18h10mim; 19 de julho de 2011.

Sequei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto enquanto o carro seguia seu caminho para o hotel. Eu me surpreendia como em tão pouco tempo e tão facilmente vínculos podiam ser construídos fazendo novas amizades surgirem inesperadamente. A vida proporcionava coisas tão inimagináveis, tão surpreendentes, tão novas no nosso cotidiano que às vezes eu me pegava pensando em como a vida é realmente uma caixinha de surpresas. Assim como algumas pessoas entram e saem constantemente da minha vida, outras vêm e ficam pra sempre. Dr. Richard, por todo esse tempo que eu passei no hospital, foi como um pai pra mim. Sempre me ajudando quando eu precisava, sempre apoiando minhas decisões, sempre me incentivando a fazer os exercícios para que eu me recuperasse rapidamente. Iria ser difícil me distanciar dele, porém, os laços que existiam entre a gente iriam continuar pela a vida toda. Ambos estávamos tristes e felizes ao mesmo tempo. Triste pela distância que ficaríamos um do outro, sem poder conversar todos os dias como sempre fazíamos – gargalhando de bobagens alheias e brincando de falar a verdade. Feliz pela minha rápida melhora, devido ao meu corpo que respondia aceleradamente aos remédios e aos exercícios – mas não era mais preciso fazer exercícios, não era mais preciso tomar remédios, eu já estava saudável novamente.

Quanto ao Derek... Palavras eram apenas palavras quando tentavam descrevê-lo. Porque ele era muito mais que meras palavras jogadas boca a fora, ele era muito mais do que tentativas de definições do que ele significava, ele era muito mais do que as pessoas o julgavam ser. Derek era o significado de perfeição, não só pelo deslumbre que ele causava nas pessoas – e consequentemente em mim também –, mas também porque ele era a pessoa mais dedicada e afável que eu conhecia.

O jeito que ele olhava pra mim era como se quisesse provar que eu era real, como se pra ele eu fosse uma bonequinha de porcelana que quebrava com facilidade. Imaginei como fora seus dias solitários que ele passara naquele quarto de hospital, sentando numa cadeira desconfortável enquanto eu permanecia adormecida na minha inconsciência. Devia ser tão angustiante ter como companhia uma pessoa quase morta com quem não pudesse conversar e passar o tempo. Talvez fosse essa a razão dele querer ficar o tempo todo ao meu lado, me cuidando como se eu fosse uma rosa que estava prestes a murchar.

O Derek, com certeza, foi a peça fundamental para a minha recuperação. Sempre ao meu lado, segurando minha mão e dizendo coisas incentivadoras para que eu não desistisse do tratamento. Foi um tempo muito difícil, as dores físicas eram muito fortes, às vezes até me deixava um pouco debilitada. Mas ele sempre estava lá, sorrindo pra mim aquele sorriso magnífico que eu amava, renovando as minhas forças.

O carro estacionou em frente ao hotel, Derek saiu do carro e me deu a mão para me ajudar a descer. Levantei a cabeça encarando o lugar. O prédio tinha no mínimo cinco andares e era repleto de vidros por todos os lados que circundavam o local. Jardins cercavam o lugar, decorados por árvores de um verde bem vivo, flores de cores variadas que iam desde salmão a vermelho sangue, e uma grama verdinha com cheiro de recém molhada. Luzes douradas cintilavam o céu deixando o ambiente um deslumbre aos meus olhos. O lugar era de uma sofisticação admirável.

Enquanto caminhávamos para dentro, um pensamento me veio a mente: quanto dinheiro o Derek possuía? Não que isso fosse fazer alguma diferença, porque não fazia nenhuma. Mas eu queria conhecer um pouco mais sobre ele; saber como era sua vida antes de dedicar todo o seu tempo a mim. Eu me sentia mal em relação a isso, saber que ele perdeu meses dentro daquele quarto ao invés de estar aproveitando sua vida me deixava ainda mais culpada. Talvez agora ele quisesse recuperar todo o tempo perdido, e eu iria zelar pela sua felicidade dali em diante.

Derek me conduziu até meu quarto e mostrou-se a disposição se eu precisasse de alguma ajuda, mas eu não queria abusar, eu só queria que ele pudesse descansar em paz sem que precisasse se preocupar comigo. Disse-lhe para ir para seu quarto tomar um banho e relaxar. Ele protestou com uma careta, mas rendeu-se logo em seguida, pois sabia que seu corpo pedia por descanso.

***

Senti meus músculos relaxarem conforme a água percorria o meu corpo levando consigo todo o cansaço. O dia fora cansativo, tantas lágrimas e despedidas que me deixaram exausta. Entretanto, como eu não queria que as lembranças invadissem minha mente outra vez, fechei os olhos me concentrando somente na música que tocava no rádio.

From this moment life has begun
From this moment you are the one
Right beside you is where I belong
From this moment on

Eu estava feliz por ter um momento a sós – sem barulhos de máquinas ou de enfermeiras mal humoradas correndo de um lado para o outro, sem passos apressados nos corredores ou crianças chorando –, apenas o cair da água e o murmurar da música. Eu não podia negar, a tão almejada privacidade depois de todo esse longo tempo no hospital foi algo extremante confortante. Eu senti falta de estar sozinha, senti falta de falar comigo mesma sem que os outros me chamassem de louca, senti falta de cantar alto na hora do banho, senti falta de estar somente com os meus pensamentos.

From this moment I have been blessed
I live only for your happiness
And for your love I´d give my last breath
From this moment on

Eu estava ciente de que minha vida iria mudar completamente dali em diante. Que a partir daquele momento nada mais iria ser como já foi um dia. E eu teria que me adaptar as novidades que apareceria ao decorrer do tempo, mas eu já podia dizer que eu estava preparada quanto a isso. Aceitei facilmente a minha nova vida, até porque eu tinha feito uma escolha quando decidi ficar ao lado do Derek e da sua equipe – aliás, eu tinha descoberto que ele era famoso fazia poucas semanas e isso foi uma grade surpresa.

A partir daquele momento eu viveria para a felicidade; a partir daquele momento seriam novos sorrisos, novas vitórias, novos sonhos.