Let It Burn escrita por Gorski


Capítulo 7
Capítulo 7; Trote


Notas iniciais do capítulo

Agradecendo desde já quem esta continuando a ler,



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;LEANA SILVER;

            Meus sapatos guinchavam a cada passo que eu dava e isso começou a me irritar à medida que os tirei dos pés e carreguei. Quando amarrei os cadarços nos braços foi que notei que não tinha atirado a gravata daquele infeliz pra longe de mim, mas o que mais me surpreendeu é que eu ainda tinha o livre poder de escolha de atirar a gravata dele em qualquer poça de água na rua mas eu não quis fazer isso. Ao invés de pisar naquele pedaço de pano vermelho, eu levei-o ao rosto, e senti o cheiro dele tocar minha pele.

            Por alguns segundos parei de andar, parando na calçada me fixando apenas em um pensamento: Como o cheiro dele era bom.

            E então quando dei por mim já tinha pessoas me encarando, enquanto passavam. Mas não era por que eu estava paralisada com uma gravata debaixo do nariz... Era por que eu cheirava a soda limonada e cloro, tinha restos de manteiga e pêra no meu cabelo, minha roupa estava molhada e eu estava com face de drogada e bêbada; Socorro. Desdobrei a gravata e, para completar meu visual de maluca, coloquei-a no pescoço. Dei sinal para o primeiro ônibus que passou na avenida ciente de que James não iria voltar atrás e vir me buscar agora... Ele era frio, um cabeça dura e pra piorar ele me botara pra fora de sua casa.

- Com licença, onde fica o final desse ônibus? – Perguntei quando o motorista abriu a porta pra mim, me medindo de cima abaixo com a boca aberta.

- Fica à três avenidas daqui. Perto do centro. – Respondeu ele. Eu não sabia me localizar muito bem aqui na Califórnia, mas sabia que a casa dos meus tios ficava perto da praia, próximo ao centro.

- Desculpe-me senhor, mas estou sem dinheiro por que fui roubada e...

- Tudo bem moça suba. – O motorista velho sorriu pra mim. Subi para o ônibus e me apoiei na porta após ser fechada-a. Respirei fundo pensando no que faria quando chegasse à casa dos meus tios... Provavelmente seria morta.

            Fiquei a viagem inteira de pé, por que embora estivesse cansada, não queria molhar os bancos. E pensando inutilmente nas mentiras que teria de contar. Então resolvi que primeiro passaria apartamento que meus tios alugaram pra mim no centro da Califórnia, apenas para tomar um banho e procurar em alguma das caixas uma roupa limpa. Então poderia ir á casa dos meus tios e parecer mais civilizada. Desci no ponto final e agradeci ao motorista repetindo dezenas de vezes que se voltasse a encontrá-lo iria pagar pela viagem. O porteiro do prédio me reconheceu, talvez pelo sorriso, mas assim que me viu correu para me ajudar.

- Está se sentindo bem Srta? – Ele perguntou sobressaltado, acenei pra ele e assenti enquanto cruzava o hall de entrada e chamava o elevador. As condições do prédio não era lá uma coisa que se costume ver em fotos ou filmes sobre a Califórnia. Era precário, pois acredito que todo centro seja. Porém era meu próprio apartamento, ainda assim, eu estava desacostumada a morar longe dos meus pais. Entrei no elevador e apertei o número 6 e esperei que o elevador não quebrasse para completar minha maré de má sorte.

            Caminhei até a porta do meu apartamento e me curvei para ver se as chaves estavam debaixo do tapete. E lá estavam elas. Abri a porta e fiquei feliz em poder trancá-la novamente e me sentir sozinha e em casa. Tirei o vestido ensopado no meio caminho até o banheiro e arranquei a toalha que estava em cima das roupas sujas amontoadas em um canto da sala. Me joguei atrás do Box do banheiro, e após tomar banho procurei por meu telefone celular. Ele estava dentro da única caixa aberta (onde tinha roupas) e disquei o telefone de Ronnie. Ele atendeu na terceira chamada.

- Lea? – Perguntou ele aliviado. Meu número já estava salvo em sua lista de contato. – onde você esta?

- Estou aqui no apartamento. – Respondi vestindo um jeans preto. – olhe eu sinto muito por ontem, não te encontrei.

- Eu sei o James me disse. – Ele pronunciou o nome de Jimmy de uma maneira estranha, quase que com nojo.

- Então eu posso passar aí mais tarde. Antes eu vou dar uma limpada aqui, e talvez vá comprar um café...

- São duas da tarde, você vai tomar café? Você não comeu na casa dos Sullivan? Eles te trataram mal?

- Não! Não! – Me apressei a responder. – não Ron, eles foram legais comigo. Eu só estou com fome ainda... Sabe, não queria comer muito que nem uma porca lá.

- Vem pra cá pra casa então, você pode comer que nem uma porca aqui... – Ele riu, me fazendo rir também. – aliás, meus pais trouxeram os papéis da sua matricula. Amanhã você vai ao colégio comigo.

- Ótimo, vai ser muito bacana! – Eu não estava tão entusiasmada quanto demonstrei.

            Desliguei o telefone depois e abri as janelas para arejar os cômodos, pesquei uma revista de cima de uma das caixas e li para passar um pouco do tempo. Depois de cerca de quase duas horas, fui caminhando até o condomínio de casas onde meus tios moravam, e James achou ser minha casa (mesmo sendo idiota o suficiente para saber que era a casa dos meus tios, onde ele deveria ter vindo milhares de vezes para visitar Ronnie). Desci a rua íngreme e enorme de paralelepípedos, passando por um monde de casas até chegar no enorme sobrado dos meus tios. Toquei no interfone algumas vezes, e então após dizer que era eu, Ronnie destravou o portão eletrônico e eu pude entrar. Estranho, mas ali parecia mais meu lar do que qualquer outro lugar.

- Demorou, a comida esfriou. – Ronnie anunciou em frente a porta de entrada. Caminhei até ele, e sorri brevemente para não ser inconveniente... Ronnie era um bom primo; eu era uma prima tola.

- Vim caminhando, então demorei um pouco. – Dei um beijo em seu rosto e atravessei a sala vazia em direção a cozinha. Estava sendo indelicada, mas o cheiro de lasanha me chamava...

- E então, o Sullivan te deixou em casa? – Ele puxou uma cadeira para se sentar à mesa, quando abri o forno microondas e coloquei mais alguns minutos para aquecer.

- Não. Eu quis embora sem a ajuda dele. – Me virei abrindo um sorriso falso. – sabe, ele já fez muito me ajudando a sair daquele lugar.

- E por que ele não te trouxe pra cá ao invés da casa dele? – Perguntou-me solenemente, me fazendo congelar em frente ao microondas. Eu não tinha pensando em mentiras suficientes... 

            Eu precisava pensar... Pensar muito rápido.

- James estava meio bêbado, e a casa dele é mais perto do galpão do que a nossa não é? Achei mais prudente levar o carro até o lugar mais próximo. – Foi um chute. Um tiro no escuro.

- Realmente. – Concordou Ronnie para meu alivio e espanto. – ele já estava bêbado?

- Sim, um pouco. Mas como aprendi a dirigir um pouco com meu pai ano passado, resolvi levar o carro. A rua estava deserta mesmo. – Abri o microondas que apitou e levei meu prato de lasanha para a mesa, voltei-me a geladeira e abri a porta da mesma procurando refrigerante. – enfim, onde estão os tios?

            Aprenda: Mude de assunto sempre que seu primo quiser saber por que você foi dormir na casa do ex melhor amigo dele.

É muito mais seguro.

- Saíram, resolveram assistir uma peça de teatro hoje. – Ele deu de ombros. E o telefone tocou.

- Eu atendo. – Me levantei deixando minha lasanha esfriar na mesa, e caminhei até o telefone da cozinha.

- Alô. – Atendi esperando que algum dos meus tios dissesse olá.

- Olha o Ronnie não pode saber que estou ligando por que ele tipo surtaria, então quando ele perguntar diga que foi engano. – Jimmy respirou fundo antes de prosseguir. – repita: alô. Como se não estivesse me ouvindo... Repita se quiser ouvir o que eu tenho pra dizer.

- Alô? – Repeti feito uma idiota.

- Sei que já falei que não sou o cara do tipo de pedir desculpas... Mas eu venho me reinventando nos últimos dias, e estou telefonando para pedir seu perdão. Fui meio rude ao mandá-la sair de casa daquela forma, e dizer que não queria sua amizade... É só que ninguém me entende Lea, e eu sinto muito mesmo. – Ele suspirou aturdido. – agora procure o celular do Ronnie, ele geralmente deixa no quarto em cima do rádio... Vou ligar nele daqui cinco minutos para poder conversar com você direito. Se você estiver disposta a fazer isso para escutar os argumentos que preparei para dizer que gosto da sua amizade e não quero perdê-la, grite: SEU FILHO DA PUTA, PARA DE PASSAR TROTE PRA CÁ!

- SEU FILHO DA PUTA, PARE DE PASSAR TROTE PRA CÁ CARAMBA! – Gritei e ele riu melodiosamente do outro lado da linha, fazendo meu coração pulsar descompassado.

- OK, vá buscar o celular dele então. – Ele sussurrou. – até.

            Ele desligou e mesmo após o quinto toque, fiquei segurando o telefone junto da orelha. James Sullivan me pedindo desculpas?

- Trote? – Ronnie arrastou a cadeira chamando minha atenção. – às vezes esses idiotas fazem isso mesmo...

- Pois é. Você pode esquentar o arroz pra mim? E encher um copo de refrigerante também? – Falei indo em direção a sala. – eu preciso ir ao banheiro, e também preciso arrumar as coisas pras aulas de amanhã.

- Claro. – Ele se levantou indo em direção ao fogão. Corri para o segundo andar e antes que Ronnie pudesse me escutar fazendo barulhos, entrei em seu quarto. Dito e feito, o celular dele estava em cima do rádio. Eu sabia que fazer coisas erradas estavam no meu caráter, mas eu nunca fui de fazer coisas erradas por alguém. E não gostava do fato de fazer coisas erradas por James Sullivan.

            Tranquei a porta do meu quarto (era o único de hospedes, mas agora era meu) e fui até a sacada onde me sentei no chão e esperei ansiosamente que o telefone tocasse. Passarem cinco minutos inteiros até que o celular vibrou em minhas mãos. Por alguns segundos pensei em não atender, mas quando dei por mim já havia atendido.

- Oi. – Falei baixo.

- Desculpe... – Jimmy sussurrou com pesar na voz. – por favor, eu sou um idiota. Me desculpe. Lea, você é a melhor amiga quem alguém pode pedir a Deus... E nem sei por que Deus vem sendo legal comigo, mandando você pairar na minha vida. Por que acredito que nunca tenho sido legal com ninguém... Olhe, por favor almoce comigo amanhã após as aulas. Se quiser posso te buscar de manhã para irmos juntos ao colégio e...

- Não Jimmy. – Cortei-o. – eu te desculpo, mas não vamos voltar a nos encontrar tudo bem pra você? Ninguém nunca me fez passar pela humilhação que passei hoje...

- Eu já disse que sinto muito. – Exaltou-se ele, e então após um suspiro controlou o tom de voz. – Lea, eu gosto de você. Gosto de verdade... Quando você esta por perto eu quero dar o melhor de mim, e ser o cara incrível por quem você vá olhar e dizer: Caramba, ele é perfeito. Eu só quero que me dê outra chance, eu sou humano porra... Todo mundo pisa na bola as vezes. Não me faça pedir por favor ou desculpa mais uma vez... Eu nunca falei tanto isso na minha vida inteira.

            Eu tive de rir.

- Tudo bem, eu já desculpei você.

- Estou falando de coração, não é apenas as palavras. Do que importam as palavras se você não me aceitar de coração? – Perguntou.

- Desde quando você é tão filosófico? – Zombei, fazendo-o rir. – mas enfim, eu não posso te desculpar assim de coração. Ainda sinto uma vontade louca de meter sua cabeça em uma viga de ferro.

- Eu deixo você enfiar minha cabeça em uma viga de ferro... Desde que aceite que eu vá buscá-la amanhã para ir ao colégio. – Senti que ele sorria.

- E como faremos para driblar Ronnie? – Quis saber.

- Diga que vai de ônibus... Que quer fazer algo antes de ir. Eu te busco em outro lugar... – Pressionou.

- Conhece o Shopping que fica a três quarteirões daqui? – Perguntei ouvindo Ronnie bater a porta da geladeira lá embaixo.

- Sim, conheço. – Disse rapidamente. – então eu te busco lá, as 06h50min.

- Tudo bem. – Respondi. – te odeio.

- Também odeio você. Demais. – Ele riu. E então desligou. Apaguei sua ligação com duração de 4m. Coloquei o celular onde achara, e desci para a cozinha. 

            Ronnie estava tomando um enorme copo de Coca Cola.

- Sabe o que eu estava pensando? – Ele perguntou quando eu estava terminando de comer. – estava pensando que se James foi tão legal em te levar pra casa dele, não abusar de você e tudo mais... Ele ainda quer abusar de você.

- Cale a boca. – Falei com indignação, sentindo-me ruborizada após dizer. – quer dizer... Ele não esta interessado em mim.

- Lea... Fique longe dele pode ser? É sério eu não quero ser o tipo de primo que pega no pé... Aconselho você a ter qualquer tipo de relacionamento com qualquer outro cara do colégio menos com ele. Ele é ruim... Eu fui amigo do James por muito tempo e já vi o tipo de coisa que ele faz com as mulheres. Algumas nunca mais ouviram falar dele... Outras, ainda o desejam loucamente. Por favor, eu só não quero ver minha linda prima inteligente cair na tentação e sofrer depois. Eu sei da cabeça e do coração do James, por que nesses cinco anos de amizade ele nunca amou ninguém de verdade. Nunca namorou nenhuma das meninas, e nunca disse que as amava. Então eu acho melhor pra você ficar longe dele... Por que por mais que ele tenha sido legal com você, é uma fachada. Ele não te quer como você acha que quer. Ele quer te usar. E se você não se importar em ser usada tudo bem... Só digo que a definição de ser usada por ele, vem nessa ordem: Um pedido de desculpas, um carinho, um beijo, um amor. Um amor sem ser correspondido, uma menina triste e um James feliz.

            Um pedido de desculpas? Ele tinha dito isso?

- Eu não estou interessada nele, e tampouco ele em mim. – Grunhi fazendo o assunto morrer. Mais o que tinha de morrer era o sentimento que começara a surgir por Jimmy, o afeto. A vontade de estar perto dele. Eu não gostava de como Ronnie mencionava seu ex melhor amigo, mas independente disto, Ronnie estava certo. Ronnie fora amigo dele. E eu era mais uma...

            Mais uma a desculpar, a receber carinho, a ganhar um beijo, a me apaixonar.

            Seria mais um amor sem ser correspondido, seria outra menina triste.

            E ele seria sempre o James feliz.


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Notas finais do capítulo

Só eu fico triste quando eles se desentendem? D:



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