Olhei para o campo em minha volta. Vi que estávamos longe da cidade. Estávamos em um lindo local no qual eu tive realmente a impressão de que já estive naquele lugar.

Corri pelo canto, sorrindo, rindo, enquanto corria, borboletas azuis surgiam e começavam a voar ao meu redor. Senti que era uma criança novamente. Uma criança muito feliz por sinal. Corri até a margem do rio que tinha ali e deitei-me perto do pé de uma cerejeira. Vagalumes iluminavam também o local.

Hachiro veio até perto de mim e me olhou com um sorriso no rosto.

- É tão bom ver que você está feliz de novo, Miya.

- Sim... que pena que eu não lembre de meus momentos com você... creio que tenham sido os melhores de minha vida -digo, sorrindo e fechando os olhos- ahh... queria poder ficar aqui a noite toda... esse lugar é perfeito!

- Mas nós podemos, -disse Hachiro- afinal, você e eu podemos vir aqui quando quisermos sem nenhuma preocupação.

- E seus pais? Eles costumam vir para sua casa?

- Sim, eles me sustentam, é claro, mas só vejo eles umas 4 vezes durante o ano. Queria poder vê-los mais. Eles não precisam viajar a negócios o tempo todo.

- Não seja por isso. -me levanto um pouco do chão e fico sentada na grama- Ao menos você os vê. Isso é ótimo! Aliás, você não tem irmãos?

- Não, acho que não preciso de irmãos, já tenho à você, o que mais posso querer? -ele olha para as flores do campo, pega um lírio e põe no meu cabelo.

Significado do Lírio: representa o amor puro e a inocência, para os chineses, o lírio significa "Amor eterno".

- Porquê e como exatamente nós nos conhecemos? -pergunto.

- Bom, era verão à tarde, eu estava brincando de jogar bola com alguns amigos meus, um deles jogou a bola com força e me ofereci para vir aqui e pegá-la. Ao ver que a bola estava perto destas cerejeiras, -ele apontou para uma delas que está ao meu lado- vi que tinha uma garotinha de cabelos compridos e loiros, chorando na beira do rio. Era você. Eu cheguei até perto de você e tentei te consolar. Era doce e gentil, nos tornamos amigos bem rapidamente. Você tinha dito que havia brigado com sua tia e não queria mais saber dela.

- Hum, é verdade que sempre briguei com minha tia mas, nunca pensei que eu fosse tentar fugir dela.

- Pois bem, vi que você era uma pessoa que precisava de alguém que a entendesse.

- Eu havia comentado alguma vez pra você de minha irmã?

- Pelo que eu lembre não, talvez ela estivesse viajando.

- Poisé, Hina me contou que minha tia não gostava de ver eu e minha irmã juntas.

- Hina é aquela sua amiga, né? Ela estuda no mesmo colégio que eu. -ele diz sorrindo.

- Tá de brincadeira? -eu pergunto, rindo.

- Verdade, vejo ela saindo da sala de aula. Claro, eu sou do 3º ano e ela é do 2º. Ou seja, nossos intervalos são separados.

- Hachiro... posso fazer uma pergunta à você?

- Claro.

- Posso estudar no mesmo colégio que você? -pergunto e abraço ele cuidadosamente, devido ao seu braço quebrado.

- Mas é claro que sim, vai ser ótimo. -ele disse ao me abraçar com seu braço direito- Amanhã mesmo iremos fazer sua transmissão e comprar seu uniforme, acho que você vai gostar do colégio, é um pouco puxado mas eu posso te ajudar nas matérias caso tenha dificuldade.

- Talvez não precise, costumo tirar notas boas no meu colégio atual. Então poderei ficar na mesma turma que Hina... -aconcheguei-me no calor do peito dele e fechei os olhos.

Adormeci. Devia estar muito cansada após um dia cheio de acontecimentos que fizeram minha cabeça de vez. Eu começei a ter um sonho: Yuki estava com a mão fechada esticada em minha direção. Ela disse "vou ajudar a fazer com que você recupere suas memórias." e abriu sua mão. Várias pétalas de flor de cerejeira voaram de sua mão, era lindo ver. As pétalas começaram a voar junto com uma leve brisa ao redor de mim, as pétalas caíram. A brisa parou. Algumas minhas memórias mais preciosas voltaram para minha mente numa fração de segundos. Agora eu me lembrava muitas coisas. Talvez não tudo, mas eram coisas preciosas para mim.

Acordei rapidamente com um suspiro desesperado, estava com dificuldades para respirar, começei a tossir frequentemente. Estava na cama junto com Hachiro, ele acordou, tentou me acalmar e até me trouxe um copo d'água. Nos abraçamos, deitamos na cama e tentamos dormir mais uma vez. Não sei exatamente porquê acordei daquele jeito.

Mas sabia que havia recuperado algumas memórias preciosas minhas.

O meu celular tocou.

"Quem será a essa hora?" pensei.

Atendi. Era a polícia. Eles haviam avistado o corpo de minha tia na minha casa, que havia sido queimada. Eles analisaram os vidros com aquelas cabeças humanas em conserva, disseram que não eram meus pais. E sim, clones que minha tia foi proibida de fazer.

O que os policiais quiseram dizer com aquilo?

Minha tia foi uma cientista também? Algo desse tipo?

Continua...