Quando o sinal do fim das aulas soou, eu me levantei e fui em direção a saída. Já estava atravessando a rua quando ouço Allen me chamar.

_Kate! Espera! _Ele vinha correndo até mim, com o skate nas mãos.

_O que você quer? _Perguntei, eu queria ir para casa o mais rápido possível, antes que escurecesse, do contrario, não iria conseguir fazer a janta com a casa toda escura.

_Calma! Só queria acompanhar você, tudo bem? _Ele perguntou dando um meio sorriso que era muito lindo.

_Se você não for um psicopata louco, assassino duas caras, ta beleza! _Falei e ele riu.

Fomos caminhando em silencio, eu andando e ele no skate, indo o mais devagar possível para que eu o acompanhasse.

Em certo momento ele desceu do skate com agilidade e se pôs a caminhar ao meu lado.

_Hoje, na aula de geografia, vi que você também havia levantado o braço, mas desistiu, fiquei pensando, qual seria sua assombração particular? _Ele falava, como quem não queria nada.

_Isso não é da sua conta. _Falei ríspida.

_Mas você por um momento pensou em contar para a sala, não é?

_Pensei, mas não fiz. _Respondi irritada com o assunto.

_Por quê? Sua assombração é tão horrível assim? _Ele perguntou insistindo.

Já havíamos chegado à porta da minha casa eu a abri e me virei para ele.

_Eu não tenho assombração, e esqueça esse assunto, agora tchau! _Falei batendo a porta.

Olhei pela janela, ele estava um tanto atordoado, o vi pronunciar um “chata” e virar para ir embora, fiquei espiando até ele sumir de vista. Larguei minhas coisas no sofá, eram 18h40min da tarde, a casa já estava escura, o dia acabou mais cedo hoje. O telefone tocou e eu fui atender, era minha tia.

“Ei querida! Ta tudo bem ai?”

_Sim tia, não precisa se preocupar!_Falei.

“Ok! Mas, sabe que se você se sentir sozinha, deprimida, pode vir morar a qualquer momento comigo”

_Tia, é sério, não precisa. _Eu não queria que ela vivesse no escuro, assim como eu.

“Sabe, eu não me sinto bem deixando você morar sozinha, seus pais não iriam querer isso e...”

_Tia tenho que desligar, preciso estudar, tenho prova amanhã. _Falei desligando o telefone.

 Atirei-me no sofá, estava cansada. Olhei para minha pequena cozinha, talvez eu tenha velas na gaveta do armário. Criei coragem e fui ver, tinha umas quatro velas, acendi uma e fui preparar minha janta, nem tentaria acender as lâmpadas por que “Ele” iria apagá-las. Jantei calmamente, depois, peguei as outras três velas e subi com a acessa numa xícara. A coloquei em minha cômoda, peguei uma roupa confortável e fui para o banheiro, acendi outra vela e a deixei na pia, enquanto enchia a banheira.

Depois do banho, fui para o quarto onde me joguei na cama e comecei a pensar no dia de hoje.

“Quem é Allen Adams! Que uma hora esta todo arrogante e noutra esta engraçado, uma hora sorri, outra hora é sério. Num minuto fica gentil, no outro fica indiferente”

Droga! O rosto daquele idiota não saia de meus pensamentos, e sem perceber acabei sussurrando.

_Quem é você Allen Adams!

E então, ouço um barulho vindo da cozinha. Desci calmamente, já sabia o que era. “Ele” havia derrubado as cadeiras, eu estava segurando a xícara com a vela.

_O que foi dessa vez? _Perguntei logo após um suspiro.

A vela se apagou, ou melhor, “Ele” apagou a vela. Agora eu não era capaz de enxergar nada. Senti a respiração dele em meu rosto. “Respiração” ele nem devia respirar, só faz isso por hábito. Sua “mão” pousou em meu rosto delicadamente, seu toque não era frio, era quente e suave, sem perceber eu havia fechado os olhos. Senti sua testa encostar-se à minha, suas duas mãos seguravam meu rosto.

Eram momentos como esse que me impediam de odiar-lo, não importava que ele me roubasse qualquer luz, por que eu sabia, que o que ele mais queria era alguém, ele mesmo havia me dito...  “Fica comigo, não me deixe sozinho, por favor.”

Era fácil saber do medo dele de ficar sozinho, e era por isso que até agora eu não conseguia mandar-lo embora.

Eu não o via, não sabia como era seu rosto, ele aparecia apenas quando tudo estava escuro, ele era apenas um vulto, nem a luz da vela eu poderia ver seu rosto, tentei uma vez, mas, vi apenas um vulto negro.

_Por que está irritado? Faz dias que você tem estado assim, me conta, por favor. _Pedi num fio de voz.

_Não quero você perto daquele garoto! _Ele falou, sua voz era grossa, ordenando.

_Ele é meu colega de classe, não pode me impedir de ver-lo. _Falei decidida.

_Esta duvidando de mim?_Ele perguntou.

_Sim! _Falei abrindo os olhos, embora eu não pudesse ver-lo, sabia que sua expressão era de puro ódio.

_Ouça, eu estou com você a cinco anos, eu sei o que é melhor para você.

_Você não sabe de nada! Não está comigo por que eu quero!

_Claro que estou, foi você quem me chamou, não se lembra?

_Não! Nunca chamaria uma assombração para ficar comigo.

_AHHHHHH! _Ele gritou, um grito de desespero e raiva ao mesmo tempo.

Seu grito era alto, os copos de vidro se quebraram, os vidros da janela racharam. Ele sumiu! Fiquei confusa, não sabia o que pensar, por que essa raiva toda, afinal Allen é apenas um garoto comum, ou não era?

Pela primeira vez senti medo, acendi a lâmpada com receio de que ele a apagasse e desse outro grito. Mas, não. Ele não a apagou.

_O que eu fiz? _Perguntei para mim mesma.

Olhei ao meu redor, peguei a vassoura e comecei a recolher os cacos de vidro do que restou dos copos.

_Ok! Kate, você acabou de irritar um espírito. Isso quer dizer que se ele não der as caras, é por que você esta muito, muito encrencada mesmo. _Falei para mim mesma enquanto limpava a cozinha.

Eu estava nervosa, Ele nunca havia agido assim, bom, a única coisa que eu tinha que fazer era 1° parar de tremer, e 2° descobrir o porquê de toda essa raiva com Allen.

Depois de limpar tudo, subi para meu quarto, ainda tremendo deitei-me em minha cama e me cobri. Fiquei pensando, esse tempo todo eu dizia a mim mesma que Ele nunca me deixaria em paz, que Ele nunca iria embora, que Ele roubava minha luz e que eu o odiava. Mas, pensando bem, fui eu quem o chamei. E seja lá o que esse Allen é, acabou fazendo “Ele” ficar agressivo.

***My~Darkness***