Respirei fundo. Vi que ele ficava quieto, não me obrigava a contar, mas queria saber.

- Quando eu era pequena, meu pai e minha mãe se divorciaram. – eu falava. Algo dentro de mim se embaralhava. – Fui morar com minha mãe e ela se casou com um cara que tinha um casal de filhos. Eu tinha oito... Eles deviam ter 15, 16 anos. – disse. Engoli em seco e guardei o choro. – Então eu fui abusada pelo filho dele. – eu disse sentindo meus olhos se umedecerem. As cenas voltaram.      

            Eu no meu quarto fazendo os temas da escola e ele entrando no meu quarto dizendo que iria me ajudar com o dever. Ele fechou a porta e disse que era para não atrapalhar o estudo. E então tudo aconteceu muito rápido. Fui forçada para ficar deitada, ele beijava meu corpo e tirava a calça e cueca. Comecei a chorar e fazer menção que iria gritar, ele me deu um tapa e disse que mataria minha mãe se eu gritasse.

- Rosa... – começou Scorpius. Não deixei ele terminar. Comecei, agora iria terminar.

- Minha mãe foi no meu quarto e viu. Achei que ela iria deter, mas ela foi puxada pelos cabelos pelo meu padrasto. Foi horrível. Os gritos, choros, súplicas e então tudo cessou. Tudo ficou em absoluto silêncio enquanto Tom me abusava. – eu disse. Continuava a chorar e ele apenas segurava minha mão. – Depois, eu fui ver... Minha mãe estava morta. – eu disse respirando fundo e controlando o choro.

- Eu sinto muito. – disse ele. Sorri agradecida e continuei.

- Fiquei até meus quatorzes lá. Quando eu tive a consciência de fugir. – eu disse. Me lembrando daquele dia. – Arrumei minhas coisas e fugi para Londres. Encontrar Alvo. Ele morava com Phil. – eu disse. – Estava atordoada com tudo e Al me ajudou muito.

- Por isso são muito unidos. – adivinhou ele. Assenti para ele. Não controlei mais minhas lagrimas.

- Muitas pessoas acham que temos alguma coisa, principalmente por que moramos juntos, mas... – comecei.

- Eles são uns idiotas que não tem nada para fazer. – disse Scorpius. Sorri para ele e me encostei nele novamente.

- Eu fiquei grávida de Tom. – eu disse de repente. Vi os músculos de Scorpius endurecerem. – Mas tive um aborto instantâneo. – eu disse sentindo as lágrimas nos meus olhos. – Tive medo de acontecer isso com Chad. – eu disse.

- Como que... – começou ele vermelho. – Você... Sabe, engravidou? Tipo, você não deixava.

- No dia que o Al soqueava a porta. – eu contei lembrando daquele dia.

- Ah! – murmurou ele.

- Nós vamos encontrar Chad, não vamos? – perguntei insegura. Vi a boca de Scorpius se abrir para responder, mas outra pessoa respondeu.

- Se vocês não ficarem me socando... Poderemos encontrar-lo. – disse... Matthew. Scorpius se levantou e se postou na minha frente como proteção. Sorri por dentro.

- Loiro... – chamei me levantando e acalmando ele. – Por que fez isso?

- Por que eu gosto de você. – disse ele.

- E por que a força? – perguntei com os braços cruzados.

- Por que eu quero saber por que você prefere ele a mim. – disse Matthew.

- Matthew, se você gosta mesmo de mim, deixe eu ser feliz. Você vai arranjar outra mulher que vai retribuir os seus sentimentos por você. – disse. Ele suspirou e abriu os braços.

- Me perdoe. – pediu ele. Sorri e o abracei.

- Perdoado. – disse. Senti uma coisa no abraço dele. Uma coisa boa.

- Hun hun. – pigarreou Scorpius ainda incomodado.

- Como achamos Chad? – perguntei.

- Temos que analisar as cartas. – disse ele pegando os livros, folhas e canetas e colocando na mesa.

            Me sentei na sua frente e Scorpius ao meu lado. Ele abriu as cartas.

“YROWEM DR SRQWR GH RULJHP”

“VLEAPNOERGMOTCOOTDOIE”

- Elas podem estar embaralhadas? – perguntei. – Não embaralhadas, mas... Cada letra significar outra. Por exemplo. Este Y – apontei para a primeira carta. – pode ser um A certo?

- Pode. – Afirmou ele.

- Mas não creio que seja A. – disse Scorpius.

- Por que? – perguntei.

- Só aparece uma vez. A é a letra mais usada do alfabeto... – disse Scorpius.

- Isso é muita ingenuidade. – disse Matthew. – Numa frase como “eu te odeio”, a letra mais usada é a letra E. – disse ele. Scorpius bufou.

- Ele tem razão. A letra Y pode ser o quê? – perguntei vendo ele analisar a carta.

- Uma consoante. – disse ele. – A segunda é uma vogal.

- Pode ser outra consoante. – disse Scorpius. – Como o SC.

- Me diga uma palavra que comece com SC. – desafiou Matthew.

- Temos que achar uma consoante que caiba com uma vogal? – perguntei.

- Sim. – respondeu ele escrevendo toda as consoantes.

- E com qual vogal? – perguntei nervosa.

- As cinco. – respondeu ele.

- Isso pode levar horas! – eu exclamei nervosa.

- Bem vinda a criptologia. – disse Matthew. Bufei e comecei a escrever junto com ele.

- Roseta. – chamou alguém. – Roseta. – chamou a pessoa de novo. Abri os olhos. Estava no sofá. Como vim parar aqui?

- Hun... – resmunguei.

- Vá para a cama. – pediu Al.

- Que horas são? – perguntei me sentando.

- 03 e 15. – respondeu ele. Bufei, dei um beijo de boa noite e saí dali.

            Deitei na cama e senti tudo escurecer.