Acordei mais cedo que o normal, abri as cortinas, o sol já brilhava lá fora. Dessa vez, Ele não as fechou. Lavei meu rosto, a luz do banheiro acessa, Ele não a apagou. Isso já estava se tornando um incomodo, eu queria tanto que ele fosse embora, mas, agora que ele se foi, sinto-me sozinha e isso é horrível. Quando estava faltando quinze para o meio-dia, decidi me arrumar e sai de casa. Pela primeira vez o sol não se escondeu de mim, pude sentir seu calor em minha pele, ah! Como eu sentia falta disso. Talvez, ficar sem “Ele” não seja tão ruim assim.

No meio do caminho, ouvi Allen me chamar, lembrei-me do que “Ele” havia me pedido. “Quero que fique longe daquele garoto.”

Allen não iria me fazer mal, ou iria? Milhares de perguntas se formarão em minha cabeça, perguntas estas que desapareceram quando Allen colocou a mão em meu ombro direito.

_Te alcancei! _Ele falou sorrindo.

_Oi! _Falei sem graça.

_Vamos juntos para a escola? _Ele perguntou me oferecendo o braço.

_Tudo bem. _Falei aceitando.

Andamos boa parte do caminho em silencio, havia alguma coisa estranha nele, algo que eu não tinha sentido antes, será por que o “Ele” estava comigo, por isso não senti essa sensação esquisita que emanava de Allen?

“Essa sensação... Eu já a senti antes, mas, onde? Quando?”

Eu me perguntava enquanto andava.

_Sabe, sobre ontem, eu não queria te irritar. _Ele falou me tirando de meus devaneios.

_Tudo bem. _Foi só o que respondi.

_Ei! Ta a fim de matar aula hoje? _Ele perguntou animado.

_O que?

_Vamos, vai me dizer que nunca matou aula? _Ele perguntava zombeteiro.

_Não! Nunca precisei. _Falei séria.

_Ta de brincadeira, né? Não se mata aula quando precisa, é apenas para se divertir.

_E faremos o que exatamente nesse tempo de aula? _Perguntei desconfiada.

_Sei lá, podemos ir ao parque, qualquer lugar, e ai? O que acha? _Ele perguntava olhando-me nos olhos.

_Não sei... _Falei indecisa.

Estávamos passando por debaixo de uma árvore, sua sombra nos cobria, e então, a sensação estranha havia sumido.

_QUE MERDA É ESSA! _Gritou Allen.

O olhei assustada e pude ver que um gato havia pulado da árvore e estava em cima do Allen.

_TIRA ELE DE MIM. _Eu rapidamente o obedeci.

O gato veio sem protestar, o coloquei de volta na árvore e saímos dali.

_Droga, odeio gatos. _Allen falou arrumando os cabelos que haviam sido bagunçados.

Olhei novamente para a árvore, a sombra da mesma havia se mexido, realmente “Ele” não havia ido embora. Suspirei novamente aquela sensação estranha me invadiu.

_Tudo bem. _Falei por fim.

_O que?

_Tudo bem, eu aceito matar aula hoje.

_Garanto que você não vai se arrepender. _Ele falou segurando minhas mãos, seu sorriso era lindo.

Ele me levou para um parque bonito, com um imenso lago cheio de patos, eu estava maravilhada e pude notar que vez ou outra ele me encarava, senti meu rosto corar.

_Vem, vamos ver um filme. _Ele falou me puxando em direção ao cinema que havia do outro lado da rua.

_Que tipo de filme? _Perguntei.

_Sei lá, comedia, romance, você escolhe.

Passei meus olhos pelos cartazes que havia ali, nenhum me chamou mais atenção que o de um filme de terror.

_Vamos ver aquele ali. _Falei apontando para o cartaz.

_Ta brincando né? Death Bell? Esse é um filme coreano. _Ele falou fazendo careta.

_Não vai me dizer que tem preconceito com filmes coreanos? _Perguntei.

_Não é isso, é só que, o último filme coreano que eu assisti, tinha muito, muito sangue, acho que o nome era “O caçador”. _Ele falou.

_Ah! Adoro esse, então, vamos ou não? _Perguntei.

_Tudo bem, mais saiba, você é estranha, nunca vi uma garota adorar filmes sangrentos.

Eu nem dei atenção, esperei ele comprar os ingressos e nos dirigimos até a sala onde o filme iria ser passado, já iria começar. O filme foi incrível, bastante sangue, era estilo jogos mortais, um pai prendeu vários alunos e professores numa escola, e foi matando vários para descobrir quem matou sua filha... Incrível.

Quando o filme acabou vi Allen fazer uma careta.

_O que foi? _Perguntei enquanto saiamos do cinema.

_Odiei, muito sangue, muito besta. _Ele falou emburrado.

_Seu chato. _Falei dando uma cotovelada de leve no ombro dele.

Ambos rimos, o resto da tarde passamos no parque, contando piadas, falando do filme e rindo. Já estava ficando tarde, e eu tinha que ir embora, Allen me levou ate em casa e se despediu me dando um beijo no rosto, entrei em casa suspirando, estava feliz, nunca havia ficado tão próxima de um garoto, ainda mais levar um beijo no rosto. Larguei-me na minha cama, estava cansada, o dia foi longo e maravilhoso, mas, o que me incomodava era sensação estranha que eu sentia perto de Allen, ela estava aumentado cada vez mais. E pior, eu agora estava me sentindo sozinha sem “Ele” para roubar minha luz. Levantei da cama e apaguei todas as luzes de casa, na esperança de que ele viesse. Ele não veio! Senti um vazio dentro de mim, por um momento pensei que fosse chorar. “O que você esta fazendo? Não era isso que você queria? Ficar longe dele? Então, por que está chorando?” Eu me perguntei mentalmente.

E  resposta para isso era simples... Eu não queria ficar sozinha.

***My~Darkness***