Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 100
Diante da Morte, 2.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpem por não ter postado na semana, estive cheia de coisas pra fazer, realmente. Segundo... agradeço à nova leitora, CathyCristiano, e à Scream Girl e a Lilly Pereira, que deu o ar da graça UHSAUHSUAHUSHAUHSUAHSHASHUAHSHSUAHSUAHSUAHSUHASUHASUHAUHSUAHSAHUSHAUHSAHUSHAUHSUHAUSHAUSHUAHSUAHSUAHUS.
SUSPENSE NO ESTADO DA MEEEEL, ADORO. eu adoro tragédias, perceberam?
Espero que curtem, hoho. Beijos suas lindas! E se preparem: algo que muitos querem acontecerá nos proximos capitulos.



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Não me lembro, ao certo, de como chegamos ao hospital St. Barbara. Eu só conseguia chorar, chorar, com as mãos grudadas no rosto, com a mesma roupa de dois dias atrás.

Do meu lado estava Zacky, roendo todas as unhas. Tentava me consolar, hora ou outra... mas era em vão. O medo de perder minha irmã era mais forte, e tomara-me por inteiro.

- E... se ela... – gaguejei, sem conseguir completar. Syn, no banco do passageiro, gritou, interrompendo meu pessimismo repentino:

- Cala a boca, nem pense em falar isso!

- Não manda a Marietta calar a boca, Brian. – retrucou Matt, completamente sério. – Ninguém aqui tem culpa do que aconteceu.

- Todos nós somos culpados por ela ter saído naquela crise. Devíamos tê-la impedido. Devíamos ter... – mas não conseguiu concluir. Virou a cabeça para o lado oposto, coçando os olhos por debaixo dos óculos.

Cessara a discussão.

Demorou aproximadamente 30 minutos para que chegássemos ao hospital. Syn foi o primeiro a correr do carro, rumo à recepção. Junto dele, ia Zacky, escoltando-o antes que fizesse qualquer besteira.

Fiquei para trás, junto de Matt, ainda com os olhos lacrimejantes e vermelhos.

- Minha pequena, não fique assim. – murmurou, envolvendo minhas costas com o braço. – Sua amiga está bem... foi só uma... crise.

- Coma hipoglicêmico aparenta ser só uma crise, sim? – ironizei, esfregando os olhos com a manga da camisa. – Ela já teve isso uma vez, na infância. Pode deixar seqüelas, cara... imagine a Melissa, tão viva, travada numa cama? Vegetando?

- Meu Deus, deixa de pessimismo. Você é tão otimista, pra quê isso agora? – perguntou, caminhando mais rapidamente pelo estacionamento. Demonstrei impaciência, num misto de preocupação e ansiedade. Não queria ser grossa com Matt... mas aquelas palavras de consolo eram, deveras, cansativas. Não adiantava... a cabeça estava cheia de coisas ruins.

- Não estou diante de qualquer besteira... estou diante da morte da minha melhor amiga!

- Eu já perdi melhores amigos antes, esqueceu? – sorriu, tirando os óculos escuros, para me ver melhor. – E alguém incentivou, até o último minuto, a me manter de pé.

- Como manter a calma nessa situação? Quem foi o idiota que te falou isso?

- Você. – respondeu, parando no meio do caminho. Pegou minha mão com força, contemplando todo meu rosto de pamonha. – Marietta Genoom... você não sabe o quanto é importante uma palavra dessas, em um momento tão difícil. Se estou aqui agora... é porque percebi que... tentar se matar não é a solução.

- Você pensou em se matar? – questionei, arqueando uma das sobrancelhas. Não, era só que faltava... ter a chance de perder outro.

- Aham. Quem não pensaria? – disse com naturalidade, passando a mão pelos cabelos curtos. – Mas você não me deu chance. E teria sido a maior besteira da minha vida, uma atitude tão covarde diante de um problema.

- Mas, em relação à Melissa, o que eu posso fazer? – perguntei, sem saber o que fazer. É, pela primeira vez na minha vida nerd, não tinha resposta para algo. Ainda bem que tinha aquele Ogro Tatuado... que sempre conseguia confortar meu estado de espírito, por mais difícil que fosse.

- Entrar naquele hospital... e esperar encontrar Melissa dando em cima do médico gatinho da área geral. Hum?

- Pensando bem... Melissa sempre gostou de médicos. – ri, tentando conter meu nervosismo. Agarrei-me a Matt e continuei a caminhada, murmurando:

- Melissa vadia, Melissa vadia... se você morrer, eu te mato.

*****

Brian estava em um estado deplorável. Esperava, de pé, a vinda de algum médico. Era inútil, porque... as informações só poderiam ser dadas com a presença de algum responsável. E firmada em cartório... eu possuía a autorização.

- Como? – questionou Zacky, a me ver exibindo um documento para a recepcionista.

- Quando viajamos, por estarmos longe dos responsáveis legais (no caso, nossos pais), fizemos um documento que uma seria responsável pela outra. Em caso de doença, morte, prisão, ou derivados, uma estaria com a outra... sempre. – contei, desembuchando a falar, sem deixar de olhar para a mulher de branco. – E aí, tem como saber o estado de Melissa Prado?

- O doutor Connor está no quarto dela agora. – avisou, apontando para o elevador. – Terceiro andar. Mas vocês não poderão entrar na UTI... é proibido, por enquanto.

- Como assim proibido? – questionou Brian, elevando o tom de voz. – Como que essa porra de hospital não deixa...

- Brian, vamos. – resmungou Matt, agarrando-o pelo colarinho. – Deixa de crise homem, arrumar confusão não é a solução. Vai sossegar só quando voltar pra cadeia... pela décima vez?

- Não, cadeia não. – retrucou, acalmando-se. – Os presos desejam meu corpo, sempre.

- Tá, chega de detalhes da sua adolescência conturbada. – disse, correndo para o elevador citado. – Vamos... precisamos conversar com o dr. Connor.

- Você vai de... elevador? – questionou Matt, exibindo um sorriso. – Você tem fobia.

- Se eu andei de elevador pra salvar sua vida, posso andar pra salvar a vida da Mel também... mesmo que isso bote em risco a minha própria. – choraminguei, fechando os olhos. Agarrei na mão de alguém (sei lá quem era, não enxergava nada mesmo) o percurso todo, na plena sensação que estava viajando para um universo paralelo.  

“Lembrete: matar Melissa por me obrigar a andar de elevador novamente”, pensei, com as pernas bambas. Não há sensação pior do que essa. Anotem o que digo: o elevador é do capeta. O inferno é um elevador. E fim.

*****

Fui basicamente escoltada no terceiro andar, enquanto me recuperava da “viagem” de elevador. Mal conseguia governar minhas pernas, que aparentavam estar moles e adormecidas.

- Marietta, pelo amor de Deus, não vai desmaiar. – implorou Zacky, correndo de um lado para o outro no corredor. Este estava vazio.

- Não tenho culpa. – murmurei, passando as mãos frias pelo rosto. – Não é frescura, é pavor mesmo.

- Nós sabemos, Marie, nós sabemos. – consolou Matt, cutucando Zacky. – Olha, o doutor se chama Connor e a esposa, Lahrissa. Vai dando uma volta pra ver se os encontram, junto do quarto da Mel.

- Não precisa. – sussurrou Brian, batendo os punhos fechados em uma janela de vidro. Embora com cortina, havia um feixe descoberto, que permitia uma pequena visão do interior do quarto. – A... MELISSA.

Foda-se fobia, dor, ou qualquer porra que estava sentindo. Automaticamente, corremos para a mesma janela, tentando ver o que estava acontecendo. Syn não deixava... Syn não permitia.

- Melissa está ali, caralho. A MELISSA ESTÁ ALI.

- Brian, não grita! – pedi, pousando minha mão em seu ombro. – Deixa eu ver, às vezes...

- Não estou ficando doido. – murmurou, correndo até a porta que dava acesso ao quarto. Tentamos segurá-lo mais uma vez, mas foi em vão.

- Senhor, você não pode entrar nesse quarto! – pediu a enfermeira, ao ver Brian paradão na porta, contemplando a moça da cama, com alguns tubos estranhos ligados por todos os orifícios da face. Seguimo-lo, transtornados com a hipótese de termos enganado de paciente.

Não... não estávamos enganados.

- Vocês são... os amigos de Melissa? – perguntou o doutor, aproximando-se de nós. – Sou Connor... liguei para a senhorita Marietta, informando que...

- O que ela tem? Por que vocês colocaram esses negócios nela? - interrompeu Syn, vidrado na paciente. A essa altura, eu nem tinha percebido que era Mel que estava na cama... terrivelmente pálida. E com aquele barulho irritantemente familiar; o “pu pu pu pu” dos batimentos cardíacos, demonstrados em uma maquina estranha, cheia de linhas altas e baixas. Tive recordações péssimas, por sinal.

Doutor Connor tentava explicar, da forma mais simples que encontrara, as causas que levaram Melissa ao coma. Brian, Matt e Zacky não entendiam, justamente por desconhecer os antecedentes da doença na amiga. Eu, já ciente do que estava acontecendo, só assentia.

- Ela vai morrer? – interrompeu Brian, novamente, correndo perto da cama. Lahrissa tentou impedi-lo, com um “Senhor, você não pode se aproximar”.

- Brian, vamos sair, isso daqui é uma UTI, Mel pode...

- Não vou sair daqui, Matthew. Quero ficar com a Melissa. QUERO FICAR COM ELA. – gritava, chacoalhando a cabeça. Dos tempos que eu vinha notando o descontrole de Syn, que se tornava cada mais vez mais notável.

Matt agarrou-o pelo braço, impedindo-o de se aproximar, totalmente, da cama.

- Vamos cara, não dá crise.

- EU QUERO FICAR AQUI, CARALHO.

- Fica calmo, vei, nada disso vai adiantar.

- NÃO PEÇA PRA FICAR CALMO NESSA PORRA!

E meus olhos correram à cama, pela primeira vez, no meio da confusão.

Era minha melhor amiga, tão sorridente e brincalhona. A melhor amiga que me atormentava desde os 19 anos, das épocas universitárias. A mesma Melissa que abusava do álcool, mesmo sabendo que a combinação da bebida com insulina era fatalmente explosiva. É, a Melissa Prado, que vivia longe da família desde os 17, aproximadamente. Injetava insulina todos os dias, por ter uma escassez considerável no organismo. Uma das causas, além de problemas genéticos, era a pressão alta, herdada por parte de pai. Convivia com isso desde sempre.

Agora estava lá, deitada, sofrendo as conseqüências de uma situação mal resolvida com o passado. Uma situação mais resolvida com o presente. E quem sabe mesmo o futuro?

Mas o futuro parecia tão longe agora. Parecia nunca mais chegar. Melissa estava vulnerável perto da morte, que tentava abraçá-la, a todo custo. Cobri-la com o manto gélido, roubando-lhe a alma... roubando-lhe a vida...

Era simplesmente a minha Melissa.


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