Após aquela noite com diversos acontecimentos que estavam quase fazendo minha cabeça explodir de vez, caí em um belo e profundo sono, dormi feito uma pedra e não sonhei com absolutamente nada, o que me deixou um tanto frustrada, porque odeio sonhar mesmo que o sonho seja um pesadelo, pois é algo emocionante e faz parte (ou quase) de nossas vidas!

Eu estava pronta para fazer algo que queria fazer à tempos: descobrir mais sobre minhas lembranças de entre 7 a 10 anos. Descobrir porquê eu não estava junto com meus pais no acidente deles. Porquê eu não pude morrer junto com eles?? Aliás, eu queria saber também que morte eles tiveram, já que minha tia nunca me falou nada disso e sempre desviou desse assunto.

Acordei, coloquei um vestido (meio de um estilo lolita, sem aquelas coisas bufantes) azul-claro sem manga, com babados na alça, na cintura e no final do vestido, tinha decote "v" e ia até um pouco acima de meus joelhos. Vesti um bolero branco de mangas compridas de tecido liso, coloquei meias brancas e um sapatinho preto, pronto, estava pronta para enfrentar um dia de chuva.

Desci e peguei minha sombrinha, eu estava prestes a visitar minha amiga Hina, para questionar à ela algumas coisas das quais eu queria saber.

Debaixo daquela chuva intensa, eu caminhei cabisbaixa pensando se estava certo em não acordar e avisar minha tia que saí de casa, afinal, eu já ia voltar mesmo.

Eram 8 horas da manhã, não havia absolutamente ninguém na rua, estava um pouco escuro devido às nuvens negras de chuva, eu estava começando a pensar em voltar para casa, mas continuei caminhando lentamente em passos curtos em direção à casa de Hina, que ficava à umas 3 ou 4 quadras da minha. Haviam poças e mais poças por tudo quanto era lado, se passasse um carro ali mesmo, eu iria acabar ficando ensopada.

Cheguei em frente à casa de Hina, respirei fundo e toquei a campainha. Pensei "Droga, será que ela está acordada? Ninguém acorda às 8 horas de um domingo!".

Ninguém atendeu.

Toquei a campainha de novo.

Ninguém ali.

"A família da Hina deve estar dormindo, melhor voltar mais tarde" pensei cabisbaixa.

Dei meia-volta e saí andando, alguns segundos depois, escutei um barulho de maçaneta sendo girada e porta sendo aberta. Eu me virei e vi a mãe de Hina, sorridente, olhando para mim.

- Ah, é você Miya, desculpe a demora, pode entrar, fique à vontade! -ela convidou- Aposto que você quer ver a Hina, né? Ela está acordada no quarto dela.

- Muito obrigada. -agradeço, entrando na linda e moderna casa de minha amiga.

Direcionei-me, subindo as escadas cuidadosamente, pois tinha uns brinquedos da irmã mais nova de Hina como minas terrestres ali, até o quarto de minha amiga, que estava com a porta um pouquinho aberta.

- Hina-chan? Desculpe incomodar à essa hora... -entrei no quarto dela.

Hina ainda estava de pijama, era uma linda camisola curta com alças finas pretas, era rosa-clara de bolinhas pretas, detalhada com rendas pretas. Ela usava também meias pretas que iam até seus joelhos. Ela estava com uma cara sonolenta, estava bocejando e esfregando os olhos.

- Ohayo gozaimasu, Ogawa Miya-sama... -ela disse, morrendo de sono.

- Ohayo Hina-onee-chan, -eu disse, alegremente- por favor, Hina... me ajudaria com uma certa coisa?

- Coisa? -ela perguntou, confusa, inclinando um pouco sua cabeça, mostrando curiosidade.

- Me ajude a lembrar-me de minhas memórias perdidas após aquele acidente! -eu disse, séria.

Hina arregalou os olhos e sentou em sua cama rodeada por diversos bichinhos de pelúcia (a maioria, Nekos).

- Sente-se e me diga do que você precisa, talvez eu possa ajudar.

- Bom... -comecei, sentando-me na cama de minha amiga- eu quero que você me ajude a me lembrar das memórias que eu perdi! Você é a única que pode me ajudar! -segurei as mãos de Hina, implorando para ela.

Hina arregalou ainda mais os olhos, ela ficou sem voz por um tempo.

- Tudo bem, -ela concordou, fechando os olhos por um segundo- o quê você precisa saber?

- O que exatamente aconteceu no meu acidente? -perguntei à ela.

- C-Como a-s-ssim?? -ela gaguejou, mostrando que tinha algo escondido.

Aháá, eu havia pego ela no flagra, eu iria descobrir tudo de uma vez por todas!

- O que aconteceu exatamente no meu acidente?

- V-Você foi atropelada por um carro.

Ou não.

- Não deve ter sido isso, Hina, eu vejo através de seus olhos e sei que você está escondendo algo de mim!

- Ta bom... Na verdade, você não foi atropelada. Foi sua irmã gêmea.

"COMO ASSIM?" este pensamento me veio logo a cabeça no mesmo momento que ela disse aquelas palavras. Um grande ponto de interrogação estava estampado em minha cara, meus olhos arregalaram-se com um certo medo e curiosidade.

- Como isso foi possível? Mas como eu fui perder minhas memórias? EU TENHO UMA IRMÃ GÊMEA?? -perguntei histérica.

- Bom, acho que você a esqueceu também, nós 3 éramos super amigas, você e sua irmã eram bem parecidas, só que, sua irmã, ao invés de ter olhos azuis, tinha olhos avermelhados, lindos olhos avermelhados. Mas você e ela eram loiras, tinham a mesma altura e a mesma beleza! Ela se chamava Yuki. Sua tia nunca falou sobre ela?

- Yuki... esse nome me é familiar... -eu disse.

- Yuki era simpática, leal, mas ao contrário de você, ela era ativa, cheia de energia e gostava realmente de se mexer. Você era mais calma e gostava mais de ficar parada.

- Mas porquê eu não me lembro dela??

- Ah sim, ela estava em um colégio interno quando vocês tinham 6 anos, ela só voltou de lá aos 8 anos... seus pais amavam vocês duas, eles queriam deixar vocês juntas sempre, mas sua tia os impedia disso, falava que vocês podiam ter problemas juntas...

- M-minha tia? -perguntei nervosa.

- Sim, no dia do acidente, era um dia de neve assim como todos os outros dias de Inverno, eu estava brincando com você e Yuki, então atravessei a rua depressa junto com Yuki, deixando você para trás.

FLASHBACK ON

Yuki: Vamos, Hina! Ah, droga, a onee-chan está no outro lado da rua...

Hina: Vamos Miya-san! Você é muito lenta!

Miya: -corria rapidamente, atravessando a rua, mas parava e se virava ao ver que um carro se aproximava em sua direção. Ficou imóvel e arregalou os olhos ao ver o carro vindo.

Yuki: ONEE-CHAAAAN! -corria em direção à sua irmã gêmea

Hina: Espere, YUKI! -esticava a mão para trazer Yuki de volta à calçada, mas falhou nesta tentativa.

Yuki: -empurra sua irmã para fora da estrada, mas acaba por ficar no lugar dela.

Hina e Miya: NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOO! -olham para Yuki e para o carro em direção à ela.

Miya: -cai no chão e bate a cabeça na ponta de um muro de uma casa ali por perto, ela desmaia e perde muitas de suas preciosas memórias.

Yuki é atropelada pelo carro, sangue para tudo quanto era lado, a neve agora era vermelha, uma garota estirada no chão, uma mulher loira, cujo rosto estava coberto por um cachecol e uma boina na cabeça por isso não tem como ser descrito, saiu do carro e chamou por uma ambulância (pensando que tinha como salvar a garota já morta...).

Hina começa a chorar e se ajoelha na calçada, cabisbaixa, ela soluçava e berrava, ela não sabia o que doía mais: ver a morte de perto ou saber que uma das pessoas mais especiais para ela estava morta.

FLASHBACK OFF

- E eu culpei a mim mesma depois que soube que você havia batido a cabeça e perdido a memória... -Hina dizia chorando- se eu não tivesse insistido para você atravessar a rua logo... nada disso teria acontecido... você e Yuki... eram tão amigas, tão irmãs... -ela soluçou algumas vezes

- Não foi sua culpa! -eu disse, abraçando ela.

- Se eu pudesse voltar no tempo...

- Mas você não pode! Sei que a Yuki ainda está entre nós! Só não entendo porquê minha tia quis nos separar!

Hina pensa um pouco.

- Miya, seus pais morreram de acidente de carro também né?

- Pelo que minha tia me contou, o carro deles capotou na estrada...

- Ahh... só um instante -Hina levantou-se e trocou rapidamente de roupa, após arrumada, ela direcionou-se à porta do quarto dela.

- Onde você vai?

- Falar com sua tia. Vem junto?

- Mas à essa hora ela está dormindo...

- Que se FODA! -Hina disse num tom de raiva.

Eu realmente me assustei com aquilo. Segui minha amiga até a rua.

- Hina, acalme-se... -eu parei ela um pouco.

- Quer saber? Deixa que eu falo amanhã com sua tia, mas... só uma coisa: se cuide -ela dá meia-volta e volta para casa sem dizer mais nenhuma palavra.

- O que deu nela? - pergunto a mim mesma.

Não tinha escolha a não ser falar com ela depois, segui em rumo à minha casa, já estava cansada das pessoas escondendo coisas de mim e aliás, eu tinha de perguntar mais uma coisa à alguém: Hachiro.

Continua...