Let It Burn escrita por Gorski


Capítulo 4
Capítulo 4; Heineken


Notas iniciais do capítulo

Dedico o post pra eles que estão lendo isso aqui (pq?) KKKKK @LucasREVenger @foREVer_luuqs



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;JAMES SULLIVAN;

           Fiquei apoiado no corrimão das escadas que davam acesso a área VIP 2, onde eu havia peço para Leana me encontrar. Minhas mãos começaram a soar na medida em que eu esfregava uma palma na outra, então pedi para que um garçom me trouxesse uma caipirinha.

- Aqui. – Ele me entregou e por alguns segundos ficou esperando por um obrigado, mas saiu sem este e completamente enfurecido. Tomei um gole, depois outro e mais outro. Ronnie estava com raiva de mim, e eu temia que ele fosse dizer algo à Leana... Fazendo-a me odiar também. Por que por mais que eu a tivesse conhecido hoje a tarde, Leana me olhava de uma maneira diferente. E não estou dizendo como se gostasse do que via... Digo, como se ela quisesse mostrar que eu tinha algo bom para ser visto.

            Inclinei-me no corrimão e olhei para as pessoas que dançavam no andar de baixo. A música estava muito alta, trazendo-me dor de cabeça, mas eu não me importava com aquilo. Eu só precisava me encontrar... Ter certeza de que tudo que Ronnie dissera pra mim lá fora não era real. Pois por mais que eu ignorasse as pessoas, todas elas diziam a mesma coisa: O quão ruim eu era.

- Aposto que um bilhete escrito: Sem carinho nem afeto. Só pode ter sido escrito por você. – A voz de Leana surgiu atrás de mim, me assustando. – eu também te odeio Sullivan.

- Não gosto que me chamem de Sullivan, me chame só de James mesmo... E, aliás, eu deveria dizer algo como: Ódio é um sentimento muito forte para se sentir e blá blá blá. – Sorri. – mas ódio nunca foi um sentimento muito forte pra mim.

- Temos isso em comum então – Ela respondeu tomando um gole de Heineken e se apoiando no corrimão ao meu lado.

- O que mais temos em comum, além disso? – Eu quis saber.

- Desprovidos de melhores amigos. – Ela sorriu, mas por trás de sua face sorridente eu pude enxergar uma expressão tristonha.

- Conte sua história, e eu prometo contar a minha. – Falei. Ela virou outro gole da bebida, como se pra tomar coragem.

- Ela era legal, e costumávamos pichar os muros do colégio juntas. Tirávamos sarro das lideres de torcida, por sofrerem tanto pra emagrecer... Sendo que sempre fomos magrelas e comemos porcarias os dias inteiros. Assistíamos Sobrenatural na TV à cabo comendo Doritos. Mas ela foi parar no lado branco da força. Saiu da banda... Depois começou a parar de me telefonar, e então quando eu percebi, ela já estava dentro daquele uniforme curto e feio das lideres de torcida, almoçando junto das magrelas que sempre zoamos. E então notei que estava pichando sozinha, vendo TV sozinha... E foi isso. – Não sei por que me senti mal ao ouvir aquilo, e penso eu que tenha sido pela maneira dolorosa como ela usou as palavras e por como seu sorriso desapareceu de sua face enquanto ela contou a história.

- Eu não sei o que dizer. – Falei.

- Não tem nada pra dizer James. – Ela ergueu os olhos pra mim e sorriu. – agora sua vez... O que aconteceu?

- Hm... Minha história. – Respirei fundo. – eu sempre fui ignorante como tenho sido com você desde que a conheci. E muita gente reclama disso. Cresci em uma casa pequena e vi a carreira profissional dos meus pais crescerem. Minha mãe nunca estava em casa e sempre tinha uma babá para lavar minhas roupas, me levar para passear ou me por para dormir... E talvez o fato de babás sempre molengas e não poderem me prender em lugar nenhum, tenha sido resultado da ignorância que sou hoje. Comecei a fugir de casa, batia em garotos que olhavam feio pra mim e mostrava o dedo para as meninas que não queria me namorar. Ronnie estivera ao meu lado pelos últimos quatro anos. E eu nunca fui a melhor pessoa com ele, pois já o machuquei algumas vezes quando estava com raiva... E só agora que ele resolveu que eu sou um babaca, notei que preciso mais dele do que já tenha o dito.

- Pedir desculpas não o mataria. – Leana abriu seu sorriso escandaloso que eu tanto gostava, mesmo sendo que a primeira vez que o vi não fazia nem 24 horas. – Ronnie é um pouco cabeça dura James, mas ele gosta de ter sua amizade. Espere um pouco, talvez ele se renda antes que você imagine.

- E se ele não se render? – Perguntei mergulhando em seus olhos castanhos.

- Se ele não se render eu vou estar aqui pra ser sua melhor amiga. – Ela pegou minha mão. E por mais que eu estivesse gostando de tê-la aqui comigo, não gostei muito do eu vou estar aqui pra ser sua melhor amiga, não sei por que. – e você para ser meu melhor amigo, certo?

- Claro. E então não seremos mais desprovidos de melhores amigos. – Soltei um riso baixo. Ela recolheu sua mão e pediu para o garçom outra Heineken. Algo dentro de mim, me fez querer vê-la bêbada mesmo sabendo que Leana não seria a mesma. E eu gostava do jeito que ela era.

            Ficamos calados, enquanto bebíamos uma atrás da outra sem se importar com mais nada. O fato era que eu estava acostumado a beber, Leana não me parecia assim. De repente fiquei tonto, sem forças e comecei a sentir dificuldades para respirar.

- Já volto, vou ao banheiro. – Falei a ela e virei as costas para descer as escadas. Segurei-me no corredor para não cair. Um rapaz, bem menor do que eu, segurou meu braço para que eu não tombasse no chão.

- Tá tudo bem cara? – Ele perguntou desdenhoso.

- Sim. – Puxei o braço e caminhei até o banheiro. Chutei a porta e senti o odor de urina me envolver quando me pus em frente a pia. Encarei meu reflexo no espelho do banheiro e vi que eu parecia cansado. Meu reflexo parecia aterrorizado. Estava soado e podia ver a tatuagem em meu peito que descia até o umbigo com a palavra FICTION, brilhar.

            Tirei o sobretudo e afrouxei a gravata. Lavei o rosto e depois tateei o bolso com meus comprimidos de cálcio. Eu não costumava tomar aquilo, mas minha mãe disse que eu deveria tomar pelo menos uma vez no mês para manter o metabolismo bem e não ficar fraco. Tomei três comprimidos seguidos e balancei a garrafa de Heineken antes de beber um gole para fazê-los descer.

            Respirei fundo até que enfim a tontura passou. Sai do banheiro e caminhei por entre a multidão, onde no pé das escadarias para a área VIP encontrei Ronnie.

- Cadê ela? – Ronnie disse estridente.

- Não sei. – Com o tempo você aprendia a mentir como eu... Descaradamente. – eu a vi um momento depois que você deu aquele sermão todo pra cima de mim, mas ela me encarou de um jeito tão frio que me faz pensar que você falou algo ao meu respeito.

- Sim falei mesmo. Ainda bem que ela me seguiu meu conselho. – Ronnie me fuzilou. Ah otário...

- Seria bem melhor se ela estivesse se divertindo comigo, do que com qualquer cara como ela deve estar fazendo agora. – Falei instintivamente, Ronnie sorriu.

- Eu prefiro assim. – E então ele virou as costas achando que era superior a mim. Cara, se ele soubesse que a prima dele estava comigo...

            Subi as escadarias para a área VIP e para minha surpresa encontrei Leana conversando com um desconhecido. Inicialmente achei que tinha sido o garçom, mas não era ele. Era um rapaz louro e muito magrela. Para maior espanto notei que Leana segurava um cigarro, e eu podia não ser mestre nisso, mas senti que era cheiro de droga.

- Leana? – Me aproximei, instantaneamente estapeando sua mão fazendo o cigarro cair no chão. Pisei nele.

- Hei. – Ela gemeu tristonha ao ver sua droga sendo pisada. – eu ia acabar com aquilo seu idiota.

- O que você fez com ela? – Olhei para o cara que estava segurando-a pela cintura.

- Que foi cara, saia daqui... – O cara se voltou para olhar o rosto de Leana outra vez. Encarar o rosto da minha Leana.

- Largue-a. – Empurrei o cara e puxei Leana pelo braço, ela tentou me bater pra se soltar. O rosto de Leana estava pálido e seu cabelo todo bagunçado, seus olhos não encontravam foco como de costume e ficavam se revirando nas orbitas. Ela tinha se drogado? – Leana não acredito que fez isso.

            Leana se virou e começou a descer as escadas. Segui-a.

- Me solta seu idiota. Quem é você? – Ela puxou a mão pra trás, cambaleando e esbarrando em um rapaz que a olhou com malicia. – por favor, não me toque mais.

- Você deixou aquele idiota te tocar? – Perguntei ansioso pela resposta. Mas ela não me respondeu. Tentei segurar sua mão mas foi um movimento muito arriscado pois uma lamina prateada cintilou na escuridão do galpão 6661. Antes que eu pudesse impedi-la, a lâmina rascou a pele do meu antebraço esquerdo e por reflexo empurrei-a pra longe. O canivete caiu no chão, o brilho prateado não ofuscando o brilho vermelho do meu sangue.

            Fechei a mão em punho e trinquei os dentes para afugentar a dor, e mesmo com o braço sangrando puxei Leana para perto de mim. Eu ainda não conseguia acreditar que ela havia me cortado.

- Vai se ferrar! – Ela gritou, não tão alto quanto a música. Segurei-a pelos ombros antes dela se virar. Meus olhos queimaram com a fúria que senti naquele instante. E então só naquele segundo, seus olhos entraram em foco e ela pareceu ser a Leana que conheci. – você vai me bater?

- Te bater? – Meus lábios tremeram. É claro que eu não ia bater nela... – não. Leana? Por que seu rosto esta lívido?

            No mesmo instante Leana empurrou duas mulheres que estava rindo histericamente, no espaço aberto ela se inclinou e vomitou um monte de Heineken com... O que era aquilo?

- Esta se sentindo bem? – Perguntei preocupado em meio aos gritos horrorizados das mulheres que estavam por perto. O rosto de Leana não perdeu a brancura, ela andou um passo e caiu em cima de mim derrotada. Enfiei o canivete sujo dentro do bolso de trás da calça ainda imaginando por que ela estava com aquilo. Ergui seu corpo flácido nos braços e caminhei por entre as pessoas para levá-la de volta para o carro. Abri a porta de trás do carro e a deitei no banco. Leana havia bebido, se drogado e me machucado...

            Só antes de fechar a porta notei que sua jaqueta jeans branca estava suja do meu sangue.

Eu não tinha percebo que doía meu braço, por que talvez meu coração estivesse doendo um pouco mais.


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