"No jogo da sedução só existe uma regra: nunca se apaixone."

                                Segundas Intenções

- Por que diabos tinha uma estátua de cisne no meio da pista de dança?

- Não sei, Tens. É algo que eu realmente gostaria de saber... - Respondo, meio sonolenta.

- Tem gente dormindo nessa aula... - Diz sra. Nichols, lançando um olhar sugestivo para mim, da frente da sala.

Não faço força nenhuma para parecer acordada. Qualquer um também ficaria assim se tivesse vivido o mesmo que eu ontem.

Sinto que a professora me informaria que a mesa não é um travesseiro de forma mais direta se não ouvíssemos uma batida na porta em seguida.

- Com licença, sra. Nichols. - Sra. Mckingdom diz, entrando na sala.

A professora de História, visivelmente chateada pela interrupção de minha bronca, manda um sorrisinho meio falso à diretora.

- Bom, trago boas notícias. - Sra. Mckingdom fala, entrelaçando os dedos e se postando no meio da sala. - O time de vôlei poderá voltar a treinar já conseguimos um... substituto. - Ela olha para Griffin.

A sala fica mais agitada, inclusive eu. Vai ser ótimo poder voltar a treinar. Inclusive, pelas minhas contas, se ganharmos o próximo jogo, estaremos na semi-final da Liga.

- Ah, senhor Carmichael, por favor, passe na minha sala no intervalo. Vou passar alguns trabalhos voluntários para você por causa do muro. Você fez um ótimo trabalho, pintando-o, aliás. E... hum... também quero conversar com você sobre... uma coisa.

Os lábios de Griffin formam um risinho. É claro que a sra. Mckingdom quer falar com ele sobre o episódio ridículo do banheiro. Meio difícil acreditar que aconteceu ontem. Para mim parecem anos.

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- Não é ótimo? - Tensy fala, animada. - Vamos poder voltar a treinar!

- É. Acho que a gente precisa treinar muito. - Hannah concorda. - O que foi Bellie?

Eu pisco.

- Hã? Nada. É. Treino. Vai ser ótimo.

Não sei o que anda acontecendo comigo. Sei que nunca fui de prestar atenção nas aulas, mas agora ando completamente dispersa em sala. Não só em sala, qualquer hora do dia.

As outras meninas tentam adivinhar como será nosso novo treinador, quando Helaina chega perto de mim.

- Bellie, posso falar com você um instante?

- Claro. - Respondo, vagamente.

Ela vai para um canto e eu a sigo. Ela se vira meio sem graça e diz:

- Bellie... é... você e o Griffin... sabe... - Helaina gagueja.

- Eu e ele o quê? - Pergunto, embora já seja meio óbvio.

- Vocês têm alguma coisa? - Ela completa, corando.

Ódio mortal um pelo outro, quem sabe. Nada demais.

- Não. - Respondo.

- Ah. Então não vai se importar se eu e ele... - Ela mexe as mãos.

Dessa vez não quero ouvir o final da pergunta. Engulo em seco e digo:

- Não. Claro que não. - Falo, sendo claramente mentira, mas ela está tão nervosa que não parece perceber.

- Que bom, então. - Helaina sorri aliviada e coloca as mãos no peito. - Acho que gosto mesmo dele.

Você e metade da cidade. Eu já sabia que ela devia ser mesmo a fim dele, mas é muito pior ouvir isso dela.

Helaina se vira para ir embora, mas para quando falo:

- Hum... por que está me perguntando se eu tenho alguma coisa com ele?

Ela dá um sorriso.

- Porque olha para ele o tempo todo.

Certo, isso não era esperado. Ela se vira de novo e sai. É péssimo eu ter percebido que estou apaixonada por ele, mas é pior ainda que os outros percebam também.

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- Qual é a próxima aula? - Tensy me pergunta.

- Não sei. Física, eu acho.

- Ah, que merda. - Ela murmura, enquanto pega o livro no armário.

Eu abro meu armário e imediatamente três cartõezinhos coloridos caem no chão. Pego um deles e o abro:

"Bellie,

Você é razão pela qual o meu peito arde em doces chamas.

Do sempre seu,

Steve Puttyn"

Não é possível. Abro os outros e vejo que eles contém o mesmo tipo brega e meloso de poesia. Amasso todos e jogo no lixo mais próximo. Quando volto para a frente do meu armário de novo e começo a pegar os livros, sinto uma voz próxima do meu ouvido.

- E aí? Gostou?

É Steve Puttyn. Tensy, carregando os livros, começa a sair, murmurando:

- Acho que é melhor eu ir embora.

Viro-me para Steve cheia de veneno.

- Do quê? Da palhaçada de ontem ou dos piores bilhetes que eu já li na minha vida? Ah, espera, não faz diferença. A resposta é não do mesmo jeito.

Steve, em uma imitação ridícula e cuja execução só é recomendada para crianças de cinco anos, finge tirar uma faca do coração.

- Nossa, que isso gatinha, você é má.

- Era só isso? Tô indo, então.

- Não, ei, calma aí. - Ele segura o meu braço. - Você não me deu um beijo de despedida.

- Beijo de despedida? Está louco?

- Louco por você. - Steve me responde, tentando me beijar à força.

- Não. Para com isso! No meio do corredor não! - O afasto, entrando em desespero.

Ele me solta para me olhar.

- Ah, é? E se não estivéssemos no meio do corredor?

Eu amarro a cara para ele.

- Cala a boca.

- Eu gostaria. Acho que eu quero ficar falando? Queria muito mais estar fazendo outra coisa com a minha boca... - Steve fala, e tenta me beijar de novo.

Eu vou matar o Griffin. Mas... Steve é louco o bastante para se iludir pensando que eu quero ficar com ele por conta própria. Será que...

- Steve - Falo, com a voz mais doce, mas ainda me esquivando dos beijos dele. - Quem foi que te disse que eu quero ficar com você?

Ele me olha meio desconfiado. Me solta de vez e se encosta no armário, com as mãos nos bolsos, em uma clara imitação de Griffin.

- Se eu te contar você fica comigo? - Pergunta.

- Arrãn. - Digo, tentando mentir normalmente.

Ele percebe minha mentira e ergue uma das sobrancelhas, ainda imitando Griffin.

- Me promete?

Dou uma risadinha.

- Ah, você não confia em mim? - Falo, tentando fazer charme.

- Confio. - Steve me responde, embora pareça mais uma pergunta.

- Então, Steve... - Corro os dedos pelo braço dele, em uma tentativa de persuasão - Quem foi?

Steve não parece pensar duas vezes.

- Foi o Griffin.

Ah, mas é claro. Eu sempre soube que tinha sido ele, mas as palavras me pegaram com mais força do que eu imaginava. Quer dizer que foi Griffin mesmo, quem colocou o idiota do Steve no meu pé e me expulsou da boate... agora sim, vou matá-lo.

- Certo, eu te contei, agora você fica comigo. - Steve me tira dos meus pensamentos.

- Claro. Feche os olhos e faça um biquinho.

Ele obedece minhas ordens enquanto eu, revirando os olhos, saio correndo para a sala.

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- Por que Steve Puttyn quer tanto ficar com você? - Tensy me pergunta, a caminho do treino de vôlei.

- Ele é louco. - Respondo, bufando.

Tensy me olha meio desconfiada por um instante, mas sua curiosidade para saber como é o professor novo a impede de continuar com as perguntas. A curiosidade dela, pelo visto, se espalhou por todas as outras garotas, porque acho que ninguém faltou o treino hoje.

Eu, por outro lado, não tenho cabeça para pensar em professor, e nem em vôlei. Estou muito ocupada pensando no que Steve me disse hoje, mais cedo. Realmente é Griffin quem espalha meus segredos por aí como se não fosse nada demais. Ficar com ele foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

Eu paro de pensar nisso quando entramos no ginásio. Pelo jeito que a diretora anunciou o substituto na nossa sala, meio temerosa, eu imaginei que nosso novo treinador tinha alguma coisa diferente, mas não dessa forma. Definitivamente, não era isso que nós imaginávamos. Olho para todas as meninas e vejo que todas têm os olhos arregalados e os queixos caídos, como eu. Tem algum engano. Tem que haver.

- Olá, garotas.