O Rei das Trevas escrita por Cdz 10


Capítulo 41
Capítulo 041: O início de uma cruel investigação.




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Capítulo 041: O início de uma cruel investigação.

       Sendo seguido por outros nove Logrus avermelhados com olhos amarelados espalhados por diversas partes de seus corpos, o comandante Ryumann penetra o longo caminho feito de material esbranquiçado e cercado de uma grande quantidade de matagal e flores bem tratadas, caminho este que desemboca no grande portão de entrada da Morada dos Logrus, que, por sua vez, fica bem ali na frente do Castelo. Todos os nove subordinados não pronunciam uma palavra sequer, afinal de contas, aquela presença imponente de Ryumann, de certa maneira, chega a amedrontá-los um pouco, até pelo fato de o comandante também não dizer nada e estar quase que todo o tempo com uma expressão dura, seca. Entretanto, isto não se deve necessariamente a um sentimento de raiva ou coisa assim, mas por preocupação misturada com ansiedade e dúvida.

            Em alguns poucos segundos então, todos os dez Logrus param diante do grande portão feito de material semelhante a ferro e que é guardado pelos dois guardas de armaduras prateadas. Ambos tomam uma postura ereta no exato momento em que Ryumann e os demais param diante deles.

            Guarda: Pode entrar, senhor Ryumann.

            Os dois se afastam um pouco para os lados e empurram levemente as mãos contra o portão, fazendo-o abrir lentamente provocando um ranger bem leve. Sem dizer sequer uma única palavra e nem mexer um único olho, Ryumann entra sendo seguido, naturalmente, pelos seus nove subordinados. Rapidamente eles entram no castelo, passando pelo grande salão de entrada revestido do tapete vermelho com bordados dourados em suas laterais, atraindo olhares de todos os guardas do local: tanto os que protegem as diversas portas ao redor quanto os que permanecem parados diante da grande escadaria que se estende à frente. Ignorando-os completamente, Ryumann segue, cruza escadas, aposentos, corredores, até que, em um tempo relativamente curto, chega no sexto andar e fica parado momentaneamente diante da porta escurecida que dá entrada ao Aposento de Reunião.

            Ryumann: Esperem um pouco.

            Alguns dos Logrus ali presentes estão, de certa maneira, surpresos e com olhares curiosos, afinal, nunca estiveram ali naquele castelo, ou, pelo menos, naquele local do castelo, no sexto andar.

            Ryumann dá duas leves batidas na porta.

            Ryumann: Senhor Ternetts! Sou eu, Ryumann! Eu já estou com os nove membros de minha equipe. O senhor me permite entrar, certo?

            Todos os dizeres do Logru comandante são totalmente inúteis: o local permanece em silêncio, de dentro da sala, não vem nenhum ruído. Ryumann faz uma rápida expressão de estranhamento em seu rosto, dá uma olhadela para os membros de sua equipe até que volta a olhar para a frente da porta e dá mais duas batidas ainda mais leves nela.

            Ryumann: Senhor Ternetts... o senhor está aí dentro?

            Novamente, o silêncio permanece profundo no interior do Aposento de Reunião do Castelo dos Logrus. Sem alternativas então, Ryumann coloca lentamente a mão sobre a maçaneta da porta e a gira, porém, ela não se abre. O Logru tenta com um pouco mais de força, mas não adianta, a porta não se abre de maneira alguma.

            Ryumann: Hum! Trancada! Ele não deve estar aí dentro. Droga!

            Um dos Logrus então toma coragem e começa a se pronunciar, ainda que de uma forma ligeiramente tímida, tremendo um pouco nas suas mãos.

            Logru: Senhor Ryumann... o que devemos fazer então?

            Ryumann: Esperaremos, é óbvio! De acordo com as recomendações do senhor Ternetts, a minha equipe deverá partir juntamente com a de Shinn para começarmos as nossas investigações na região oeste da nossa cidade de Lunn!

            O Logru apenas acena com a cabeça em sentido positivo.

            Logru: Ah, certo... eu entendo.

            Ryumann: De qualquer maneira, eu irei falar com os guardas lá debaixo para saber se eles viram o senhor Ternetts saindo ou algo assim... enquanto isso, vocês todos permanecem aqui e muito quietos, entenderam?

            Os nove Logrus apenas concordam energicamente com um movimento de cabeça.

            Ryumann: Certo. Eu já volto.

            O comandante sai andando lentamente pelo sexto andar, indo na direção da escadaria que descia à direita, na extremidade do corredor. Em pouco tempo, ele chega ao salão de entrada, descendo a grande escadaria, até que chega ao pé dela e se vira para um dos guardas que permanece parado.

            Ryumann: Você! Escute!

            Ele mexe lentamente a sua cabeça, virando-se para o Logru comandante, sentindo-se um tanto nervoso, sua respiração agora um pouco mais forte do que antes: a presença de Ryumann definitivamente causa medo.

            Guarda: Sim... Sim, senhor... o que deseja?

            Ryumann: Só quero saber se você viu o senhor Ternetts sair enquanto eu estive fora.

            O guarda fica um tanto mais reto e balança rapidamente a sua cabeça em sentido positivo.

            Guarda: Sim, ele saiu sim, senhor! E estava acompanhado de mais seis Logrus... e desde então, o senhor Ternetts ainda não voltou.

            Ryumann faz uma expressão que ilustra um tanto de desprezo e insatisfação.

            Ryumann: Hum! Com certeza eram os seis Logrus que foram nomeados novos comandantes.  Merda! Isso significa que terei de ficar de mãos atadas até que o senhor Ternetts regresse na companhia da equipe de Shinn.

            O guarda fica totalmente calado, olhando para Ryumann por alguns segundos e que, por sua vez, neste curto espaço de tempo, também não se mexe. O salão fica em total silêncio até que o comandante simplesmente começa a andar para frente e sai do castelo, abrindo a porta de entrada e fechando-a violentamente logo em seguida. Todos os guardas dali de dentro sentem um pouco de alívio quando ele faz isso.

            Do lado de fora, Ryumann senta-se fortemente no pé dos poucos degraus que davam à porta de entrada do castelo e ali fica parado, olhando apreensivamente à sua frente, observando o grande portão de ferro da morada e os dois guardas vestindo armaduras prateadas no lado de fora.

            Ryumann (pensando): Merda... Não vejo mais a hora de isso tudo acabar. Eu estou com um péssimo pressentimento quanto a esta situação.

            Enquanto isso, Herrz e os seus trinta Logrus subordinados, como se parecessem algum tipo de tropa, chegam a uma região que possui árvores por quase todos os lados, um ar fresco bate freneticamente naquele lugar, e o chão, por sua vez, recoberto de um matagal relativamente denso. Herrz está à frente de todos e, logo atrás, estão os dois irmãos Dolken. Ao sinal do Logru comandante, todos eles param naquele local. Mais à frente, só árvores e mais árvores.

            Herrz: Todos vocês, escutem-me com atenção!

            Devido à presença de uma grande quantidade de Logrus ali, o espaço acaba até se tornando pequeno para que todos fiquem aglomerados no chão e, portanto, alguns ficam sobre os grossos galhos de algumas árvores bem grandes, mas, isto não impede estes Logrus de ouvirem e verem claramente o comandante, que vai se pronunciando.

            Herrz: De acordo com o que fui informado, mais à frente nós chegaremos à região do Porto Turístico. Todos vocês se recordam das minhas recomendações, correto?

            Todos gritam em alto e bom som.

            Logrus: Sim, senhor!

            Herrz (sorrindo maliciosamente): Certo! Primeiramente então, vamos avançar aos funcionários do Porto Turístico e, caso não encontremos nada, passaremos às moradias e, repetirei uma vez mais... Não ousem ter piedade! Avancem com tudo! Entenderam?

            Logrus: Sim, senhor!

            Herrz: Ótimo! Vamos indo então!

            Herrz se vira mais uma vez para frente e, ao fazer isso, os Dolken se encaram uma vez mais, entretanto, quando o comandante recomeça a avançar correndo, eles deixam de se olhar e começam a persegui-lo, assim como os demais vinte e oito Logrus que compõem aquela equipe de busca.

            Por mais quase uns cinco minutos, os trinta Logrus avançam, até que vêem o término das árvores. Eles então saem da região de densa floresta e penetram na área onde o matagal é menor: o barulho das águas e o murmúrio das vozes de diversos seres tomam conta daquele local e invadem ininterruptamente os seus ouvidos. O lugar ali é bastante grande e arejado, e esta última característica, naturalmente, se deve ao fato de ser um local que desemboca nas águas.

            Uma grande área de mato relativamente raso com uma construção mais ou menos grande e de boa aparência à frente. É algo como um pequenino castelinho (tão pequenino que poderia se comparar com uma casa), feito de material cinza-claro e com uma pequena torre no topo. Uma grande quantidade de seres anda por todos os lados, sobretudo na frente desta construção, que por sua vez, apresenta um tipo de entrada, relativamente pequena no centro, e dali, se estende uma longa ponte escurecida para frente. Aos dois lados desta pequena entradinha, estão algumas coisas parecidas com janelas, porém, um tanto diferente: são molduras arredondadas e enfeitadas nas bordas com filetes dourados e algo parecido com vidro, mas é levemente azulado, cor de piscina. Na frente delas, estão ainda mais seres andando e alguns se amontoando freneticamente. No topo da construção, uma grande placa cor de marrom, com escritas amarelas que dizem: “Porto Turístico”

            Ao redor, como se fizessem um círculo em torno de todo aquele extenso lugar e, se estendendo pelos lados até quase perder de vista, estão diversas moradias, dos mais diferenciados tipos e tamanhos: grandes e pequenas, largas e estreitas, cores chamativas, cores mais neutras, algumas com torres, outras sem, alguma sem janelas, outras com aberturas ligeiramente grandes nas paredes.

            Durante alguns poucos segundos, Herrz, assim como os demais Logrus, fica observando a movimentação daquele lugar, olhando de um lado para o outro, com a densa floresta logo atrás deles. O comandante então dá um rápida olhadela para os integrantes de sua equipe.

            Herrz: Vamos logo, não devemos perder mais tempo.

            Todos estão com expressões um tanto sérias em seus rostos, com exceção dos dois irmãos Dolken, que, apesar de também não estarem sorrindo, estão com uma aparência que denota simpatia.  

            Sendo guiados então por Herrz, os Logrus seguem à frente, empurrando alguns dos seres que circulam por ali. Não demora nem mesmo cinco segundos para que os murmúrios comecem a ocupar o local. Vários seres percebem a presença da equipe de busca e começam a apontar descaradamente, alguns até com expressões de medo em suas faces.

            Seres: Esperem! Não pode ser! São Logrus! Mas o que será que eles estão fazendo aqui?!

            Herrz e sua equipe vão se aproximando de uma das janelinhas de cor azulada na frente da qual estão diversos seres aglomerados murmurando entre si, mas no momento em que os Logrus se aproximam, todos eles se calam.

            Herrz: Saiam da minha frente! Preciso falar com os funcionários deste porto!

            Os seres que estão defronte às outras janelinhas, assim como todos os outros que estão ali naquela região de matagal mais baixo, se calam, param de se mover e ficam encarando a equipe dos Logrus, alguns com expressões sérias e outros com expressões de medo: a presença de Herrz e seus capangas agora é percebida por todos os seres daquele lugar, sem exceção de nenhum.

            Momentaneamente, nenhum ser se move diante da ordem de Herrz, até que um ser alto, trajando roupas avermelhadas e de pele alaranjada, com um grande chifre de mesma cor no topo da cabeça, com longos cabelos dourados, sai da aglomeração de seres diante da janelinha e se aproxima lentamente do Logru comandante.

            Ser alaranjado (andando lentamente): O que é que está acontecendo, sujeito? Quem pensa que é? Se deseja tratar algo com os funcionários deste porto, entre na fila assim como todos os outros! Por que acha que você é especial?!

            Alguns seres que estão mais para perto das árvores, um pouco longe das filas aglomeradas, começam a murmurar, parecendo que não entendem a atitude daquele ser cor de laranja.

            Ser: No que será que ele está pensando? Desafiar os Logrus, ainda mais quando eles estão em bando, como agora?!

            Um outro ser ao lado deste primeiro se apressa a responder, em um tom de voz igualmente baixo.

            Ser: Turista. Ele só pode ser turista e, por causa, disso, não deve conhecer os Logrus.

            Herrz encara fixamente os olhos do ser alaranjado que continua se aproximando lentamente e, neste momento, alguns outros seres começam a se manifestar, uns daquela fila e outros das filas das outras janelinhas também.

            Um dos seres: Isso mesmo! Quem você pensa que é?! Mas que falta de respeito!

            Outro ser: Se já estamos aqui na fila há tanto tempo, fique você também! Mas que coisa!

            Em menos de um segundo, os murmúrios destes seres manifestantes se tornam um tanto barulhentos, mas a grande maioria dos seres do local fica calada, sem dizer sequer uma única palavra.

            Ao perceber que os murmúrios de protesto aumentam e vendo o ser alaranjado se aproximando a cada segundo, Herrz faz uma expressão de raiva no rosto.

            Herrz (em um tom de voz quase tão alto quanto ao de um grito): Tsc! Calem essas bocas, seu bando de merdas, e me obedeçam!!

            O lugar se silencia mais uma vez por um momento e o ser alaranjado pára de se mover, arregalando os seus olhos.

            Herrz (no mesmo tom): Saiam logo da minha frente! Eu não tenho tempo pra perder com lixos que nem vocês, andem logo!!

            O ser alaranjado, assim como os outros que também estavam se manifestando anteriormente, adquire uma expressão de raiva na face.  

            Ser alaranjado: O merda aqui é você, portanto, é você quem deve calar a boca, cretino!!

            Sem dar tempo de mais nada, em menos de um segundo depois de o ser laranja acabar essa sua fala, Herrz avança em uma velocidade incrível em sua direção e então lhe desfere um forte soco no meio de seu peitoral e, como conseqüência, este é totalmente perfurado, o que faz com que o punho de Herrz saia lá em suas costas, na região que corresponde ao pulmão dos humanos. Uma grande quantidade de sangue espirra como um chafariz em todas as direções, enquanto o ser libera ainda mais sangue pela sua boca também. O comandante Logru abre um malicioso sorriso.

            Herrz: Turista nojento...

            O ser cor de laranja, que estava de olhos arregalados, quase que sem acreditar no que acabara de acontecer, com bastante sangue escorrendo pelos cantos de seus lábios, começa lentamente a fechar os seus olhos, ao mesmo tempo em que Herrz retira violentamente o seu punho de dentro de seu corpo.

            Inevitavelmente, o turista alaranjado vê tudo ao seu redor escurecer e ele, então, acaba caindo de frente ao chão, num fraco baque. Em questão de pouquíssimos segundos, uma poça de sangue começa a se formar ao redor do ser caído, ao mesmo tempo em que o rebuliço toma conta de todo aquele lugar: uma mistura de gritos e correria por parte da maior parte dos seres, enquanto que uma outra parte fica apenas olhando furiosamente na direção de Herrz e os seus trinta capangas. As filas, por sua vez, que já não tinham formatos muito bem definidos antes pelo fato de haver uma grande quantidade de seres ali, agora são totalmente desfeitas. No meio da multidão em alvoroço, Herrz começa a avançar, andando bem rápido para frente, indo na direção da janelinha azulada (aquela que possuía a fila na qual estava o ser de laranja).

            Os Logrus vão empurrando violentamente os diversos seres para os lados a fim de abrirem caminho, até que cerca de cinco deles começam a ir em direção de Herrz e dos outros, e, em poucos segundos, se colocam na frente deles com expressões bem sérias no rosto, o que faz o Logru comandante parar quase que no mesmo instante, fazendo uma expressão facial que mistura sentimentos de fúria e desprezo.

            Herrz: Seus merdas nojentos, será que ainda não entenderam? Eu não tenho tempo para perder com lixos! Saiam imediatamente da minha frente se não quiserem ter o mesmo destino daquele turista ridículo!

            Ao falar isso, o comandante aponta com o seu dedo polegar para o cadáver alaranjado caído há poucos metros atrás, entretanto, os cinco seres permanecem com suas expressões de seriedade, enquanto que o rebuliço da multidão continua. Esta situação dura apenas cerca de dois ou três segundos até que um dos seres, de pele morena, com olhos extremamente pretos e cabelos espetados avermelhados, além de músculos intensamente desenvolvidos, trajando um longo manto preto junto a uma capa roxa, se manifesta e começa a falar em um tom ligeiramente agressivo em sua voz.

            Ser: Você realmente conseguiu assassinar aquele turista com bastante facilidade! No entanto... nós também somos turistas e viemos aqui para tratarmos de negócios e não podemos permitir que gente como vocês nos prejudiquem! Precisamos terminar logo de tratarmos a nossa situação neste porto para irmos à nossa hospedagem, então, eu vou tentar do jeito mais pacífico possível. Você, quem quer que seja...

            Herrz faz uma expressão de fúria ainda maior e grita em um tom extremamente alto.

            Herrz: CALE A BOCA, SEU MERDA! NÃO ME INTERESSA O QUE VEIO FAZER AQUI, SÓ SAIA DA MINHA FRENTE, SEU LIXO!!!

            O ser momentaneamente arregala os seus olhos, quase que não acreditando naquilo que acabara de ouvir, mas, logo em seguida, a sua expressão volta ao normal e demonstra um forte sentimento de raiva e revolta.

            Ser: Você...

            Em um movimento extremamente rápido, Herrz se movimenta avançando na direção dos cinco e os golpeia com bastante força: com a parte lateral de sua mão direita, como se esta fosse algum tipo de navalha, atinge uma região um pouco abaixo do pescoço deste ser moreno e logo em seguida, atinge os outros quatro também, um golpe certeiro em cada e em apenas uma fração de segundo, Herrz concluí o seu trabalho.

            Depois deste curtíssimo espaço de tempo, os cinco turistas estão de olhos arregalados e olhos intensamente trêmulos. Do ser moreno, uma pequena quantidade de sangue começa a escorrer pelo canto direito de sua boca, um grande corte logo abaixo de seu pescoço. Com isto, todos os cinco caem no chão, três deles de frente e os outros dois, de costas, ambos mortos. O movimento de ataque de Herrz fora tão rápido que, alguém normal, sem muitas habilidades de combate, teria a impressão de que houve apenas um rápido flash de luz fraca enquanto Herrz permanecia imóvel.

            A multidão continua correndo, mas, a esta altura, já há menos seres naquela região, mas a gritaria ainda continua bastante alta. Neste momento, um ser de pele clara, com dois grandes chifres brancos no topo da cabeça e três olhos, ambos na altura da testa e que está na parte detrás da janelinha azul, e que até então, estava olhando tudo aquilo acontecer de olhos bastante arregalados, sem acreditar, parece acordar de algum tipo de sonho e então, no interior da pequena salinha de paredes esbranquiçadas protegida pela janela, começa a se mexer, olhando para os lados freneticamente.

            Ser (pensando): Ah, droga! Droga! Preciso agir o quanto antes, tenho certeza de que a segurança do porto dará conta desta situação!

            Apenas dois segundos se passam até que ele se depara com um pequeno botão preto localizado na bancada à sua frente e o aperta com o seu dedo, usando bastante força, ao mesmo tempo em que Herrz recomeça a avançar bem rápido, agora já há pouquíssimos metros da janelinha.

            Após apertar o botão, este começa a ficar um tanto vermelho. Na parte do Porto Turístico que dá diretamente para as águas, ao final da ponte escurecida que se estende a partir da entradinha localizada no centro da construção, o local é bastante semelhante ao Porto dos Pescadores, só que o espaço em formato retangular é bem mais amplo e uma grande quantidade de barcos dos mais diversos tipos estão flutuando suavemente pela água, balançando de leve para cima e para baixo. Aos dois lados deste espaço, estão duas torres retangulares de quase cinco metros de altura, com os topos pontiagudos e, nestas pontas, estão duas esferas bastante escuras. No espaço retangular, muitos seres estão circulando, alguns embarcando, outros desembarcando ou ainda mesmo simplesmente andando. Na frente de cada uma destas duas torres, estão três seres trajando roupas azuis com uma cruz preta na parte de cima do traje.

            No mesmo instante em que o ser de três olhos da salinha aperta o botão preto e este fica vermelho, as esferas nos topos das torres pontiagudas também começam a emanar uma forte e ofuscante luz vermelha que vai piscando e se apagando em uma grande velocidade. Todos os seres dali observam aquilo e ficam parados por um momento, enquanto que os seres da frente das torres percebem e se viram para a luz também. Estes guardas ficam com expressões de susto e apreensão, até que um deles fala para os outros dois aos seus lados.

            Guarda: Pessoal! Vamos logo, deve estar acontecendo alguma coisa lá na entrada!

            Os outros dois afirmam com a cabeça e então, os três começam a sair do local final da ponte correndo bem rápido, indo na direção da entrada do Porto Turístico. Não demora nem mesmo um segundo para que o outro trio de guardas (o que permanecia diante da outra torre pontiaguda) comece a trilhar o mesmo caminho de volta. Diante disso, todos ali no final da ponte ficam sem entender o que está acontecendo.  “O que está havendo?!”, “Por que é que estas luzes estão piscando assim?!” são as perguntas que mais os seres fazem uns aos outros.

            Na parte da entrada do porto, Herrz está agora há centímetros da janelinha azul e a correria está bem menos intensa, devido ao fato de que muitos dos seres que estavam ali até então já haviam se retirado. Ao perceber o Logru comandante cada vez mais próximo, o ser de três olhos e pele clara assume uma expressão facial de intenso nervosismo e medo, alguma gotas de suor passam a escorrer de sua testa, molhando as suas bochechas, seus olhos piscando muito rapidamente.

            Ser: Vo... Vo... Vocês... Vocês... vão...

            Ele gagueja intensamente, mas Herrz ignora totalmente este fato e aproxima bem a sua cara à janelinha azul, mas, antes de falar com o ser, ele se vira de lado para os seus subordinados que estão um pouco mais atrás.

            Herrz (em um tom de voz bem alto): Ei, vocês! Enquanto eu interrogo este daqui, vocês vão falando com os outros e não ousem se esquecer das recomendações que eu lhes passei! Agora vão!

            Os trinta Logrus se apressam a responder.

            Logrus: Sim, senhor!

            O ser fica ainda com mais medo quando Herrz volta a se virar para ele e os demais Logrus da equipe começam a se movimentar pelo local de matagal mais baixo, ambos dirigindo-se para as outras janelinhas da construção. O comandante começa então o seu interrogatório.

            Herrz: Ei, maldito! Eu vou perguntar uma vez, somente uma vez, e exijo que me diga a verdade! Você viu algum ser da raça Bour passar por aqui?!

            O ser continua piscando rapidamente os seus olhos, o nervosismo vai tomando conta dele a cada segundo que se passa e isto vai se tornando cada vez mais visível.

            Herrz (em um tom bem mais alto e com uma expressão de fúria): Responda de uma vez!!

            Ser (gaguejando bastante): Bo... Bo... Bour, o senhor disse?! Eu... Eu... não tenho... não tenho certeza!

            Herrz range violentamente os seus dentes e em uma incrível velocidade, desfere um forte golpe com o seu punho direito na janelinha azulada que se desmancha em um grande ruído, como se fossem pedras se quebrando. Para evitar ser atingido pelos estilhaços do material semelhante a vidro, o ser quase que instantaneamente se abaixa, colocando as suas mãos na nuca e encostando a sua testa nos joelhos.

            Herrz: Não brinque comigo, seu pedaço de merda! Me responda de uma vez! Algum ser esverdeado e de chifres pretos passou por aqui?!

            O tremor do ser agora está mais forte do que nunca, mas, mesmo assim, ele faz o máximo de esforço possível para se erguer e voltar a encarar o Logru comandante.

            Ser: Eu sei... eu sei como um Bour é, mas... mas... são tantos que passam por aqui que... que... eu não tenho certeza, senhor, ainda que... ainda que... o mais provável é que ele não tenha vindo até aqui... não me lembro, pelo menos...

            Herrz: Você...

            Herrz ergue o seu punho direito mais uma vez, pronto para desferir mais um golpe, enquanto que o ser dá um rápido gemido de medo e volta a se abaixar, porém, neste momento, uma voz bem alta e mais ou menos grossa invade os ouvidos não só de Herrz, mas também dos demais Logrus de seu time, que já estão defronte às demais janelinhas da construção de entrada do Porto Turístico.   

            Voz: Parem com isso imediatamente, senão eu garanto que serão severamente punidos!

            Herrz dirige rapidamente o seu olhar para o lado, na direção da entradinha e o mesmo movimento é repetido pelos outros Logrus. Seis seres trajando roupas azuis com uma cruz preta incrustada nelas estão parados na frente da pequena entrada, três deles virados à direita e outros três, para a esquerda, ambos encarando Logrus. O que acabara de falar tem cabelos arroxeados e olhos escuros.

            Guarda: Parem com isso imediatamente ou teremos que partir para a força bruta!

            Herrz então abaixa o seu punho direito e se vira de frente para os guardas, há quase cinco metros de distância. O comandante abre um sorriso ligeiramente debochado em seu rosto.

            Herrz: Hum, é mesmo, é? Vocês vão ter que partir para a força bruta?!

            O guarda de cabelos arroxeados fica um pouco apreensivo, uma gota de suor escorrendo pelo seu rosto.

            Guarda (pensando): Isso vai ser péssimo! Os Logrus são uma das raças mais fortes de Lunn... eu nunca tive a chance de conferir pessoalmente as suas habilidades de combate, mas só pelo que já ouvi falar deles... mas não temos chances. Droga, e é pior ainda que eles estejam em um bando tão numeroso! Que merda!

            Os demais Logrus começam a rir em voz bem alta, com exceção dos Dolken, que ficam com severas expressões faciais.

            Um dos demais guardas se aproxima do que falava com Herrz.

            Guarda: Senhor Shory... O senhor não acha que...

            A fala do guarda é interrompida por Herrz, que continua com o seu deboche.

            Herrz: Vão mesmo querer nos enfrentar?!

            Shory: O que estão fazendo aqui, Logrus?! Por que estão atacando o Porto Turístico?!

            Alguns Logrus que estão diante da janelinha ao lado da de Herrz, começam a avançar na direção dos guardas, mas o comandante lança uma alta ordem.

            Herrz: Vocês, parem agora mesmo, não os ataquem!

            Os Logrus se detêm rapidamente e se viram de lado para Herrz, alguns com seriedade e outros com expressões de estranhamento no rosto.

            Herrz: Imbecis! Esqueceram-se das minhas recomendações, não é mesmo?! O nosso objetivo não é matá-los e sim descobrirmos onde aquele desgraçado se meteu!

            Estes Logrus que haviam começado a avançar ficam olhando para Herrz, agora compreendendo perfeitamente o motivo da irritação do comandante.

            Herrz: Malditos! Abram caminho, eu mesmo irei falar com estes guardas...

            Ele dá uma rápida olhadela para o ser por trás da janelinha destroçada, que agora está de pé encostado de costas na parede do fundo da pequena sala.

            Herrz: É mais provável que eles saibam mais do que estes seres ridículos aqui...

            Sem dizer mais nenhuma palavra, Herrz segue em frente, andando imponente na direção dos guardas. Os outros três, que estavam olhando na direção oposta a de Herrz, também se viram para ele, colocando-se ao lado de Shory e dos outros dois. O comandante pára diante deles há quase meio metro de distância. Sua expressão agora é de intensa seriedade, seus olhos penetrantes.

            Herrz: Respondam-me imediatamente! Vocês viram algum ser da raça Bour passar aqui pelo Porto Turístico?

            Os guardas, inclusive Shory, fazem expressões de estranhamento em suas faces.

            Herrz: Falem!!

            Shory se apressa a responder, ainda há nervosismo nele.

            Shory: Bour...  aquele ser esverdeado...

            Herrz interrompe rapidamente o guarda.

            Herrz: Sim! Você o viu?!

            Shory: Não. Eu sei bem como os Bours são, mas não me recordo de tê-los visto passar por aqui, pelo menos, não recentemente.

            Herrz range os dentes e desvia o seu olhar um pouco para o lado.

            Herrz: Merda! Aquele bastardo...

            Shory: Agora, por favor, senhor, retire-se daqui. Não incomode mais o sossego de nosso porto.

            O comandante volta a encarar Shory severamente.

            Herrz: Não ouse me dar ordens, seu lixo! E tem mais... Como eu posso ter certeza de que vocês não estão escondendo esse cretino por aqui?!

            Shory e os demais guardas assumem expressões de estranhamento misturado com surpresa.

            Shory: Como assim?! Escondendo?!

            Herrz pega as vestes do guarda na parte logo abaixo do pescoço bruscamente com a sua mão direita. Quase no mesmo instante em que ele faz isso, os demais guardas assumem postura de combate e o Logru comandante desvia o olhar de Shory aos outros.

            Herrz: Se quiserem mesmo me atacar, seus merdinhas, não farei nenhuma objeção em tirar a vida de vocês, assim como fiz com aqueles turistas!

            Os outros guardas dirigem seus olhares para os seis cadáveres estirados no chão de matagal baixo, com poças de sangue em diversas partes do solo. Eles arregalam os olhos por um rápido momento e depois ficam apenas com expressões de medo nos seus rostos. Herrz volta a olhar para Shory.

            Herrz: Agora, voltando a você! Se não quiser ter o mesmo destino daqueles imbecis, me responda onde é que está o Bour!

            Shory: Droga! Eu não sei, eu juro! Nós conhecemos bem como vocês, Logrus, são poderosos, não teríamos motivos para escondermos os Bours de vocês e mesmo que o estivéssemos fazendo, já teríamos entregado-os a vocês, não queremos perder as nossas vidas!

            Herrz ri debochadamente.

            Herrz: Hum! Será mesmo?! Aquele Bour maldito faz parte de uma organização, a CIV, e se eles prometeram a vocês alguns recursos básicos da organização? Para ralés como vocês, qualquer item deve valer à pena...

            Shory fecha os olhos, sentindo-se ao mesmo tempo raivoso e desesperado.

            Shory: Merda!! Eu já disse que não sabemos!! Deixem-nos em paz, desgraçados!!!

            Herrz volta a assumir uma expressão de fúria.

            Herrz: Quem você pensa que é para falar assim?! Eu não tenho mais motivos para deixá-los vivos, já chega! Vocês foram totalmente inúteis, desgraçados!!

            Com a sua mão esquerda, Herrz desfere um rápido golpe no pescoço de Shory que nem mesmo sentiu o ataque quando a sua cabeça se elevou a quase dois metros para cima, o sangue começando a jorrar como um chafariz. Os cinco guardas restantes, naquele segundo, ficam de olhos arregalados, sentindo-se surpresos com a cena que vêem. Já no momento seguinte, eles avançam na direção de Herrz, mas este se movimenta em uma velocidade bem grande e os atinge, cada um com apenas um golpe e, no segundo seguinte, os cinco estão caindo ao chão, já mortos.

            O Logru comandante, com os seis cadáveres aos seus pés, ergue os olhos para os demais membros de sua equipe.

            Herrz (em voz bem alta): Vocês todos, saiam destas janelinhas, não é mais necessário interrogar estes seres, duvido que nos ajudarão! Vamos partir para as moradias agora!!

             


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