- O que pensa que está fazendo, love? – perguntou Jack, sentindo a ponta da espada de Brooke lhe cutucar a nuca.

     O sorriso sombrio de Brooke apareceu novamente, e desta vez permaneceu ali. Virou a lâmina na horizontal, pegando boa parte do pescoço de Jack, e a apertou contra ele.

- Enlouqueceu, Brooke?! – indagou Barbossa. – Tudo bem que não é estranho alguém querer matar este palerma, mas... Por que isso de repente?

     Ainda com seu sorriso doentio, a ruiva virou-se para ele, apontando-lhe com a outra mão a o mosquete que havia roubado de Jack.

- Valha-me Deus, menina! – berrou Gibbs, perplexo, do convés. – Que diabos?!

- Abandonem o Pearl. – disse ela, e sua voz soou sem vida.

- Desculpe, não ouvi direito. – Jack limpou um dos ouvidos teatralmente. – O que disse?

- Abandonem o navio. – repetiu a ruiva, entre dentes, apertando ainda mais a lâmina na garganta de Jack.

- Hã... Eu acho que não vai dar, love. – o pirata lançou um olhar significativo para Barbossa, e então voltou-se para ela, sorrindo. – Que tal um acordo?

     Barbossa então agarrou o pulso da ruiva e o torceu nas costas, fazendo-a soltar a arma. Jack abaixou-se agilmente quando a garota tentou lhe dar um golpe no pescoço, e então lhe deu um belo pontapé no traseiro.

     A garota rosnou, furiosa, e tentou acertá-lo de novo com a espada. O pirata pulou para trás, dando com as costas na amurada. Arregalou os olhos ao ver que estava encurralado, mas depois sorriu. Brooke desferiu outro golpe, prendendo a espada na amurada quando Jack se abaixou, passando por baixo de seus braços. Agarrou então o timão e o girou com força, acertando o queixo da garota.

     A ruiva cambaleou para trás, gritando de dor.  Estava desarmada, e agora ambos os capitães a cercavam.

- Tsc... – Brooke semicerrou os olhos, trincando os dentes.

     Correu até a amurada do leme e pulou sobre ela, caindo como um gato no convés. O vestido, que possuía uma fenda desproporcionalmente grande – graças ao gosto de Jack – facilitava correr, coisa que ela aproveitou.

     Agarrou Raguetti pela camisa e o jogou por cima de Pintel, derrubando-os, quando estes tentaram pará-la. Estava prestes a apunhalar Gibbs, que praticamente a agarrava pelos cabelos curtos, quando ouviu a voz de Jack chamá-la.

     O pirata a olhava com superioridade, do timão, enquanto dançava mostrando algo em suas mãos. O colar.

     A Rapiat estava com ele de novo.

- Maldito...

- Vejo que a donzela é dura na queda. – ele ergueu os indicadores no ar, arregalou os olhos e sorriu. – É realmente animador ter alguém assim no Pearl.

     Brooke marchou até o leme, mas Jack desceu rapidamente as escadas, bloqueando a passagem. Segurou os braços da garota, antes que levasse outro golpe, e a encostou em um dos mastros.

- Vamos lá, love. – Jack lhe lançou seu melhor sorriso. -, você sabe que não vai me matar. Posso ver que me ama apenas por olhar nos seus olhos.

     A ruiva cuspiu em sua cara, com raiva.

- Eu odeio você.

- Eu acho que não. – disse ele, limpando a cara. – Eu realmente não entendo este seu comportamento revoltado, de repente, e muito menos como velejar comigo possa ser remotamente desagradável, mas você me deixa intrigado.  – ele sorriu, com o rosto a poucos centímetros dos dela. – Minhas sinceras desculpas, mas você terá que permanecer aqui até que eu alcance meu objetivo.

- E o que eu ganho com isso? – perguntou Brooke, ignorando a proximidade de Jack.

- Você fica com os poderes da pedra – ele sorriu – e eu fico com a... Imortalidade. 

- Hmm... – a garota abriu o mesmo sorriso sombrio de antes. – Não sei, não me parece justo...

- Ah, não? – Jack passou os lábios pelos ombros da ruiva, sorrindo ao ver que esta não resistia.

- Jack... – ela deixou escapar por entre dentes, os olhos ardendo de luxúria.

- Então vamos negociar isso. – disse ele em seu ouvido.

***

     Brooke não sabia dizer quanto há quanto tempo estava dentro daquela cabine, mas também não se importava.

     Olhou para Jack com os olhos faiscantes, e este retribuiu o olhar, mordendo de leve sua orelha.

- Você... é um maldito. – murmurou a garota, arrepiando-se quando Jack beijou seu pescoço. Passou as mãos na testa para tirar os fios rubros grudados ali, por causa do suor.

     Franziu a testa ao ver aquele emaranhado de pernas na cama de Jack. Ela resistira por tanto tempo... Não fazia sentido ela simplesmente derreter-se nos braços dele. Se bem que realmente não se sentia em seu estado normal desde que olhara nos olhos daquela...

- Cobra! – Raguetti gritou lá fora, e depois ouviu-se um sibilo que foi interrompido subitamente.

     Brooke sentiu de novo aquela sensação de estar levando um choque de alta voltagem, e os olhos escuros de Jack a olharam confusos quando esta arquejou.

- O que houve, love?

- E-Eu... – a garota se afastou, mas os braços de Jack a prendiam sob ele.

- Qual é o pro... – Jack se interrompeu, arregalando os olhos e gritando de dor.

- Jack? Jack?! – a garota sentiu um arrepio quando algo pingou em seu rosto. – Você está... sangrando?

     O pirata a fitou ainda com os olhos arregalados, arfando, e então caiu ao seu lado na cama. Sua camisa branca (ou quase), estava manchada de sangue no peito, em cima do coração, e sob a mancha estava cravada, bem fundo, uma letra A.

- Meu Deus... – murmurou Brooke, examinando a ferida. – Jack, o que é isso?!

- Angélica. – balbuciou o capitão;

- Quem? – a ruiva piscou, mas foi ignorada.

     Jack saiu cambaleante da cabine, gritando ordens com tanta raiva que Brooke não conseguiu ouvir.

     Sentada ali, agora sozinha na cabine, estava de volta aos seus próprios problemas. Vestiu rapidamente o vestido e as botas desgastadas, saindo da cabine com a melhor cara que pôde, apesar do que acontecera.

     Olhou para a carcaça da cobra jogada em um dos cantos do convés, cuja cabeça havia sido atravessada por um punhal, e a garota percebeu que, agora morta, os olhos da cobra estavam tão negros quanto suas escamas.

     Ela então percebeu, aterrorizada, que aqueles olhos a controlaram. Aquela hipnótica cor azulada que era idêntica a pedra que achara em Tortuga.

     Desejou ardentemente lembrar-se da mulher que conhecera naquele dia, e que a colocara em toda essa confusão.

     Cerrou os punhos, irritada.

     Estava na hora de fazer alguma coisa.