Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 3
Capítulo 3




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 3:

 

Depois do almoço, passei a tarde inteira jogando WAR com o Max, o que me distraiu um pouco. Mas assim que ele foi embora, não consegui parar de pensar em como eu ia fazer para deixar de ser idiota.

 

Fiquei a noite inteira procurando na Internet blogs de auto-ajuda e coisas do tipo, mas não achei nada interessante.

 

Do jeito que eu estava nem ia conseguir prestar atenção na aula direito, então eu fui matar aula no telhado, para ver se aquele vento batendo no meu rosto me faria ter alguma boa idéia.

 

Após subir a escada, com cuidado para não ser visto por ninguém, me apoiei na parede da caixa d’água e larguei minha mochila no chão. Só não me deitei lá mesmo porque tinha certeza que se fizesse isso acabaria dormindo, em vez de pensar, que é o que eu deveria fazer.

 

Coloquei fones de ouvido e liguei meu MP3. Por isso, acabei me distraindo e não percebendo que tinha alguém subindo as escadas, até a porta que dava para o telhado se abrir e eu ver Charlie, com um livro na mão e uma expressão meio de surpresa por me ver ali – mas mesmo assim com seu meio sorriso cínico de sempre. Quase dei um berro de susto e só não caí para trás porque já estava apoiado na parede.

 

Depois disso não me lembro de nada.

 

Acordei meio tonto e me localizei estando na enfermaria da escola. Minha cabeça doía, não conseguia me lembrar o que havia acontecido... Ah é, eu estava no telhado da escola, ouvindo música... Aí eu vi o Charlie e depois acho que eu desmaiei.

 

Comecei a me levantar, mas isso me deixou meio tonto, então me deitei novamente. Foi quando percebi que Charlie estava sentado em um banco ao lado da minha cama lendo o livro que antes estava segurando.

 

Fiquei observando-o por alguns minutos, por isso levei um super susto quando ele começou a falar e caí da cama, me destrambelhando naquele chão frio e fazendo um barulho agudo, que fez a enfermeira levantar os olhos da pequena televisão que a sala possuía, mas logo voltando a prestar atenção no seu programa.

 

– Até que enfim acordou, idiota. A enfermeira disse que pelas suas olheiras você deve ter ficado mais de 40 horas sem dormir. Se eu não estivesse lá naquela hora você teria pegado uma pneumonia. Assim que eu te trouxe para cá começou a chover. – Falou enquanto eu tentava me levantar.

 

– O que você está fazendo aqui? – Foi tudo que consegui falar com minha voz trêmula; ainda tonto com a queda.

 

– Você deveria estar me agradecendo, piralho. Se eu só tivesse chamado alguém em vez de te carregar até aqui e falar que eu te encontrei no corredor, você teria levado uma suspensão. Além do mais, eu só falei para a enfermeira que queria ficar aqui com você para poder continuar a ler o meu livro, já que não dava para eu voltar ao telhado. – Fiquei o encarando (com alguma cara estranha, tenho certeza) por mais alguns segundos antes de processar direito as informações sobre o que ele tinha falado (eu com sono sou pior que corrida de lesma em câmera lenta, com perdão pelo trocadilho tosco, mas não achei nenhum modo melhor de descrever), até perceber que ele tinha me chamado de pirralho.

 

– Ei! Eu não sou pirralho! Tenho a mesma idade que você... – Respondi contrariado.

 

– Sério? Não tinha reparado... – Disse irônico e depois soltou um riso. Não uma gargalhada de verdade, mas uma provocação. Percebi que estava a ponto de começar a chorar, então me levantei, peguei minha mochila e saí correndo para o banheiro antes que as lágrimas começassem a escorrer. Eu já tinha me acostumado com essas coisas, mas quando eu escutei aquele riso, ele me soou tão frio, que eu senti uma dor estranha percorrer o meu corpo.

 

Mas só mesmo um idiota que nem eu para sair correndo chorar no banheiro em vez de dar alguma resposta. Pensando bem, assim é melhor. Se eu tivesse respondido teria dito algo sem coerência e eu ia parecer ainda mais idiota. E se eu tivesse dado um soco nele ou algo do tipo e aquilo virasse uma briga, com certeza eu ia perder.

 

Fui para o banheiro do terceiro andar, que sempre está vazio, e, depois de me trancar em um boxe, sem nem pensar acabei gritando.

 

– Eu sou um idiota! – Mas foi só depois de gritar que eu percebi que, diferentemente do que eu pensava, não estava sozinho no banheiro. Ouvi uma torneira se abrindo e se fechando. Logo depois passos vindo em minha direção.

 

– Já experimentou tomar remédios controlados? – Ai. Meu. Deus. Charlie? O que ele está fazendo aqui? Como eu sou burro! Nem me preocupei com a hipótese dele me seguir!

 

– Sim... – Respondi sem nem pensar direito o quanto isso soava esquisito.

 

– E não deu certo, né? – Falou irônico, rindo um pouco. Dessa vez o riso não me soou frio, me soou bem, animado, sei lá o que. Mas algo naquele riso mostrava que no fundo ele não era tão cínico assim.

 

– Bem, os remédios não eram meus, eram do tio do namorado da minha irmã mais velha, então eu passei mal e fui parar no hospital... – Onde é que eu estou com a cabeça para começar a contar fatos embaraçosos da minha infância para ele? Nunca mais fico mais do que 12 horas sem dormir.

 

Se bem que provavelmente eu estaria fazendo isso mesmo que não estivesse lesado de sono.

 

– Ei, é de se esperar que depois de alguém te aconselhar a toma remédios você fique bravo. – Disse e depois deu umas batidas na porta do meu boxe. – Sai logo dí, bebê chorão.

 

– Eu não estou chorando! – Respondi enxugando as minhas ultimas lágrimas. Mas eu definitivamente não sei mentir. Fica obvio demais. – Okay, só um pouquinho...

 

– Você tem mesmo alguns sérios problemas... – Ele riu. Riu mesmo, não foi um riso cínico e nem tentou disfarçar. Uma gargalhada de verdade.

 

Provavelmente eu fui a primeira pessoa dessa escola a ver o Charlie rindo. Quer dizer, não exatamente, porque dentro do boxe eu não tenho como vê-lo, mas eu sabia que ele estava rindo. Então, por algum motivo, eu não me senti ofendido com o que ele disse. Apenas puxei a descarga, como se ela pudesse carregar para o esgoto todos os meus problemas, e ri também.

 

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Acho que esse capítulo ficou com menos comédia do que os outros, mas espero que esteja bom