O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 16
Capítulo 16




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Ouvia uma cálida voz ressoar em sua mente. Transmitia uma sensação de proteção, segurança e conforto. Não conseguia entender o que a voz dizia, mas seu coração se sentia leve e sereno. Era maravilhoso. Era como ter seu sono embalado pelos anjos. Era como se pudesse dormir tranqüilamente pelo resto dos seus dias. A cada instante aquela tranqüilizadora voz ficava mais próxima, seu sono mais leve e a sensação de ter seu corpo embalado por braços acolhedores cada vez mais nítida. Conhecia aquela sensação. Sabia muito bem como era ser protegido por aqueles braços. Braços que apenas uma pessoa poderia ter.

- Parabéns, dorminhoco... – finalmente a bela voz pôde ser ouvida com nitidez.

- Draco...?

- Já era hora de você acordar.

Piscando seus belos olhos verdes de par em par, Harry finalmente enfocou a face do loiro a escassos centímetros da sua. Não estava sonhando, Draco Malfoy, o seu Draco, estava deitado em sua cama sem se preocupar em amarrotar a bela camisa de seda azul-clara e a calça preta que usava, abraçando-o enquanto acariciava suavemente o seu desastroso cabelo.

- Meu pai...?

- Está tomando café com o meu, conversando alguma coisa sobre a ineficiência do Ministério, então ele deixou que eu viesse te acordar.

- Oh... – murmurou, com o sono ainda nublando seus pensamentos.

- É assim que você recebe o seu namorado? Com um desanimado "Oh..."?

Harry deixou escapar uma leve risada, encarando os belos olhos acinzentados com carinho.

- Bom dia, Dray. Obrigado por me acordar tãããão cedo em pleno sábado.

- Disponha. Agora se levante a vá se arrumar, ou não entregarei o seu presente.

- Meu presente? – as belas esmeraldas ganharam um intenso brilho.

- Exato. Mas primeiro você deve estar maravilhoso e é claro, completamente acordado.

- Dray, querido, eu sempre estou maravilhoso – dá uma piscadinha marota.

- Humm... Você está andando muito comigo, sabia?

Depositando um rápido selinho nos lábios do loiro, Harry se levantou, seguiu até o closet e após escolher uma roupa, encaminhou-se até sua suíte para tomar uma relaxante e merecida ducha.

- Eu espero aqui... – Draco murmurou a contragosto.

- É claro que espera.

Com um divertido sorriso em seus lábios, Harry fechou a porta do banheiro e passou os próximos vinte minutos se asseando. Quando saiu de lá, vestia um belo conjunto de calça jeans gelo, camiseta branca e um par de tênis da mesma cor que comprara no último passeio com seu pai a Milão e que se amoldava perfeitamente ao belo corpo de treze anos. O cabelo continuava indomável e agora, estando molhado, acentuava seu ar rebelde em contraste com a face angelical.

- Sim, perfeito – Draco aprovou, observando o moreno da cabeça aos pés.

- E o meu presente?

- E o meu beijo? – contrapôs com o seu característico sorriso Malfoy – Ou você acha que ganhará o presente assim de graça?

Revirando os olhos, mas sem deixar de sorrir, Harry abraçou o pescoço do loiro e se colocou na ponta dos pés para alcançar os seus lábios. Logo compartilhavam um beijo apaixonado e com um delicioso sabor de menta. E quando finalmente se separaram para buscar um pouco de ar seus olhos se encontraram e um lindo sorriso não demorou a surgir nos seus rostos.

Afina, Harry sabia, aquele seria um aniversário perfeito.

- Então...?

- Muito bem, aqui está – Draco tirou uma pequena caixa de veludo do bolso e, com uma cor ligeiramente rosada em suas bochechas, colocou-a na ansiosa mão do pequeno Lord.

Este, ao abri-la, deixou um gemido de exclamação escapar:

- Uau...

- Gostou?

Harry estava sem fala. Era um incrível anel de diamantes. Fabricado em ouro branco 18 quilates, ornamentando por uma esmeralda de 5,50 quilates e cravejado de diamantes 2,96 quilates ao seu redor. Era uma perfeita mistura de imponência, delicadeza e compromisso. Sem dúvida, de tirar o fôlego.

- Dray... É-É incrível!

- Que bom... – deixou um suspiro aliviado escapar, pois estava preocupado com a reação do moreno, preocupado que ele achasse aquilo precipitado de mais. Bom, é claro que era apenas um presente de aniversário, nada mais do que isso... Er... A não ser que Harry quisesse, mas...

- Dray!

- Hã? O que?

- Coloque em mim, seu bobo.

- Oh... Certo, é claro – concentrando-se para que suas mãos não tremessem tanto, Draco pegou a bela jóia e a colocou com delicadeza no dedo anelar da mão direita de Harry. Era como se ela fosse feita sob medida para aquela pequena e graciosa mão, e a belíssima esmeralda destacando-se no centro acentuava de maneira quase mágica o brilho daqueles grandes e infantis olhos verdes.

- É maravilhoso, Dray! Obrigado! Obrigado!

- Hehe... Apenas o melhor para o namorado de um Malfoy.

- Parece um anel de compromisso – Harry comentou com um inocente sorriso fazendo o pobre loiro engasgar com o próprio ar.

- Er... Não é bem assim... Mas se você quiser... Bem, não quero pressionar, mas...

- Eu adorei, seu bobo! – abraçou o pescoço do loiro sem deixar de sorrir – Adorei o anel e tudo o que ele significa.

Assim, compartilhando de mais um beijo apaixonado que nublara seus sentidos, os dois enamorados finalmente se recompuseram e desceram para saborear o delicioso café da manhã que os aguardava. Aquele maravilhoso dia estava apenas começando, é claro.

-x-

- Não passam de um bando de incompetentes!

Mas se havia alguém que achava que aquele dia não podia ficar pior, esse alguém era Lord Voldemort.

Logo no início daquela radiante manhã, o Lord das Trevas se encontrava furioso. Seus olhos brilhavam num vermelho que indicava perigo a qualquer um que se atrevesse a enfrentá-lo. Em suas mãos encontrava-se a edição matinal do Profeta Diário que ele segurava com tanta força, com tanto ódio, que chegava a formar rugas nas laterais.

- Com certeza, Mi Lord.

- Onde já se viu? Deixar que uma barbaridade dessas acontecesse bem embaixo dos seus narizes!

- Ninguém sequer desconfiou. É um absurdo.

- Eu quero que você fique atento, Lucius, ele deve estar por perto, fugir de Azkaban não é uma tarefa fácil...

- Azkaban? Quem fugiu de Azkaban?

A face do Lord empalideceu visivelmente. Um sorridente Harry acabara de ingressar na sala, seguido de seu inseparável amigo, e o encarava com uma expressão curiosa no rosto.

- Papai, você está bem? – questionou preocupado, ao vê-lo empalidecer tão rapidamente.

- Sim, não se preocupe com isso.

- Humm... – aproximou-se, com o cenho ainda franzido, e ao olhar por cima do ombro do Lord não pôde deixar de reparar na escandalosa manchete do Profeta Diário.

- Quem é Sirius Black?

- Ninguém! – Tom respondeu com rispidez – Ninguém com quem você deva se importar, Harry.

O menino arqueou uma sobrancelha com a resposta tão taxativa, mas logo deu os ombros, decidindo que investigaria sobre esse tal Sirius Black depois, agora queria aproveitar o seu aniversário. Assim, acomodou-se ao lado do Lord – que estava na cabeceira da mesa – ficando de frente para o seu padrinho, com Draco logo ao seu lado. Imediatamente o elfo apareceu com suas guloseimas preferidas, as quais ele sempre podia desfrutar nas manhãs do seu aniversário, que consistiam em panquecas com calda de chocolate, bolos de diferentes sabores recheados e com cobertura, balas de gelatina, marshmallows, chocolates e outras delícias em geral.

- Olá, padrinho!

- Feliz aniversário, Harry – Lucius sorria enquanto fazia um pequeno embrulho flutuar até o colo do seu afilhado. Na mesma hora, este deixou um radiante sorriso adornar sua face e se colocou a abrir o belíssimo papel de presente verde com adornos prateados.

Ao desembrulhar o presente, Harry se deparou com uma bela e raríssima Medalha-Metamórfica dentro de uma caixinha de veludo. Era inteiramente feita de ouro, com a inscrição de um pentagrama no centro e que ao contrário das imitações baratas que os bruxos vendiam na Travessa do Tranco, realmente conseguia mudar alguma característica da pessoa que a usava, como a cor ou comprimento do cabelo, a cor dos olhos e até detalhes de suas feições.

- Uau...

- Então, gostou?

- Obrigado, padrinho! É perfeita! – colocando o cordãozinho de ouro em volta do pescoço, Harry cerrou os olhos e quando os abriu conservava um belíssimo cabelo negro com rajadas prateadas que lhe chegava à altura da cintura.

Assim, o ambiente do café da manhã seguiu mais tranqüilo na Mansão Riddle, com Harry e Draco se divertindo com o novo presente do moreno, Lucius sorrindo com uma disfarçada satisfação ao observar os dois e o Lord deixando suas preocupações de lado para observar o sorridente rosto do seu filho, que naquela manhã completava 13 anos, e que a cada dia lhe dava mais orgulho. Com um simples balançar de sua mão direita, Tom deixou aquele irritante jornal se perder nas chamas. Mais tarde mandaria seus Comensais revolverem o "Problema Sirius Black". Pois este homem não devia ter contato com o seu filho, de jeito nenhum, e ele mesmo se encarregaria disso.

- Preparado para a viagem, Harry? – Lucius perguntou, atraindo a atenção do menino que naquele momento lambuzava-se graciosamente com a cobertura de chocolate de um dos bolos.

- Preparadíssimo, padrinho!

- Sairemos em duas horas – o Lord avisou.

- Eu sei, papai. Os elfos já arrumaram as malas e ontem eu falei com a Pansy, ela me garantiu que lá está tudo arrumado para a nossa chegada.

- Ótimo.

- Papai... – adotou o seu melhor sorriso inocente – E o meu presente?

O Lord apenas o encarou com um olhar suspicaz e um leve sorriso divertido.

- Mais tarde, pequeno. Mais tarde...

- Humm... – fez um biquinho, mas logo sorriu, imaginando o que o seu querido pai estaria preparando para ele.

Minutos mais tarde, uma radiante Narcisa se juntava ao grupo com maravilhosas túnicas que ela havia comprado para o pequeno Lord naquela manhã, e passado às duas horas, as famílias Riddle e Malfoy finalmente tocaram na Chave de Portal que os levaria para uma magnífica temporada na Mansão de Verão dos Parkinson onde poderiam desfrutar do final das férias sem qualquer preocupação em suas mentes. E para satisfação ainda maior do Lord das Trevas, sem o perigo da proximidade de Sirius Black ameaçando o seu herdeiro.

-x-

Mônaco, ao sul da França, era um lugar verdadeiramente magnífico. O clima mediterrânico muito suave proporcionava uma vegetação exuberante, rica na fauna e na flora mais bela e exótica em que se podia pensar, que convertera a cidade em estância balnear e centro turístico de fama mundial tanto muggle quanto mágica. E em meio a uma isolada costa, com um poderoso feitiço anti-muggle, encontrava-se uma imponente mansão projetada completamente em mogno escuro e vidro, com imensas janelas, quatro andares, oito quartos com suíte, mais três banheiros pela casa, sala de jantar e de estar, biblioteca, salão de jogos, cozinha panorâmica, três piscinas sendo uma com cascata e as outras duas com tobogã. Isso tudo é claro, além da magnífica praia particular que se encontrava na propriedade.

Os Parkinson realmente sabiam como aproveitar as férias, Harry pensou ao observar o local. Mais tarde pediria ao seu pai para que também comprasse uma Mansão de Verão, pois até agora tinham apenas a Mansão Riddle, os imponentes castelos de Gryffindor e Slytherin situados ao norte da Grã-Bretanha, e uma ou outra propriedade de luxo espalhadas pelos continentes do globo.

- Bem-vindos! – as famílias Parkinson e Zabini se encontravam na entrada da mansão, sorrindo, e recepcionando os ilustres convidados.

- Harry! – Pansy correu para abraçar o amigo – Parabéns!

- Obrigado, Pan.

- Sim, Harry! Parabéns! – Blaise também se aproximou com um sorriso.

- Jovem Harry, Mi Lord, é uma honra – o Sr. e a Sra. Parkinson fizeram uma respeitosa reverência ao Lord.

Logo todos foram acomodados nos maravilhosos quartos e passaram a desfrutar daquela merecida temporada de descanso. Para Draco o melhor era o fato do insuportável Nott não estar com eles, pois ainda se encontrava viajando com o pai para se inteirar dos negócios da família, e assim o jovem herdeiro da fortuna Malfoy podia desfrutar do seu namorado sem se aborrecer com as interferências de ninguém. Exceto quando se tratava do Lord das Trevas, que obviamente não sabia da relação dos dois, o que os obrigava a agir com suma descrição em sua presença. Pansy e Blaise, porém, logo perceberam o clima que existia entre o jovem casal. Na verdade, Pansy percebeu, e com a confirmação dos dois saltou de alegria gritando que já não era sem tempo. Ela e Blaise estavam realmente muito felizes pelos amigos, mas temiam a reação de um ciumento e esperto em artes obscuras, Theodore Nott, que não ficaria nada emocionado com aquela notícia.

- Quando vocês vão contar para o Lord? – Pansy perguntou num sussurro. Todos se encontravam na piscina, e Harry e Draco haviam tomado um susto, precisando se desgrudar rapidamente, pois o Lord acabara de passar pelo local.

- Em breve... – respondeu Harry.

- Não temos pressa.

- Draquinho, não seja covarde – a menina sorria com malícia – Está com medo do sogro?

- O que você acha? Imagine como deve ser o Lord das Trevas como o seu sogro!

- Hey! – Harry protestou – Meu pai não é tão aterrorizante assim...

É claro que ao observar o taxativo olhar de seus amigos, Harry apenas suspirou e se deu por vencido. Realmente seria melhor esperar para dar aquela grande notícia ao seu pai, garantindo que a varinha deste não esteja ao alcance e que Draco tenha tempo de fugir antes de ser atingido por uma certeira Maldição Cruciatus. Afinal, seu querido pai o encarou com severidade e advertência nas poucas vezes em que ele perguntou o que acharia se por ventura acabasse se apaixonando, sem dúvida foi aterrador ouvir a fria voz do Lord garantindo que desmembraria lentamente e sem compaixão qualquer um que se atrevesse a se aproximar dele com tais intenções. Sim, provavelmente não fora uma boa idéia contar este episódio para um aterrado Draco. A única opção agora era começar a fazer o Lord se acostumar com a idéia lentamente. Bem lentamente.

Passado alguns dias, a data de seu regresso para cursar o terceiro ano em Hogwarts se aproximava e Harry não estava nem um pouco animado com isso. Queria ficar com o seu pai e Nagini na Mansão, sem precisar ouvir professores inúteis ensinando coisas ainda mais inúteis que qualquer bebê de dois anos poderia fazer, mas que a maioria dos estudantes imbecis não conseguia. E o pior, com certeza, seria aturar Alvo Dumbledore lançando falsos olhares amáveis e sorrisos bonachões em sua direção. Contudo, a única coisa que o animava era a possibilidade contar com a presença dos seus amigos e é claro, do seu namorado.

- Meu namorado... – o pequeno Lord deixou um sorriso bobo adornar sua face. Era um lindo entardecer e ele se encontrava sentado em um banco de mármore na encosta da praia observando o horizonte. Namorado... Era incrível ligar esta palavra a Draco, seu melhor amigo, com quem convivera sua infância inteira e que sempre estivera ao seu lado nas melhores e piores ocasiões. Namorado... Sim, era incrível e maravilhoso associá-lo a esta palavra.

No entanto, a imagem de Theo sempre aparecia em sua mente e levava uma enorme culpa ao seu coração. Harry sabia que o moreno de olhos azuis sentia algo profundo por ele, mas infelizmente não podia correspondê-lo, via-o apenas como um amigo. Não podia imaginar seus beijos, palavras de amor, ou carícias, porque em sua mente e em seu coração essas ações estavam relacionadas apenas com um lindo menino de olhos acinzentados e belos cabelos louros que fazia do seu mundo um paraíso, em meios a olhares auto-suficientes e sorrisos sarcásticos. Sentia-se mal, mas esperava que Theo entendesse e não se afastasse, pois era um amigo maravilhoso e especial que Harry jamais deixaria de amar. Mesmo que não fosse o sentimento que o outro desejasse.

- Um Galeão pelos seus pensamentos – ouviu uma voz a suas costas.

- Já tenho muitos Galeões, obrigado.

- Estamos presumidos hoje, não estamos, mocinho?

- Ora, é claro, papai – sorriu, abrindo espaço para o Lord se sentar ao seu lado – E isso me lembra que você ainda não me levou a Gringotes.

- Não seja afobado, logo você poderá conhecê-lo.

- Humm... Você prometeu.

- Eu sei. E sempre cumpro o que prometo.

- Eu sei... – Harry observou o mais velho atentamente. Sem dúvida o Lord estava muito bonito com a calça pescador de algodão na cor branca, que contornava suas musculosas pernas, e combinava com a camisa manga curta na cor vinho, acentuando o brilho dos seus olhos.

Tom também observou como o seu filho parecia um formoso homenzinho usando uma bata branca que chegava a altura dos joelhos, própria para praias, e um short verde-escuro que se amoldava ao belo corpo adolescente. O cabelo negro, esvoaçante com a brisa marítima, dava um lindo contraste com o brilho dos seus olhos indicando uma autentica aura de inocência e travessura.

- E como eu havia prometido... – dá uma pausa para aumentar o suspense – Aqui está, pequeno.

Com apenas um movimento de sua mão direita, o Lord fez uma pequena caixa de ouro aparecer no colo do menino e na mesma hora um sorriso se apoderou dos lábios do mesmo. E quando abriu a caixinha, Harry ficou sem fala. Aquilo, com certeza, valia o atraso na entrega do seu presente.

- Então, o que achou?

- Oh Merlin!

- Hehe... Feliz aniversário, Harry. Espero que valha a pena o atraso.

- Papai, isso é...?

- Sim. Um vira-tempo.

Com os olhos brilhando, Harry contemplou aquela pequena ampulheta de areia rodeada por dois anéis de ouro que estavam presos em uma bela corrente lapidada. Era incrível e mágico em todos os sentidos da palavra. E se conhecia muito bem o seu pai, aquele magnífico vira-tempo não precisava de qualquer autorização do Ministério, mas vinha seguido de várias recomendações.

- Como você sabe, é preciso muito cuidado para usá-lo...

Sim, inúmeras recomendações.

Mas Harry estava animado de mais para se deixar abalar por qualquer uma delas. Era maravilhoso! Um vira-tempo em conjunto com uma capa de invisibilidade! Com certeza, Hogwarts viria abaixo naquele ano.

- Gostou?

- Está brincando? É maravilhoso, papai!

- Fico feliz – sorriu com carinho, puxando o menino para um cálido abraço, e assim eles contemplaram aquele belo anoitecer aproveitando os últimos dias antes da partida de Harry para Hogwarts.

-x-

Mais um ano escolar surgia e como sempre a plataforma 9 ¾ se encontrava um verdadeiro caos. Carrinhos com bagagens rolavam de um lado para o outro, crianças choravam, adultos gritavam, os parentes se despediam e as corujas se uniam à bagunça com o bater de suas asas dentro das gaiolas e seus piados estridentes. Observando todo aquele cenário, com o cenho franzido num claro sinal de contragosto, estava o herdeiro do Lord das Trevas que apenas suspirava em pensamento com a possibilidade de mais uma temporada naquela escola, e se o seu pressentimento não estivesse enganado, algo muito importante e potencialmente perigoso ainda aconteceria naquele ano. Provavelmente, o tal assassino de muggles que fugira de Azkaban, Sirius Black, estaria por trás desse grande acontecimento, mas infelizmente Harry não conseguira sondar qualquer informação a respeito deste homem. As únicas palavras que ganhava do Lord quando perguntava a respeito eram:

"Não pense neste homem. Ele não passa de um vulgar assassino, que fora aliado do velhote maluco, mas que não recebeu qualquer ajuda deste quando matou os muggles que haviam assassinado Lily e James Potter".

O último herdeiro da prestigiosa família Black.

Um amante de muggles e seguidor de Dumbledore.

Um homem que assassinara os muggles que haviam matado os seus amigos e que depois se deixou levar a Azkaban porque pensava contar com o apoio do diretor de Hogwarts.

Não cabiam dúvidas, Sirius Black era uma vergonha para o Mundo Mágico. Um traidor do sangue, a pior espécie de bruxo que existia. Pessoas sem honra que se deixavam levar pelas maluquices de um velho amante de muggles. Era pior do que os Weasley, pois estes não possuíam prestigio algum, mas Sirius, por sua vez, desonrara o sobrenome Black e o sangue que corria por suas veias. Pelo menos era assim que Harry pensava. Fora assim como seu pai o ensinara.

- Vamos? – a voz de Draco o despertou, indicando o trem que já anunciava a partida.

- Sim...

Após as devidas despedidas e como sempre, os olhares assustados dos magos inúteis que tremiam como vara-verde na presença do seu pai, Harry e Draco seguiram para a locomotiva vermelha que estava prestes a seguir o seu curso. Pansy havia combinado de encontrá-los depois, pois precisava pegar uma revista com uma de suas colegas de quarto. Da mesma forma, Blaise avisou que os veria assim que conseguisse de volta o seu conjunto de penas-autocopiadoras que ele havia emprestado para Goyle. E assim, o mais novo – e em breve, o mais famoso – casal de Hogwarts seguiu pelo trem a procura de um vagão vazio. O que se mostrou uma tarefa realmente difícil.

- Aqui... – chamou Draco, abrindo a última cabine no finalzinho do trem, que parecia ser a única vazia.

Esta tinha apenas um ocupante, um homem que parecia mergulhado no mundo de Morpheu, usando um paletó esfarrapado para se cobrir e apoiando a cabeça na janela. O jovem casal parou à porta e Harry arqueou uma sobrancelha. O Expresso de Hogwarts era em geral reservado aos estudantes e, até então, eles nunca tinham visto um adulto a bordo, exceto a bruxa que passava com o carrinho de comida. Aquele homem usava um conjunto de vestes bruxas extremamente surradas e cerzidas em vários lugares. Parecia doente e cansado. Embora fosse jovem, seus cabelos castanho-claros estavam salpicados de fios brancos.

- Quem você acha que ele é? – o loiro perguntou, encarando o desconhecido com um claro ar de desprezo.

- O Prof. R. J. Lupin – apontou para a desgastada maleta no bagageiro acima, na qual o nome "Prof. R. J. Lupin" estava estampado a um canto em letras descascadas.

- Provavelmente é o novo professor de DCAO já que o inútil do Lockhart desapareceu naquele dia para nunca mais ser visto.

- Um verdadeiro herói – Harry sorriu com desdém e se acomodou ao lado de Draco, ficando de frente para o novo professor que deixava pequenos roncos escaparem de vez em quando.

- Espero que este não seja tão inútil, mas pelo visto será ainda pior.

- Não o julgue ainda, Dray.

- Você viu como ele está vestido...?

- Sim, eu sei. Mas não podemos avaliar sua didática com base em suas roupas. De momento, podemos apenas concluir que ele tem um péssimo gosto.

- Espero que Pansy não o veja.

- Verdade... – Harry sorriu, acomodando a cabeça do ombro do maior.

- Você está usando o anel – murmurou embelezado, estreitando a pequena mão com a sua.

- É claro. Ele não deixou mais o meu dedo depois que você o colocou.

- Está perfeito assim... – sem se importar com a presença do adormecido professor, Draco puxou o moreno para um beijo apaixonado, que foi logo correspondido.

Não existia mais nada ao redor deles. Apenas os seus lábios e o delicioso sabor que compartilhavam. As mãos de Draco não demoraram a estreitar a cintura do namorado de maneira possessiva enquanto este lhe rodeava o pescoço com os braços e, inconscientemente, acomodava-se no seu colo. Estavam completamente alheios à realidade, mergulhados no delicioso toque dos seus lábios, desfrutando daquela sensação de deleite que os envolvia por completo. Tão envolvidos, tão apaixonados, tão ausentes que sequer notaram o barulho da porta da cabine se abrindo. A única coisa que lhes arrebatou de volta à Terra foi uma gélida voz que ecoou por entre as paredes.

Uma voz que fez Harry se afastar rapidamente.

Uma voz que levou um sorriso cínico aos avermelhados lábios de Draco.

Uma voz fria que contrastava com um par de olhos azuis cheios de ódio, ciúme e ressentimento.

- O que está acontecendo aqui?

Theodore Nott os encarava de braços cruzados, parado no marco da porta. Uma aura violenta e sinistra parecia rodeá-lo.

- Theo... – Harry murmurou.

- Não seja inconveniente, Nott. Não vê que meu namorado e eu estamos ocupados?

Aquilo caiu como uma verdadeira bomba para ele.

A face que sempre fora isenta de qualquer sentimento, contraiu-se de ódio.

Não podia ser verdade. Harry, o seu Harry, não podia estar com aquele maldito garoto.

- Desgraçado... – a varinha já aparecia na mão de Theodore quando Harry se colocou entre os dois:

- CHEGA! – gritou desesperado e mesmo assim o Prof. Lupin nem se moveu – Por favor, parem com isso.

- Esse idiota é que apareceu aqui sem ser chamado, mon amour.

- O Theo é meu amigo e você sabe disso, Dray. Pare com isso, por favor.

- Não sei como você pode...

- É verdade? – uma voz cortante os interrompeu – O que ele disse é certo?

- Theo...

- Vocês estão juntos?

Harry apenas respirou fundo e assentiu.

- Como você pôde cair tão baixo, Harry?

- Eu sinto muito, Theo. Mas o Draco é a única pessoa que eu posso ver desta forma. Entenda, por favor.

- Não... – apertou os punhos, encarando-o com rancor – Eu não posso entender.

- Mas...

- Ele ainda fará você sofrer muito.

- Theo...

- E quando isso acontecer, quando ele quebrar você, eu estarei aqui para juntar os pedacinhos.

- Como ousa? – Draco apontava-lhe ameaçadoramente com a varinha – Eu jamais faria algo ao Harry!

- Eu espero que este dia chegue logo – declarou com frieza e lançando um último olhar de desprezo e fúria ao herdeiro da família Malfoy, Theodore abandonou a cabine, antes que fizesse algo que pudesse levá-lo a uma viagem sem volta para Azkaban.

Precisava manter a mente fria.

Precisava controlar todo o seu ódio.

Precisava deixar os sentimentos de lado e pensar, para trazer o pequeno Lord aos seus braços, pois era o único lugar onde ele deveria estar.

Ao vê-lo sair daquela forma, Harry suspirou e se deixou cair no banco estofado, sentindo um grande aperto no peito. Theo era uma pessoa muito especial para ele, alguém com quem se podia conversar sobre tudo, alguém em quem se podia confiar cegamente. Theo, com certeza, amava-o, e não possuía este sentimento por mais ninguém que ainda fosse vivo. E Harry não queria perdê-lo, porque também o amava, mas não da maneira que ele desejava.

- Não fique assim, esse idiota não merece – Draco o abraço pelos ombros.

- Eu gosto dele...

- O QUE?

- Ele é um grande amigo, Dray. E eu pareço ser o seu único amigo. Não quero que ele fique sozinho.

- Essa é uma escolha dele.

- Mas... – uma fumaçinha branca saiu dos lábios de Harry – Você... Você não acha que está frio de mais?

- Hum? – os dois se entreolharam.

De repente, o trem começou a reduzir a velocidade.

- Será que já chegamos?

- Impossível, Dray. Ainda falta um bom trajeto.

O trem foi rodando cada vez mais lentamente. Quando o ronco dos pistões parou, o barulho do vento e da chuva de encontro à janela se fez ouvir mais forte do que nunca. Harry, fazendo jus à curiosidade Gryffindor que corria por suas veias, levantou-se para espiar o corredor. Por todo o carro, cabeças curiosas surgiam à porta das cabines.

- Está muito frio... – o loiro murmurou. E Harry apenas assentiu.

O trem parou completamente com um tranco, e baques e pancadas distantes sinalizaram que as malas tinham despencado dos bagageiros. Em seguida, sem aviso, todas as luzes se apagaram e eles mergulharam em total escuridão. Harry estreitou os olhos, suas pupilas se dilatando para se acostumarem ao breu que os envolvia. Aquilo era estranho. Muito estranho mesmo.

- O que está acontecendo? – ouviu-se a voz de Draco às suas costas.

- Não faço idéia.

- Você acha que o trem enguiçou?

- Pode ser... – Harry voltou ao seu lugar e se acomodou nos braços do loiro, que o estreitava protetoramente.

Ouviu-se um barulho de pano esfregando vidro e Harry viu a janela congelar diante dos seus olhos. A cada segundo aquele ar gelado ficava mais intenso e a fumaça branca escapava de suas bocas como num dia de nevasca, os corpos tremendo, esfregando as mãos para conseguir calor. De repente, pelos contornos da porta, os jovens Slytherins perceberam um estranho vulto se aproximar. Parecia ser aquele vulto o condutor do ar gelado e da angústia que os envolvia pouco a pouco.

Harry já tirava a varinha do bolso quando viu a porta se abrir lentamente. Aquele vulto finalmente se fez visível e parecia alcançar o teto. Seu rosto estava completamente oculto por um capuz e baixando os olhos, Harry e Draco sentiram uma contração no estômago ao ver uma mão saindo da capa, e ela brilhava, um brilho cinzento, de aparência viscosa e coberta de feridas, como uma coisa morta que se decompusera na água. A coisa encapuzada, fosse o que fosse, inspirou longa e lentamente, uma inspiração ruidosa, como se quisesse inspirar mais do que o ar à sua volta.

Um frio ainda mais intenso atingiu todos os presentes. Harry sentiu a própria respiração congelar por alguns segundos. Aquele ar penetrava mais fundo em sua pele, chegando ao seu peito, ao seu próprio coração...

Aquilo...

Aquilo era...

UM DEMENTADOR!

Estudara sobre eles com o seu pai. Uma das criaturas mais sombrias que vagava pelo mundo, alimentando-se de boas lembranças, deixando somente as piores experiências e lembranças de uma pessoa. Infestavam os lugares mais escuros e imundos, se compraziam com a decomposição e o desespero, tiravam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta. Até os trouxas conseguiam sentir a sua presença, embora não pudessem vê-los.

- Então é isso... – Harry murmurou, cerrando os olhos ao sentir aquela criatura se aproximar, com a mão estendida em sua direção.

Inesperadamente, o homem que dormia no banco à frente, levantou-se com a varinha a pino. Seus olhos castanhos brilhavam na penumbra e uma luz branca já deixava a sua varinha, quando se viu interrompido por uma luz muito mais forte:

- EXPECTO PATRONUM!

Harry James Riddle acabara de conjurar o seu patrono.

Na mesma hora, um brilho intenso invadiu todo o vagão e a criatura rapidamente desapareceu, fugindo daquela energia tão poderosa. Um Basilisco. Um Basilisco pequeno e forjado numa radiante luz branca havia deixando a varinha de Harry diante do olhar incrédulo de Lupin e do sorriso maravilhado de Draco. Segundos depois, após comprovar que o Dementador havia desaparecido, Harry sorriu ao seu patrono calidamente e o fez desaparecer.

- Uau... – Draco foi o primeiro a se expressar, correndo para abraçar o menor que se deixava cair, cansado, no banco.

- Isso foi... Isso foi um Patrono Corpóreo? – pela primeira vez, a voz rouca do professor se fez escutar.

- Foi sim.

- Incrível. Mas ele era...?

- Um Basilisco – Harry o encarou diretamente e o professor sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era idêntico a James Potter. Mas aqueles olhos, com certeza, eram de Lily.

- Harry...

- É o mesmo patrono do meu pai – o menino sorriu com orgulho.

Aquelas palavras surtiram o mesmo efeito de um balde de água fria para o pobre homem. Aquele sorriso, o olhar de verdadeira admiração, o tom cálido e orgulhoso ao pronunciar a palavra "pai". Sem dúvida, ele não se referia a James Potter. E um doloroso aperto no peito tomou conta de Lupin. Suas esperanças de conhecer o filho dos seus melhores amigos esvaiam-se, pois aquele não era o filho de Lily e James Potter. Não, aquele era o filho de Lord Voldemort, e parecia extremamente orgulhoso e feliz com isso.

- "Não pode ser..." – pensou com amargura, encarando aqueles belos olhos verdes que o analisavam friamente.

Há vários quilômetros dali, um grande cão negro corria pelos límpidos gramados em direção a uma prestigiosa Escola de Magia e Bruxaria que se encontrava no Reino Unido. Era o seu único objetivo. Precisava chegar até lá e encontrá-lo. Precisava encontrar aquele menino. Precisava encontrar Harry Potter e não descansaria até que isso acontecesse.

- "Harry..." – era o seu único pensamento. Aquele menino era o que restava de sua família. Ninguém os separaria desta vez. Ninguém.

Continua...


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