Estava totalmente estafada, nunca pensei que um sábado cansasse tanto. O meu corpo estava mole e mal me aguentava em pé, pedindo por várias horas de sono.

Deitei-me na minha caminha e deixei o meu pensamento me guiar, escolhendo qual seria o sonho de hoje, apontando cada “talvez” e recusando-o em seguida… Até chegar a um rosto. Um rosto meu conhecido, que me assombrou a mente todo o dia. O rosto mais lindo que já vi.

Jacob…

O meu pensamento passou em cada traço másculo da sua face, nos seus olhos doces e negros, no seu nariz perfeitamente arredondado, nos seus lábios carnudos e delineados, fazendo com que cada traço seja perfeito. Tudo nele é perfeito!

A noite foi passada a sonhar com o seu lindo rosto. Estou a ficar cada vez mais obcecada por ele, e não sei se é no bom sentido.

Após acordar reflecti sobre toda a situação até agora:

-País novo;

-Cidade nova;

-Casa nova;

-Escola nova;

-Amigos novos;

-Miúdo que manda piropos irritantes novo;

E uma exclusivamente nova:

-Rapaz novo, pelo qual eu estou a ficar maluca.

Acho que a minha situação é preocupante, muito preocupante.

Interrompi os meus disparates mentais e levantei-me, constatando que eram nove da manhã de Domingo. Tão cedo!

Fui até ao banheiro, tomei um belo banho relaxante e vesti-me com uma roupa de andar por casa. Umas calças castanhas velhas e uma t-shirt branca (velha também). Como não planeio sair de casa.

Fui até à cozinha, preparei uns cereais e sentei-me na sala a comê-los. Liguei a televisão, onde passava a notícia de um novo livro.

-Este será provavelmente “o” lançamento do ano. O tema já fascina milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, principalmente os adolescentes…

-Lobos, ham? - a voz da minha mãe proferiu atrás de mim.

-O que é que tem? -perguntei curiosa, vendo-a sentar-se ao meu lado.

-Sabias que os Quileutes descendem de lobos? -colocou outra pergunta.

-Como assim descendem de lobos? -estava a ficar realmente curiosa.

-As lendas são várias. O meu pai sempre me contava as histórias, era amigo de alguns Quileutes, que lhe confiavam os segredos da tribo. As lendas dizem que os Quileutes descendem de uma linhagem de lobisomens. -ouvia atentamente a sua explicação. -A magia no seu sangue reatava quando estavam perto de uma ameaça, os frios…

-Quem eram os frios? -perguntei. Nunca pensei que os Quileutes tivessem uma imaginação tão fértil!

-Vampiros. Há várias histórias com “os frios”. -respondeu. -Ainda me lembro de uma lenda em particular, sempre a achei tão interessante. O imprinting… -fez uma pequena pausa. -É quando um lobo encontra a sua alma gémea, como se fosse amor à primeira vista mas muito mais poderoso. O lobo seria qualquer coisa, faria qualquer coisa para ver o seu imprinting feliz.

-É uma lenda linda! -exclamei. -Era engraçado que isso de facto existisse.

-Nunca saberemos… -a minha mãe murmurou mais para si do que para mim. Limitou-se a levantar e dirigir-se à cozinha.

Acabei de comer os cereais e fui para o meu quarto, ver se conseguia falar com as meninas.

Liguei o computador e a web cam, queria muito falar com alguma das minhas amigas. Felizmente a Natalie estava online. Ela ligou a web cam e começamos a falar.

-Daniela! Estava cheia de saudades tuas! Nunca mais falámos.

-Também tinha muitas saudades tuas! Como é que está a correr tudo? -perguntei.

-Bem. Passo a maior parte do tempo no centro comercial com a Elyane. Mas não te contei como é que foi a festa…

-Conta! -pedi. Já sabia que tinha havido algum barraco, só podia!

-O Lucas foi á festa e começou a beijar a Clarissa, que se estava só a exibir. Começaram praticamente a fazer sexo sobre uma mesa, à frente de toda a gente. A Samira que o tinha beijado de manhã, quando viu aquilo, passou-se, interrompeu aquelas figuras tristes e deu dois pares de estalos a cada um. -comecei-me a rir. -A partir daí, começou tudo à estalada. Foi lindo! -exclamou a rir.

-Porque é que perdi esse momento? -fiz cara triste.

-Digo já que terias ficado bem divertida, como todos os outros. -respondeu a rir muito.

-Mas coitada da Elyane… -suspirei.

-Fica descansada. Ela ficou super feliz depois daquilo acontecer, riu-se muito.

-Que bem para ela, fico feliz.

-E tu? -perguntou. -Conheceste alguém? -fiz um pequeno sorriso. -Ah! Conheceste! Conta! Conta!

-Chama-se Jacob. E é simplesmente lindo! Tipo, mesmo giro.

-Giro tipo, passava na rua e olhava duas vezes? -perguntou.

-Duas? Olhavas pelo menos cinquenta. Acredita quando eu disse giro, não estava a brincar. Ele é lindo! -exclamei, dando um pequeno suspiro.

-Acabaste de suspirar? Ele gosta de ti? -perguntou, cheia de curiosidade, acho que quase a morrer de curiosidade.

-Não… Disse-me que um amigo dele gostava de mim. Senti-me tão ridícula! -respondi triste. Eu tinha gostado dele, tinha gostado muito. As lágrimas começaram a queimar o canto dos olhos.

-Daniela… Não fiques assim. Tu és linda! Vais ver que um rapaz vai gostar de ti…

-Assim espero. Não quero ter quarenta anos e ser solteira, a viver um apartamento com oito gatos. Não é a minha ideia de felicidade.

-AAAAHHHH!!! -ela explodiu em risos. Quando acalmaram comecei a ouvir gemidos, mas não eram da Natalie. Vinham do quarto dos meus pais… Não acredito! OUTRA VEZ???

Olhei para Natalie que estava de olhos arregalados. O que é que ela deve estar a pensar? Que venho de uma família de tarados.

-Daniela… -mas eu interrompi.

-Antes que digas alguma coisa… são os meus pais. -falei a última parte baixinho mas ela conseguiu ouvir. Que vergonha!

-OH MY GOD!!! A sério? -perguntou totalmente espantada. Também não era para menos… Só assenti.

-Que perturbador! -exclamou. Falámos mais um pouco, mas os meus pais faziam cada vez mais barulho. Salva-me Deus!!!

Saí de casa, para apanhar ar e safar-me dos meus pais. Olhei para o carro e pensei “Vou a La Push”.