Anjo da Saudade escrita por Ana Carol M


Capítulo 22
Capítulo 22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/145721/chapter/22

"Me coloque em uma guerra e verás que nada pode me vencer"

Quando acordei de cara na terra ainda era de noite, mas a lua estava brilhando novamente sem vestígio algum de que ocorrerá um eclipse.

Quando levantei minhas mãos e braços estavam completos de marcas violetas que corriam pelo meu pescoço, seios e tronco. Eu sabia porque as sentias. Ao ver minhas “tatuagens” olhei as pessoas desacordadas ao meu redor. Cada uma estava com marcas pelo corpo como as minhas, mas eram de cores diferentes. Allan estava com marcas azuis, Miguel com pretas, Thea com verdes, Cloe com amarelas e Kathrina com vermelhas.

- Ei acordem !– chamei ao empurrar o pé de Allan.

 Lentamente cada um foi acordando e me olhavam confusos.

- Mary? – perguntou Thea com os olhos apertados.

- Sim – falei sorrindo.

- Você esta com o cabelo rosa – falou Cloe, eu podia ver pelo olhar dela. Ela achava maravilhoso.

- Estou? – peguei uma mechinha do cabelo caído em minhas costas, me assustei. Era verdade. Meu cabelo estava rosa escuro.

 Quando todos estavam de pé ao meu redor pude ver uma mexa de cabelo em cada um, com a cor mais clara de suas marcas.

 Todos olhavam para seus braços sorrindo, inclusive Miguel. Fazia tempo que eu não o via sorrir.

- Ocorreu tudo bem? – perguntei

- Melhor do que o esperado – falou Kathrina me abraçando.

Segundos depois me senti mais forte, todo o poder que senti ao estar flutuando eu sentia novamente ali. As marcas no chão haviam sumido, só restavam pessoas corajosas e sorridentes, cheias de marcas coloridas pelo corpo.

 Coloquei meu sapato e puxei a capa para me cobrir, repentinamente estava frio.

- Vamos voltar para o colégio? – perguntei.

- Vamos, teremos que treinar. Todos os dias vamos nos encontrar no sótão da biblioteca para treinar. Teremos uma guerra  e não é de brincadeira – Filosofou Thea.

- E as regras do colégio? – perguntou Kathrina.

- Bem, eu sou monitora. Vocês não terão problema. Qualquer coisa eu faço todos caírem no sono. È para o bem deles.

Voltamos ao colégio, em silencio.  Quando estávamos perto do saguão ouvi Miguel.

“Se eles me encontrarem, é o fim” ele parecia preocupado.

- Quem irá te encontrar? – perguntei a ele.

Todos ficaram olhando para ele.

- Como você sabe o que eu estou pensando?

Naquele momento não importava se ele havia falado ou eu havia escutado os pensamentos.

- Não interessa. Responda a minha pergunta – falei severamente.

Ele me olhou com ódio, fechou os olhos e com um sorriso no rosto desapareceu.

- Co-como ele fe-fez aquilo? – perguntou Cloe apavorada.

- Essas marcas deve produzir alguma coisa em nós. – falou Thea.

- O que você viu? – perguntou Allan ao se aproximar de mim.

- Ele ficou preocupado. Se alguém o encontrasse seria o fim. Acho que não podemos confiar em Miguel.

- Tudo bem, vamos voltar para nossas camas, e amanha vamos começar a nos encontrar na biblioteca.

Nos despedimos e voltamos para cama. No outro dia Sophie teve um ataque quando viu meu cabelo e minhas marcas.

- Como você fez isso?

- Com tinta e tatuagem – falei tentando parecer obvia.

Ela ficou tagalerando até a hora do almoço sobre o porque de eu não tê-la avisado ou convidado ela.

- Sophie – falei alto, segurei os ombros dela e a olhei bem nos olhos – eu não podia te levar. Vai ficar tudo bem, esqueça isso.

Ela ficou paralisada me olhando. – Vai ficar tudo bem – ela repetiu. E saiu pela porta.

Meu deus, o que eu estava fazendo? O que era aquilo? Os dons do qual haviam dito?

A noite quando encontrei com eles, contei o que havia dito.

- Parece que você ganhou dons psíquicos. – dizia Kathrina olhando os livros nas prateleiras.

- Que ótimo. Agora o que eu posso fazer?

- Invadir a mente, confundi-la, produzir pensamentos e imagens nela, até enlouquecer as pessoas – falou Cloe enquanto lia um enorme livro velho.

- Estou ficando com medo.

- E você tem razão de ter como eu disse não estamos lidando com coisa pouca. Vamos lutar com dezenas de almas, com poderes que nunca imaginamos.

- Existe tantas almas ruins assim?

- Sim, na realidade se elas ganharem a guerra será a única forma de não serem absorvidas e definitivamente mortas pelo planeta x. Que passará daqui a um ano. – disse Thea, desenhando em um mapa.

- Allan, você disse que almas não podiam ser mortas.

- Não neste mundo. Mas o planeta x é a coisa mais poderosa que conhecemos. Se ele bater na terra e ela estiver controlada pelas trevas ele não seguirá seu caminho e todas as almas aprisionadas lá serão soltas. Ou seja, caos total. – respondeu ele, sentado ao meu lado.

- Eu não fazia idéia. Mas como vamos lutar se estamos no mundo humano?

- Com esse eclipse que ouve todas as almas que estão aqui, tem três meses  de vida. Elas ganham um corpo. As boas e as ruins.  – novamente Allan me explicou.

- E porque ninguém me avisou que temos menos de três meses  para aprender a lutar? – meu coração começava a acelerar rápido.

- Não é algo motivador, e precisamos da sua ajuda. – respondeu Thea.

- Se o único modo de ganhar é congelando as almas, com vamos congelá-las?

Allan levantou, foi até um baú enorme o abriu e de lá trouxe um cajado de madeira escura, com uma pedra transparente na ponta de cima.

- Basta você encostar essa pedra no inimigo – falou ele apontando para a pedra.  Eu fui em direção a ele. Aquilo era nossas armas. Ao tocar no cajado uma luz forte veio em direção aos meus olhos.

Miguel estava correndo, de sombras negras que gritavam de dor, ele estava apavorado. Não havia saída era uma floresta fechada. As sombras o fecharam em um circulo e ele caiu sentado entre as raízes.

- Você nos traiu – dizia uma voz rouca e gélida.

- Não trai, a menina foi coroada, não pude fazer nada – suplicava ele.

- Você tinha que ter feito – falou novamente a ele – agora você terá que pagar.

As sombras se amontoaram em cima dele, e ele gritava. Até que todas se afastaram e ele estava lá, todo machucado parecia que estava engasgado. Os seus olhos ficaram totalmente vermelhos e ele desmaiou. Havia risada vindo daquelas sombras. Miguel se apoiou pelos cotovelos e sorriu maliciosamente. Seus olhos voltaram ao normal. Mas não era mais ele que estava naquele corpo.

Voltei para o sótão. Todos me observavam.

- O que houve?

- Miguel – contei todo a historia.

- Vamos tomar cuidado com Miguel.

Os dias passaram mais rápidos do que os anteriores. Eu tinha a leve sensação de que aquele ano passaria como uma estrela cadente, extremamente rápida.

Depois de um mês estudando a teoria, Thea nos ensinou como realmente lutar.

David não era mais um problema, ele havia ficado com seu grupinho e parecia não se lembrar de nós. Sophie estava muito ocupada com seu namorado que nem se lembrava de mim, apenas quando voltávamos para o quarto, do qual eu ficava lendo e fingindo escutar como os músculos de Drigo eram enormes.

 Eu estava me saindo mal no colégio, mas tinha coisas mais importantes. Aproximavam-se as provas finais daquele semestre. E com ele a guerra.

 Eu não posso negar que me diverti muito naquele sótão com meus protetores. Passávamos horas lá, pesquisando aqueles símbolos, pesquisando técnicas de batalha. E alguma coisa que acabasse com tudo. Allan aproveitava tudo ara quebrar o clima tenso.

Outro mês se passou e no dia do meu aniversário. Thea me acordou as pressas.

- Mary? Mary acorda – dizia ela desesperada -  a rainha Poliana foi seqüestrada.

- Minha mãe? – acordei mais alerta.

- A guerra começou – falou ela.

Corri, coloquei uma roupa confortável, enchi uma mochila de coisas que me pareciam importantes.  Revisei umas três vezes se meu colar estava no meu pescoço. Dei um beijo na testa de Sophie que dormia, sai as pressas com Thea. Cloe e Kathrina nos encontraram na sala e no saguão encontramos Allan.  Não nos importamos em sermos vistos, apenas corremos para a saída a trás do ginásio. Thea me entregou uma bolsa pesada, e ao abrir os braços as asas verde esmeralda surgiram, grandiosamente. Ela pegou a bolsa de volta e me pegou no colo.

- E os outros?

- Eles sabem voar de outra maneira – respondeu ela.

 Apesar de toda a bagunça que estava tudo aquilo, era lindo olhar a cidade de cima. Voamos cada vez mais alto. Até que acharmos um terreno suspenso no céu.

- Apenas pessoas mortas e com dons podem ver. – falou Thea ao me largar cuidadosamente no chão.

Allan, Cloe e Kathrina surgiram logo atras. Eu abracei Allan fortemente e o beijei. Não tinha certeza de que as coisas acabariam bem.

- Eu te amo – disse ele, me olhando nos olhos. O desespero em seu rosto era evidente.

- Eu também te amo – disse a ele sorrindo.

Nos beijamos novamente e saímos correndo a trás de Thea. O lugar era cheio de arvores, até que um portão enorme apareceu na nossa frente. Thea tocou no cadeado e ele se rompeu.

Corremos para dentro, havia um castelo.  Com quatro torres, e portas de vidro.

 Um homem alto e cabelo cacheado apareceu. Ele tinha um cajado com a pedra verde.

- Seja bem-vinda de volta Srta. Thea.

- Obrigada Sargento Benjamim. – ele acentiu com a cabeça. – A guerra começou.

- Santo deus, como você sabe? – ele estava mais atrapalhado.

- Antes de ser capturada a Rainha me enviou um sinal. – falou Thea – Esta é Mary Ann, a princesa – ela apontou para mim, e senti minhas bochechas corarem.

- Entrem logo, eles devem estar a caminho – Gritou o Sargento – Peguem os cajados no primeiro quarto subindo as escadarias, vou reunir o exercito.

Subimos uma enorme escadaria central, o castelo parecia ser feito de vidro. Todos os objetos lá dentro exceto as paredes eram de vidro. Naquele momento desejei ter tempo de olhá-lo com atenção, mas não tínhamos tempo. Corri para  quarto, havia capas, espadas e varias outras armas.

- Mary, vista a capa de ouro, as outras coloquem as azuis – gritava Allan, colocando uma azul também – prendam o cabelo, Mary coloque a coroa – ele apontou para uma coroa dentro de uma caixa de pedras.

- Mas... – ninguém me disse que eu teria que colocar uma coroa.

- Rápido – gritou ele. E assim eu o fiz. Allan havia colocado varias coisas em uma bolsa. E quando descemos havia milhares de pessoas lá em baixo, com arcos e flechas, espadas, varinhas. Todas vestindo capas de cores diferentes.

- Porque as capas? – murmurei a Cloe.

- Cada capa aumenta a possibilidade de alguma coisa, a azul é de proteção, a vermelha de força e assim vai – sussurrou ela em meu ouvido.

- Apresento-lhes a Princesa Mary Ann – Gritou O sargento Benjamin que usava uma armadura e uma capa vermelha.

 Todos aplaudiram, mas um tremor afetou a todos.

- Eles chegaram – falou Allan.

Não pensei duas vezes, desci as escadas e abri a porta do castelo, eles estavam derrubando  o portão.

- Abram o portão – gritei, alguém teria que me ouvir e assim fizeram, o portão foi aberto. Eles entraram trotando, pessoas encapuzadas e sombras, o frio invadiu o lugar.

Todas as pessoas que estavam no castelo se aproximaram das minhas costas.

- Devolva minha mãe – gritei ao um homem, encapuzado que segurava um cajado com pedra negra.

- Não – falou ele levantando a cabeça. Era Miguel.

- Miguel? O que fizeram com você? – falei horrorizada, eles estava frio, violento, maligno.

- Limparam a minha mente, nada mais que isso – disse ele rindo.

- Como? Você sempre foi o certinho. Você não pode – disse Allan.

- Claro, você nunca se perguntou se existia alguém que te controla-se? Sem você perceber?

Allan ficou pensativo olhando para o chão. O que era que ele estava dizendo?

- Você acordava todos os dias no meio de um monte de pessoas mortas. Não lembrava de nada, e sabe porque? Porque sempre consegui te controlar, eu fazia tudo o que mais eu desejava e quem ganhava a culpa era você. Estava perfeito, até você se apaixonar por essa garota imunda, e ela quebrou essa ligação.

 Ele levantou o rosto e encarou com raiva Miguel.

- Allan, controle-se – falei a ele.

- Nunca insulte a Mary – falou Allan com raiva.

Ele riu. – Vamos parar de brincar.

Miguel desapareceu, com meu cajado eu fui tentando ajudar quem eu via.

Estava uma bagunça, pessoas de todos os tipos sendo congeladas, elas me apertavam.  Conforme cada sombra que eu congelava, minhas forças iam diminuindo. Eu já estava ofegante quando voltei para a porta do castelo, tentei achar Allan, ou Miguel. Mas varias flechas pegando fogo branco me perseguiram.  Nós estávamos perdendo.

Novamente desci as escadas e fui ajudar quem estava por perto. Mais duas sombras congeladas e eu estava quase desmaiando.

- Vamos corra – falou Allan ao me puxar para o meio da arvores.

- Não posso fugir, tem pessoas sofrendo ali – falei a ele entre respirações fracas.

- Vamos perder – falou ele.

De repente uma pessoa surguia nossa frente.

- Mary? – fala a voz feminina

- Beatrici? – Era impossível, como ela sabia?

- Eles pegaram o seu pai, eu falei para não fazerem isso. Mas eles não me escutaram e isso me deixou muito irritada.

Ao chegar na borda das arvores Beatrici me olhou.

- Me escute bem garota, se eu conheço alguém que pode vencer essa guerra é você. Não é para ser clichê, isso é verdade. Você passou anos sofrendo, e agora que tem a oportunidade de ver sua mãe você vai deixar que esses idiotas te impeçam?  Se você desistir agora, não era quem eu pensava – falando isso, ela me deu um beijo na testa e saiu. Congelou quem se metia na sua frente.

- Vamos voltar – falei a Allan, ele assentiu e voltamos até as escadarias.

- Chega! – Gritei.

Todos foram parando. Algumas flechas vinham em minha direção, mas ao olhá-las elas caiam no chão.

- Fico me perguntando quem é o rei de vocês? Ele esteve aqui? Ou nem ao menos lutar com nós ele fez?

 Um homem surgiu na multidão e veio se aproximando, ele usava uma armadura os cabelos negros enormes, e olhos verdes.

Ele se aproximou o maximo que era permitido.

- Algum problema majestade? – perguntou educadamente.

- Sim, gostaria de ver seu mestre.

- Ele é um ser muito ocupado.

- Verdade? E você acha que eu não sou? Eu tinha dezesseis provas em uma semana, tive que aprender sobre esse mundo em três meses e ainda conviver com a pressão de que se algo desse errado a culpa seria minha. E você acha que não sou ocupada? – falei brava.

O homem me encarou. – Certamente que a senhorita é ocupada.

- Muito bem – desci cada degrau até ficar cara a cara com o homem. Eu toquei-lhe o rosto. E  olhei intensamente para seus olhos, como toda raiva, todas as magoas e toda dor que eu havia sentido durante aqueles anos eu transferi para ele.

O homem começou a gritar de dor, eu o continuei olhando, até que ele caiu no chão e cada sombra e pessoas encapuzadas foram gritando e se mexendo no chão.  Meus aliados aproveitaram a distração e congelaram seus opositores. Então só restou um no fundo de tudo aquilo. Allan congelou o homem aos meus pés.

 O homem veio andando lentamente, e com ele vários prisioneiros amarrados a uma corda de prata. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!