Saga Sillentya: Reuniões da Meia-noite escrita por Sunshine girl


Capítulo 2
II - A Luz no Fim do Túnel


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo...

Boa leitura!!!



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Capítulo II – A Luz no Fim do Túnel

“Sempre... sempre... sempre... sempre... sempre... sempre...

Eu apenas não posso viver sem você!”

“Eu te amo...

Eu te odeio...

Eu não posso estar ao seu redor...

Eu te respiro...

Eu te provo...

Eu não posso viver sem você...

Eu apenas não posso mais agüentar...

Essa vida de solidão...

Eu acho que estou do outro lado da porta...

E agora eu não agüento mais...”

(Saliva – Always)

Apoiei-me sobre a grade de metal que cercava todo o campo. O sol estava a pino, brilhava intensamente acima de mim.

O céu era de um azul límpido e claro, com nuvens transitando preguiçosamente por ele. Não havia vento naquela manhã de terça-feira, o que só atenuava todo aquele calor.

Ducian estava me devendo uma por essa. Eu odiava o embuste de estudante. Para alguém que já se graduou em uma das mais famosas universidades de toda a Itália, enfrentar longas e tediosas horas em uma sala de aula, repleta de adolescentes – crianças na minha opinião – não era nada fácil.

Havia chegado na sexta-feira passada, Ducian cuidara de tudo para mim, de toda a papelada, pelo menos dessa dor-de-cabeça ele havia me poupado. O resto era comigo, agüentar o tédio e a monotonia.

Meu único consolo era poder seguir pistas que pudessem me levar até o desertor. Meu sangue fervia com a idéia de uma luta, estava muitíssimo entediado naquela manhã.

E ainda por cima um dos professores, um homem calvo, de aproximadamente quarenta anos, e com sérios problemas com sua autoestima havia passado um trabalho em dupla mais cedo.

Um trabalho que eu seria obrigado a fazer. Bufei, decidindo que arrancaria a camisa molhada de suor para tentar suavizar todo esse calor. Aquela temperatura era inadequada para aquela estação do ano.

Estávamos no começo de fevereiro e fazia um calor do diabo.

Arranquei a camisa e deixei-me banhar no sol, sentia falta disso. Talvez por isso adorasse Nápoles, o sol intenso, o mar brilhante, o céu claro, o cheiro salgado da maresia, a areia branca... Simplesmente não via a hora de deixar essa cidade minúscula e voltar para lá, para me isolar do mundo novamente.

Algumas garotas sorriram com malícia ao olhar para meu peito despido e molhado de suor. Elas cochicharam entre si, lançando olhares cheios de segundas intenções para mim.

Ignorei-as com muito prazer, virando-me para a tela na qual meus dedos cravavam-se, e novamente eu a encontrei...

Não entendia porque ela prendia tanto a minha atenção. Mal consegui parar de pensar nela na última noite, e isso foi um tormento para mim. Nenhuma mulher habitara meus pensamentos por tanto tempo antes.

Talvez fosse a sua alma, brilhando intensamente para mim agora, como um letreiro gigante e chamativo. Não havia meio de ignorá-la como as outras.

Eu pelo menos tinha que admitir que ela era bonita. Uma menina, mas muito bonita...

Seus cabelos negros voaram com a ventania repentina, e eu paralisei, completamente fascinado, vendo enquanto ela suspirava, parecendo-me desanimada com algo, e então ela colocou a mecha teimosa de seu cabelo negro e sedoso atrás da orelha.

Sua cabeça pendia para baixo, ela tinha sobre as pernas um caderno e entre os dedos delicados um lápis. Mas ela não parecia estar escrevendo algo, parecia mais estar remoendo algo.

Apertei os olhos tentando obter uma leitura mais clara da energia intensa e poderosa que exalava de sua alma. Sorri, sim, ela estava desanimada com algo. Não apenas desanimada, parecia estar... hesitando em fazer algo, arquitetando algo, tomando uma decisão importante.

Àquela distância, eu não podia ler seus olhos, mas sabia que eles eram belos, seus cílios eram tão espessos e longos que ocultavam seu olhar de mim.

Ela entreabriu os lábios cheios e rosados e suspirou, fechou caderno e o depositou ao seu lado na arquibancada, abraçando as pernas e pousando o queixo delicado nos joelhos, sem olhar para cima.

Eu queria tanto olhar em seus olhos e descobrir o que realmente se passava na sua cabeça...

- Ela é bonita, não é mesmo? – ouvi alguém me perguntar, a contragosto virei a face para a origem do som, encontrando um garoto louro de olhos azuis e pele muito pálida.

Apertei os olhos contra o sol, e tentei não enrijecer meus músculos quando consegui ler o que exatamente ele sentia por ela...

- Não precisa disfarçar – disse ele, encostando-se despreocupadamente na grade e piscando –, ela realmente é muito atraente. E algum dia, ela ainda será minha... – complementou com um sorriso malicioso.

Desviei o rosto, irritado, meus dedos já se cravavam com uma força desnecessária na grade, somente de imaginar um verme como ele tocando em algo tão puro quanto a garota na minha frente.

Humf...

O que eu estava pensando? Eu era tão, ou até mais, sujo do que ele. Bom, só não tinha esses tipos de fantasias com a menina.

- O nome dela é Agatha, Agatha Bryce, a mãe dela se mudou para cá antes dela nascer, sabe como é, fugindo da violência das cidades grandes. Ela tem uma floricultura no centro na cidade, e a filha – ele apontou com a cabeça – trabalha lá também depois da escola.

Ele deu de ombros e ignorou quando eu não emiti som algum em resposta, apenas a grade já protestava sob meus dedos.

- Ela anda com a trupe dos fracassados, sem ofensa é claro, mas eles são os únicos que falam com ela, a maioria simplesmente a ignora, como se ela não existisse. – ele riu sem humor, baixando a cabeça – E claro que as meninas fazem piadinhas dela, mas os garotos, todos eles, adoram fantasiar com ela... Agatha é diferente, é retraída demais, silenciosa demais. Ela não é muito do tipo sociável...

Ele tocou meu ombro e eu senti nojo quando as fantasias na cabeça dele intensificaram a energia repugnante de sua alma nojenta e suja.

- Mas lembre-se, ela já tem dono, e eu não estou muito disposto a partilhá-la... Fique esperto, cara, eu tenho os meus contatos...

E então, ele se virou, partindo, deixando-me ainda com nojo de sua energia, do que eu senti ali. Ainda com os olhos fixos na garota, ou melhor, em Agatha, enquanto o garoto socava de leve o ombro de um amigo, combinando algo no sábado à noite, uma festa, e ele estava muito disposto a fingir que a namorada atual simplesmente não existia.

Mas espere... Agatha? Esse era o nome dela? Justificável, tão belo e puro quanto ela, exótico e diferente, assim como a menina que agora me encarava com seus lindos olhos negros e brilhantes, percebendo que eu a estivera observando intensamente...

Olhos negros... Eu sorri quando ela desviou os olhos, ruborizada, por estar sendo observada. Um lindo rubor que se espalhava pelas delicadas maçãs de seu rosto...

Apenas uma coisa pareceu ter feito algum sentido em minha vida.

Algo tão único, tão especial, que sua entrada em minha vida foi como o raio de esperança, a luz no fim do meu túnel.

Nunca fui digno dela, do amor dela.

A única mulher que já amei...

Não exatamente uma mulher, Agatha era apenas uma menina... Tinha a pureza e a inocência de uma.

E mesmo não a merecendo, sempre fui egoísta o suficiente para tomá-la para mim, desfrutar de sua companhia, amá-la...

Abri meus olhos, lentamente, sentia como se estivesse despertando de um longo sono.

O cansaço e a exaustão consumiam cada músculo meu. Mas não me importei.

Ao fundo, o som das ondas quebrando na beira da areia preenchia meus ouvidos, o cheiro salgado da maresia preenchia minhas narinas.

Meus dedos moveram-se, enterrando-se na areia, enquanto o sol dourado ardia em meus olhos.

Estava em Nápoles?

Não...

Era silenciosa demais, solitário demais. Parecia-me mais uma... ilha.

Vagarosamente, sentei-me sobre a areia. O sol intenso aquecia minha pele, aquecia o sangue em minhas veias.

Mas aquela sensação de conforto, de paz e alívio não se davam devido a ele, não.

Eu sabia exatamente porque estava sentindo aquilo. Porque estava tendo aquela sensação.

Fixei meus olhos no horizonte, mesmo doloridos e protestantes, e foi então que a vi...

Estava de costas para mim, os cabelos esvoaçavam ao vento, lindos e indomáveis. Mergulhava os delicados tornozelos na beira da água, deixando que as ondas quebrassem suavemente ao seu redor. Sua pele clara como porcelana banhava-se no sol da manhã.

Revestindo seu corpo delicado nada mais do que um vestido, a barra roçando seus joelhos, de um branco tão puro quanto ela própria.

O modo como os raios de sol envolviam sua pele, delineavam cada curva de seu corpo, atraiu-me para ela, como se houvesse uma força externa impelindo-se a ir ao seu encontro.

E quando despertei, já me levantava, sentindo a brisa marítima chocar-se contra meu rosto.

Não sei ao certo quando esses sonhos começaram.

Depois que tudo foi retirado impiedosamente de mim, estava ferido e debilitado demais, e em algumas vezes tive alucinações com Agatha visitando-me naquela prisão fétida e escura.

Ela sempre vinha me confortar. Sempre que minhas forças se esgotavam, sempre que eu desejava retirar minha vida e ir ao encontro dela, ela aparecia.

Envolta em uma névoa cintilante, o seu perfume sempre me acalentava, o seu calor sempre me confortava, e sua voz suave sempre me trazia esperança. Mas era apenas isso no inicio.

De alguns dias para cá, os sonhos ganharam um novo tom. Agora ela não se conforma em me visitar naquela masmorra, antes me arrasta para diferentes cenários, diferentes paisagens, mas tudo o que me importa no final é ela...

Quando percebeu minha proximidade, ela tombou seu semblante risonho para trás, fitando-me com seus olhos brincalhões.

Ela sempre foi linda. De uma maneira que eu jamais poderei explicar.

É fato que no passado já tive inúmeras beldades em meus braços. As mulheres mais bonitas, mais cobiçadas, solteiras ou comprometidas, nenhuma delas resistia a mim, mas com ela é diferente. Sempre foi diferente.

Aproximei-me dela, permitindo que as ondas quebrassem nos dedos de meus pés, unindo-me a ela.

E lá estava eu, rendendo-me a ela, mais uma vez.

Ela desfez o sorriso quando captou meu estado de espírito. Os lábios cheios e rosados, como as pétalas da mais delicada e perfumada flor, entreabriram-se, mas deles nenhum som foi pronunciado.

Ela piscou, confusa, e hesitante elevou uma de suas mãos, tocando meu rosto segundos depois. Uniu as sobrancelhas e comprimiu os lábios, tentando decifrar o que me chateava.

Talvez no fundo achasse que eu não quisesse mais vê-la, que ela não deveria mais me visitar. Almas pagam um preço terrível quando abrem mão do descanso eterno no plano espiritual para ficar para trás, abandonadas e esquecidas no plano terreno.

E embora eu soubesse que a coisa certa a se fazer era abrir mão daqueles encontros, daquelas visitas, e deixar que ela partisse, que ela se fosse, desprendo sua alma da minha, eu não podia. Não tinha forças para isso.

Aqueles encontros eram tudo o que me restavam. Tudo o que eu tinha para me lembrar dela. Eu não poderia abrir mão dela, não agora. Talvez, nunca pudesse. E mesmo que enlouquecesse pouco a pouco com aquela nova situação na qual me encontrava, embora estivesse obcecado por esses sonhos, no fim da sanidade, não me importava.

Porque ela foi, é e sempre será a razão de meu viver. Ela me deu um motivo para viver, um que não envolvia caos e destruição. Agatha preencheu meu coração com seu amor, e apagou toda a violência em mim, libertou-me de meu passado sangrento.

Ela fez de um animal, um homem. De um condenado, um salvo. De um cativo, um liberto.

Então, cerrei meus olhos sob seu toque suave como o pousar de uma mariposa, deixei que o cheiro de sua pele me envolvesse a tal ponto, que meu corpo queimou com as lembranças de nossos momentos mais inesquecíveis.

Sim, eu a desejava. Mais do que qualquer outra coisa, eu a queria.

Mas nosso sonho foi interrompido mesmo antes que tivesse a chance de ser concretizado.

E se tudo o que tenho é isso, se é apenas disso que tenho o direito de desfrutar, então o farei com muito prazer.

Em um piscar de olhos, envolvi sua cintura delicada com meus braços, puxando-a para meu peito, onde ela logo se aninhou, ainda sorrindo como uma criança.

Uma de minhas mãos enterrou-se em seu cabelo, tão macio, tão perfumado quanto seda negra. A outra, deslizou através da extensão de suas costas, chegando até sua base, apertando-a contra meu corpo.

Como eu queria que aquele abraço bastasse para trazê-la de volta para mim, que no momento em que despertasse, eu pudesse trazê-la comigo para a realidade.

Mas aquilo jamais poderia acontecer. Porque ela havia escolhido morrer em meu lugar, havia escolhido se sacrificar por mim. Um ser tão imundo e repulsivo, e ela, tão pura e inocente.

Enterrei meu rosto na curva de seu pescoço, inspirando o cheiro de jasmim de sua pele clara como alabastro e macia como veludo.

Não demorou para que meus lábios implorassem pelo gosto que somente ela possuía. Ela riu em resposta e tombou o semblante angelical para trás, contemplando o céu rosado com nuvens cor de lavanda – o cenário que ela projetara para nós dois – e entrelaçou seus dedos em minha nuca.

Meus sentimentos por ela eram tão intensos, tão fogosos, tão poderosos, que às vezes eu achava que a qualquer momento eles poderiam me dominar. De certa forma, já haviam me dominado, me transformado em alguém melhor.

Nunca amaria outra como amo ela.

Rocei meus lábios na pele sensível da base de seu pescoço, completamente entorpecido e arrebatado com a proximidade dela. As ondas ainda quebravam suaves ao nosso redor, e logo eu experimentava o gosto de sua pele perfumada.

Agatha sempre foi minha droga. Uma vez que experimentei do néctar que recobre seus lábios, uma vez que segurei em meus braços tal figura angelical, soube que precisaria dela a cada dia de minha existência.

Viver sem ela para mim era como o inferno. E isso eu comprovei por mim mesmo, meses atrás quando precisei deixá-la. E agora, que já não a tenho mais ao meu lado. Sou consumido por minha própria solidão, por meu próprio desespero.

Minha ânsia de tocá-la, de abraçá-la, de beijá-la, até de torná-la minha, é muito maior do que eu posso resistir.

Mas agora, esses sonhos, esses desejos esfumaçaram no ar, deixando-me sem absolutamente nada.

Maldito destino que me fez provar desse fruto, viciou-me nele, e então me absteve dele sem qualquer piedade. Não sou nada sem ela, não passo de uma máquina de destruição e ódio sem ela. Porque é exatamente nisso que me transformarei se permanecer no plano terreno sem ela, indubitavelmente, as trevas tornarão a me dominar.

- Aidan... – ela sussurrou meu nome quando mordisquei levemente a pele de seu pescoço, subindo com meus beijos para o contorno delicado de seu queixo.

Àquela altura eu já me encontrava fora de mim, incapaz de domar a minha fera interior, meus desejos por ela. Meu corpo ainda queimava pela proximidade dela, minhas mãos agarravam sua cintura fina, apertando-a contra mim, desejando que ela se unisse a mim ali mesmo, naquele momento.

Mas, como poderia?

Agatha era como uma sacerdotisa intocada e proibida para mim. Tão casta, tão pura, que como eu, o maior de todos os pecadores, poderia profanar tamanho santuário de pureza e contaminá-la com minha imundice?

Por isso nunca a tive verdadeiramente.

Meu respeito, meus votos de jamais prejudicá-la, de jamais lhe roubar algo importante, era maior do que meu desejo, do que a fera insaciável dentro de mim.

Mas, depois que a perdi, venho me questionando se agi corretamente, se não deveria tê-la feito minha enquanto tive a chance. E nas últimas vezes que a venho encontrando através desses sonhos, tenho me questionado se não é isso que devo fazer.

Meu coração trava uma batalha com o que meu corpo quer.

Porque sei que é errado, sei que não é correto, muito menos digno de uma criatura tão bela e pura quanto ela.

Talvez por isso não tenha de fato coragem para dar esse passo, para reivindicá-la para mim, tomá-la para mim. Talvez por isso esteja enlouquecendo dessa maneira, tornando-me obcecado com esses encontros, com esses sonhos, minhas dúvidas me corroem cruelmente.

O cheiro dela ainda estava ao meu redor, impregnava em minha pele, enchia minha mente com sua presença, e entorpecia-me, deixando-me completamente extasiado.

Não tive mais controle algum sobre meus atos, o monstro dentro de mim rugiu furiosamente, e meus braços logo sustentaram seu corpo curvilíneo, caminhando em direção à areia e depositando-a ali, com todo o cuidado e esmero.

Seus cabelos espalharam-se por sobre a areia branca, e assim que meus olhos encontraram seu rosto, ela sorriu mais uma vez. Ela devia ter ao menos consciência do que fazia a mim, do que causava em mim.

A batalha interna ainda era travada com todo o seu furor e devastação dentro de mim. Mas eu estava certo, e convicto, não profanaria seu corpo, não o violaria daquela maneira.

E sempre a teria em minha mente como a figura pura e casta que ela sempre foi.

Mesmo assim, não fui capaz de me conter, apoiei meus braços, um de cada lado de seu corpo, debruçando-me sobre seu corpo. Era indescritível aquela sensação, a de tê-la sob a proteção de meu corpo, de aquecê-la com meu calor, de cobri-la por inteiro.

Jurei a mim mesmo de que faria absolutamente tudo para protegê-la, para evitar que fosse envolvida nessa guerra sem sentido. Mas falhei com meu juramento. E por conseqüência, a perdi.

Curvei meu rosto até o dela, sorridente e alheio ao que estava causando em mim, as feridas que estava abrindo. Não que me importasse com essa dor, sei que posso suportá-la, sei que posso lidar com ela. Mas a dor de abrir mão desses encontros, dessas reuniões na calada da noite, isso jamais poderei suportar.

A ponta de meu nariz roçou em seu rosto, inspirando o máximo que podia de sua fragrância deliciosa e viciosa. Sua pele era tão macia, tão aveludada, que mais uma vez, aquela fera urrou dentro de mim.

As mais diversas sensações eram despertadas pelo mero toque de suas mãos delicadas, pelo olhar mais cálido e profundo, e eu me via consumido novamente por aquelas terríveis tentações.

Fechei os olhos, tentando acalmar meus batimentos, estabilizar minha respiração, mas sempre era em vão.

Porque o que mais queria, estava bem ali, diante de mim. Só bastava que eu estendesse a mão e apanhasse. E sempre que estava prestes a tomar essa decisão, minha mente entrava em conflito com meu corpo.

Agatha notou meu aborrecimento mais uma vez, e afagou meu rosto, então, como vinha acontecendo desde que aqueles sonhos começaram, ela aproximou seus lábios macios e sedutores de minha orelha, as mãozinhas envolveram meus ombros, enquanto ela sussurrava com sua voz de anjo:

- Eu te perdoo...

Sempre que me culpava por sua morte, sempre que me recordava de que falhei com minha promessa, falhei com a pessoa que mais amei em minha vida, suas palavras eram lançadas, sempre tentando me confortar.

Jamais me perdoarei por tê-la perdido daquela maneira, jamais me verei liberto dessa culpa...

Ela depositou um beijo em minha face, como sinal de despedida, e então se foi. Levando consigo tudo o que eu amava, tudo o que eu mais desejava, tudo o que importava para mim.

Trinquei os dentes, ainda com os olhos cerrados, e me agarrei aos últimos resquícios de nossa história roubada.

O despertar logo veio, de forma abrupta, violenta. E eu tornei à obscura realidade a qual venho habitando nos últimos dias...

- Desperte, traidor! – alguém vociferou, irritado, sua voz rude e rouca machucava meus tímpanos.

Aos poucos, fui retornando a mim mesmo, grogue e ainda entorpecido pelas lembranças do sonho. Esse era o outro motivo de meu tormento, os sonhos nunca deixavam meus pensamentos, eles sempre se repetiam infinitamente. Não importa o quanto doesse em mim.

Abri os olhos, sonolento, percebendo uma queimação incomum em minha face esquerda. Então aquele canalha havia me esbofeteado. Não estava surpreso, depois dos primeiros dias de castigo, acostumei-me às torturas, aos castigos rígidos e severos.

De qualquer forma, a pior dor estava dentro de mim, em meu coração, em minha alma, não em meu corpo.

Minha visão era turva, embaçada no inicio, via apenas vultos e sombras indistintas, mas assim que recobrei completamente os sentidos, arrependi-me de tê-lo feito.

Trinquei os dentes e cerrei os punhos, impulsionando meu corpo para a frente, tentando alcançar aquele desgraçado, mas as correntes sempre me impediam, sempre limitavam meus movimentos, e eu logo caí, esgotado e abatido.

Ducian aproximou-se de mim, podia sentir sua energia repugnante envolvendo-me.

Se pudesse, teria o feito em pedacinhos naquele momento, o mataria da forma mais lenta e dolorosa que encontrasse. Mas eu nada podia fazer contra ele, não naquele momento.

- Deixem-nos a sós! – ordenou ele, e eu me contive para não tentar avançar em sua direção. O que mais me deixaria satisfeito era torcer seu pescoço com minhas próprias mãos.

Assim que a porta da cela foi fechada com um baque, soube que éramos apenas nós dois ali. Teria eu outra oportunidade para me vingar? Talvez não. Se ao menos eu não estivesse tão enfraquecido moeria essas correntes e colocaria um fim na vida daquele verme miserável.

- Aidan – começou ele, serenamente, sempre calmo, sempre confiante, aquilo me irritava profundamente –, acredito que tenhamos alguns assuntos pendentes para resolver...

- Não... tenho nada para conversar com você... – murmurei com dificuldade, um pouco sonolento e baqueado.

- Eu discordo, acredito que achará nossa conversa bastante produtiva e interessante.

- Vá se ferrar... – vociferei, tentando sustentar meu olhar e fuzilá-lo, demonstrar a ele que havia perdido seu cãozinho fiel, que eu fora liberto de sua coleira e agora que havia experimentado a liberdade, nunca mais voltaria para o canil.

- Sabe que não tolero esse linguajar tão baixo. – reprimiu-me ele, apenas o ignorei quando ele prosseguiu – Mas, quero discutir com você alguns assuntos e desenterrar velhos segredos. Achei que ficaria interessado em saber como eu o manipulei todo esse tempo.

Suas palavras conseguiram me atingir pela primeira vez, fazendo-me encará-lo, confuso e grogue.

- De que diabos você está... falando?

Ducian sorriu, despertando minha fúria, mesmo assim, mantive-me quieto, calado, esperando para ouvir o aquele verme maldito tinha e me dizer:

- Estou falando da noite em que você poupou uma criança Elemental, uma criança que estava sendo gerada no ventre de uma mortal.

Vendo minha expressão taciturna, ele prosseguiu:

- Quero lhe explicar, Aidan, como eu lhe dominei todos esses anos, e como seu amor pela jovem Agatha sempre foi uma situação criada exclusiva e unicamente por mim.

Estaquei depois de ouvir suas palavras.

Do que diabos aquele velho senil estava falando?

Algo me dizia que eu estava prestes a descobrir...


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Notas finais do capítulo

Bem, como notaram, teremos revelações bombásticas no próximo capítulo! Ducian é um monstro! O que será que ele vai aprontar dessa vez???

Esse foi só o primeiro sonho do Aidan com a Agatha... O que acharam? Bom, eu não podia deixar as coisas quentes logo de inicio, eu prefiro ir aquecendo em fogo brando, e logo teremos muitos momentos lindos e fogosos desses dois!

Não se preocupem, logo o Aidan sai desse buraco, mas o "como" e "quem" será surpresa...

Não se esqueçam das reviews!!!

Beijinhos!!!!