Eu estava prestes a morrer, mesmo assim, tinha certeza de três coisas:

1ª: Minha tia era uma psicopata doentia assassina (e bebedora de sangue, eca!).

2ª: Se morresse, eu iria rever meus pais e minha irmã Yuki depois de tanto tempo, mas iria perder Hachiro, ele ficaria aqui, no mundo dos humanos, eu, juntamente com meus pais. Além disso, naquele momento, eu não estava sentindo que estava pronta para morrer. Ao menos não naquela hora.

3ª: Eu estava com fome, pois não tinha almoçado. Ou seja, eu iria morrer ou na facada, ou de fome! Que trágico!

Enfim, Takara pegou uma garrafa de álcool que estava na cozinha e começou a derramar seu líquido por toda a casa.

Quando ela subiu, tentei me levantar. Mas não consegui.

"Força, Miya! Sei que você consegue! Ande logo, nossa tia irá botar fogo nesta casa logo logo, onee-chan, eu confio em você!" a voz que eu havia escutado outra hora disse.

"Onee-chan?", "nossa tia"? Ei, não era a minha mãe que estava me dizendo aquilo. Era minha irmã! O tempo todo ela esteve tentando me ajudar.

Takara desceu as escadas. Estava com o livro e o facão na mão.

No mesmo instante, alguém chega quebrando o vidro de uma das janelas da sala. Ele cai no chão e se levanta rapidamente, sem nenhum corte.

- Ha... chi... ro... -eu tento dizer, com muita dificuldade, trêmula, estico meu braço em direção à ele. Lágrimas a rolar de meu rosto e um sorriso a se abrir.

- Acho que cheguei um pouco em cima da hora. -ele disse, com um sorriso.

- Ah céus, mais um aspirante metido a herói, -diz Takara- quando irão parar de me interromper?

- Deixe ela em paz! -Hachiro gritou.

- Claro, deixarei a alma dela em paz, isso sim.

- Porquê... você... não me mata... logo de uma vez? -pergunto.

- Miya... -disse Hachiro, com os olhos arregalados fixados em mim.

- Eu queria criar você para ser minha escrava, mas você é uma inútil! -berrou Takara- Agora, já que é uma inútil, irá perder tudo que lhe é precioso, assim como queria que sua mãe a tivesse perdido! Sua irmã era mais forte! Você teria morrido no parto de sua mãe, porque você tinha problemas de saúde! Era fraca! Você só conseguiu sobreviver porque sua mãe acreditava que você pudesse se superar!

Começo a ficar assustada e a encaro, não acreditando no que ouço.

Hachiro aproveita que ela está distraída e pega um castiçal da cozinha e tenta atingí-lo na cabeça de Takara. Os começam a brigar com a ajuda de suas pequenas armas. Hachiro era rápido mas minha tia era abilidosa com o facão.

Ela o antingiu no braço, causando um corte um pouco profundo em sua pele.

Uma hora, minha tia deixou seu facão cair no chão.

Rapidamente ela acendeu um fósforo e sorriu para Hachiro.

- Ei, "herói da história", a casa está cheia de álcool de cozinha espalhado pelo chão, não sei se você notou isso. Mas se eu deixar cair esse fósforozinho, nós todos iremos morrer queimados. -ela ri- Você e sua namoradinha dariam um belo churrasco humano.

- Maldita! -berro, sem me conter.

- Ops, caiu -ela deixa cair o fósforo no chão.

Rapidamente, as chamas se espalham numa incrível velocidade por toda a casa. Eu estava dentro de um círculo de fogo, enquanto Hachiro estava em um canto. Takara estava SE QUEIMANDO e rindo à toa. Mas Hachiro pareceu não ligar para ela.

Não haviam saídas. Somente na parte de cima da casa, onde nós poderíamos sair por uma janela aberta.

- MIYA! -Hachiro gritou.

- Hachiro! -eu grito- Espere, que eu vou até onde você está!

- Nada disso, você irá morrer queimada!

- Mas você que irá se vier até aqui!

- Não me importo! Contanto que eu te proteja, nem que eu tenha que dar minha vida à você! -ele correu entre as chamas em minha direção.

Logo, minha tia já estava estirada no chão, ainda sendo queimada pelo fogo, que aumentava cada vez mais de tamanho.

- Achei você! -ele me pegou no colo e me deixou deitada e encolhida em seus braços.

- BAKA! BAKA! BAKA! -eu berrava, quase chorando, batendo no peito dele com uma de minhas mãos- Você está se precipitando demais, você não pode morrer! Se você morrer, eu morro junto!

- Acho que eu tenho mais razões do que você em relação a isso, você nem ao menos se lembra dos momentos que passamos juntos! -ele me disse, sem sair de dentro do círculo de fogo que nos cercava.

- Mas eu sinto! Pode parecer que nos conhecemos a pouco tempo para mim! Mas eu sinto todos os momentos que passamos juntos na minha pele! Pode não estar no meu cérebro de ervilha, mas está em meu coração! -berrei.

- Miya... -ele ficou assustado, mas depois, sorriu- Tudo bem. Se você morrer, eu me mato para ficar junto de você. -ele diz e atravessa as chamas rapidamente, sobe as escadas e vamos até meu quarto, onde havia uma janela que era por onde podíamos fugir.

- Você vai pular dessa altura?? -pergunto ao ver que estávamos um pouco longe do chão.

- Tudo para escapar dessas chamas com você -ele diz.

Olho para meu quarto, tudo estava sendo queimado: minha foto com minha tia. Minhas fotos com a Hina, todas as lembranças estavam-se indo pelos ares. Não pude conter minhas lágrimas ao ver todas as minhas lembranças boas sendo queimadas.

- Vamos... -eu digo, chorando.

Hachiro prepara-se para pular daquela altura. Quando ele pula, cai na grama do quintal. Ele sai rolando junto comigo até o portão de minha casa.

Após alguns arranhões e raladas, fico de joelhos e olho para a casa sendo queimada. A casa em que eu morava com meus pais, a casa na qual eu nunca, jamais esqueceria.

"Ótimo trabalho onee-chan, cuide bem do Hachiro. Ele fará parte de sua vida agora. Nós nos vemos em seus sonhos e pensamentos, ok? Qualquer coisa, se quiser minha ajuda de novo, é só chamar mentalmente. Agora, tenho que ir, okaasan e otosan estão me esperando, aliás, estão muito orgulhosos de você!" a voz de Yuki disse-me.

- Arigatou, Yuki-chan -eu agradeci em voz baixa.

Olhei para Hachiro, ele estava deitado no chão, soltando um urro de dor.

- Hachiro! -gritei e fui em direção à ele.

- Tudo bem... só bati o braço com força no chão. Vou ficar bem -ele força um sorriso.

- Vem, vamos para casa -ajudo ele a se levantar.

Finalmente as coisas ruins estavam acabando, mas esse era o novo começo de uma nova vida. Estaria sem perturbações agora.

Mas eu estava sentindo que havia esquecido de alguém durante todos aqueles acontecimentos...

Hina!

Continua...