Fruto do Nosso Amor escrita por Jajabarnes


Capítulo 49
Nos Veremos Em Breve.


Notas iniciais do capítulo

Gostei bastante desse capítulo. Divirtam-se!



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POV. Edmundo.

Aproximei-me da cama exageradamente arrumada com as cortinas do dossel presas e deixei a mente vagar para o dia de meu casamento. É claro que sinto falta de Jay, de estar com ela como naquela noite, mas isso era quase irrelevante comparado com o medo que eu sentia de as coisas nunca voltarem a ser como eram antes.

“Droga, Julian...”

A porta abriu e fechou rapidamente. Só depois – do que me pareceu um suspiro de alívio por estar em seu refúgio novamente – Jay percebeu que eu estava ali, parecendo um tantinho surpresa ao me ver.

–Achei que estaria com Caspian e Pedro. - comentou, aproximando-se.

–Estava, até agora a pouco. - expliquei. É impressão minha ou ela tinha ar de um leve sorriso no rosto? - E eu achei que estaria aqui.

–Estava com Lúcia. - falou. - Mas então Rilian apareceu e eu deixei os dois sozinhos. - o leve sorriso se fez presente, mas logo desapareceu.

–Fico feliz com isso – confessei, aproximando-me mais um passo, com um pequeno sorriso. - Por estar tudo bem entre você e Lúcia.

Isso era bom, claro que era, mas o que eu realmente queria é que ficasse tudo bem entre nós. O ar de riso encontrou seu rosto novamente, breve. Ficamos uns segundos em silêncio, até que Jay me surpreendeu com um abraço. Seus braços deram uma volta apertada em minha cintura. Ansioso eu a abracei de volta. Ouvi-a respirar fundo.

–Desculpe, Ed. - disse ela, ainda abraçada a mim. - Você tem razão, esses dias eram para ter sido muito especiais, mas eu estraguei tudo. Sei que não tenho sido de fácil convivência esses dias, venho evitando você, por isso me desculpe. - disse ela, tranquilamente. Sorri com o queixo apoiado no alto de sua cabeça.

–Está tudo bem, Jay. - falei. - Está tudo bem. Não se culpe. Se alguém tem culpa nisso tudo, não somos nós.

Ela me abraçou mais forte pouco antes de me soltar devagar, secando algumas lágrimas que escaparam.

–Tem razão... - concordou. Toquei seu rosto e ela sorriu de leve. Beijei-a singelamente, a primeira vez em dias. Sua testa tocou a minha e Jay respirou fundo. - O que Pedro e Caspian disseram?

Hesitei.

–Julian traiu uma Rainha de Nárnia. - falei calmamente. - Não podemos passar por cima disso.

Jay olhou-me nos olhos por um tempo e aqueles segundos de silêncio me causaram um frio na barriga. Ela lambeu os lábios.

–Preciso ver meu irmão.

POV. Julian.

Renere estava há horas sentada em sua cama encarando-me com um sorriso cínico e eu lutava com todas as forças para não encará-la. Olhava para o chão, mergulhado nos devaneios em que estar sozinho ali me fazia pensar. Quando, de repente, um barulho foi capaz de fazer Renere parar de me olhar e correr para a grade. As portas das masmorras foram abertas e alguém estava vindo.

Pus-me de pé enquanto quem quer que fosse descia as escadas. Senti meu coração bater forte e um sorriso nascer em meu rosto ao ver Jay se aproximando. Renere resmungou algo e logo voltou para sua cama.

–Jay... - ouvi-me dizendo, sorrindo de orelha à orelha, olhando por entre as grades da cela. Ela caminhou até parar à minha frente. Sorriu minimamente, olhando-me triste.

–Oi, Julian.

Seu sorriso se desfez aos poucos e passamos a nos encarar. Ela olhava-me triste e magoada e eu passei a fitar o chão depois de um tempo, com vergonha de encará-la. Nunca, em toda a minha vida, pensei que um dia não conseguiria olhá-la nos olhos.

–Edmundo deve estar furioso, não é...? - sussurrei tão baixo que achei que ela não ouviu.

–Sim, ele ficou e com razão. - disse, depois de respirar fundo. Assenti.

–Me desculpe, Jay...

–Não é a mim que você deve desculpas. - falou paciente. - Não sei o que aconteceu com você, Julian, ou o que você fez e nem quero saber. O ponto é que você traiu uma rainha.... E mais terrível que isso, você magoou Lúcia! Me diga o que ela fez para merecer isso?!

–Eu não esperava que ela fosse aparecer... - sussurrei baixo novamente.

–Isso não importa. Não mais. Você não pode voltar atrás. - falou, um pouco mais dura. Ergui meus olhos para Jay. Agora era ela quem olhava para o chão, o queixo tremia quase imperceptivelmente.

–O que vão fazer comigo? - perguntei logo, engasgando, já prevendo a resposta.

Jay ergueu os olhos para mim e ficou em silêncio por longos segundos. Pude ver o quanto ela estava triste, o quanto ela estava sofrendo por não poder fazer nada, o quanto estava magoada pelo que fiz. Aguardei mais por sua fala, e o que encontrei foram duas lágrimas rolando de seus olhos ainda fixos nos meus.

Ela não precisou responder.

POV. Edmundo.

Dois dias de passaram desde que Pedro e Caspian retornaram. Quando abri os olhos de manhã a primeira coisa que me passou pela mente foi: é hoje. A segunda coisa que fiz foi procurar por Jay. Ela estava na janela como de costume, levantei e fui até ela, poupando-a do “bom dia”.

–Está acordada faz tempo? - perguntei baixinho. Ela assentiu com a cabeça. Encarei-a. - Você pelo menos dormiu, Jay?

–Não consegui. - confessou, cansada. Trouxe-a para um abraço. Jay escondeu o rosto em meu peito. Segurei sua mão.

–Você pode ficar, se quiser... - sugeri.

–Acho que será pior se eu não for. - disse.

–Tem certeza?

Ela negou com a cabeça, olhando para fora novamente. Vi lágrimas em seu rosto cintilarem à luz do sol. Beijei sua cabeça.

–Espere aqui.

Vesti a camisa, calcei as botas e saí para a cozinha. Lá, as servas me olharam nervosas enquanto eu mesmo enchia uma bandeja com a comida preparada para o café da manhã, apenas perguntando algo para elas vez ou outra. Bandeja feita, saí de volta ao quarto.

–Venha comer. - chamei, deixando a bandeja com cuidado sobre a mesa redonda. Ela ficou ainda mais pálida quando viu a comida.

–Obrigada, Ed, mas não quero.

–Você precisa comer. - insisti.

–Não consigo... - e então ela murmurou algo em arquelândio.

–O que disse?

–Estou enjoada.

–Certo. - parei, preocupado. - A bandeja vai ficar aqui, não se esqueça que tem que comer.

POV. Rany.

De todas as fendas possíveis, os raios dourados atravessaram justo a que mirava em meus olhos. Com os olhos queimando, sentei-me na cama, enrolada no lençol e quando a dor nas pupilas passou, Julian foi a primeira coisa que se passou em minha mente.

Certo, talvez eu não devesse pensar em mais nada com Pedro dormindo do outro lado da cama, mas ele perdoaria. Não que eu vá contar que o primeiro cara que me veio a mente de manhã foi Julian, mas enfim...

Aquele seria um dia difícil. Muito difícil.

Chamei Pedro balançando-o pelo ombro nu. Depois de resmungar, ele finalmente acordou.

–Está na hora de levantar, Pedro.

–Hm...

–O sol já está alto, vamos, nós precisamos levantar.

–Por que...? - ele enfiou o rosto no travesseiro.

–Você esqueceu? É hoje. Jay, Lúcia e Edmundo precisam de nós.

Ele piscou algumas vezes, lançando-me um olhar pesaroso.

POV. Lúcia.

Quando fui obrigada por Jay a conversar com Rilian, não tive outra saída a não ser reviver a angústia e contar-lhe tudo. Ao fim, preparei-me para ouvi-lo dizer “Bem feito, sofra. Você me rejeitou, agora finja que não existo.”. Mas Rilian limitou-se a franzir a boca e não dizer nada.

Ele acompanhou-me silenciosamente no café da manhã. Contra a vontade, Pedro deu as últimas informações sobre hoje a tarde e calou-se. Durante o almoço, quase toda a comida não saiu das bandejas e, ao fim, segui inerte de volta aos meus aposentos.

Servas me vestiram como se eu fosse uma criança. Estava em estado de torpor. Perguntei sobre Jay, mas nenhuma sabia nada. Sentei em frente ao grande espelho para que elas fizessem meu cabelo e olhando meu reflexo tive que fazer força para não chorar. O vestido cinza precedia o luto e o dourado do ouro das joias me lembravam os cabelos de Julian e as pedras verdes, seus olhos. Senti a mão de uma das servas afagar-me o rosto, secando a lágrima que escapara sem que eu percebesse. Ergui os olhos de volta ao reflexo, os cabelos estavam presos e a coroa devidamente em seu lugar.

–Está pronta, Majestade.

Pus-me de pé e saí com passos firmes atrás de algum dos meus irmãos. Encontrei com Susana e Caspian no corredor, eles acabavam de sair do quarto, dentro de seus trajes sofisticados e em tons de luto com as coroas resplandescentes fora de contraste com a situação e suas expressões. Susana parou ao me ver, não disse nada, apenas me olhou e perguntei-me quão deprimente devia estar minha face. Com os olhos marejados, ela apenas abriu os braços, o que me fez desmoronar. Ergui a saia do vestido e corri para ela, caindo aos prantos em seu abraço.

Por algum tempo nada dissemos, Caspian aguardou mais atrás e eu não o via por causa das lágrimas. Ela afagava meus cabelos e quando engoli os soluços desfiz o abraço lentamente, olhando para meu cunhado.

–Não há nada que eu possa fazer? - solucei para Caspian, Susana e eu o olhamos aguardando uma resposta – E-eu posso dizer que me enganei, que confundi Julian com outra pessoa, que entrei no quarto errado...!

Caspian engoliu.

–Você até poderia, Lú – começou ele. - Mas Julian confessou sua traição na frente de todos. Não está mais em nosso alcance.

Solucei, reprimindo o impulso de cair no choro novamente. Respirei fundo, secando o rastro das lágrimas que já haviam rolado, passei as mãos pelo vestido, recuperei e a postura e saí com destino certo às masmorras.

O guarda empurrou a porta pesada e acompanhou-me escadaria abaixo. O lugar úmido e fechado me causou arrepios. Já do final da escada vi a cela de Julian bem a frente. Ele estava de lado para mim, as mãos apoiadas na parede e a cabeça baixa. Usava roupas diferentes das daquela noite, provavelmente Jay trouxera as novas. Ao ouvir o som do salto contra as pedras do chão ele ergueu o olhar que não escondeu sua surpresa e vergonha.

–Lú... - vi seus lábios se moverem, mas não o ouvi.

–Pode me aguardar lá fora. - falei baixo, ao guarda. Meio desconfiado, ele saiu enquanto Julian se aproximava das grades. Pude, de relance, ver Renere dormindo na cela ao lado.

No início encarei o chão.

–Tentei fazer alguma coisa, mas a situação está longe de meu alcan...

–Lúcia, olhe para mim. - pediu angustiado. Um frio percorreu meu ser quando meu olhar encontrou o seu. Por pouco meus joelhos não cederam. Seus olhos estavam ansiosos, marejados de desespero. - Eu... - ofegou. - Eu só preciso ouvi-la dizer que me perdoa.

Cheguei a pensar que escutá-lo dizer que me odeia e que sou culpada de sua morte doeria menos do que aquela súplica. Senti meu queixo tremer e os olhos arderem. Aproximei-me e a grade permaneceu no mesmo lugar, separando-nos. Pus minhas mãos sobre as dele, apoiadas no metal.

–Você tem meu perdão, Julian. - minha voz saiu tremula. - Peço que me perdoe também.

Ele sorriu de leve esticando a mão pela brecha da grade e secando a lágrima que deixei escapar.

–Não há mais nada o que perdoar. - disse. - A culpa é totalmente minha e tenho plena consciência disso. Já sou homem crescido, Lú. Tenho que enfrentar as consequências dos meus erros como um. - disse, agora tranquilo. - Vou em paz com seu perdão e espero que Aslam também possa me perdoar e me aceitar em seu País.

Funguei.

–Enxugue essas lágrimas, Lú. Me esqueça. - riu. - Não literalmente, claro. Olhe para frente. Prometo não vir puxar seu pé a noite.

Rimos.

–Sendo assim – brinquei.

–Venho só puxar o pé da Rany.

–E Jay?

Ele riu.

–Não vou entrar naquele quarto.

–Certo. - corei.

–Agora vá, Lú. Devem estar esperando você. - disse, quando os sorrisos cessaram. Olhei-o indecisa. Os cantos de seus lábios tinham uma leve curva para cima. - Pode ir. Nos veremos em breve.

POV. Dave.

No pátio de Cair Paravél armava-se a forca. Senti um arrepio quando passei por ali de manhã, procurando por Vincent. Achei-o lá, observando o cenário sinistro com um cálice de vinho na mão.

Disse-me que seria à tarde. Depois notou que eu olhava para os lados, como se procurasse algo, olhou-me de soslaio e não perdeu a oportunidade.

–Ela deve estar com o marido. - falou antes de tomar mais um gole.

–O que?

–Sei que está procurando por ela, mas ela não está por aí. Não a vi hoje. Nem o rei.

–Chega de vinho, Vin.

Ele riu.

[…]

Almocei com os soldados como de costume e um dos empregados que acabara de servir vinho no almoço dos reis juntou-se a nós e logo foi cercado de perguntas.

–Nunca os vi tão tristes. Está de cortar o coração. Rainha Lúcia, a qual todos sempre vimos sorrir, tem no rosto uma melancolia só. Não se ouve palavra alguma. Rei Edmundo e a esposa nem apareceram. - contou.

–Espero que todo esse clima de morte não afete a gestação da Rainha. - disse um.

–Que Aslam console nossos Reis. - falou outro.

O sol começava a esfriar, prestes a se pôr, quando toda a realeza estava na galeria, olhando para o pátio em roupas escuras. Os Reis e as Rainhas usavam suas coroas. Rainha Susana tinha o braço no de Caspian, e a mão livre pousava sobre a barriga grande. Ao lado da irmã, o Grande Rei tinha expressão séria olhando com os lábios um pouco franzidos para a forca. Ao lado dele estava Ranyelle, sua postura ereta e a face doce passavam sabedoria e boa índole a quem a via pela primeira vez, parecia uma legítima rainha narniana, embora fosse de outro país e não tivesse coroa.

Entre ela e Rei Edmundo, a antiga general da Arquelândia tinha no rosto uma palidez chocante que o pó de arroz não conseguiu esconder. Os olhos estavam inchados de choro olhavam o céu, parecia estar prestes a desmaiar. Meu coração se apertou ao vê-la naquele estado. Não desviei os olhos dela, como se quisesse me certificar de que ela não cairia no chão assim que eu tirasse os olhos dela. Acabei desapercebendo-me de que a olhava insistentemente e isso só cessou quando Vincent me cotovelou. Quando o olhei ele apenas acenou discretamente com a cabeça na mesma direção que eu olhava antes. Quando fui conferir, notei que da mesma forma fixa que eu olhava para a general, Edmundo encarava-me com olhar inquisidor, analisando-me fulminantemente. Baixei a cabeça, restringindo-me à minha insignificância.

POV. Jay.

Conseguira um momento de distração olhando o céu, mas Edmundo mexeu-se ao meu lado, tirando-me meus devaneios vazios. Ele olhava para um ponto no pátio que não a forca, tinha as sobrancelhas franzidas de suspeita e irritação.

–Ed? - chamei. - O que houve?

Olhou-me agora com uma expressão diferente, suave, sorriu de leve e negou com a cabeça, passando o braço por minhas costas, abraçando-me de lado. No mesmo momento, o guarda subiu com Julian na plataforma. Meu coração gelou no peito e apertei firme a mão de Edmundo, como se sentisse fortes dores. Caspian, o rei que sempre fazia os discursos, deu início a sua fala explicando a situação, o crime de Julian e a pena recebida por ele. Ao terminar gesticulou ao soldado para prosseguir com seu trabalho. Sob nossos olhares, o carrasco passou a corda ao redor do pescoço de meu irmão quando o mesmo subiu na plataforma menor onde cabiam apenas seus pés. Julian não demonstrou nenhuma reação ou resistência. Nos últimos segundos, ele lançou um olhar a mim e sustentou-o até o carrasco, como que numa lentidão exagerada, preparou-se para empurrar a plataforma sob os pés de Julian.

Meus ouvidos ficaram surdos e minha vista focou-se apenas em meu irmão, que me olhava. Por todo meu corpo batia um coração desesperado, apoderando-me de uma insuportável angústia. Julian fechou os olhos e, numa lenta contagem regressiva, o pé do carrasco aproximou-se da plataforma.

Três.

Dois.

Um...

Não vi mais nada.


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Notas finais do capítulo

Estarei meio ausente, mas venho postar nessa e nas outras fanfics assim que possível. ^^
Beijokas e não esqueçam dos reviews!