certo? Isso é tão ruim assim? Quero dizer... o  que é um ciclo? –As perguntas fluíam naturalmente de acordo que as palavras se materializaram em minha mente.

-O ciclo é a união de todos, todos os elementos da natureza , não só água, ar, terra, fogo... –Liz sustentava o olhar fixo em mim, fixo em minhas reações. -Implica em algo mais forte, raios, trovões, tempestade, um poder inigualável. Alguns seres de nossa espécie passa a vida tentando aperfeiçoa-lo ou até mesmo aprende-lo.

-Isso é bom? Não é? –Não, não era! Meus instintos me diziam isso. No entanto fui incapaz de conter a pergunta.

-Você é muito nova querida, e o ciclo é como um bônus para aqueles da nossa espécie que, –Liz suspirou era visível que ela editava suas palavras. -Que corre algum tipo de risco.

-Então, eu vou me machucar, alguém quer me machucar? Eu vou morrer Liz? –Minhas mão pousaram sobre meus cabelos bagunçando o que já estava bagunçado. Meus olhos ardiam com a intensidade das lagrimas. Minha cabeça doía com perguntas e mais perguntas se formulando.

-Não! Nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar. –Os braços de Liz envolveram-me em um abraço afetuoso. Sentia-me tão pesada que não pude retribuir o afeto.

 Eu morreria? Como assim? Por que? Eu não entendia e não queria entender.