É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 29
Capítulo 29 - Tudo demais




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               "As novidades agradam menos do que impressionam."

                                     Lord George Byron

É uma mulher. Tá, uma mulher não é nenhuma coisa do outro mundo, mas essa parece meio estranha aqui. Ela é linda. Tem cabelos loiros que vão até a cintura, e terminam em cachos delicados. Os olhos são de uma tonalidade azul-claro, que fica em destaque com o contorno delicado de maquiagem. É bronzeada, alta, e parece ter uns trinta e sete anos, nada mais do que isso.

Mas não é exatamente a beleza que está chamando nossa atenção agora. Ela usa um sapato de salto de uns vinte centímetros, uma calça jeans super colada no corpo, e uma blusa branca com um decote que vai até alguns centímetros acima do umbigo. Jogado em cima dos cabelos dourados perfeitos, estão óculos escuros de marca, com strass dos lados. Roupas lindas, mas completamente deslocadas para a situação.

- Bom, meu nome é Victoria e vou substituir o Paul enquanto ele está fora. - Ela fala, sorrindo, enquanto nos sentamos ao redor dela.

- Peter. - As meninas a corrigem.

- Isso, claro, Peter. - Ela volta atrás.

As garotas se entreolham.

- Hum, então... - Victoria balança os braços, parecendo meio perdida - o que eu faço? - Ela murmura para si mesma.

Victoria dá uma olhada em algumas folhas de papel em cima da cadeira que Peter usa, folheando-as desesperadamente.

- Acho que você devia começar fazendo a chamada, não? - Helaina sugere, com cautela.

Victoria dá um tapa delicado na testa.

- Ah, claro! Chamada.

Todas esperam. Ela não faz nada. Alguns segundos depois, ela percebe que é ela quem devia estar falando. Pega as folhas da cadeira e se senta nela.

- Muito bem, vamos lá. - Victoria fala, pigarreando. - Amélia Cornelius.

- Presente. - Responde Amélia.

Victoria suspira.

- Quer saber? Não precisamos disso. - Ela diz, e joga todas as folhas por trás da cabeça, que caem no chão. - Vamos começar a jogar.

As meninas se levantam e esperam as instruções. Victoria nos encara.

- O quê? - Diz, confusa.

- O que temos que fazer? - Megan pergunta.

- Ah... - Victoria diz. - O que vocês já faziam... sabe... antes.

Nós nos viramos lentamente para a quadra e começamos a andar.

- Treinem bem, hein? - Ela fala, e em seguida se senta na arquibancada, uma revista de moda nas mãos.

Sinceramente, quem é essa mulher? Ela parece uma deusa, eu sei, mas acho que chegássemos para ela dizendo que vôlei se joga com uma bola, ia ser novidade para ela. Por que sra. Mckingdom contratou-a, então? Tem alguma coisa errada. Muito errada.

Tenho a impressão que as garotas não compartilham de minha desconfiança, uma vez que parecem amar a substituta, porque ficam em cima dela perguntando o nome do esmalte em suas unhas e o endereço do salão de beleza responsável por aquela cabeleira reluzente perfeita.

 Poucas garotas estão jogando, porque as outras estão sentadas na arquibancada pedindo para a nova treinadora conselhos amorosos, dicas de moda e instruções para a recuperação pós-silicone. Será que elas sabem que o jogo é sábado e hoje é quinta?

Pelo jeito como estão ouvindo animadas a última viagem de Victoria para Paris, eu diria que a resposta é não.

                                   ○                    ○                    ○

- Aquela Victoria é louca. Completamente louca. - Digo.

Tensy permanece calada à minha declaração. Olho para ela pedindo uma resposta.

- O quê? Eu gostei dela. - Admite, em voz baixa.

Claro que gostou. Victoria gosta das mesma coisas que ela: maquiagem, viagens caras, roupas de marca, e discutir cremes de depilação. Que bom que Tensy finalmente achou um semelhante.

Hannah passa e comenta com Tensy algumas dicas de aplicação de delineador que Victoria lhes dera, e Tensy responde animada. Meu Deus, o jogo é amanhã, o que elas estão pensando?

Tensy me chama para tomar um suco na cantina com elas, mas eu digo que não vou, já que tenho que arrumar a sala da sra. Mckingdom, porque não o fiz ontem. Até quando vai durar esse trabalho voluntário?

Chego na sala da diretora, que está vazia, exceto por Griffin, que está limpando a mesinha à esquerda. Ele me olha como se já me esperasse.

- Eu devia estar fazendo isso. - Digo, na falta de algo para falar, enquanto fecho a porta.

- Eu tenho o dobro de trabalho voluntário que você, sabia?

É verdade. Não respondo, apenas pego um dos espanadores e começo a limpar os quadros que cobrem as paredes.

- Sobre aquela festa... - Griffin começa, mas eu o interrompo.

- O que tem? - Pergunto, com raiva.

Ele recua como se eu tivesse lhe dado um soco. É essa mesmo a minha vontade agora.

- Nada. - Ele diz, embora claramente tenha alguma coisa.

Nós limpamos a sala em silêncio, ele de um lado e eu na parede oposta. Dez minutos mais tarde, depois de um debate interno comigo mesma, se devo fazer isso não, vou para o lado dele para limpar mais uns quadros que estão muito próximos dele. Tenho que limpar direito porque quero ir embora rápido, mas gostaria muito que a sra. Mckingdom não fizesse coleção de quadros e estátuas horrorosas.

Griffin está na frente dos panos que preciso e não tenho coragem de pedir licença. Só tem um jeito. Passo meu braço pela cintura dele para tentar alcançar os panos, mas ele se vira para mim na hora, de modo que parece que estamos abraçados.

Certo, agora estou corando muito, tenho certeza. Ele está olhando intensamente para mim, mas eu tiro o braço rápido e dou a volta, pego o primeiro pano que vejo e começo a limpar o quadro na parede mais próxima. Meu Deus, que vergonha.

Percebo que estou quase arrancando o quadro da parede, com a força que estou usando para limpá-lo, então diminuo um pouco. Griffin continua olhando para mim, enquanto tento ignorar a presença dele. Não dá certo, e nunca deu.

Ele dá um passo na minha direção e segura no meu braço. Tira o pano de minha mão e o coloca em cima da mesa, e não encontro nenhuma palavra indignada para falar. Griffin, ainda com uma das mãos no meu braço, chega mais perto de mim, exatamente como fez Brandon, mas desta vez eu quero deixá-lo me beijar. O rosto dele está a centímetros de distância de mim. Uma voz na minha cabeça me manda pará-lo mas meus músculos não obedecem aos gritos, de modo que essa voz diminui até quase desaparecer completamente. Griffin está muito mais perto agora, e cada vez que ele chega mais perto, meu coração dispara mais...

A porta se abre. Eu e Griffin nos separamos rápido, e Helaina entra. Ela parece meio constrangida de ter nos pego daquele jeito, mas sei que no fundo está muito satisfeita consigo mesma e morrendo de raiva de mim.

 - Oi. - Ela diz, olhando para mim.

 - Oi. - Respondo, em voz baixa.

- Eu peguei mais alguns, como você pediu... - Helaina fala para Griffin, enquanto estende para ele mais espanadores.

- Obrigado. - Diz ele, também em voz baixa, enquanto os pega.

Helaina começa a limpar os quadros também e nós três ficamos em um silêncio excessivamente desconfortável.

- Hum - Ela pigarreia. - Hã... o que está fazendo aqui, Bellie?

- Eu faço trabalho voluntário também. - Falo, sem olhar para ela.

- Ah... - Diz.

Percebo que ela já estava colocando em prática o plano de conquistar Griffin, se oferencendo para ajudá-lo e limpar a sala da diretora. Uma pena que eu tenha chegado também e atrapalhado completamente o momento romântico que ela tinha planejado, perto das estátuas bregas de cavalo e ao doce aroma de desinfetante correndo pela sala e os móveis às nove da manhã. Realmente uma pena.

 Tanto eu quanto Griffin e Helaina trabalhamos mais rápido para podermos sair daqui e acabar com esse clima horrível o mais depressa possível. No fim, terminamos antes do que pensávamos e, após Griffin desejar a nós duas boa sorte no jogo de amanhã, corro para fora da sala, o que eu devia ter feito desde que entrei ali.


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