- Justin

     Ajeitei os óculos de sol e o boné e encarei a garota sentada à minha frente, que parecia desconfortável.

     - Que foi? – Perguntou ela, seca.

     - Nada. – Respondi, desviando o olhar. Afinal, como ela percebeu que eu estava olhando para ela se meus óculos eram muito escuros?

     O garçom estava demorando a trazer nossos pratos. Olhei o nosso casal de amigos na outra mesa. Pareciam bastante felizes. Diferentemente de mim.

     - Aqui está. Você cresceu, hein, Miranda? – O garçom chegou com o almoço.

     - Cresci nada. – Falou ela, abrindo um sorriso.

     - Não cresceu? Lembro como se fosse ontem você e sua amiga ali, vindo aqui e comendo os biscoitos da sorte no final do dia para ficarem com o resto da sorte que as pessoas não quiseram saber. – Falou ele, rindo, os olhos enxergavam longe. – Lembra que você falava isso quando te perguntavam?

     - Ah, qual é. Eu tinha 12 anos! – Respondeu ela, rindo.

     De repente me peguei fitando seus lábios enquanto se mexiam, como algo hipnotizante. O cara se afastou da mesa.

     - Costumava vir aqui? – Perguntei.

     - Sim. – O tom de voz dela mudou de feliz para sem emoção.

     Peguei os palitinhos que eu sempre esqueço o nome e tentei pegar a comida. Não obtive muito sucesso. Poxa, eu sabia comer com aquilo, por que naquela hora eu não consegui? Miranda disfarçou uma risada com uma leve tosse.

     - Faz melhor. – Desafiei.

     Ela pegou os palitinhos, me olhando com um sorrisinho presunçoso no canto da boca e pegou um dos rolinhos com uma habilidade invejável.

     - Tudo bem então. – Falei.

     - Miranda! – Um cara gritou. – Meu Deus! Não achei que fôssemos nos reencontrar justamente aqui.

     Ela se virou e levantou.

     - Duncan! – Ela o abraçou.

     O tal do Duncan passou a mão pelas costas dela, fazendo-a estremecer. Babaca, só eu posso fazer isso. É, eu continuava gostando dela, apesar de termos terminado do jeito que terminamos. Mas se ela não queria ficar comigo, o que eu poderia fazer? Nada. Apenas olhar esse monte de marmanjo dando em cima da minha garota.

     - Meu Deus! Como você mudou! – Falou ele, segurando a mão dela no alto, fazendo-a dar uma voltinha.

     - Obrigada! – Ela corou. Reprimi o sorriso. – E você não mudou nada, lindo como sempre.

     Lindo? O cara era moreno, do cabelo preto como breu, tinha olhos verdes e um rosto quadrado. Devia ter uns 20 anos. Eram os olhos verdes, olhos verdes sempre conquistam as garotas, deixando os castanhos de lado. Lindo... Lindo sou eu! Aquele mané não era nada lindo! Mesmo assim, Miranda não tirava aquele sorriso do rosto.

     - E quem é esse? É seu namorado?

     Era, mas ela continua sendo minha garota. Tira o cavalinho da chuva, mané.

     - Ah, não. Ele é o amigo do namorado da Lizzie. – Falou ela, sem nem ao menos olhar para mim. – Justin, Duncan. Duncan, Justin.

     O Duncan me lançou um sorriso amistoso, apenas me dei o trabalho de assentir.

     - E então, solteira? Planos para as férias? Já pensou na faculdade?

     - Hm, solteira. Sem planos para as férias e a faculdade... Bom, eu ainda tenho um ano não é? Na verdade eu não tenho planos para nada. – Admitiu ela.

     Ele ia responder alguma coisa, mas um outro cara estava na porta com alguns amigos e o chamou.

     - Eu tenho que ir. Foi muito bom te rever. E... Prazer Justin. – Ele sorriu para mim e logo depois puxou Miranda pala um longo abraço de novo. O que ele queria? Se fundir a ela? Depois deu um beijo em sua bochecha.

     Quando ele saiu, Miranda sentou na cadeira com um sorrisinho.

     - Lizzie, obrigada por ter me convidado! – Falou ela baixinho e suspirando.

     Bufei e peguei meus palitinhos, tentando pegar alguma coisa.

     - Quer fazer o favor de usar um garfo? – Miranda implicou.

     - Quer fazer o favor de não encher o saco? – Retruquei, concentrado em meus palitinhos.

     Ela pegou um dos garfos que tinha na mesa e jogou no meu prato, que destruiu o meu montinho de arroz.

     - Dá licença? – Pedi e afastei o garfo com um peteleco.

     - Olha, que tal colaborarmos um com o outro? Você não faz desse almoço um inferno para mim e vice-versa ok?

     - Fechado.

     Terminamos nosso almoço em silêncio. A conta chegou.

     - Eu pago. – Falei.

     - Não, eu pago. – Ela disse.

     Ela estendeu a mão para pegar a caderneta, eu me apressei e, sem querer, esbarrei em seu copo, fazendo voar refrigerante nela.

     - Ah, meu Deus! Desculpe! – Falei, tirando rapidamente uma nota de cem dólares da carteira e entregando para o garçom e me levantei para ajudar. – Desculpe!

     - Tudo bem!

     Peguei alguns guardanapos para secar sua perna e ia fazê-lo quando ela deu um tapinha na minha mão.

     - Ah, claro, desculpe. – Falei e entreguei os papéis para ela, que começou a se secar.

     - Podemos ir? – Perguntou Lizzie, aproximando-se da mesa. – O que houve?

     - Sou muito desastrada. – Miranda mentiu. – Vamos embora. – Ela largou os guardanapos na mesa e se levantou. Senti-me o maior idiota do mundo.

     - É, isso é bem a sua cara mesmo, Miranda. – Lizzie concordou, rindo.

     Levantei também, vagarosamente, mas levantei. Seguimos cada um para nossos respectivos carros. O som de um motor se esforçando para ligar chamou minha atenção. Era o carro da Miranda.

     Chaz e eu demos uma olhada.

     - Quando foi a última vez que olhou o óleo? – Chaz perguntou.

     - Sei lá. Quem olha isso é o meu pai. – Respondeu ela, cruzando os braços e fazendo um biquinho.

     Chaz arqueou uma sobrancelha.

     - Tenho cara de mecânico?  Não! Não tenho culpa. – Falou ela. Reprimi uma risada.

     - Desculpe. Olha, volta com o Justin e depois seu pai manda alguém vir aqui buscar, sei lá... – Sugeriu ele.

     Ia protestar, mas Chaz me lançou um olhar pedinte. Droga de casal que quer ficar sozinho. Assenti, suspirando.

     Viu? Aí está a vida de palhaçada com minha cara.