A simples posse da Rapiat fazia com que Brooke se sentisse mais confiante. Podia ser uma tola supersticiosa, mas acreditava piamente que a pedra viera parar em suas mãos por algum motivo.

     A garota apertou a pedra na palma da mão, estranhando quando esta fez um barulho que não soube distinguir. Desejou que a névoa se dissipasse, e o que quer que estivesse rastejando sobre o Pearl, sumisse.

     Mas nada aconteceu. Apenas houve outro grito, que ecoou até sumir, e o rosnado estranho daquela fera.  

- Por Zeus, Hector! – reclamou Jack, mas longe do que Brooke imaginava. – Sugere algo melhor?

- Usar o nosso único ponto de referência como isca? Qualquer um teria uma idéia melhor! – rebateu Barbossa, aos berros.

- Ah – Jack ergueu uma sobrancelha. – Então me diga a sua.

- Pepper. – chamou o capitão mais velho, e então se virou para onde achava que estava Jack – Ela pode cooperar conosco, seu porco ignorante. Não precisamos “usá-la”. 

- Oh, me desculpe, Sr. Cavalheirismo. – Jack de curvou teatralmente, mesmo sabendo que Barbossa não iria ver.

- O que foi, Barbossa? – gritou Brooke de onde estava, com medo de chamar a atenção da fera.

- Aparentemente o imbecil do Jack perdeu novamente a pedra para ti, não foi, querida? – indagou o capitão, fazendo Brooke sorrir triunfante.

- Oh. – o pirata arregalou os olhos delineados, tateando as roupas.

- Pois bem. – Barbossa deu um sorriso zombeteiro. – Acredito que você tenha o que é necessário para fazer esta coisa funcionar, seja lá o que for.

- E o que seria, capitão? – perguntou Brooke, adicionando o “capitão” especialmente para irritar Jack.

- Talvez um feitiço que só você saiba, ou algo assim. – Barbossa deu de ombros.

     A ruiva piscou, pensativa. Se ela conseguisse mesmo fazer alguma coisa, provavelmente já teria acontecido. Mas mesmo assim tentou. Fechou os olhos e respirou fundo, desejando que saíssem logo dali. Porém, nada aconteceu. Novamente. Nenhum formigamento, nem luzes, nem nada...

- Isto é uma completa tolice, Bar... – Brooke se interrompeu, e então gritou.

     Uma onda de eletricidade atravessou o corpo da garota, passando para a pedra, que brilhou como diamante ao sol. As veias de seus braços e mãos, agora saltados e bem visíveis na pele queimada, pareciam querer explodir.

     Estava prestes a largar a Rapiat quando o Pearl deu uma guinada, derrubando toda a tripulação no convés. Caiu então de joelhos, sentindo como se seu sangue entrasse em ebulição.

- O que quer que tenha sido isso, ajudou bastante. – exclamou Jack, sorrindo ao ver a neblina sumir.

- Eu estou bem, obrigada por perguntar. – grunhiu Brooke, cambaleando ao se levantar.

     A ruiva parou ao ver a fera que cobria praticamente todo o convés superior. Parecia mais com uma serpente, com a largura de um barril e muitos, muitos metros de comprimento. Perguntou-se como o Pearl conseguia sustentá-lo.

     Mas não teve tempo de pensar na resposta. Barbossa apareceu como um raio à sua frente, fincando a espada em um dos olhos da serpente.

     A fera recuou e sibilou, mostrando uma quantidade de dentes parecida a de um tubarão. Havia sangue grudado em suas escamas verde-escuras, e perto de si jaziam os restos dos tripulantes esmagados por ela.

- Veja bem, seja-lá-o-que-você-for – disse Jack para a serpente com seu jeito estranho. -, é um prazer conhecê-lo, mas você está atrapalhando e eu estou com pressa. Savvy?

     O pirata então desferiu um golpe na cabeça da serpente, arrancando-a. Brooke piscou, pasma, fazendo Jack sorrir cheio de si, mas estranhou quando esta deu um grito, apontando algo atrás dele.

     Da carcaça da enorme serpente, agora sem cabeça, saiam várias cobras, desta vez do seu tamanho normal.

     Jack fez uma careta, enojado.

- Esse seria um ótimo momento para você surtar novamente, Pepper. – disse ele.

- Surtar?! – a ruiva fuzilou-o com os olhos. – Eu quase morri!

- Ora, não faça drama, love. – Jack revirou os olhos. – Apenas faça aquilo de novo, tenho certeza de que não acontecerá nada com seu lindo rostinho. – ele afagou a face de Brooke com a mão cheia de anéis, recebendo um olhar de escárnio como resposta.

     A garota suspirou, dando um passo à frente, e estranhou quando as cobras próximas a ela se afastaram, como se para dá-la espaço.

     Com um pequeno sorriso, deu outro passo à frente, feliz ao perceber que sua mente não estava lhe pregando uma peça. As cobras realmente se afastavam.

     Agitou as mãos para fora do Pearl, como se para lhes mostrar o caminho a seguir. E elas seguiram. Apenas uma ficou no convés, passando por entre suas pernas em ziguezague, como se estivesse brincando.

     A ruiva olhou assustada para ela, com medo de fazer algum movimento, e piscou a cobra a olhou com a mesma atenção. Percebeu então a peculiar coloração negra de suas escamas, mas o que lhe chamou a atenção foi outra coisa.

     Os olhos dela, fixos nos de Brooke, tinham a cor de lápis-lazúli.

***

- Que diabos está fazendo, Pepper?! – indagou Jack, indo até ela.

- E-Eu...

- Livre-se desta coisa!

- Não. – a garota estendeu o braço para a cobra, no qual esta se enrolou no mesmo instante. – Quero ficar com ela.

- Quê?! – Jack arregalou os olhos.

     Brooke não respondeu, apenas ficou olhando para os olhos da cobra, com uma sensação inexplicável de perigo e ao mesmo tempo de... poder.

- Oh bugger, primeiro é Hector com aquele maldito macaco, e agora você com esse... essa... cobra! – o pirata ergueu os braços, exasperado.

     A mente da garota ia a mil por hora, e por algum motivo o olhar daquela cobra a fez se sentir a dona do mundo. Chegou a imaginar-se chamando aquelas centenas de cobras de volta ao convés, atacando toda a tripulação e ficando com o Black Pearl só para si.

     Por alguns segundos, os olhos azuis de Brooke desgrudaram-se da cobra e analisaram Jack e Barbossa ao leme, discutindo como sempre. Os dois melhores piratas de que já ouvira falar...

     Porém, a admiração foi rapidamente tomada pela raiva quando se lembrou de que estava praticamente sendo usada por eles, para encontrar sei-lá-o-que em sei-lá-aonde, e para isso precisavam da pedra.

     Mas.

     A pedra pertencia à ela. Assim como os poderes bizarros que acabara de descobrir.

     Pensou novamente na possibilidade de um ataque e um sorriso sombrio invadiu seu rosto sem que ela sequer percebesse.

     Sentiu então as escamas geladas da serpente negra em seus pés, e sentiu vontade de gritar. Foi como se tivesse levado um choque, ou como se alguém tivesse algo em sua cabeça à força.

     Olhou então para a serpente, evitando agora seus olhos, e a empurrou para longe com o pé.

     Algo estava acontecendo com ela. E, ela tinha certeza, não era uma coisa boa.