Após desligar o telefone, sentei na cama, estava pasma, minha pele havia ficado mais branca que neve. Eu não podia acreditar no que havia escutado. Hachiro me perguntou o que aconteceu. Respondi qu não havia acontecido absolutamente nada (como se isso fosse verdade) e que nós devíamos voltar a dormir. Lembrei-me de algo importante que tinha de fazer já havia algum tempo, falei para Hachiro que ia descer e beber um copo d'água.

Ok, minha intenção não era essa, mas, sem fazer por querer, acabei por realmente pegar um copo d'água.

Senti como se uma brisa tivesse encostado levemente em minha pele. Olhei para trás e vi que a janela estava aberta. Fechei-a e senti a mesma brisa novamente. Olhei para trás de novo e tive a legítima impressão de ter visto um vulto negro correndo pelos lados. Peguei a primeira faca que vi (pra variar, não tinha ponta) e fiquei apontando para o nada por alguns segundos. Escutei um barulho de talher caindo no chão. Levei um susto, mas era só uma colher que havia sido derrubada.

Peraí... derrubada?

Virei de novo para trás e levei o maior susto de minha vida.

- Ei, porquê essa cara assustada irmãzinha? Parece até que viu um fantasma. Bem, na verdade viu, he he.

- Y-Yuki??? -olhei para a fantasma à minha frente.

Sim, aquela voz e aquela imagem eram da Yuki, minha irmã gêmea. Ela era muito parecida comigo. Aparentava ter 16 anos (pelo que parece, fantasmas também crescem), era loira, cabelos compridos até a cintura, olhos incrivelmente avermelhados, pele branca, na verdade, ela era transparente assim como um fantasma de verdade, daqueles que nós vemos em filmes, usava um lindo vestido branco de alças finas, era comprido e solto, chegava até seus tornozelos. Estava descalça e usava uma rosa azul no cabelo.

A rosa de cabelo dela era azul, assim como meus olhos.

A minha rosa de cabelo era vermelha, assim como os olhos de Yuki.

- Eu precisava falar mesmo com você! -eu digo e tento abraçá-la. Mas acabo abraçando o vácuo. Havia esquecido que ela não era de carne e osso, agora, era apenas uma fantasma.

Caí de joelhos no chão. Ao atravessar o corpo dela senti um frio que predominava todo meu corpo. Me bateu uma forte tristeza e eu me senti mais fraca. Fiquei olhando para o chão por um bom tempo.

- Eu não sou mais um ser sólido, irmãzinha. -ela diz em um tom  de tristeza.

- Eu me esqueci disso. -digo ao me levantar- Afinal, me responda uma coisa: nossos pais estão vivos??? O que aconteceu com eles?? A polícia falou que eles foram clonados! CLONES TEM ALMA?? Me responda, por favor! -disse, histérica.

Ela calmamente, respirou fundo (eu nem sabia que fantasmas respiravam, ou finjiam que respiravam...) e finalmente soltou a voz sem perder a paciência.

- Eu sei o que houve, mas não tenho muito a dizer, nem posso, porquê isso violaria meu trato com um certo anjo...

- Trato?

- Sim, eu perguntei à ele se eu poderia ficar aqui, com minha alma presa ao mundo dos humanos durante um tempo, depois seu casamento, eu iria para o além.

- M-meu casamento? -pergunto, pasma.

- Sim, aliás, nós fantasmas conseguimos prever o futuro. O seu, bem, não posso revelar muita coisa, mas posso dizer que ele será realmente brilhante.

- Você também pode mudar de forma e ficar visível se quiser? -pergunto (nem um pouco curiosa).

- Assim? -ela pergunta e, ao mesmo tempo, fica mais visível, parecendo uma humana mesmo, sólida- Pode me abraçar agora se quiser -ela pergunta, rindo.

Ao tocar a mão dela, sinto sua solidez. Era real. Abraçei ela fortemente e ela começou a rir.

Não durou muito tempo e ela voltou à sua "forma de alma".

- Porquê você não pode me contar sobre papai e mamãe?

- Porque faz parte do trato. Você quer saber se eles estão vivos ou mortos, certo?

- Sim!

- Então... tente se lembrar de algumas coisas que eu falei. Elas irão te ajudar a revelar este mistério.

- Valeu pela ajuda -eu disse, sarcástica.

- Tenho que ir, preciso resolver algumas coisinhas...

- Fantasmas também ficam ocupados??

- Claro né, Miya, sua boba. -ela ri- Sério, preciso mesmo ir agora. Porquê você não fica com esta borboleta azul? Através dela, eu poderei ver você. -ela faz surgir uma linda e delicada borboleta azulada com detalhes pretos na asa, que pousa suavemente em minha mão esquerda- Até mais -ela diz e se desintegra em pétalas de flores de cerejeira, deixando estas para trás.