ZACHARY BAKER

            Andei alguns passos firmes até apertar a campainha da casa de Matt. E o vi cantarolar desde o andar de cima, passar pelas escadas e enfim vi a penumbra de sua sombra atravessar as cortinas. Ele abriu a porta, e com os olhos fechados ele tocava um violão imaginário. Eu vi as notas; Do, Do menor, Ré. Ele sorriu e arrancou um dos fones para poder me saudar.

- Ora, Ora, Zacky Baker. – Ele acenou para que eu entrasse. A casa de Matt era pequena, mas era confortável. Era uma mistura mística que algo quente e macio, como o sofá dele o qual eu corri e saltei em cima, sentindo meu corpo afundar no tecido macio. – quer comer alguma coisa? Minha mãe fez comida.

- Ah, pegue lá algo para comer. – Falei enquanto ia até o aparelho DVD da sala e ligava-o. O DVD rodou, e vi que Matt já estava assistindo DVD mais cedo. Metallica. Uma boa escolha, acredito eu. – vamos ler as novas edições da Rolling Stones?

            Na minha época e de Shadows, liamos todas as revistas que fala sobre Rock e seus derivados e nos deliciávamos em meio a livrinhos sobre cifras. Nada de Guitar Hero e Twitter; Não ainda.

- As novas edições chegaram hoje cedo, Val foi comprar pra mim. – Matt apareceu na sala trazendo um prato com dois sanduiches e um copo de Coca-Cola. Ele me entregou. – acenda a lareira, por favor.

            Movi-me lentamente e abaixei-me, vendo que faíscas jaziam na lareira. Usei o abanador até que as faíscas voaram e antes que uns montes de cinzas voassem no meu rosto, o fogo renasceu com chamas loiras, dobrando e desdobrando-se em frente aos meus olhos. Aquecendo meus olhos verdes.

- O que achou de James Sullivan? – Matt perguntou aumentando um pouco o volume do DVD. Ele mordiscou um dos sanduiches e o devolveu ao prato; Uma coisa de homem, ele não ia comer o lanche, só queria falar de boca cheia. – Eu o achei maneiro.

- Ele é legal. Faz o perfil da banda, acredito. – Mordi um lanche, e bebi um gole de refrigerante, enquanto com o pé esquerdo tirava o tênis do pé direito, depois com o dedão do pé direito tirei o tênis do pé esquerdo, com o dedão do pé esquerdo tirei a meia do pé direito e com o dedão do pé direito tirei a meia do pé esquerdo.

Complicado?

- Você acha que ele vai aceitar entrar pra banda? Sabe cara, senão vamos procurar um baterista qualquer aí, e parece que James é o cara certo pra isso, eu não acho que vamos encontrar alguém melhor que ele em tempo de gravar nosso Demo até o fim deste ano. – Ele suspirou encarando a TV. – eu quero muito gravar a Demo logo.

- Calma cara, vamos conseguir. – Falei mesmo sentindo que eu não tinha completa certeza. Olhe eu preciso dar um toque na geral aí, eu realmente não sei se vamos ou não conseguir montar a banda e gravar o Demo, e muito menos se iremos ou não ficar famosos. Mas tudo que eu quero é ser reconhecido e no fim de tudo jogar na cara de quem não acredita nisso, e ai por mim são muitos que desacreditam.

- Tá bom o lanche? – Perguntou ele trocando o DVD do Metallica pelo Slash.

- Sim. – Admiti terminando de comer o segundo pedaço, cujo ele tinha mordido um pedaço.

- A comida esta saindo. – Ele me encarou, olheiras estavam se formando debaixo de seus olhos como orbitas fundas que envolviam tudo no universo, e não devolviam porra nenhuma.

- Qual é Matt, você anda dormindo bem? – Perguntei pela milionésima vez, tendo que sacudi-lo, já que ele estava sonolento provando que eu não tinha por que perguntar. – você tem feito o que durante a noite?

- Venho compondo músicas durante a madrugada é o horário que estou mais afiado nisto. – Ele bocejou e balançou a cabeça no som das batidas da bateria.

- Depois você diz que eu sou louco pelo que faço. – Empurrei-o, fazendo-o cair deitado no sofá. – cara dorme um pouco.

- Eu não quero. – Suas pálpebras estremeceram. – precisamos ler as novas edições da RS ainda esqueceu?

- Não, não esqueci. Fica de boa, aí Matt, dorme um pouco e depois podemos fazer isso. – Falei roendo a unha institivamente. – vou esperar sua mãezona fazer a comida.

- Cara, eu não posso dormir. – Ele disse com a voz arrastada pelo sono e os olhos se fechando. – preciso compor. Tocar... Compor o Demo e tocar as novas edições da Rolling Stones... Eu e você Zacky... Precisamos compor James Sullivan, que toca batera. Na capa da Rolling Stones tem uma batera sua Zacky com sanduiche e Coca-Cola... Compor Coca-Cola, Demo do Rolling Stones... Tocar.

- Tá, tá cara entendi. – Chiei e logo Matt estava roncando. Levantei-me e fui até a cozinha onde encontrei a mãe dele ao fogão. – quer ajuda Sra. Shadows?

- Não meu querido, obrigado, espere lá com Matt, logo termino. – Assenti e subi as escadas para o quarto de Matt, entrei e comecei a ver o tanto de partituras largadas pelo quarto. Matt estava se dedicando tanto quanto eu, e por um instante, me senti mal. Juntei-as e vi algumas letras de músicas. The Art Of Subconscious Illusion era um dos títulos.

            Abri a porta do guarda roupas e encontrei o violão preto dele encostado. Matt costumava deixar qualquer pessoa entrar ali e pegá-lo, tocá-lo... O quarto de Matt era o lugar mais aberto do mundo. E eu gostava disso.

            Sentei-me à cama e visualizei meu reflexo no espelho da porta do guarda roupa, meus olhos enormes e verdes azulados fitava o mundo conflitante com certo receio. Eu gostava de me imaginar sendo um ícone, sendo o cara. Quem sabe um dia mulheres fossem gritar pelo meu nome? Ah, isso sim era bom de imaginar.

- Faça assim junte três notas prediletas, e depois faça-as de trás pra frente, crie um acorde inexistente e misture com as composições de Matt, e imagine um louco fazendo berros sangrentos no fundo. – Disse uma voz tirando-me completamente da minha evasiva concentração. O pai de Matt. – sério menino, estou dizendo que isso vai fazer sucesso.

- Olá Sr. Shadows. – Cumprimentei-o enquanto tentava inutilmente juntar minhas notas preferidas de frente pra trás e de trás pra frente.

- Vocês precisam se focar na escola... – Começou ele como quem não queria nada. – eu sei que a banda é tudo, mas já pensou em qual faculdade vão se inscrever?

- Sr. Shadows, vai ser fácil entrar em uma faculdade. – E era sim, não que eu tivesse inteligência suficiente para entrar em alguma faculdade famosa, mas existiam as faculdades de merda. Era assim que Matt as chamava, aquelas faculdades vagabundas que basta você telefonar eles te inscrevem com apenas o numero do seu telefone.

- Não estou falando em entrar em uma faculdade de merda Zachary. Estou falando em se esforçar para ser algo que você deseja e...

- Eu quero tocar guitarra. – Interferi. – sei que o senhor quer que o Matt curse uma faculdade decente, e vai por mim pode ser até que ele vá mesmo fazer isso por você, mas eu quero ser guitarrista e se for para me foder na vida de cantor, eu vou me foder.

            Ele riu, inesperado mas de certo modo aceito... O pai de Matt sempre fazia o que você achava que ele não fosse fazer. Dá pra entender?

- Eu costumava repetir isso quando era da sua idade. – Ele coçou o pomo de adão. – engraçado.

- O senhor não acha que podemos ser... Famosos? – A palavra quase me fez engasgar, doía de pensar que alguém que eu gostava tanto quanto o pai de Matt, não pudesse confiar no meu potencial.

- Claro que acredito que possam. – Ele se ergueu. – mas você precisa fazer o que eu falei...

- O quê? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

- Simples. Junte três notas prediletas, e depois faça-as de trás pra frente, crie um acorde inexistente e misture com as composições de Matt, e imagine um louco fazendo berros sangrentos no fundo... E você até pode fazer um back vocal e tal. – Ele gargalhou alto e de repente eu senti que ele confiava em mim.

            Bom, ele seria um a menos. A ser vingado no futuro.