Let It Burn escrita por Gorski


Capítulo 34
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Notas iniciais do capítulo

Lembram-se que uma vez postei o prólogo de um livro que venho escrevendo para saber o que achavam? Trouxe o primeiro capítulo, reescrevi ele, e ainda não acho suficiente, o que vocês acham?



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CAPITULO I

Em algum lugar por aí,  

Nos dias de hoje.


Uma garrafa de Heineken foi erguida no alto envolvida por luzes fortes e coloridas, estavam brindando é claro. O teto parecia estar rodopiando quando consegui enxergar o rosto do dono da garrafa, era Peter, com seu sorriso bonitinho e sua silhueta enorme. Estava rindo tão alto que me era capaz sentir o riso nos ossos, então levemente extasiado ele bateu no ombro de Shawn que por sinal eu nunca tinha o visto tão bêbado. Shawn deu uma rebolada quando uma morena de batom cor de rosa passou por ele, ela não havia notado seu olhar insinuando seus pensamentos horríveis, mas o sorriso malicioso que cortou os lábios dela me fez perceber que encontrou nos olhos azuis de Shawn algum tipo de excitação, o tipo que estava escondido naqueles pensamentos ruins. Perguntei-me se ele não estava me vendo ali. É claro que não, quando em sã consciência Shawn iria sorrir daquela maneira para outra pessoa que não fosse eu?

Então resolvi que permaneceria no lugar até a hora certa para quebrar aquela garrafa na cabeça dele. A morena abriu um sorriso convidativo e piscou um dos olhos cheios de lápis escuro e delineador, andou com passos curtos até o banco onde Shawn estava sentado e com aquelas pernas apertadas dentro da calça de coro preta, ela sentou no colo dele. E esperando que ele fosse empurrá-la ou algo assim, Shawn se inclinou para beijar aquela boca horrorosa de batom cor de rosa. Não teria sido uma visão tão atordoante, se de onde eu estava não pudesse realmente vê-la enfiando a língua na boca dele. Estou dizendo isso, por que Shawn Thomson era meu namorado, e eu ia quebrar aquela garrafa de Heineken na cabeça dele. Agora.

Entrando no meio da multidão dançando sofregamente, fedendo a suor, bebida e perfume barato, fui abrindo espaço à cotoveladas até chegar onde Shawn pudesse me ver. Ele estava ocupado demais enfiando a língua na garganta da garota por isso não me viu. Pigarreei. Sem sucesso.

- Shawn Thomson! – Gritei com a voz arrastada, mas ele ainda não estava me encarando. De repente Peter parou de olhar para os enormes seios da mulher que lhe serviu outra bebida e seus olhos entraram em foco a me ver de pé em sua frente. Esperei que ele começasse com as desculpas esfarrapadas, mas o que saiu e sua boca foi completamente inesperado:

- O jovem Marx foi influenciado pelo clima intelectual do começo do século XIX na Alemanha, por sua profundidade marcado pelo pensamento de Friedrich Hegel. Hegel desenvolveu o método dialético e é considerado um dos maiores representantes do idealismo alemão. – Disse ele completamente bêbado. Mas sua voz embargada não era exatamente sua.

- O quê? – Perguntei desnorteada sem tirar os olhos de sua expressão cansada.

- Costumamos chamar de “real”, aquelas coisas concretas, com as quais lidamos todos os dias. Ao mesmo tempo, chamamos de “abstrato” tudo aquilo que não tem uma existência palpável, certo? Hegel afirmava justamente o contrário. Para ele o conhecimento imediato que temos das coisas é abstrato, pois capta somente as aparências. O conhecimento real é de natureza espiritual. – E após dizer aquilo senti uma das pessoas que estavam dançando atrás de mim me apertando as costelas. Estranho eu sei, porém a música foi baixando e o rosto de Peter foi se dissolvendo em uma nuvem de fumaça cinza até que abri os olhos e encontrei Cowell apontando uma câmera de celular para o meu rosto.

            Ela gargalha me encarando e sua expressão de indignação misturado com ar de cansaço, demonstra que ela não esta me filmando à dois segundos. E provavelmente à uns dez minutos seguidos. É obvio que o professor seria capaz de me pegar dormindo na aula, entretanto nunca pega uma garota com uma câmera de celular ligada apontada para o rosto de outra pessoa na maior cara de pau.

- Cowell, desliga isso. – Reclamo passando a mão no rosto, e sutilmente no canto da boca para ter certeza de que não acabei babando durante minha soneca. Ela ri novamente, e então abaixa o celular.

- Isso vai dar o que falar no Youtube, ou no mínimo nas mãos da Sra. Averson. – Diz ela brincalhona, então me espanto ao ouvir novamente a voz do Sr. Petrov, professor de Filosofia que aparentemente era a voz que estava inserida na boca de Peter no meu sonho agora pouco.

- Alguém responda-me: Qual é a principal diferença entre o idealismo de Hegel e o materialismo de Marx? – Ele anda de um lado para o outro na sala, passeando entre as fileiras de cadeiras em busca de um voluntario para a resposta, e claro que não esteja dormindo na aula como metade da sala ainda esta. Katherine levanta a mão, embora seja a aluna mais inteligente e aplicada esboça um olhar cansado e antes de responder ela boceja sonolenta. Pobre Katherine, nem ela esta agüentando se manter acordada.

- Hegel achava que o imediato que temos das coisas é abstrato, pois capta somente as aparências... Já Marx dizia que a filosofia estava vinculada à praticidade. – Responde ela com o timbre de voz afundando no tédio. Espreguiço-me, notando que não existe nada melhor que uma boa soneca durante a aula de Filosofia. E então desvio o olhar do professor para ver quem na sala ainda esta de olhos abertos. Johnny esta largado em uma cadeira no fundo da sala, e é quase possível ouvi-lo roncando. Charlotte, a representante de classe também esta de olhos fechados. Brace e Rachell, as irmãs gêmeas, estão com as cabeças apoiadas nas mãos tentando parecer que estão lendo os livros em seus colos, mas também estão dormindo. O único que consigo encontrar de olhos abertos, fora Cowell que ainda esta respondendo um SMS de Deus sabe se lá quem, tem James Sullivan. Quase ninguém conversa com James, por que ele faz o gênero calado. Aquele que almoça sozinho, e que anda sozinho, e que chega e vai embora sozinho. Porém as vezes o vejo conversando pelos corredores com o irmão mais novo, Jimmy. Dificilmente James abre mão de fazer trabalhos individualmente, e quando é obrigado à se juntar a algum grupo, ou pede para fazer tudo sozinho ou acaba não fazendo nada. No inicio deste ano, fomos obrigados a fazer um trabalho em trio para a aula de Sociologia. Éramos nós dois e Cathy, a garota que mais parecia um andróide sexólogo do que qualquer outra coisa. E James fazia questão de ignorar não apenas a Cathy que estava falando algo sobre brinquedinhos de borracha, que me deixou extremamente sem graça, mas ignorou a mim também que nem estava de fato falando besteira.

- Tive um sonho. – Começo a falar, agora voltada a Cowell que esta copiando algo da lousa, sobre ter sonhado.

- Engraçado isso, você nem tem tempo de sonhar em casa por conta das poucas horas de sono... E quando tem vinte minutos de sono na aula de Filosofia, consegue sonhar. – Ela ri.

- Escuta. – Aperto seu pulso fazendo-a me olhar. – era com Shawn.

- Ah meu Deus, nem vem... – Reclama ela empurrando minha mão. – não quero ouvir suas fantasias sexuais ou sei lá que tipo de coisa bizarra você deve ter sonhado.

            Fiz cara feia, então ela gargalha novamente e se cala de imediato quando nota que chamou atenção do Sr. Petrov.

- Me desculpe. – Diz ela fazendo um gesto com a mão indicando impaciência. – diz logo o que foi então.

- Ele estava beijando a professora de inglês. – Falo, me sentindo idiota. Cowell se agüenta, mas seu rosto fica vermelho de tanto que segura o riso.

- Meu Deus que coisa nojenta! – Diz ela limpando as lágrimas do rosto, e volta a rir novamente. – eca Chris.

- Não, não era bem a professora... Estou dizendo que era parecida. Quero dizer na maneira de se vestir, e naquele batom cor de rosa. – Falo com a voz embargada. – era uma versão mais jovem dela. Continuou sendo desagradável.

- Santo Deus. – Guincha ela ainda rindo. – só você mesmo para me fazer rir tanto às oito da manhã.

            A aula seguinte é justamente dada pelo professor que eu estava a fim de evitar hoje. Fico calada, quando espantada, vejo Suzanne, a professora de Inglês entrar na sala com seus saltos agulha. Foi atormentador vê-la usando um vestido preto, apertado demais para a idade dela creio, e aquele batom cor de rosa, que só me trouxe más lembranças do pesadelo durante a aula de Filosofia. Quer dizer, o Shawn nunca teria coragem de me trair... Mas ver uma cena indicando o fato ainda era algo que eu não estava acostumada. Então solto um longo suspiro de alivio quando a aula dela termina, e após o intervalo entramos na sala para aula de Sociologia com o Sr. Price. De verdade se ele ainda esta vivo é pura coincidência... E não digo isso apenas por que ele já esta velho demais pra lecionar, digo por que é o professor mais odiado do colégio inteiro, e provavelmente as macumbas que já jogaram pra cima dele não surtiram nenhum efeito.

- Vamos fazer um trabalho em trio. – Começa ele sentindo-se disposta a ferrar nossa vida novamente. Então sorridente, viro-me para o lado e pisco para Cowell quando silenciosamente ela concorda em fazer dupla comigo. Não estamos ligando muito para quem quer que vá juntar-se a nós, queremos apenas estar juntas. – vamos a um sorteio básico, sem reclamações que estamos sem tempo. Números 23, 12 e 4 juntos. Números 1,8 e 30. Números 7, 19 e 20.

            Reconheço meu número na chamada e o de Cowell, embora tenham sido separados. Olho pra ela, com os olhos atentos.

- Sou com os números um e trinta. – Reclama aparentemente zangada. – Allison, e acho que o Trevis.

- E eu com os números dezenove e vinte. – Procuro mentalmente com rapidez quem serão os meus acompanhantes de grupo, descubro rapidamente que Katherine é o numero vinte quando ela acena eufórica pra mim e me chama para sentar-me ao lado dela. E então antipaticamente, descubro James ser o dezenove. Quando finalmente ele arrasta a cadeira dele para sentar perto da gente. James é bonito e todas as meninas o acham cheiroso, embora eu não discorde disso. Mas como ele deixa os cabelos pretos crescerem em uma franja desgrenhada em frente aos olhos azuis, quase ninguém o vê direito. Ele tem um piercing embaixo do lábio inferior, que costuma chamar minha atenção quando a luz bate nele e o faz brilhar.

- Então... – Diz Katherine sorridente. – vai ser super legal.

- Vai sim. – Concordo abrindo outro sorriso de volta, olhamos as duas para James em sua cadeira. Ele não diz nada, não esboça um sorriso e nem ao menos assente. Apenas fica nos encarando, como se desejasse explodir nossas cabeças com algum tipo de bomba nuclear. Fico pensando se ele ama alguém, quero dizer... Do ponto de vista familiar, ou mesmo particular, não importa. Pessoas como ele, me fazem lembrar os espíritos. Por que embora eu ainda não tenha mencionado, minha família vem de uma linhagem exorcista, onde eu estou tentando empurrar o cargo para qualquer prima e esquecer isso tudo. Mas sou obrigada a aprender o básico sobre espíritos quando sou pequena, e eles costumam ser frios e ignorantes. Como James.

            Quando penso nisso, James enfim me olha. Mas estou dizendo como se realmente, pela primeira vez na vida, pudesse me enxergar. O que me traz certo desconforto e imagino como é para Jimmy, seu irmão, ser olhadas assim várias horas por dia. É meio assustador, dói os ossos, congela o corpo, coisas assim...

- Números 25, 31 e 2. – Recita o Sr. Price.

- Acho que vamos fazer isso aqui. – Comenta Katherine puxando a apostila de Sociologia, para que possamos ver. – página 35.

            James não se incomodou mover-se do lugar, apenas esticou a cabeça para poder olhar o que o grupo do nosso lado estava fazendo. Abro a apostila na página indicada por Katherine e encontro um texto sobre A política no ano de 1889. Francamente, política é o assunto mais chato que existe no mundo e se Sociologia tem tanta ligação assim com ela, é por que é a matéria mais chata do mundo também. Perde apenas para Matemática, é claro.

- Vamos classe, sentem-se todos em seus lugares. E Allison de me xingar. – Disse o Sr. Price. – acha que não estou ouvindo, mas estou.

            Como força do hábito, todos se viraram para Allison, conhecida como Liv. Um coro de risos se inicia.

- Cala a boca. – Ela resmunga de braços cruzados. Liv era o tipo atleta, que adorava as aulas de Ed. Física e que comia apenas barras de cereal acompanhado de um suco de laranja natural, no intervalo. Era alta, não maior que Cathy, e tinha pernas e braços enormes e definidos. Claro, sem contar com os seios ou o bumbum que os garotos viviam admirando quando ela se enfiava dentro daqueles shorts da academia que fazia. Mas era uma garota divertida. Eu particularmente adorava-a. E preferia mil vezes, que ela estivesse sentada em minha frente, para não ter que me sentir mal quando James ficava me encarando.

- Vamos começar com a página 34. – Diz o professor. – tem um texto ótimo sobre Votos políticos nos anos de 1889 e 1890. Quero que todos os grupos leiam, escrevam três perguntas sobre o texto e iremos entregar à folha a outro grupo. E se resolverem as perguntas até o fim da aula, cada aluno receberá um ponto na média. Mas quero perguntas que realmente desafiem os outros alunos!

            Claro, até parece que alguém iria escrever uma pergunta descente sabendo que ganharia um ponto na média de Sociologia apenas rabiscando qualquer coisinha. Não passou um minuto e Katherine já estava embargada no texto, escrevendo possíveis perguntas em uma folha rascunho. Era claro que eu nem James, iríamos precisar fazer muito. Liv estava encostada em minha cadeira quando veio até nosso grupo.

- É o seguinte, vamos fazer perguntas fáceis, certo? Para garantir que toda a classe conseguirá nota. – Liv fala em um sussurro urgente. – tipo, ele nem vai ler isso, então, por favor, colaborem.

            Ela voltou cantarolando para sua cadeira, de onde saiu dois minutos depois para terminar de avisar a sala o que deveria ser feito. Katherine não nos disse nada, apenas continuou lendo e escrevendo com sua caligrafia fofinha e redonda sem pedir ajuda sequer. Eu também, para ser sincera não queria fazer nada.

- Ele vai descobrir. – Dou um salto ao ouvir a voz grave e rouca de James dominar o espaço. Nunca tinha o ouvido falar, a não ser na chamada que na maior parte das vezes ele só ergue à mão ao invés de dizer presente.

- O quê? – Pergunto ainda me recompondo do susto, Katherine ergue os olhos do livro e sua expressão pergunta a mesma coisa que eu.

- O Sr. Price. – Diz ele solenemente. – vai descobrir que a sala fez perguntas imbecis uns aos outros para conseguir nota fácil. E não ache que estou errado. Eu nunca erro.

- Mas... – Começou Katherine.

- Mas nada. – Cortou James com um ar sombrio. – eu já disse, nunca estou errado.


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