É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 17
Capítulo 17 - Confraternizando - ou não




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"As cabeças jovens foram feitas para bater de encontro a paredes. Quase todas conseguem sobreviver."

                                   - Carlos Heitor Cony

- Quero todo mundo quieto. Santo Deus, como vocês falam. - A sra. Nichols reclama. - Vamos agora para a cantina para fazermos a confraternização.

Confraternização. Não tem nada menos fraterno do que a Confraternização. Ninguém gosta, nem os alunos e nem os professores, mas é obrigatório. O colégio inventou isso para "unir os alunos do Ensino Médio", e acontece sempre na segunda quarta-feira de cada mês. É claro que não precisariam unir os alunos do Ensino Médio se no ano passado o povo que está no terceiro ano não arrumasse confusão com o povo que está na minha série. Na verdade, o terceiro e o segundo ano ainda se odeiam.

E lógico que seria melhor se, depois de receber aquelas péssimas notícias sobre o Baile de Outono, eu não tivesse que trabalhar na confraternização. Essa é uma das razões pelas quais tenho vontade de matar a sra. Nichols. Quando eu estava indo realmente mal na matéria dela, ela me inscreveu em um trabalho voluntário, para arrumar a sala da diretora e ajudar nas festinhas que o colégio teimosamente ainda insiste em fazer. E não adianta nada: eu ainda vou mal na matéria que ela ensina, mas agora eu me dou mal trabalhando.

Vou para trás do balcão da cantina e ajudo os atendentes a distribuir os sanduíches de atum vencidos que a escola fornece.

Normalmente, eu só ajudo durante uns vinte minutos e arrumo uma desculpa qualquer para sumir e ir para uma festa paralela, que o segundo ano faz. Festa paralela e, claro, ilegal.

Mas espera um minuto...

" - Já comentei das festinhas do colégio?

- Não. O que tem?

- Nada. Esse o problema. Nunca tem nada.

- E o que vocês fazem?

- Depois que eu me livro do que eu tenho que fazer como voluntária, eu e meus amigos nos juntamos no vestiário masculino e alguém sempre aparece com uma garrafa de vinho ou de vodka.

Ele riu.

- Então vocês se juntam pra ficar bebendo?

- Claro. É assim que fica legal. "

Isso é realmente ruim, mas não há nada que ele possa fazer com isso, não é?

Saio do balcão e corro até os vestiários, dentro do ginásio. Passo direto pelo feminino e paro na porta do masculino. Tento abir a porta. Está trancada.

Volto para a cantina e encontro todo o segundo ano sentando em um canto isolado. A sra. Nichols está lá também.

- O que aconteceu? - Pergunto a Tensy.

- Alguém trancou a porta do vestiário.

- Quem?

- Isso é errado. - A voz da professora de história interrompe a resposta. - Ficar em vestiário quando todos podemos nos confraternizar aqui. Não me importa que vocês estejam muito apertados. Não vou mandar abrir a porta. Tive sorte que alguém me alertou que vocês estavam matando atividades do colégio lá.

Filho da puta.  

Reparo que Vinni Prettery está se desentendendo com um aluno do terceiro ano. Parece que o está acusando de dedar nosso refúgio para a professora. Ambos são fortes e altos, e eu tenho medo de ver no que isso vai dar. A sra. Nichols está discursando sobre como ética e respeito são importantes, quando tudo passa na frente dos meus olhos muito rápido.

O aluno do terceiro ano cansou das investidas de Vinni e o empurrou, com força, contra o chão. Ouvimos um barulho de vidro se quebrando. O segundo ano inteiro congela quando percebemos o que foi quebrado. As garrafas. É sempre Vinni quem traz.

A sra. Nichols se desespera. Ela corre para ajudar Vinni, que tem a cabeça apoiada no chão. Uma multidão se forma em volta.

- Vinni? Vinni? - Ela pergunta, dando tapinhas no rosto dele. - Você está bem? Fale comigo, Vinni.

Finalmente, ela repara um líquido tomando conta da mochila.

- O que é isso? - Ela passa dois dedos pelo tecido e depois cheira. - Isso é... álcool?

Todo mundo para na mesma hora. Eu arriscaria dizer que ninguém está respirando. Esquecendo-se completamente do menino no chão, a sra. Nichols tira a mochila das costas dele e a abre. De lá de dentro, ela tira três garrafas de vodka quebradas e cinco latinhas de cerveja.

- Eu nunca - ela levanta, segurando a mochila e a sacudindo - esperei isso de vocês. Eu juro que me alertaram que havia álcool circulando por essa escola, mas nunca sequer imaginei que fosse verdade. Estou muito decepcionada com todos vocês, porque ele não ia beber tudo isso sozinho. O segundo ano inteiro está de detenção. Três dias por semana, por quatro semanas. E dêem graças a Deus por eu não expulsá-los.

Ninguém fala nada. Sra. Nichols, com a ajuda relutante de dois alunos do terceiro ano leva Vinni para a enfermaria, sob os olhares tristes dos colegas.

- Eu realmente gostaria muito de saber - Patrick Troia, o presidente da série, diz - quem foi que contou à professora tudo isso.

Todos explodem em adivinhações, hipóteses, acusações. Menos eu, é claro, porque sei perfeitamente quem foi. O procuro na multidão de rostos preocupados e o vejo, em pé em um canto, de braços cruzados, a expressão normal. Bom, não sei se ele sabe, mas pegou detenção também. Se bem que, como quem aplicou o castigo foi uma das fãs dele, não tenho certeza de que ele se deu mal nessa conosco.

Ainda não posso acreditar que ele tenha contado isso à sra. Nichols. O que ele ganhou com isso? Uma detenção para a série toda? Que tipo de pessoa fica feliz com uma coisa dessas? Acho que devo parar de pensar nisso. Caso contrário, a chance de eu cometer um assassinato é muito grande.

                                          ○               ○               ○

É estranho como as pessoas são. Elas parecem que gostam de você, mas na primeira oportunidade que têm fazem de tudo para ferrar com a sua vida. E, me chame de ridícula, se quiser, mas ainda não consigo imaginar Griffin contando à professora um segredo meu. Muito embora tenha sido obviamente ele, porque quem mais seria? Quem saberia disso e teria motivos suficientes para nos dedar à professora? Ninguém, que eu saiba.

A primeira detenção é amanhã, mas, pelo que eu disse à minha mãe, é uma aula obrigatória de "estudo reforçado". Eu falsifico a assinatura dela no bilhete, se for preciso, como já fiz tantas vezes. Tudo bem que agora é muito mais arriscado. Se bem que, na situação em que estou, sair de casa é arriscado.

                                         ○                 ○                 ○

São duas horas e meia da tarde e eu ainda estou nesse colégio. Minha sala está quieta, todos estão sentados, esperando o senhor Priddy, que é quem dará nossa detenção desta vez.

Finalmente, ele chega. Magro demais, alto demais, desajeitado demais. Os óculos escorregando por cima do nariz fino. Ele nos dá boa tarde e nos manda fazer quinze páginas de excercício de álgebra.

- Se quiserem alguma coisa, podem me encontrar na sala do cafezinho. - Ele diz, e vai embora.

Não é nem preciso dizer que ele vai ficar dando uns amassos na sra. Nichols até a detenção acabar.

Assim que ele fecha a porta, Vinni, já recuperado, e mais dois amigos se levantam com um pulo e se dirigem à janela. Amarram uma corda na parte de cima dela. Estão planejando alguma coisa.

Olho em volta e procuro Griffin. Ele está aqui, afinal. Sentado no fundo da sala, como sempre, com o rosto sério e fones de ouvidos.

Me levanto e me dirijo à Vinni e seus dois comparsas.

- O que estão fazendo? - Pergunto, com voz de peguei-vocês-no-flagra.

- Armando para a sra. Nichols, o que mais você acha? - Vinni me responde.

- Vocês estão loucos? Já pegaram uma detenção! - Digo.

- Exatamente. Não temos nada a perder. - Um dos capachos de Vinni fala.

- Eu a aconselharia a ficar longe disso, Harper. Mas, de qualquer jeito, é só uma brincadeirinha. - Eles riem.

Eu volto e me sento no lugar. Começo a bater as unhas na mesa de nervoso. Tensy já desistiu de me perguntar o que há comigo.

Vejo os três colocando um balde no final da corda. Imagino que, quando a professora estiver chegando para o encontro na "sala do cafezinho" com o senhor Priddy, eles irão soltar o balde e, seja o que quer que esteja dentro, irá cair em cima dela. Que maduro.

- Fique de olho quando ela chegar. - Vinni comanda, sussurrando.

Trinta segundos se passam. A sala está quieta, mas o silêncio é interrompido por um grito de Vinni:

- Agora!

Nós ouvimos o barulho do balde vazio caindo, e acertando alguma coisa. Depois, escutamos um baque e um estalo. Em seguida, ouvimos um gemido de dor. Nós corremos para a janela, mas não é a senhora Nichols quem se contorce no chão.


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