Anjo da Saudade escrita por Ana Carol M


Capítulo 8
Capítulo 8




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"Muitas vezes algo acontece e nos magoa tanto que nos perdemos e esquecemos quem somos. Mas no final sempre acontece algo que nos traz de volta a realidade."

Pensei nas palavras que tinha acabado de ouvir, e tive uma conclusão: Eu estava enlouquecendo ou uma das melhores coisas que tinha me acontecido naqueles últimos meses iria me abandonar?

-Você não pode me deixar - disse a ele.

-Calma, não vou te deixar, - falou enquanto me abraçava fortemente

- Quem é Allan?

- O mal.

Eu o olhei dentro dos olhos, que pareciam um pedaço do céu.

-Como assim?

- Não posso contar

-Quando vou te ver novamente? .

-Em breve. Você saberá quem eu sou- Disse ele olhando intensamente para meus olhos.

 Eu o abracei fortemente, ele me deu um beijo caloroso na testa e desapareceu, me deixando sozinha na enorme casa.

  De repente comecei a ver o sentido das coisas. Mesmo meu mundo desmoronando em minha cabeça, eu estava bem, por que algo aconteceu, conheci Miguel e mesmo não percebendo, ele era meu apoio, o meu guarda-chuva em uma tempestade, era minha lua em uma noite sombria, meu céu em um dia quente, meu universo do qual mantinha meu mundo em pé e girando como se nada tivesse acontecendo.

    Quando retornei dos meus pensamentos me lembrei que ainda tinha que ir para a escola. Percebi onde estava, era a sala de estar da minha casa e estava encolhida no sofá com uma almofada encharcada de lagrimas em meu colo.

 Me recompus e passei no banheiro rapidamente, ergui a cabeça em frente ao espelho, afinal seriam apenas alguns dias sem Miguel. Eu fechei a casa e caminhei na rua, o sol estava no céu, no seu máximo afinal em minha cidade com suas sete montanhas era bem difícil dele aparecer completamente no céu.

 O caminho estava sendo longo, ou parecia naquele dia, o metrô estava vazio e eu parecia um fantasma, na zona de embarque. Estava com um pouco de medo, não sabia direito o que ia acontecer, e quem era Allan? Porque Miguel sumiria? E ainda tinha o assunto de minha mãe. Acordei com o barulho do trem chegando, não estava dormindo mas pensando, para mim era quase igual só que quando dormia eu ficava inconsciente e quando pensava sabia o que estava fazendo. Até os olho eu fechava. O trem também estava praticamente vazio, tinha poucas pessoas e todas elas estavam focadas em um lugar, não pareciam me notar, entrei e sentei. Por sorte o trem parou na zona de desembarque que estava acostumada a descer. Estava aliviada ao ver que apenas eu tinha saído do trem, e que nao havia pessoas ao meu redor. Aquilo realmente era estranho, sempre saia de casa quando já havia diversas pessoas na rua, resolvi olhar para o relógio e não acreditei, estava uma hora adiantada. Em vez de sair do metro, resolvi andar até que achei um banco vazio onde me sentei e fiquei olhando as outras pessoas.

 Eu vi um senhor que parecia meu pai, e acabei pensando nele. Meu pai levou sua nova namorada para me conhecer, noivou com ela na minha frente e ainda eu iria me trancar num colégio interno. Tudo bem que já sabia disso, mas nunca tinha pensado bem em tudo isso, e a ficha resolveu cair. Eu estava realizando o sonho dele, ajudando minha amiga. E não tinha pensado em mim ainda. No quanto seria ruim para mim. Ficar longe da liberdade. Eu não podia deixar as coisas assim. Eu enxerguei-me reflexo num dos espelhos que tinha nos pilares de onde estava. E era tão frágil, ingênua, tão fraca. Minhas roupas todas clarinhas quase sem cor, me deixavam sem sal. Apesar de nunca ter ligado para meu corpo e minhas roupas, mudei naquele momento, ou melhor, tive vontade de mudar. Levantei do banco e o relógio da área de embarque gritou, aquele grito era de que se eu pegasse o trem naquele instante iria chegar atrasada na escola. Sai rapidamente, depois desci e fui em direção a escola No caminho planejei o que iria mudar, até que lembrei que naquele sábado eu ia fazer compras com Beatrici, estava sendo boazinha com todos, então pensei “Por que não tirar proveito disse?”. Pegar o cartão de crédito do meu pai era fácil, afinal sempre que o pegava não gastava muito, mas seria diferente. Se Beatrici se recusasse a me dar algo eu teria outra opção.

Até que tive um choque. Quem eu estava querendo enganar? Eu não iria fazer isso. E eu sabia bem.

  Cheguei ao colégio e vi David encostado na placa da escola, ele parecia pensativo e preocupado. Não pensei muito e corri até ele joguei minha mochila ao lado dos pés dele e pulei o abraçando fortemente, ele primeiro levou um susto, mas depois retribuiu o abraço. Eu o larguei e dei um enorme sorriso. Ele sorriu também, mas depois fez uma careta estranha.

-O que foi? - perguntei curiosa.

-Você está diferente - falou ele me observando.

-Diferente como?

-Não sei, você bebeu? - perguntou ele irônico.

-Não. Eu apenas acordei pra vida- disse enquanto girava com os braços abertos. Eu parei e o olhei curiosa, mas com o meu enorme sorriso ainda no rosto. Ele me olhou e deu passos rápidos até mim então me abraçou, e depois me levantou e começamos a girar e comecei a rir loucamente com nunca tinha feito, normalmente teria ficado brava com David, mas eu estava feliz e diferente.

 De tanto girar David perdeu o equilíbrio e nos levou a um belo tombo, como já estava no chão, me deitei na grama e ri muito alto até perder o fôlego, David me acompanhou depois da sessão de risos finalmente notamos Sophie com os olhos arregalados e de boca aberta na nossa frente.

-Posso saber o que foi isso?- perguntou ela deixando a mochila no chão e colocando as mãos na cintura, me sentei e a olhei, depois olhei para David nós dois nos olhamos com um olhar maldoso e com uma risada gritamos:

-Cócegas na Sophie

 Ficamos em pé num pulo e corremos até ela, depois começamos a fazer cosquinha na barriga dela, o seu ponto fraco, de tanto fazermos cócegas ela chegou a deitar no chão de tanto rir, eu e Davis acompanhamos ela sem deixar de rir e fazer cócegas nela.

-Para! Por favor- falou ela entre uma gargalhada e outra.

 Estávamos cansados e paramos com as cócegas, mas não de rir. Nós nos deitamos ao lado de Sophie, com a agitação nossas respirações estavam rápidas, mas não incomodou ficamos observando o céu que tinha poucas nuvens.

-Eu amo vocês - falei.

-Eu também- disse Sophie.

-Eu I Love you - disse David sorrindo com a mistura de idiomas.

 Novamente o infeliz sinal tocou, mas naquele dia não me incomodou Soava como um aviso de que era meu ultimo dia naquele colégio, com aquelas pessoas que passaram o último meses, me ignorando, e as únicas pessoas que foram boas comigo eu estava levando comigo. Era uma sensação inexplicável, mesmo com minha mudança para o colégio, o casamento do meu pai e Miguel deixando de aparecer para mim, parecia que estava saindo da Casinha, tinha visto o mar pela primeira vez, conhecido o mundo em apenas minutos, mas que foram bastante para me acordar para vida. Meu pai estaria feliz com sua nova namorada e também iria me ver os finais de semana, e eu estaria muito feliz com tudo isso. E ainda tinha os meus amigos que pareciam ter gostado da minha verdadeira personalidade que estava escondida dentro de mim desde que minha mãe partiu, quando pareceu que meu mundo dia acabado e apenas meu corpo estava vivo, mandando apenas informações para minha alma até Miguel aparecer e me trazer de volta a realidade. Eu estava ótima eu sabia que ele voltaria.

As aulas passaram voando, ainda consegui aproveitar olhando para todos os lados para poder gravar o nome e o rosto de todas aquelas pessoas que  provavelmente só veria novamente quando estivessem mais velhos.

  Nós finalmente saímos para minha casa, rimos muito no caminho para lá. Chegando lá, pedi uma pizza para nós enquanto fazíamos algumas malas. Comemos tranquilamente.

-Eu quero ver o sótão- falei.

--Você nunca viu? perguntou David rindo.

-Não- respondi séria.

-Então vamos- falou Sophie.

  Peguei a chave que estava escondida em um armário do meu pai, era uma chave antiga e um pouco pesada.

-Nossa! Olha essa chave, muito antiga. - falou David era apaixonado por antiguidades.

-É verdade. A única fechadura que meu pai não trocou da casa foi a do sótão- falei.

-Vamos logo que eu estou com um pouco de medo -falou Sophie.

-Não se preocupe, eu te protejo, e protejo a Mary também - disse David abraçando Sophie e ele me deu um piscadinha. Eu sorri.

 - Vamos logo, sigam-me - falei aos dois.

 Nós entramos num corredor que ficava bem escondido no segundo andar da minha casa e no final dele tinha uma escada que dava no sótão.

-Espera. Vamos pegar lanternas, tem poucas janelas e não tenho certeza se tem luz lá- disse eu parando todo mundo.

-Tá legal - falou David. Sophie estava com tanto medo que nem falou.


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