-Responda, Katherine! Por que fingiu que havia morrido depois ter me deixado assim?

Do que ele estava falando? Ele disse 1864? Eu ouvi bem? Mas não pode ser, isso foi há mais de um século! E quem diabos é Katherine?

-Desculpe, mas não estou te entendendo.

-Como você pode ser tão cínica, Katherine? – Sua voz era baixa, mas extremamente furiosa. – Você sabe muito bem do que eu estou falando. Ou você não se lembra que transformou a mim e a meu irmão antes de morrer. Ou melhor, antes de fugir, por que você obviamente não está morta, não é?

Eu estava muito confusa e cada frase que ele dizia só piorava a bagunça que estavam os meus pensamentos. Afinal de contas, quem é essa Katherine?

-Por que você fica me chamando de Katherine? – eu perguntei com uma voz baixa.

De repente aqueles olhos verdes se inflamaram e eu nunca tinha visto uma expressão tão violenta como aquela em toda a minha vida. Sua voz era afiada como a lâmina de um bisturi. E baixa, tão baixa que senti um arrepio de medo subindo pelo meu corpo.

-Você voltou a usar o nome Katerina Petrova, então?

Acho que foi ali que a adrenalina me tomou. Comecei a discutir com aquele estranho. Ora essa! Só o que me faltava era o aluno novo começar a me tratar desse jeito sem nem me conhecer. Talvez em outro dia eu tivesse deixado quieto, mas naquele dia eu decidira que seria mais forte. Ninguém mais abusaria nem pisaria em mim. Eu teria, a partir de agora, algo que nunca tive antes: amor próprio.

Então eu disse com o tom mais arrogante que consegui usar:

-Olhe, eu não sei quem você é, nem sei de onde você veio. Não sei nada sobre você, exceto que não é muito educado. Não sei quem é essa tal de Katherine ou Katerina ou seja lá qual for o nome que você fica repetindo. Se há alguma coisa confundindo você, ficarei feliz em ajudar a responder suas perguntas, mas não vou admitir que fale comigo desse jeito.

Isso o desconcertou. Ele tombou a cabeça e, pela primeira vez, foi ele quem ficou confuso.

Estava pensativo, vincos surgiram entre suas sobrancelhas. Ficou desnorteado.

Eu estava moída por dentro. Nunca suportei ver as pessoas tristes, confusas ou com raiva. E ele era uma mistura dos três. Eu estava quase indo consolá-lo por alguma coisa que eu não fazia idéia do que era, mas decidi que deveria me mostrar durona, por enquanto. Cruzei os braços para me impedir de afagar seu cabelo e dizer que tudo ficaria bem.

Ele deixou seus ombros caírem e me olhou nos olhos pela primeira vez. Seu olhar era de derrota.

-Quem é você? – Ele perguntou.

Funcionou. Consegui que ele abaixasse a guarda e decidi que eu poderia me aproximar dele agora. Sentei ao seu lado e lhe respondi.

-Meu nome é Elena Gilbert.

Ele ficou perdido em pensamentos. Tentei trazê-lo de volta para o mesmo plano que eu, numa tentativa de fazê-lo explicar aquela coisa toda de morte, transformação e uma menina que, aparentemente, andava por aí com um RG com um nome falso.

-Me fale sobre essa Katherine.

Ele pareceu que ia chorar. Mas sua expressão mudou rapidamente para uma máscara de serenidade.

-Porque deveria?

-Primeiro porque você ficou atacando pedras em mim como se eu fosse ela, e o mínimo que eu mereço é uma explicação. – Disse eu usando um tom de quem está com a razão. Depois, com a voz mais baixa e de um modo mais doce falei – Segundo porque você parece guardar muitas mágoas dessa menina e desabafar sempre ajuda.

Ele esboçou o que me pareceu um sorriso e virando o rosto, disse:

-Se eu te contasse tudo você não acreditaria na primeira metade da história e sairia correndo antes que eu terminasse a segunda parte dela.

-Experimente.