Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 151
O Adeus.


Notas iniciais do capítulo

Tá, quase chorei com esse capítulo. Poxa vida, gente... deu um nó legal, aqui... imaginei a Marie e o Matthew se despedindo, foi horrível, e a trilha sonora encaixou certinho! Espero que gostem, e já vou avisando que não revisei então deve ter erros, peço para ignorá-los, a emoção faz isso às vezes T___T kissus.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/130789/chapter/151

IN MY PLACE - COLDPLAY 

A primeira palavra que a fonoaudióloga conseguiu tirar de mim foi: Heagle. A pronúncia foi bem mais difícil do que eu poderia imaginar. Sério, sentia a língua travada, como se algo impedisse a passagem do som que vinha das cordas vocais (isso se elas imitissem algum).

Lembro bem que Melissa bateu palmas entusiasmadas e me abraçou. Vanessa, que esteve acompanhando todas minhas sessões, parabenizou-me também. Em troca dessa vitória, permitiu que eu visse alguma pessoa de fora do quarto para me despedir.

Despedir-me, como assim? Infelizmente esse era o fato que tive que aceitar, por mais que doesse. Eu estava sem a movimentação das pernas e sequer dos braços, e ainda era muito otimismo pensar que conseguiria me despedir dos meus amigos conversando, mas não desisti. Ao menos um “adeus” eu soltaria. Tinha medo de não retornar.

- Você vai conseguir. – disse Vanessa, sentando-se ao meu lado. Melissa havia chamado a primeira pessoa que eu queria me despedir e a fonoaudióloga estava tomando um café.

A psicóloga estava empenhada demais na minha recuperação. Como ela mesmo disse, tornei-me um de seus casos mais peculiares. Um trauma psicológico... paralisou praticamente meu corpo todo. Bem que... essa era apenas suas teoria, havia as chances da lesão na coluna. Se fosse essa última, infelizmente eu estava fudida.

Olhei-a com apreensão e sorri, assentindo com a cabeça. Eu já conseguia fazer isso depois de uma semana.

- Eu sei que você vai conseguir se despedir de seu amigo da forma certa, conversando. Não tenha pressa para soltar as palavras. Ele tem todo tempo do mundo. – continuou, levantando-se quando viu a porta abrir. Era ninguém mais que meu galinha sinistro favorito. – Boa visita.

Melissa não ficou no quarto, nem a médica. Deixaram que eu ficasse às sós com meu amigo, ex-namorado, ex-ficante, ex-galinha (mentira, uma vez galinha, sempre galinha) do Synyster Gates, o Brian. Meu Brian.

Ele se aproximou bem lentamente da minha cama, olhando atentamente para todos os equipamentos que estavam ligados ao meu corpo. Pode crer... não eram poucos. Até eu me assustaria de me visse desse jeito.

- Você vai partir, não é mesmo? – foi a primeira coisa que me disse, sem ao menos de lembrar do “E aí sua puta?” ou de algum xingamento bem cabeludo. Não, ele não estava para brincadeiras, acho que ele entendeu que o acidente com o qual me envolvi fora sério. Sério ao ponto de tirar toda a parte que me torna uma pessoa. Não podia falar, me mover, escrever... porra, não sabia se era possível viver assim.

Não poderia viver sem fazer tudo isso, é absolutamente impossível!

- Si... – resmungou, tossindo logo em seguida. A garganta estava seca demais. Acenei gentilmente ao meu amigo e acenei o copo sobre a mesinha do café. Ele prontamente trouxe a água, olhando-me preocupado.

- Eu daria minha vida para não te ver assim, irmãzinha. Acho que todos nós daríamos.

O pior de estar naquela cama era submeter meus amigos àquela visão infernal. Não, não podia penalizá-los pelos meus erros e os erros daqueles bandidos malditos que me enfiaram nessa. Nem mesmo Matthew, que embora tenha desencadeado boa parte das tragédias na minha vida, era culpado.

Nada... eram apenas consequências que eu, infelizmente, teria que arcar.

- Melissa contou que em uma semana, vocês vão para uma clínica na Alemanha, acredito, e que passará muito tempo lá. – continuou Syn, apertando minha mão com força. Sentia como se ele fosse, de fato, meu irmão mais velho. Droga... sentiria tanta falta, mas tanta... – Um ano, talvez, ou bem mais. Eu vou morrer de saudades de vocês, mas... por favor, volte bem. Quero que brinquemos de cavalinho mais vezes e que você...

- Eu vou voltar. – acabei soltando, reunindo fôlego e forças de “só Deus sabe onde”. Não sei se foi o esforço súbito, mas tive mais uma crise de tosse. Ele ficou um pouco assustado, afastando-se alguns passos.

Acenei levemente com a cabeça e sorri, tentando soltar um “calma”. Ele acabou rindo, mas não porque queria, e sim para deixar-me menos tensa. Menos do que já estava.

- Só estou te preocupando com essa cara de filho da puta, não é? Bem... a Mel disse que essa é a última vez que nos falamos. – murmurou, coçando os olhos por baixo dos óculos. Oh não, sinistrinho, não chora senão... AH BOSTA, EU CHORO TAMBÉM, PORRA! – Eu... só quero... você bem. Quero ver você descendo as escadas do salão de festas, linda e gostosa. Todos nós bateremos palmas pela sua vitória e pelo lançamento de seu filme. Ah, que cabeça minha... Tim deve surgir por aí também. E o elenco. E a Annie e o Jared. E o Hugo... e... e...

Pedi para que esse puto parasse de falar. Mexendo lentamente as mãos, fiz uma reverência como se quisesse um abraço. Não foi preciso repetir o gesto pela segunda vez: ele correu até mim, deu um beijo em minha testa e me abraçou tão forte, mas tão forte, que achei que se eu fosse morrer naquele momento, já estava com uma missão cumprida.

- Te amo, irmãzinha. Te esperaremos, okay? – despediu-se.

Custou para que ele se afastasse. Custou para que ele abrisse a porta e me olhasse pela última vez. Ah bosta, eu odeio despedidas, tanto que depois que me vi sozinha... entrei em uma crise de choro filha da mãe. Caralho, não era por mim que precisava me recuperar, e sim pelos meus amigos. Eles precisavam de mim, mais do que eu de mim mesma. Entenderam?

- Perfeito, Marietta! – comemorou a fonoaudióloga, quando consegui, só Deus sabe como (Deus anda operando muitos milagres na minha vida, ás vezes dá até remorso de criticá-lo tanto), proferir uma frase inteira. UMA FRASE INTEIRA, sabe que isso significa?

- Mariie, você logo logo estará pronta para tagarelar e fofocar como antes! – riu Mel, dando mais pulinhos incrivelmente gays no quarto.  – O que acha Vanessa?

- Acho que os amigos devem se despedir o quanto antes... porque partiremos para a clínica o mais rápido possível. Desta forma, tenho certeza que retornaremos mais cedo. Você quer isso, não é mesmo, Heagle?

- Sim sim! – murmurei, sem sentir aquela incrível vontade de tossir ou vomitar. Já não precisava de tanto esforço para falar, bastava manter o tom da voz bem baixinho. Desta forma eu poderia conversar “normalmente” (considerando minha situação).

Lembro que quatro dias antes da minha partida à Alemanha, recebi visitas todos os dias. Exercitei tanto minha fala que quando encontrei Zacky, quem eu preferi me despedir perto da partida, já conseguia formular umas frases. Ele ficou tão feliz quanto o chamei de “porpeta gostoso e bochechudo”.

E pode imaginar que doeu o dobro em me despedir.

Tim Burton apareceu faltando três dias. Combinamos que minha volta seria na première do meu filme. Ele esperaria minha recuperação para realizar o lançamento, porque eu realmente era merecedora daquela homenagem. Anne e Jared também vieram, juntos para variar, desejando meu retorno breve e me presenteando com um vestido novo. Mas, cara, eu estava mais de dez quilos magra.

- Esse vestido eu fiz especialmente para você. – contou Anne, beijando meu rosto. – Você vai estar com ele quando descer as escadarias do salão de festas. Você vai voltar com tudo, minha vaquinha. Temos fé que você vai!

Hugo surgiu no penúltimo dia, quando minhas malas já estavam prontas. Soube por Melissa que ele foi bem recebido pelos meus amigos avengers, e que nenhum fez oposição à sua visita.

Foi difícil encará-lo, depois de tanta coisa que aconteceu. Eu desejei, realmente, que aquele acidente me fizesse cair na real que Hugo era meu verdadeiro amor e que precisava ficar com ele, mas... ao encontrá-lo, mesmo com aquele olhar lindo e jeito menino de ser... convenci-me que tomei a melhor decisão da minha vida.

- Vai dar tudo certo, minha amiga. – disse-me, naquela certeza que apenas o Hugo empresário possuía diante de uma situação difícil. – Você merece ser feliz.

Meus pais ligavam diversas vezes por dia, mas só nos últimos dias no hospital que consegui conversar (ou tentar) com eles. E foi tão bom ouvir a voz da minha mãe, que chorando, ficava praguejando a lei idiota das companhias que senhores com problemas de pressão e coração não podiam viajar, e que por causa disso, não ficara comigo em meu momento mais difícil.

Tentei consolá-la falando que... era bom que não me visse naquele estado.

- Quer-o... qu...e... me... ve-ja... bem, mãe. – gaguejei, com a voz embargada. Era difícil manter a pose diante da mãe. Eu imaginava seu sofrimento, porque o meu era bem maior.

E chegou o último dia, e todos meus amigos já haviam passado pelo meu quarto. Menos um. Um que valia por todos. Que se eu tivesse visto, daria um salto da cama mesmo sem poder e diria coisas absurdas, cada coisa absurda que... oh droga, estou confusa novamente. Não posso, não devo, não faz bem.

Refiro-me ao Ogro Engibizado que, por mais que eu tenha pedido, negou-se a me visitar. Mel contou que ele ficou todos os dias e noites do meu come em vigília, mas agora que eu estava melhorando, preferia ficar distante.

- Eu atraio o mal... não quero isso para minha pequena. – disse ele, afastando-se rapidamente.

Então era essa minha sina? Partir por meses, e quem sabe anos, sem ouvir pela última vez a voz de Matthew? Aquela voz era meu sossego. Aquele sorriso, aquele olhar que... meu Deus, era tão difícil. Na verdade, pior do que ficar em uma cama inválida, é ficar sem o contato daquele homem. Por que ele procurava meu bem sempre fazendo o mal? Se afastando era a pior forma de me fazer mal.

- O sr. Sanders não veio ainda te visitar, não é? – questionou Vanessa, percebendo minha agitação na minha última noite no hospital. Não teve como eu mentir, então acenei que sim. – Esse rapaz está bem mais confuso que você... essa onda de acontecimentos pegou-o de surpresa, como pegou a você também. Eu gostaria que se despedisse desse rapaz, para que não levasse nenhuma dívida para a clínica. Gostaria de você integralmente envolvida no seu processo de recuperação, mas creio que será difícil.

- Matthew rea-al-mente é... meu problema? – acabei perguntando, sem aprofundar. Ela assentiu, baixando a cabeça.

- É pelo Matthew que você tem o trauma. Marietta, você passou por situações inimagináveis esses últimos meses, e todas elas tem um protagonista... ou um vilão. Ele, o homem que mudou sua vida, todos nós sabemos disso. Só te peço que, como sua psicóloga, não desista. Ele, bem como seus amigos, precisam de você.

Ele precisava de mim... tanto que sequer queria me visitar. Realmente, Matthew, você sabe como me deixar bem, me fazer sentir amada, respeitada e... ah porra, que eu estou falando, caralho? Esquecem, tenho que parar com essa mania de culpa-lo por tudo.

Ele nunca foi o culpado. Eu que sou.

(Terceira Pessoa)

Matthew perambulou os corredores como se fosse um zumbi, olhando fixamente para o chão. A conversa que tivera com a psicóloga de Marietta era crucial para que tudo tomasse um rumo diferente.

- Você precisa se despedir... mas em hipótese alguma, revele seu amor. – exigiu Vanessa. Matthew, sem entender, reagiu agressivamente, acirrando os punhos.

- Por que eu faria isso?

- Porque ela vai sentir culpada, mais uma vez, por te fazer sofrer com esse sentimento. Por favor... se você quer o bem da Marietta, ouça-me. Despeça-se e...

Matthew não permitiu que a mulher continuasse. Acenou-lhe o dedo do meio e sumiu pelos corredores. Os mesmos que estava percorrendo há meia hora, pensando no que diria à Marietta, depois de tanto tempo.

Não teve como ensaiar nada. Pelo impulso, agarrou a maçaneta e empurrou-a para a frente. Estava disposto ah... oh Deus... que era aquilo que estava vendo?

Não, aquela menina frágil e esquelética, deitada na cama, olhando fixamente para a janela e para a lua, não podia ser sua Marietta. Ela não podia estar em um estado tão... tão...

- Marie! – acabou gritando, tirando a jovenzinha de sua contemplação interna. Ela deu um pulo, esfregando os olhos para ver se estava enxergando bem. Não podia estar ficando cega naquela altura do campeonato.

In my place, in my place

Were lines that I couldn't change

I was lost, oh yeah

I was lost, I was lost

Crossed lines I shouldn't have crossed

I was lost, oh yeah

Ele se aproximou tão lentamente da cama, que cada segundo parecia uma eternidade. Suas mãos suavam e as pernas, bem... tremiam como vara-verde. Que atitude tola, Matthew, tremer diante de uma mulher! Oh não, não era apenas uma mulher... era simplesmente Marietta. A sua Marietta.

Ela, coitadinha, sentiu o coração acelerar tanto que chegou a pensar em outra parada cardíaca. Ficou com medo, mas não deixou de sentir aquela coisa estranha, tão semelhante ao frio na espinha e na barriga.

Os dois sentiam isso, como se fossem dois adolescentes que acabam de se conhecer. Mas... realmente eram.

- Você vai ficar muito tempo fora? – perguntou, sentindo que se não se controlasse, desandaria e choraria feio idiota. Ela, prevendo que a mesma coisa aconteceria com ela, abaixou o rosto, murmurando:

- Um ano... ou... mais.

Matthew deixou um soluço escapar, virando o rosto com violência. Não, não... um ano era tempo demais para ficar distante. Não sabia se...

Yeah, how long must you wait for it?

Yeah, how long must you pay for it?

Yeah, how long must you wait for it?

For it

- Eu vou pros Estados Unidos. – desembuchou, decidindo de última hora (na verdade, de último minuto), que precisava fazer algo para não prejudicar sua menina no tratamento e nem ficar louco com aquela longa espera. O melhor era voltar com seus projetos, com sua vida na música, esquecer por um tempo que tivera uma vida maravilhosa em Londres, ao lado de pessoas que marcariam para sempre sua vida.

Era hora de voltar a ser o M. Shadows, porque de fato, aquela era a melhor opção.

- O Avenged vai retornar. – continuou.

Marie exibiu um sorriso tão doce e tão puro que Matthew voltou a ficar incomodado com suas lágrimas, que corriam de forma desajeitada por baixo dos óculos. Não teve escolha: teve que tirá-los e enxugar os olhos com a manga da camisa.

Pobre homem, só se Marie fosse muito burra para não perceber o que estava acontecendo.

- Eu-vou-voltar. Por mim... pelos meus amigos... por você.

Matthew mandou toda a porra de seu orgulho pro caralho e correu para cama, abraçando Marietta de uma forma tão ogra, mas tão ogra, que por pouco não machucara, ainda mais, seus membros. Mas era a forma desajeitada que vivia, que sentia, que demonstrava seus sentimentos.

Não podia revelar à Marietta que se fosse possível, sua vida, seu coração, qualquer porra que o pertencesse era dela. Que ela podia morrer... mas com certeza, levaria uma alma junto.

I was scared, I was scared

Tired and underprepared

But I waited for it

If you go, if you go

Then Leave me down here on my own

Then I'll wait for you, yeah

- Vou estar te esperar, seja o tempo que for. Eu preciso me redimir pelo que fiz com você. Eu preciso que você me perdoe.

- Não...tem... o que perdoar. – caramba, de onde estavam surgindo tantas palavras na boca de Marietta? – Só esteja... aqui... quando... voltar.

Sing it please, please, please

Come back and sing to me

To me, me

Come on and sing it out, now, now

Come on and sing it out, to me, me

Come back and sing it.

Matthew beijou a testa de Marietta e acariciou seu rosto por um tempo, depois que se desfez do abraço. Seus olhos brilharam... e os dela também.

Uma pena que o destino seja tão cruel com esses dois.

- Adeus, minha menina. – despediu-se, afastando-se.

Esse momento não deveria acabar, não deveria mesmo. Mas era preciso. Era preciso partir.

- A-deus... Ogro Engi... Engi... bizado. – murmurou, tapando o rosto com as mãos.

Matthew se foi antes de ver, pela última vez, sua Marietta chorar. Era hora de partir. 



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Palavras de Heagle" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.