Desde que cheguei do funeral de Jacob e Mike que os meus dias são passados aqui fechada, no meu quarto. Passo o tempo todo sentada nesta maldita cadeira a tentar choramingar as minhas perdas. Mas nem isso eu consigo, desde aquele maldito dia que não consigo derramar uma única lágrima.

                Os meus pais já não sabem o que fazer. Eles queriam que eu saísse de casa, que continua-se com a minha vida, que voltasse a ser feliz… Mas eu simplesmente não consigo. Sair deste quarto só me traz memórias do meu irmão e de Jacob. Fora deste quarto só existem memórias da minha antiga vida, a minha vida com eles, a minha vida feliz, a vida de que eu gostava de continuar a ter.

Eu não quero sair do meu quarto, eu não quero enfrentar a minha vida sem o apoio deles. Mas por outro lado não quero passar o resto da minha vida aqui, fechada neste quarto, quero voltar a ser feliz, voltar a sorrir, quero voltar a ter uma vida. Poder fazer novos amigos, de conhecer novas pessoas, de acabar o meu curso, de me casar, de ter filhos, de concretizar todos os meus sonhos.

Despachei-me para o jantar e desci até à cozinha. Os meus pais já estavam sentados quando cheguei. Sentei-me no lugar de sempre, ao lado daquele maldito lugar vazio. Até que o ar sério do meu pai me chamou à atenção.

- Bella temos que falar contigo. – disse o meu pai.

- Sim, Bella. É um assunto sério, que irá alterar o rumo das nossas vidas. – continuou a minha mãe.

- Eu e a tua mãe achamos que seria melhor para ti se fosses passar uns tempos fora. – disse o meu pai, mantendo o seu ar sério.

- Passar uns tempos fora?! A onde? – perguntei pasmada. Eles tem empregos fixos, e neste momento não será a melhor altura para tirarem féria, pois encontramo-nos a meio do ano. E eu não pretendo ir para nenhum sítio sozinha.

- Para Seattle. – Seattle?! Eu não quero ir para Seattle. Eu não quero viver sozinha numa cidade tão grande. – Eu e a tua mãe estivemos a falar e achamos que seria melhor passares algum tempo fora destas 4 paredes. Por isso, falamos com os teus primos, Demetri e Renata, e eles ofereceram-se para te receber em casa deles durante algum tempo.

Já era mau eles quererem que vá para Seattle e ainda por cima viver com os meus primos Demetri e Renata.

Demetri e Renata são os meus primos mais velhos. Conheço-os desde a cresce, na altura das férias de Verão íamos todos os quatro para casa dos meus avós. Eu nunca gostei deles, mas Mike sempre se deu bem com Demetri. Quando os pais deles morreram Demetri ficou com a guarda de Renata e a comandar a maior cadeia de Design de Seattle. Segundo o que os meus pais me diziam, Demetri conseguiu aumentar toda a sua fortuna e agora viviam os dois numa grande mansão.

Eu não quero ir viver com eles, nunca gostei deles e não vai ser agora que vou apreender a gostar.  

- Mas pai… - e foi interrompido antes de poder acabar.

- Não é pai, nem mãe. Temos sido bastantes tolerantes. – respondeu o meu pai. – Já passou bastante tempo, desde a partida do teu irmão e de Jacob. Esta na altura de seguires em frente.

-Sim, Bella. Demos- te tempo suficiente e várias oportunidades para poderes recuperar do que te aconteceu, mas não podemos continuar a ver te morrer por dentro. – disse a minha mãe quase a chorar - Tenta entende-nos por favor.

E eu? Não acham que também mereço um desconto? Vocês perderam um filho, mas eu perdi o meu irmão, o meu namorado, os meus colegas. Acham isso justo? E ainda por cima agora querem que eu vá viver para longe dos meus próprios pais com as duas pessoas que mais odeio no mundo.  – era isto que eu queria responder, mas eu já não consegui aguentar com as tristezas deles. Eu não lhes poderia dar outro desgosto em tão pouco tempo, eu acho que a morte do meu irmão por enquanto chegava.

- Eu compreende-vos. Eu vou tentar seguir com a minha vida em frente, vou tentar ser feliz, por vocês e por mim. – respondi tentando fazer um ar feliz, e sem chorar – Mas o que vou fazer para Seattle?

- Eu pedi aos teus primos para entregarem a tua inscrição em Psicologia, na Universidade de Ciências e Tecnologias de Seattle, para poderes acabar o teu curso. – respondeu a minha mãe à minha pergunta, limpando a sua face das lágrimas que lhe escorriam.

A minha mãe sempre que falava sobre o meu irmão, ou sobre alguma coisa relacionada com ele ou com o acidente, começava a chorar. Ela ainda não conseguiu acreditar em tudo o que aconteceu.

Acordei a chorar.

Tem sido sempre assim desde aquele dia….Mais uma noite, mais um pesadelo… Acordo a gritar e não me acalmo até ao meu pai vir ao meu quarto e me abraçar.

Voltei a adormecer, mas desta vez não voltei a ter pesadelos durante o resto da noite. Será um sinal que estão a acabar? Sinceramente espero que sim, espero mesmo.