- Eu ainda quero saber o motivo da minha vinda aqui – disse Thomas sentando-se em um dos bancos da praça.

Sentara ao lado de uma garota loira, que trajava uma calça jeans, uma regata branca e um colete preto por cima. Usava uma sandália de salto baixo e os cabelos presos em um rabo de cavalo. Thomas não pôde deixar de perceber que Katherine estava um pouco tensa.

- Te chamei porque queria que você me respondesse uma coisa, vai ser rapidinho – explicou Kate.

- Não podia ter me ligado? – olhou para seu relógio de pulso. – Kate, eu estou realmente atrasado pro trabalho...

- Não, eu não podia ter te ligado, porque eu estava sem crédito e eu acabei... Quebrando meu telefone. Foi um acidente – Thomas soltou gargalhou. – E para rir, seu besta. Eu estava um pouco... Nervosa, então ataquei meu telefone no sofá, ele quicou e caiu no chão. Só fui perceber isso no dia seguinte. Agora sobre o trabalho, relaxa que você é filho do dono da empresa, te demitir James não vai – deu uma piscadinha marota.

- Vamos lá, diga o que você quer saber – ele sorriu para ela.

- Quando eu fui embora, de verdade, após conversar com você, alguém foi falar com Christopher?

- Eu não vi muito bem, só lembro-me de uma pessoa que foi conversar com ele. A Anne. Por quê?

- É... Nada demais. Bom, ela é loira, certo? – perguntou sentindo os olhos começarem a ficar marejados.

- Obviamente – disse confuso com a pergunta e com a reação da loira.

- Obrigada. Já pode ir, era só isso. Bom trabalho, Thomy.

Deu um beijo rápido na bochecha de Thomas e saiu apressadamente passando os dedos no rosto, tirando todas as lágrimas existentes. Sophie não havia mentido, a loira misteriosa existia mesmo. E seu nome? Era Anne.

- Alô?

- Ah, e aí, queridinha? Pensou no que eu lhe disse? – perguntou Sophie com a esperança de que a loira tivesse aceitado sua proposta.

-Qual é o plano? – falou decidida.

- Ora, ora, acho que alguém aceitou.

- Desembucha! – exclamou Katherine.

- É o seguinte, sábado fiquei sabendo que a banda dele vai se apresentar lá na Lanchonete do Joe, eu acho que você sabe onde fica.

- Sei sim, e o que mais?

- Com certeza a loira de farmácia vai estar lá. Quero que fique atenta, caso o Chris esteja prestando atenção nela. Se isso acontecer, quero que o distraia. Porque enquanto isso eu vou apagá-la e levá-la para fora da lanchonete. A colocarei dentro de meu carro e levarei para a minha casa.

- O que você vai fazer com ela?

- O que você acha? Que vou tomar chá com a donzela? Oh, Katherine, por favor. Eu vou matá-la! Porém primeiro ela vai sofrer as conseqüências – sua voz acabara de mudar para uma aterrorizante que fez até Katherine sentir um arrepio de medo. – Será que posso confiar em você? Ou você agora está morrendo de medinho.

Aquilo calou a loira por alguns segundos. Sua boca entreaberta e seus olhos arregalados mostravam o quão assustada estava com aquilo, tremia de medo. Respirou fundo e tentou relaxar – como se isso fosse possível -, já sabia o que fazer.

- Pode contar comigo, Sophie. A loira de farmácia não perde por esperar. Aliás, eu descobri o nome dela, é Anne.

- Anne? Que nome mais ridículo, combina com ela. Enfim, quero que assim que o show acabar, você entregue um bilhete para Christopher. O bilhete vai se tratar de uma suposta despedida da loira, dizendo que iria para outro país. Assim ele não vai procurá-la.

- Você pensou em tudo, hein? Estou dentro.

- É assim que se diz garota. Sabia que você não era toda aquela santinha que aparentava ser. Acho que você conseguiu ganhar minha confiança, quando acabarmos com a mulher, eu prometo que não te machucarei quando formos lutar pelo amor de Christopher novamente – podia-se sentir o sorriso de satisfação no rosto dela.

- Ótimo, nos encontramos lá na Lanchonete, sábado. Às...

- Às 20h00. Até mais, Katherine. E não pense em me trair, se não eu acabo com você – Sophie riu maldosamente.

- Eu não seria louca de fazer isso. Quero-a longe do Chistopher tanto quanto você.

- Ótimo – disse e desligou.

Sábado, 20h00, na Lanchonete do Joe.

Um amontoado de pessoas se encontrava na frente do pequeno palco de madeira, que tomava todo o fundo da lanchonete. Pareciam animados, e o dono da lanchonete mais ainda, claro. Aquele tanto de pessoas renderia bastante dinheiro.

Sophie estava encostada na parede em um canto bastante reservado para que ninguém notasse sua presença. Esperava Katherine ansiosamente, temia que a garota desistisse logo a essa altura do campeonato. Teria que ser hoje, era a oportunidade perfeita para o seu plano. E se a McDonnell não cumprisse com o combinado, iria sofrer as devidas conseqüências.

Olhou para o relógio, já havia se passado dez minutos. Bufou quando notou o extremo atraso da sua comparsa. The Last Night acabara de subir ao palco e a loira misteriosa – ou Anne –, se encontrava sentada em uma das mesas vazias, pois todas as pessoas dali estavam de pé para ver o show. Sophie olhou pela oitava vez para a porta e avistou uma cabeleira loira entrar por ali, sorriu satisfeita.

- Dez minutos de atraso, Katherine? Sorte sua de eu estar tão de bom humor hoje – sorriu ruidosamente olhando para Christopher que escolhia uma palheta.

- Vamos acabar logo com isso ou não? Aquela é a Anne? – perguntou Kate apontando para uma loira que estava sentada.

- Exato! Ela está afastada, então será mais fácil do que pensava. Assim que eles tocarem a primeira música, vá para a multidão e se destaque. Fique visível, faça Christopher olhar somente para você.

- Está certo, te encontro na sua casa, assim que eu terminar minha parte. Boa sorte, Sophie. Vai precisar – sorriu Katherine.

- Sorte é para os despreparados, coisa que eu não sou. Pegue o bilhete, agora vá – ordenou entregando-lhe um pedado de papel.

Katherine pegou e andou até lá, sem deixar de tirar um segundo se quer os olhos de Christopher. Assim que achou a posição perfeita. Olhou para trás e viu Sophie com um olhar doentio novamente. Escondeu o medo e afirmou com a cabeça, voltando a atenção para Christopher. Depois de alguns segundos, íris castanhas a encontraram e ali ficaram como se estivessem hipnotizadas.

Chistopher estava surpreso e feliz por encontrá-la ali. Ao ver o sorriso doce que ela o mandara, sorriu de volta, não conseguiu segurar. Tocava agora mais animadamente. Porém viu que a loira olhou para trás e quando voltou a olhar para ele, o sorriso tinha sumido, dando lugar a olhos arregalados e marejados, transbordando medo. Christopher logo a lançou um olhar de preocupação.

Quando a música finalmente parou – que foi logo alguns segundos depois -, Katherine correu para o palco. Puxou Christopher pelo braço até um canto mais afastado e disse olhando em seus olhos.

- Escute bem o que estou dizendo, seja rápido! Sophie raptou aquela loira que está com você, a sua namorada, a Anne. Sophie usou álcool para desmaiá-la e nesse instante está levando Anne para a casa dela – exclamou assustada. – Ela vai matá-la, Christopher.

- C-como? Sophie vai matar Anne? Katherine como você... – estava tão desesperado que mal notou o “sua namorada”.

- Eu me fingi de companheira dela. Fingi que iria ajudá-la, o que foi bastante difícil, mas era preciso ou tudo isso seria pior. Eu chamei a polícia, os mandei até a casa de Sophie. Mas não sei se chegarão a tempo. Preciso que vá salvá-la. Ande!

Assim que Christopher processou todas aquelas palavras, beijou a testa de Kate e sussurrou um “obrigado”. Depois saiu como um furacão para fora da lanchonete, deixando as pessoas que assistiam a cena sem ouvir nada, extremamente confusas. Katherine respirou fundo e limpou as lágrimas, tentando colocar na sua cabeça que tudo ficaria bem. Subiu no palco, recebendo olhares interrogativos. Foi até Peter e pediu para que ele a deixasse usar seu microfone, e ele assim o fez.

- Bom, sei que a maioria de vocês está se perguntando o que aconteceu. Quer dizer, a maioria não, todos vocês estão. É uma coisa pessoal, não precisam se preocupar, todos ficarão bem. Eu sei que vocês estão aqui para ver o show, mas fiquem tranqüilos ele vai continuar – tentou dar seu melhor sorriso, olhou para trás e os meninos tinham uma expressão interrogativa.

- Kate, nós não podemos continuar sem os solos de Christopher, eu não dou conta – sussurrou Frank preocupado.

- E eu ainda quero saber o que está rolando! – assumiu Will levantando as mãos para cima indignado.

- Eu conto tudo para vocês depois quando isso terminar. O show tem que continuar. Eu toco no lugar dele!

- Katherine, você tem certeza? Você sabe tocar? Naquele dia que você foi lá ao ensaio, disse que só sabia tocar um pouco! – disse Peter receoso.

- E isso já faz quase dois anos! Eu fiz aula, enquanto estive fora. Confie em mim, por favor, eu sei muito bem o que estou fazendo.

- Está bem, Kate! Vou te passar as notas – Frank disse sorrindo amigavelmente.

Assim que as notas foram passadas, a música começou. A música que tocava era a que Christopher compusera há tempos atrás, “When You Smile”, Katherine adorava essa música. Quando os primeiros acordes que seriam de Christopher começaram, os meninos a olharam preocupados, mas assim que viram a habilidade que a garota tinha com o instrumento, acabaram ficando tranqüilizados.