É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 18
Capítulo 18 - Novidades




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       "Arrisquei muita braçada, na esperança de outro mar.

          Hoje sou carta marcada, hoje sou jogo de azar."

                                  Chico Buarque

É Peter. Todos nós estamos amontoados na janela, vendo meu treinador no chão, de bruços. As bolas de vôlei que ele provavelmente estava carregando estão espalhadas no solo, e ele geme de dor. Por muito azar, ou talvez muita sorte, sra. Nichols vem chegando nessa hora.

- Ah, meu Deus, Peter! - Ela ofega.

Nós tentamos voltar para o lugar sem fazer barulho, mas é tarde demais. Ela olha para cima e percebe que isso não foi um acidente.

- Vocês ficarão quietinhos aí até que eu volte. - Ela diz, e a ameaça nos assusta tanto que achamos melhor fazermos o que ela manda.

                              ○               ○               ○

- Eu não acredito que Peter quebrou o braço! - Tensy fala, um dia depois da detenção.

- Eu também não. - Helaina concorda. - O que vamos fazer agora? No meio da Liga, sem treinador e sem Bellie?

- Ei, calma aí. - Digo. - Vocês podem treinar por conta própria. Além disso, vou me livrar dessa faixa amanhã e vou poder jogar de novo, se tudo der certo.

- Mesmo assim não tem ninguém que nos treine. - Hannah argumenta.

- Mas eles vão colocar alguém no lugar. - Falo, esperançosa. - Não é possível que nos deixariam sem professor. Pelo menos é isso que eu acho.  

                              ○               ○                ○

- La-men-tá-vel! Completamente lamentável! - A sra. Nichols está berrando para a classe inteira. - Como, eu quero dizer, com que intenção vocês irracionalmente agridem um professor?

- Não foi culpa nossa, sra. Nichols. - Tensy se adianta.

- Não me interessa de quem foi a culpa! - A professora explode. - Vocês estão me pedindo para expulsá-los. Vou dar mais três semanas de detenção a vocês, e quem pensar em faltar um minuto dela, vai ser posto daqui para fora! Vocês podiam ter matado Peter!

A turma está em silêncio. Ninguém tem coragem de falar nada, nem mesmo Vinni.

- Vocês não só machucaram um professor ontem, como também prejudicaram suas colegas que jogam vôlei! Agora elas não têm mais um treinador!

Ela vira para o quadro, anotando algo sobre a história da Inglaterra e nos olhando de tempos em tempos para mais bronca.

Faltam vinte minutos para o término da aula. A sra. Nichols ainda está escrevendo alguma coisa no quadro.

- Olhem bem. - Ela diz, de repente. - Eu sei que nem todos aqui têm culpa e estão levando detenção do mesmo jeito, e eu sinto muito, mas não posso fazer nada. Mas eu estava pensando... senhor Carmichael? - Ela chama.

Griffin, que estava nitidamente dormindo com os olhos abertos, pisca com força e surpresa e diz:

- Sim, senhora Nichols?

- Chegou aos meus conhecimentos que você jogava vôlei no West High... será que não pode ajudar suas colegas? Não queremos que você seja um treinador, mas não conseguiremos arrumar um até o próximo jogo. Se importa de orientá-las até que Peter volte?

Ela só pode estar brincando.

Ele? Nos treinar? Justo ele?

- Ah... - Ele diz, sem saber o que fazer, e vejo que seus olhos disparam entre mim e a professora.

- Não precisa decidir agora. - Ela sorri. - Podemos falar sobre isso depois, tudo bem?

É a primeira vez na minha vida que vejo a senhora Nichols sendo realmente gentil com alguém. Marquem esse dia.

- Ah, Bellie, querida. - A sra. Nichols diz, a voz transbordando ironia. - Me ocorreu que você não anda cumprindo regularmente o seu trabalho de voluntária. Há quanto tempo você não limpa a sala da sra. Mckingdom? Quero que a arrume hoje, depois da aula, está bem?

Assinto para ela, apesar de não estar nada bem. Eu apostaria qualquer coisa que nada ocorreu a ela. Alguém contou que eu não estou nem aí para o voluntariado. Sei perfeitamente quem é esse alguém.

O sinal bate e ela nos libera, finalmente.

                                ○                ○               ○

Eu não sei o quê eu odeio mais. A sra. Nichols ou essa porcaria de trabalho voluntário em que ela me colocou. Os décimos extras que ganho com isso não fazem absolutamente nenhuma diferença.

Estou limpando o diploma de doutorado que a sra. Mckingdom coloca bem no centro da parede para que seja impossível alguém entrar e não vê-lo. Vou para o outro lado e limpo uma estátua de cavalo horrorosa que a diretora tão impensadamente coloca na mesinha à esquerda. Seria mais sutil se ela escrevesse "Tenho mau gosto" na parede com tinta fluorescente.

Estou tentando entender como vou limpar as orelhas do cavalo quando a porta se abre e eu escuto uma voz.

- Me acompanhe, senhor Carmichael. - A diretora fala.

Congelo quando os dois entram.

- Ah, Bellie. - A sra. Mckingdom suspira. - Que bom que está limpando minha sala. Meus pulmões já estão cheios de poeira, de tanto ficar aqui. - Ela completa, e morre rir de si mesma.

Enquanto ela fecha os olhos gargalhando, encaro Griffin, que permanece tão sério quanto eu, e retribui o meu olhar. A diretora para e dá a volta na mesa de madeira brilhante, e se senta em sua cadeira alta.

- Por favor. - Ela diz a Griffin, e aponta uma cadeira na frente da mesa.

Enquanto Griffin assume seu lugar na poltrona, ela o olha sonhadora. Sei o que está pensando. Quando ele finalmente se ajeita, senhora Mckingom empurra os óculos pelo nariz fino, chega perto do garoto, como se fosse fazer uma confidência, e sorri.

- Acho que podemos falar na frente de Bellie, não é?

- Sim. - Ele responde, apesar de não mostrar muita segurança.

- Certo. Me conte o que sabe sobre vôlei, senhor Carmichael.

Então é isso. Vôlei. Não acredito que eles estejam realmente falando sério.

Griffin começa a narrar contos e mais contos, sobre quando e como começou no West High e o que estava pensando em fazer para treinar o time feminino daqui.

- Muito bem, então. - Depois de quarenta minutos, a senhora Mckingom suspira, bate as mãozinhas nas coxas e se levanta. Percebo então que passei esse tempo todo limpando a mesma coisa. - Acho que está apto para ser o treinador das nossas garotas.

Quase deixo a estátua de cavalo cair ao ouvir isso.

- O que foi, Bellie, querida? - Ela me olha preocupada.

- Nada, nada. - Trato de me recompor e colocar a estátua de volta no lugar. - Só que... Griffin vai nos treinar agora?

- Griffin? - A diretora parece confusa. - Quem é Griffin?

Aponto para o garoto à minha frente, a expressão congelada.

- Ah. - Ela sorri. - Sim. Não vejo motivo para não deixá-lo, uma vez que Peter está fora e não conseguiremos arrumar outro a tempo. Pelo que eu vi na sua ficha, senhor Carmichael, você realmente era a estrela do time.

Não é possível.

Griffin sorri, modesto.

- Suas aulas serão nos próximos cinco dias - ela instrui - das duas horas da tarde às cinco. O próximo jogo é daqui a uma semana. Tenho certeza de que se sairá muito bem.

Griffin se levanta e os dois caminham para a porta. Porém, ao passar pela mesa à esquerda, a senhora Mckingom para e contempla sua muda de planta.

- Ah... minha plantinha. Está morrendo mais uma vez.

Os olhos de Griffin me alcançam em meio segundo, e eu me sinto paralisar.

" - Então o que você faz nesse negócio de voluntário? - Ele perguntou - Arruma a sala da diretora?

- Sim. Você sabe, limpo porta-retratos, quadros, essas coisas. E rego as plantas dela. Mas não muito bem.

- O que quer dizer?

- Bom, quando ela me irrita, eu rego a planta dela com refrigerante de laranja.

- E isso acontece com frequência?

Eu ri.

- Quase todo dia."

- Você conhece plantas, senhor Carmichael? - A diretora em questão pergunta, desconsolada. - Sabe o que pode estar acontecendo?

- Não. - Ele diz, tentando conter o sorriso, mas não conseguindo. - Você sabe, Bellie? - Ele concentra os olhos azuis em mim, sugestivo, e eu abaixo os meus.

- N-não.

Griffin fala de repente.

- Sabe, seria bom se - Ele finge pensar. - proibíssem as máquinas de refrigerante por aqui.

A diretora parece confusa.

- O quê?

Ele ri. Ri não, gargalha. Sinto vontade de empurrá-lo pela janela.

- O que quer dizer? - Sra. Mckingdom apela para mim.

- Não sei. - Falo, os dentes cerrados.

Quando ele finalmente para, a diretora parece pensar que é melhor não continuar no assunto. Suspira tristemente por causa da planta e abre a porta.

- Obrigada pelo tempo, senhor Camichael. - Ela fala - Boa sorte com time.

- Obrigado, sra. Mckingdom. - Ele diz, então vai embora.

- Uma gracinha esse menino, não? - Ela me pergunta.

Dou o sorriso mais falso que posso.

- Claro que é.

                                              ○               ○               ○

- Deixe-me ver se entendi. - Tensy fala. - Aquele garoto vai ensinar a gente?

- É.

- Acho que estaríamos melhores sozinhas. - Ela fala, com desdém.

- Eu também.

- Tá, agora me diz. - Ela se senta na cama, pegando mais um pouco de brigadeiro na vasilha entre nós duas. - Qual é o seu problema com ele? Até onde eu sei e o que eu vi, vocês deviam se amar.

Com o rosto ficando vermelho, tomo fôlego para responder.

- Eu fiz uma coisa que não devia ter feito, Tens.

- O quê?

- Eu contei umas coisas pra ele...

- O que você contou? - Ela não parece muito impressionada. Não me surpreendo - ela nunca entenderia.

- Tudo. Todos os meus segredos.

Os olhos dela se arregalam.

- Isabelle, não acredito que você contou a ele o seu peso. A gente não fala isso para as pessoas, eu já te avisei...

- Não é bem isso. - Interrompo-a, mordendo o lábio. - Eu contei coisas muito piores.

- Tipo o quê? - Ela parece estar perdendo a paciência.

- Um monte de coisas vergonhosas, Tensy. E agora ele está me ameaçando. Ele quer contar para a escola toda.

- Você não está falando sério. - Ela me olha com descrença.

Agora eu estou perdendo a paciência.

- Tá. Eu estou brincando, então. Mas da próxima vez que contarem para a sra. Nichols o que nós fazemos quando não estamos estudando ou pregando a castidade, você se lembre dele.

Para minha surpresa, ela dá uma risadinha.

- Ai, ai, Bellie. Ok, eu acredito no que você me diz, mas não acha realmente que foi ele quem nos dedou para a sra. Nichols, ou acha?

- Tenho certeza.

O rosto dela se torna sério de repente.

- Você precisa aprender a mentir. - Tensy fala.

- Não me diga. Acho que eu meio que percebi isso quando ele quase contou para a diretora que sou eu quem vive assasinando a planta dela.

- E ele sabia disso? O que mais você contou para esse garoto?

- Não lembro de tudo, mas o que eu lembro é beeem constrangedor.

Ela contorce a boca. Em seguida, parece pensar em alguma coisa.

- Acho que você não devia ter medo. A escola acreditaria em você ou em um novato que não tem prova nenhuma do que diz? Desminta tudo.

- É muito fácil para você. Eu não consigo ficar quieta.

- Sabe, Bellie, querida, existe uma razão muito boa para a mentira.

- E qual é?

Ela sorri para mim.

- Funciona.

                                                   ○                ○                ○

Acho uma pena que eu não tenha nascido com habilidades para atriz. Se eu conseguisse mentir um pouquinho, provavelmente não teria que ir para escola hoje. Tirei minha faixa por conta própria ontem e acho que já consigo jogar. E nunca pensei que falaria isso, mas não quero treinar. Entretanto, ainda estou aqui, sentada na arquibancada com as meninas, às duas e dez da tarde, esperando um professor da minha idade que, por acaso, me odeia.

Hannah, Helaina e Trishia estão comentando com Megan o quão sortuda ela é por ter ir que ir ao baile com ele. Tensy escuta essa parte da conversa e olha para mim.

- E aí, quando quer ir comprar os vestidos? - Ela me pergunta.

- Eu não vou. - Falo.

- Vai ter que ir. Sra. Nichols disse que vai ter pessoas conferindo se todos os casais estão na festa. E quem faltar perde cinco pontos de cada matéria.

- Eu sei. Mas mesmo assim não quero ir. - Digo, minha voz demonstrando a irritação.

- O baile é só daqui a um mês. Vai poder se acostumar com a ideia.

Eu não me acostumaria com a ideia nem se o baile fosse daqui a um ano. E a razão pela qual não posso me acostumar é a mesma criatura que está andando na minha direção agora, carregando bolas de vôlei, com um sorriso de satisfação no rosto.


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