Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 16
Syn à porta.




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Nem preciso como meu humor piorou naquele fim de semana. Já era madrugada de sábado pra domingo, e nada de Matt ou Syn me procurarem. Okay, eu já estava rica (legal, eles também, idiota) e não precisava deles mesmo.

MINTO, EU PRECISAVA INFINITAMENTE! Mas nunca iria dizer isso em voz alta. Não sei se vocês já perceberam... mas eu sou um “tiquinho” (MUITÃO) orgulhosa. E foi esse mesmo orgulho que me impedia de retornar a ligação de Hugo, no começo da semana. Eu teria que tomar coragem, e ligar.

- Que horas devem ser lá nos Estados Unidos? Argh... como eu odeio aquele lugar, não sei porque ele gosta tanto de lá. – murmurei para o celular, enquanto eu tentava achar o número de Hugo. É, vergonhoso, eu não sabia nem mesmo meu número (logo, saibam que não decoro facilmente telefones).

Quando encontrei (enfim) anotado em um pedaço de papel, pendurado no meu espelho, comecei a digitar os números. Olhei... e parei. Desliguei o cel antes de completar.

- Para de ser idiota, está fugindo de seu marido como se ele fosse um estranho.

Voltei a discar, e diferente da vez anterior, deixei completar a ligação. E lá estava ele atendendo... com a voz um pouco sonolenta. Devia estar dormindo, afinal... era domingo, e lá devia ser umas sete ou oito horas da manhã.

- Hugo? – perguntei, de ínicio. Senti minha voz trêmula e estranha, irreconhecível.

- Oi?

- Sou eu, Marietta.

- Ah, você... o que quer?

- Oras, o que quero... quero saber o que você queria comigo, no começo da semana.

- Não posso ligar para minha esposa? – questionou, do outro da linha.

- Pode ligar todos os dias, como você bem sabe...

- Tudo bem.

Silêncio. Parecíamos dois robôs, sem sentimentos e reações, que só falavam coisas automáticas. Estava me sentindo mal pela forma que o cara que jurei amor eterno... estava tão distante e frio comigo. E eu ao menos sabia porque isso ocorreu...

- Temos que dar um basta nisso. – comecei, torcendo os dedos. – Não dá pra viver assim, Hugo, como dois estranhos.

- Não vejo diferença...

- Você não vê DIFERENÇA?

- Não.

- Deduzi.

- Marietta, não sei do que você reclama. Você mesma viajou sem mim.

- Como das inúmeras vezes que você foi sem mim.

- Era a serviço.

- Não estou aqui a passeio, Hugo. É a minha profissão. Você sabe o quanto tudo isso significa para mim.

- Eu te conheço desde os 17 anos, impossível não saber.

Silêncio, parte 2.

Quase que automaticamente, tive um flashback. Passou diante de mim exatamente o dia que conheci Hugo. Não fazia tanto tempo, mas parecia que tudo havia se esvairado.

Eu tinha 17 anos, e costumava frequentar uma biblioteca no meu bairro. Foi nessa época que escrevi boa parte dos meus livros, ou pelo menos as ideias centrais.

Sempre quando eu saía, tinha um rapaz do outro lado, despedindo-se de uma mulher. Esse cara era Hugo. Ele, na época, era “pobre” (digo... não de passar fome, mas não tão rico como  atualmente), e ia a pé para um curso de Contabilidade, há três quadras dali.

A princípio, nem olhava. Depois de um tempo, ele passou a me comprimentar. E um tempo depois, começamos conversar. Iamos o trajeto todo, da ida, tagarelando.

- Serei uma grande escritora... – dizia, gesticulando com as mãos.  – Conseguirei fama e dinheiro... e todos vão me reconhecer. Mas o que eu quero, realmente... é ser reconhecida. Quero ter fãs, mesmo que isso não gere dinheiro algum. E você, pra quê faz o curso?

- Quero montar uma empresa... eu nasci para ser empresário, e com contabilidade, não deixarei que os demais sócios ou empregados me enganem e desviem dinheiro.

- Como você é desconfiado.

- Nada... não quero criar algo sozinho para que depois um bando de babacas me roubar.

- Entendo...

- E pretende ficar aqui, nessa cidade?

- A princípio, quero ir pra São Paulo. Depois... quero viver na Europa.

Hugo riu, parando no meio do caminho.

- Europa? Não está sonhando alto demais?

- Não! Eu sou capaz de realizar tudo que sonho, e ainda morarei em Londres!

- Se até lá mantivermos contato, pode me tacar um ovo de despedida.

Eu ri, empurrando-o. Voltamos a caminhar, minha casa já estava próxima.

- Então você será um homem muito rico... e eu uma escritora muito famosa.

- Você pode fazer um livro sobre a vida de Hugo, muita gente ia gostar.

- Deixe de ser bobo! Eu gosto de escrever sobre criaturas fantásticas.

- Eu sou fantástico, não sou?

Ri, ri loucamente. Depois desses dias, nos encontramos mais algumas vezes... e foi em um sábado, na porta de uma loja de artigos esportivos, que demos nosso primeiro beijo. É, estranho... mas foi tão lindo.

Pena que tinha acabado... e eu estava com alguém desconhecido no telefone, que perguntava compusivamente: “Marietta, está aí?”. Acordei, esfreguei os olhos, e olhei para os lados. Lamentei não ter voltado no tempo.

- Só estava lembrando que...ér... quando você vai vir? – menti, passando as mãos pelo rosto.

- Não sei... tenho uns problemas por aqui. – contou, bocejando. – E como está aí?

- Muito bem... essa semana teremos os testes.

- Boa sorte.

- Obrigada... hum...

Momento de silêncio, 3.

- Toc Toc Toc (eu nunca vou conseguir fazer uma onomatopéia digna, se conformem). – bateram à minha porta, com violência. Dei um pulo na cama e, largando o celular, fui ver pelo olho mágico.

Meu coração disparou. Corri pegar o celular, me despedi brevemente de Hugo e corri.

Era Syn à minha porta.

- Oi gatinha, espero que não me enxote raivosamente. Meu bumbum é sensível aos chutes, okay?

Ele sabia ser idiota. Era um fofo gato... mas idiota.


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Notas finais do capítulo

Desculpem os erros de portugues, se houver algum, estou no técnico e o teclado é pessimo.