O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 15
Capítulo 15




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Hogwarts estava o paraíso. Um mês sem Alvo Dumbledore era como uma brisa fresca para aquela pobre escola. O grupo das serpentes, naquele momento, desfrutava do café da manhã no Salão Principal lançando olhares satisfeitos ao lugar do diretor que mediante as circunstâncias era ocupado pela professora de Transfiguração, Minerva McGonagall. Poucos acreditavam que Dumbledore havia tirado umas férias para cuidar da saúde e desconfiavam que o sorridente herdeiro de Voldemort estivesse por trás disso. Dessa forma, o medo que a maioria dos estudantes sentia perante Harry apenas aumentava, acreditando que o menino fosse, de fato, o herdeiro de Slytherin que causara todas aquelas petrificações. É claro que Harry não desmentia, apenas colocava um sorrisinho auto-suficiente no canto de seus lábios e circulava pela escola lançando olhares superiores aos assustados alunos. Sem dúvida, estava se divertindo muito.

Porém, a alegria do pequeno Lord logo foi sutilmente contida, quando seu amigo e técnico de Quadribol, Marcus Flint, apareceu contando que o guarda-caça de Hogwarts fora levado a Azkaban.

- O Ministro em pessoa veio buscá-lo.

- Isso é ridículo, por que levariam o meio-gigante para Azkaban? – arqueia uma sobrancelha com desdém, saboreando seu bolo de chocolate com avelãs.

- Parece que ele está por trás dos ataques aos sangues-ruins...

- Mas os ataques pararam há semanas – Draco intervém, sentado do outro lado de Harry, pois não estava gostando nem um pouco da conversa em sussurros que o buscador e o capitão estavam tendo.

- De fato. Mas mesmo assim o Ministro decidiu que era melhor levá-lo.

- E por que estão associando aquele inútil aos ataques? Por favor, não me diga que pensam que ele é o herdeiro de Slytherin.

- Há cinqüenta anos, Harry, ataques como esses aconteceram também. E na época todas as evidências apontavam ao meio-gigante, que ainda estudava aqui, então ele foi expulso e perdeu sua varinha, mas o idiota do Dumbledore o contratou quando tomou o posto de diretor.

Harry estreita seus belos olhos verdes com astúcia.

- Há cinqüenta anos ele foi expulso por petrificar sangues-ruins?

- Na verdade, uma garota morreu naquela época.

- Morreu?

- Exato. O fantasma dela ainda circula por Hogwarts, no banheiro feminino do segundo andar.

- Oh... – morde o lábio suavemente – "Então aquela garota chorona...?"

Mas como o imbecil do guarda-caça fora expulso por matar aquela menina se era óbvio que ele não possuía nenhuma ligação com Salazar Slytherin? Por Merlin, aquilo era ridículo, e o diário de seu pai nunca mencionara nada a respeito.

- Entendo – Harry sorri ao maior – Obrigado por me contar Marcus. Isso é realmente muito estranho.

- Imaginei que você fosse se interessar.

- Se você souber de mais alguma coisa, por favor, conte-me.

- Não se preocupe – dá um torto sorriso. Levantando-se da mesa, pois o sinal indicando o início das aulas acabara de tocar.

Aquilo era realmente muito estranho.

- Draco, invente alguma coisa para o prof. Binns...

- O que?

- Não vou assistir a aula de História da Magia hoje.

- Por que não? – arqueia a sobrancelha – Foi por causa do que o Flint disse?

- Também. Preciso resolver uma dúvida.

- Mas...

- E invente alguma coisa à Pansy, ao Blaise e ao Theo também.

- Harry!

- Vamos... – sorri lindamente – Será o nosso segredo.

Com seu sorriso deslumbrante e uma piscadinha marota ao amigo, Harry esgueirou-se habilmente ao Salão Comunal Slytherin, agradecendo mentalmente por Theo e os outros Slytherins não terem percebido sua sutil escapada.

Mas era preciso.

A memória de seu pai esquecera-se de mencionar algumas coisas.

Coisas que ele descobriria agora mesmo, ou não se chamava: Harry Riddle.

-x-

"Você não deveria estar na aula de História agora?"

"Deveria, mas alguns acontecimentos recentes me assolaram de dúvidas que apenas você pode responder".

"É tão urgente assim?"

"Sim".

"Então diga, pequeno".

"Ainda pouco fiquei sabendo que o Ministro em pessoa esteve aqui para levar o inútil guarda-caça para Azkaban,
pois ele é o principal suspeito dos ataques aos estudantes".

"É mesmo? Hahahaha... Pobre Hagrid, nunca dá sorte".

"Como você me explica isso, Tom? Como você me explica que estejam pensando
que aquele imbecil é o descendente de Slytherin?"

"Na verdade é muito simples, meu pequeno e ingênuo Harry.
Há cinqüenta anos, quando eu abri a câmara e assolei o Basilisco pela primeira vez, houve um pequeno acidente..."

"A garota que morreu no banheiro feminino".

"Exato. Com a morte dessa menina, Hogwarts seria fechada, mas eu não podia deixar que isso acontecesse,
então aproveitei que o bobalhão do Hagrid adorava criar pequenos monstros para incriminá-lo e sair como herói".

"E por que você não me contou isso antes?"

"Porque não achei necessário, pequeno".

"Isso é ultrajante! Como podem pensar que aquele grandalhão idiota é o herdeiro de Salazar Slytherin?"

"Não seja vaidoso, Harry... Eles querem apenas um culpado e é o que o bobalhão pode oferecer".

Harry suspirou, acomodando-se melhor em sua cama, nas masmorras de Slytherin, com o diário aberto em seu colo. Era simplesmente ridículo que alguém pensasse que o guarda-caça pudesse ser detentor de tamanho poder. Mas Tom estava certo, ninguém seria melhor para receber a culpa de todo aquele transtorno do que o inútil homem que adorava viver rodeado de criaturas estranhas.

"Talvez você esteja certo. Mas que é ridículo isso é".

"Sem dúvida, mas às vezes é preciso. Contudo, não se preocupe, pequeno,
logo você ganhará uma maravilhosa surpresa".

"Uma surpresa?" – sorriu com verdadeiro interesse.

"Exatamente".

"Que tipo de surpresa?".

"Se eu contar não será mais surpresa, mas tenho certeza que você irá adorar"

"Você não mudou nada ao longo desses anos, sabia?
Sempre misterioso quando o assunto é contar sobre os meus presentes".

"Hehe... Mas não se preocupe porque logo você poderá aproveitar esta maravilhosa surpresa, pequeno".

"Humm... Estarei esperando, Tom".

-x-

Semanas mais tarde, Harry e Draco desfrutavam de um agradável momento a sós na Câmara Secreta antes do início do jantar. As duas pequenas serpentes, confortavelmente deitadas na cama que um dia pertencera a Salazar Slytherin, folheavam um interessante livro sobre criaturas mágicas. Draco segurava o livro com uma mão enquanto fazia um agradável cafuné em Harry com a outra, pois o moreno se encontrava languidamente acomodado no peito do maior.

- Essas Veelas são realmente interessantes – Harry comenta com um sonolento sorriso.

- É verdade.

- Você tem certeza que não possui nenhuma descendência Veela, Dray?

- Creio que não... Por quê? – arqueia uma sobrancelha.

- Por nada – sorri com malícia observando mais uma vez o parágrafo que descrevia o quão ciumento os Veelas podiam ser com seu companheiro ou companheira escolhida.

- Talvez pela família do meu pai, uma tia-avó distante, mas não sei.

- Procure saber então, porque estou desconfiado.

- Certo... – balança a cabeça, divertido – Vamos? O jantar já deve ter começado.

- Sim.

- A não ser que você prefira roubar alguma coisa na cozinha para que comamos aqui.

- É melhor não, Dray. O pessoal deve estar preocupado.

- Sem contar o idiota do Nott...

- Por favor, Dray, já conversamos sobre isso.

- Hum... – revira os olhos com desdém.

Quando chegaram ao Salão Principal, Theo e Blaise já saboreavam aquele delicioso jantar. É claro que o herdeiro da fortuna Nott logo lançou um olhar mortal ao jovem loiro que ingressava no salão ao lado de um sorridente Harry e não pensou duas vezes antes de expulsar com apenas aquele aterrador olhar o aluno do primeiro ano que estava ao seu lado para que Harry se sentasse. O pequeno Lord, é claro, acomodou-se ao lado de Theo, e Draco logo se sentou do seu outro lado, diante de um divertido Blaise que apenas balançava a cabeça pensando que aqueles três eram um caso perdido. E quando já degustava aquele delicioso Nhoque Recheado ao Molho de Queijo, Harry percebeu que sua amiga ainda não chegara para o jantar. O que era muito estranho, pois Pansy nunca se atrasava para seus compromissos, coisa que de acordo com ela não seria próprio para uma Lady fazer.

- Onde a Pansy está, Blaise?

- Ela disse que ficaria no Salão Comunal porque não estava com fome.

- A Pansy, sem fome? Mas ela nunca rejeita a Torta de Limão que temos na sobremesa.

- Também achei estanho – deixou escapar um pequeno suspiro – Creio que ela está aprontando alguma coisa.

- Sem dúvida – Harry sorriu. Para sua amiga faltar ao jantar algo muito grande deveria estar passando por aquela cabecinha de belos cabelos negros em corte chanel.

Alguma coisa, porém, dizia que ele estava prestes a descobrir.

Mais tarde, ao ingressarem no Salão Comunal Slytherin, Blaise seguiu para junto à lareira com seu baralho mágico, Theo lançou um feitiço para que o livro de Artes Obscuras que levava no bolso voltasse ao tamanho original e se sentou próximo a lareira para apreciá-lo. Enquanto isso, Draco e Harry subiram ao quarto, onde o loiro já pegou a toalha para tomar uma relaxante ducha e Harry seguiu ao seu baú para pegar o diário de seu pai e ter mais uma divertida conversa com ele. Contudo, ao se aproximar do baú, o pequeno Lord notou que este estava aberto e que seu precioso diário não estava lá.

- Oh, Merlin... – sentiu seu sangue gelar.

Aquilo só podia ser brincadeira.

Aquilo...

...Não podia ser verdade!

- DRACO!

Na mesma hora um afobado Draco Malfoy apareceu com o dorso molhado e apenas uma toalha ao redor da cintura, observando seu melhor amigo com verdadeira preocupação.

- O que houve?

- O diário... Dray, o diário sumiu!

- O que? Mas como?

- Eu não sei! Ele estava aqui hoje cedo e agora sumiu!

- Calma, respira... – se aproxima com cuidado, abanando um aterrado Harry que parecia a ponto de um ataque histérico.

- Respirar? Respirar? O meu pai vai me matar! Com certeza eu não terei que me preocupar mais em respirar se eu não achar esse maldito diário!

- Certo. Você o levou para algum lugar?

- Não!

- Tem certeza, Harry? Pense bem...

- Bom, eu o levei para a Câmara ontem, mas tenho certeza que o trouxe de volta.

- É melhor descermos para ver.

- Ok, mas... – murmura com as bochechas levemente rosadas – É melhor você colocar uma roupa antes.

- Oh, é claro – aclara a garganta, adiantando-se ao baú para se vestir enquanto sentia os curiosos olhos verdes passeando por sua pele umedecida.

Poucos minutos depois os dois abandonavam as masmorras ignorando o olhar intrigado de Blaise e o franzir de cenho contrariado de Theodore. Precisavam encontrar aquele diário. Ele não podia sumir de uma hora para a outra, não quando estava guardado no baú de Harry sob um poderoso feitiço protetor. Ou ele estava na Câmara Secreta ou fora roubado por algum Slytherin, pois eram os únicos com acesso ao dormitório nas masmorras. E se a última opção estivesse correta o culpado desejaria nunca ter nascido. Ninguém roubava algo tão precioso para o pequeno Lord e saía impune.

-x-

Harry e Draco caminhavam apressados em direção ao segundo andar, quando, de repente, ouviram a voz da Professora McGonagall, magicamente amplificada: "Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas. Todos os professores voltem à sala dos professores. Imediatamente, por favor."

Os dois estacaram e trocaram um olhar preocupado:

- O que será que houve dessa vez?

- Não sei, Dray, mas vamos descobrir.

Os dois correram em direção à sala dos professores e quando chegaram, esconderam-se num armário onde eram guardadas as capas dos professores. Logo eles escutaram o barulho de dezenas de pessoas andando de um lado para o outro e ouviram o barulho da porta da sala se abrir e bater. Do meio das dobras mofadas das capas, observaram os professores chegando um a um. Alguns pareciam intrigados, outros completamente apavorados. Então chegou a professora McGonagall.

- Aconteceu – disse ela na sala silenciosa – Uma aluna foi levada pelo monstro. Para a Câmara.

O Prof. Flitwick deixou escapar um grito fino. A professora Sprout tampou a boca com as mãos. Snape agarrou com muita força o espaldar de uma cadeira e perguntou:

- Como você pode ter certeza?

- O herdeiro de Slytherin – disse a professora muito pálida – deixou outra mensagem. "O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre. E nos veremos em breve, meu pequeno".

O Prof. Flitwick rompeu em lágrimas.

- Quem foi? – perguntou Madame Hooch, que afundara, com os joelhos bambos, numa cadeira – Que aluna?

- Pansy Parkinson – respondeu McGonagall.

Harry apertou a mão de Draco com firmeza, sentindo seu coração falhar uma batida. O jovem Malfoy rapidamente o envolveu em seus braços notando como o pequeno corpo tremia ligeiramente.

- Teremos que mandar todos os alunos para casa amanhã – continuou ela – Isto é o fim de Hogwarts. Dumbledore sempre disse...

A porta da sala dos professores bateu outra vez. Por um momento delirante Harry teve a certeza de que seria o velhote caduco com aquele sorriso onisciente que sempre o irritava. Mas era Lockhart e ele sorria.

- Desculpe, eu cochilei, o que eu perdi?

Ele pareceu notar que os outros professores o olhavam com uma expressão muito próxima ao ódio. Snape se adiantou.

- O homem de que precisávamos! Em pessoa! Uma menina foi seqüestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.

Lockhart ficou lívido.

- Isto mesmo, Gilderoy – disse a Professora Sprout – Você não estava dizendo ainda ontem à noite que sempre soube onde era a entrada da Câmara Secreta?

- Eu... bem, eu... – gaguejou nervoso.

- É, você não disse que tinha certeza do que havia dentro dela? – falou o Prof. Flitwick.

- D-disse? Não me lembro...

- Pois eu me lembro de você dizendo que lamentava não ter tido uma chance de enfrentar o mostro antes de Hagrid ser preso – continuou Snape – Você não disse que o caso todo foi mal conduzido e que deviam ter-lhe dado carta branca desde o começo?

Lockhart contemplou os rostos duros dos colegas à sua volta.

- Eu... eu realmente nunca... vocês devem ter entendido mal...

- Vamos deixar o problema em suas mãos, então, Gilderoy – disse McGonagall – Hoje será uma ocasião excelente para resolvê-lo. Vamos providenciar para que todos estejam fora do seu caminho. Você terá oportunidade de cuidar do monstro sozinho. Enfim, terá carta branca.

O pálido professor de DCAO olhou desesperado para os lados, mas ninguém veio em seu socorro. Ele não parecia mais bonitão, nem de longe. Seu lábio tremia e na ausência do sorriso costumeiro, cheio de dentes, seu queixo parecia pequeno e fraco.

- M-muito bem – disse – Estarei... estarei em minha sala me... me preparando.

E saiu.

- Muito bem – disse a Professora de Transfiguração, cujas narinas tremiam – com isso o tiramos do caminho. Os diretores de suas casas devem ir informar os alunos do que aconteceu. Digam que o Expresso de Hogwarts os levará para casa logo de manhã. Os demais, por favor, certifiquem-se de que nenhum aluno fique fora dos dormitórios.

Os professores se levantaram e saíram, um por um.

Ao notar que não havia mais ninguém na sala, Harry e Draco saíram do armário e se entreolharam em silêncio. O moreno estava pálido. Não sabia como aquilo podia estar acontecendo. Ele não assolara o Basilisco desta vez, não escrevera nenhuma mensagem na parede para assustar os estudantes inúteis. Aquilo era ridículo! Pansy não podia ter sido levada para a Câmara, pois ele não fizera isso acontecer. Não... Não podia...

- Draco...

- Sim?

- Vamos para a Câmara.

- Você... Você não acha que devemos avisar alguém?

- Quem? O inútil do Lockhart? Ele já deve estar a quilômetros daqui.

- Tem razão.

- Isso é culpa minha, eu vou resolver. Se não quiser vir não precisa, apenas avise ao meu pai e...

- Harry! – agarra seus ombros com firmeza – Não diga uma bobagem dessas! Eu jamais deixarei você sozinho!

- Dray... – murmura com as bochechas coradas, mas logo se recompõe e dá um pequeno sorriso - Então vamos! Não temos tempo para avisar os outros, vamos descer!

-x-

Harry e Draco se viram caminhando por entre as conhecidas colunas serpentinas. Cada passo cauteloso ecoava alto nas paredes sombrias. Aquele lugar não acalentava mais seus corações como nas outras vezes que estiveram ali. Uma sensação estranha, porém, fazia um arrepio percorrer seus corpos. Algo estava prestes a acontecer... E aquele ambiente sombrio e hostil indicava que boa coisa não estava por vir. Quando os dois jovens Slytherins se emparelharam com o último par de colunas, avistaram a bela estátua do busto de Salazar e aos seus pés jazia um pequeno vulto de cabelos negros vestindo o uniforme Slytherin.

- Pansy... – murmurou Harry, correndo para ela e se ajoelhando – Pansy... Não esteja morta... Por favor, não esteja morta.

Draco logo chegou ao seu lado e se ajoelhou, observando com preocupação a pálida face da menina.

- Por favor, acorde...

- Harry, ela está fria como gelo.

- Eu sei. Isso não pode ser verdade, por favor, acorde Pansy...

- Ela não vai acordar – disse uma voz indulgente.

Harry se sobressaltou e se virou ainda de joelhos.

Um garoto alto, de cabelos negros impecavelmente alinhados, muito bonito, observava-o encostado à coluna mais próxima. Tinha os contornos estranhamente borrados, como se Harry e Draco o estivessem vendo através de uma janela embaçada. Mas não havia como se enganar...

- Tom... É você?

O aludido confirmou com a cabeça, sem tirar os olhos do rosto de Harry.

- O que você quis dizer com "ela não vai acordar"? – perguntou desesperado – Ela não está... não está...?

- Ainda está viva – disse o jovem Tom Riddle – Mas por um fio.

Harry arregalou os olhos. Aquilo era completamente inverossímil, a memória adolescente de seu pai aparecia fora do diário e de repente anunciava que sua amiga estava à beira da morte, como podia ser possível? Ele não podia ser o responsável por isso, podia? Mas o que Tom ganharia matando uma jovem Slytherin sangue-puro que além de tudo era sua querida amiga?

- Você fez isso, Tom? Por quê?

- Ora, Harry, essa é a minha surpresa.

- Quem é ele, Harry? – Draco olhava de um para o outro sem entender nada – O que está acontecendo?

- Ele é Tom Riddle, Dray, a memória adolescente que meu pai guardava no diário e que eu não faço idéia de como conseguiu sair dele.

- Na verdade – Tom sorriu – sua amiga me ajudou bastante.

- Mas por que, Tom? Ela é sangue-puro, Slytherin, e minha amiga!

- Eu sei, pequeno, e sinto muito. Mas ela apareceu no lugar e na hora certa, quando procurava um bracelete em seu baú e acabou encontrando meu diário. É uma menina espera, mas eu precisava dela para voltar.

- Voltar? Voltar para onde?

- Para cá, pequeno. Para este mundo que eu devo conquistar.

Harry deixou escapar uma risada histérica.

Aquilo era ridículo!

- Por Salazar! Meu pai já está a um passo de conquistar o mundo Tom, não há motivo para que você apareça!

- É verdade, minha realidade nesta época está quase dominando o Mundo Mágico, com você como herdeiro.

- Sim...

- Mas você pode ser muito mais do que meu herdeiro, Harry.

- O que? – arqueou uma sobrancelha.

- Você deve estar ao meu lado, seu imenso potencial não pode ser desperdiçado assim...

Draco estreitou os olhos. Aquele podia ser o futuro Senhor Obscuro, mas não estava gostando nem um pouco das horripilantes idéias que ele parecia ter em relação ao seu melhor amigo. E pelo visto, Harry também não parecia nem um pouco confortável com isso, pois revirou os olhos e replicou friamente:

- Não diga bobagens. Vamos, diga-me como fazer Pansy raciocinar.

- Ela não deve viver, pequeno – sorri com malícia, aproximando-se do lugar onde as jovens serpentes estavam – Sua morte me ajudará a voltar a vida.

- Mas...

- E assim nós dois, poderosos herdeiros, poderemos conquistar o que quisermos. O céu é o limite.

O pequeno Lord apenas o encarou fixamente e Draco disse o que os dois pensavam naquele momento:

- Ele está completamente louco.

- Sem dúvida... – murmurou.

As palavras de Draco, porém, não agradaram nem um pouco ao jovem Voldemort.

- Você deve ser o jovem Malfoy, não é mesmo?

- E se for?

- Afaste-se de Harry – estreita seus belos olhos castanho-amendoados.

- Quem você pensa que é para querer que as pessoas se afastem de mim, Tom? Primeiro deixa minha amiga a beira da morte, agora enxota o meu melhor amigo? Qual será o próximo passo, usar o Basilisco para nos atacar? Aprisionar-me numa torre ou coisa do tipo?

- Não me dê idéias, pequeno – sorri sinistramente.

- Você que deve se afastar do Harry, idiota – Draco o encarava com fúria – Vamos, devemos levar a Pansy para a enfermaria.

- Tem razão... – Harry suspira.

Os dois seguraram a menina, um de cada lado, cuidadosamente, e se prepararam para deixar a Câmara sob o atento olhar de Tom Riddle. Mas este não os deixaria sair assim tão fácil. Tinha grandes planos para Harry e não permitira que um irritante loiro oxigenado com o arrogante gene Malfoy o afastasse de seus objetivos.

- Venha... – sussurrou em Parsel e Harry arregalou os olhos.

Não pode ser!

Ele não se atreveria...

- Draco, deixe a Pansy aqui.

- O que?

- Rápido!

Na mesma hora o loiro obedeceu e eles recostaram a menina com cuidado, próximo a uma das pilastras. E quando Harry ouviu aquele conhecido trincar de roxas que indicava a saída do Basilisco, não pensou duas vezes e gritou:

- CORRE!

- Mas...

- Rápido, Dray!

O Basilisco estava vindo em sua direção; eles ouviram aquele corpo gigantesco deslizar pesadamente pelo chão empoeirado. Com os olhos ligeiramente cerrados, Harry e Draco corriam quase às cegas em direção aos corredores por entre as pilastras.

- Mate o acompanhante do herdeiro, o menino da linhagem sangue-pura Malfoy.

- Sim, mestre.

- Não! Volte para as profundezas... – Harry tentou contra-ordenar.

- Isso não irá ajudar, Harry – Tom sorria – Ele sabe quem é o herdeiro original e só obedecerá a mim.

- Tom! Pare com isso!

- É para o seu bem, pequeno, agora pare de correr e deixe nosso bichinho acabar com esse arrogante amiguinho seu.

Com a respiração agitada eles conseguiram se esconder atrás de uma das pilastras. Podiam ouvir claramente o gigantesco corpo do Basilisco deslizando pela Câmara, procurando-os, e naquele instante Harry desejou que Morgana estivesse com ele.

Tom queria matar seu melhor amigo.

Por quê?... Por que toda aquela loucura?

O que o futuro Lord das Trevas ganharia com isso?

- Morgana... – murmurou de olhos fechados, concentrando-se em chamar sua guardiã – Morgana, eu preciso de você.

- Harry... – Draco o encarava com preocupação. Não importava o que aquele louco pudesse dizer, jamais abandonaria seu melhor amigo. Jamais deixaria a pessoa que mais amava sozinha.

- Morgana...

Eles podiam ouvir o Basilisco deslizando, procurando-os com sua enorme língua bifurcada e seus olhos dourados que este ano se tornaram a perdição de muitos sagues-ruins em Hogwarts. Estava apenas a alguns passos, eles podiam sentir. Tom não conseguia vê-los, mas sabia que aquele irritante loiro que não deixava seu pequeno Harry em paz estava a um passo da morte. Logo seus planos estariam a caminho da perfeição. Logo as coisas seguiriam o curso que ele desejava, pois ninguém contradizia as palavras de Lord Voldemort, uma vez que este estipulava algo.

- Eu preciso de você, Morgana...

- Ele está se aproximando, Harry – os belos olhos acinzentados estavam fixos no amigo.

- Morgana...

- Ele está aqui!

- Morgana...

- O que vamos fazer?

Um grande estrondo indicava que o Basilisco acabara de arremeter contra a pilastra, obrigando-os a se jogar para o lado.

Haviam sido encontrados.

- HARRY! – o loiro se jogou contra o corpo do amigo, protegendo-o da fera bestial que se erguia em cima dos dois.

- Draco, não...!

O enorme réptil, considerado o rei das serpentes, investiu contra o corpo desprotegido do jovem Malfoy, que abraçou Harry com força, pois o protegeria de qualquer coisa. Mas antes que o herdeiro daquela aristocrática família desse adeus ao seu último alento em vida, uma gigantesca cobra interceptou o ataque do Basilisco, empurrando-o para longe. Harry deixou escapar um suspiro aliviado. Morgana... Estavam salvos.

Aquilo era no mínimo aterrador.

E irremediavelmente incrível.

Dois Basiliscos enfurecidos se enfrentavam em meio ao frio cenário da Câmara, diante de um assombrado Tom Riddle e aliviados Harry e Draco. A guardiã do pequeno Lord investia contra o outro réptil com fúria, pois não deixaria que nada ameaçasse a segurança de seu protegido. As presas, o ricochetear da cauda, seus poderosos corpos se chocavam um contra o outro com violência. Era uma briga ferrenha que não permitia sinal de fraqueza. Num instante, Morgana fincou suas enormes presas em um dos olhos do Basilisco e depois no outro, o que fez Harry estremecer ao ouvir o grito daquela cobra gigantesca. Era desumano, mas funcionara, pois aquele enorme corpo de repente se jogou contra o chão em meio a espasmos de dor.

- MALDITA COBRA! – a furiosa voz de Tom ecoou pela Câmara.

Enquanto o Basilisco de Salazar se contorcia no chão frio, Morgana voltou a sua forma original, uma bela Naja Negra, e se aproximou de seu amo com um ar preocupado:

- Amo! Amo, você está bem?

- Sim, Morg, obrigado – deu um pequeno sorriso ofegante.

Tom Riddle entrecerrou os olhos diante da cena. Uma metamorfocobra... Eram muito raras, mas, por sorte, Salazar possuía um poderoso feitiço para neutralizá-las. Assim, com uma expressão calculadora em seu belo rosto, Tom abaixou-se para apanhar a varinha que Pansy deixara cair ao lado do diário. E concentrando-se, murmurou o poderoso feitiço contra a bela cobra que se encontrava na frente de Harry:

- Comprehendo in Corpus Corporis.

A maldição em Parsel impactou em cheio em Morgana que logo se viu aprisionada por uma espécie de cordas invisíveis. Das quais era impossível se soltar e pior, impossível transmutar seu corpo.

- O que? Morgana!

- Amo... – ela murmurou enfraquecida, pois seu corpo parecia ter perdido todas as energias.

- Sua bela cobra não poderá ajudá-lo de novo, Harry. Agora seja um bom menino e venha se juntar ao papai.

Harry apenas apertou os punhos perante aquela maliciosa voz.

E como se não bastasse, para terror dos dois jovens Slytherins, o Basilisco de Salazar se reergueu, com os olhos ensangüentados, completamente cego, mas com suas forças recuperadas.

- Draco! Corre!

Na mesma hora os dois correram para o único lugar que aquele corredor lhes dava acesso, direto ao encontro da estátua de Salazar. Parecia loucura, mas era o único lugar para o qual poderiam correr. E assim começaram a escalar aquela imensa estrutura com o Basilisco logo ao seu encalço. Precisavam ganhar tempo, não sabiam o porquê, mas deviam cansar aquela fera antes que ela pudesse devorá-los, ou melhor, antes que ela devorasse um pobre Draco Malfoy que só conseguia pensar na segurança de seu melhor amigo.

- Desista, pequeno. Deixe que o Basilisco lanche este irritante garoto para que nós dois possamos sair daqui e seguir em direção ao nosso glorioso destino.

- Você está louco, Tom! Draco é meu melhor amigo e você sabe disso!

- Bobagem, ele apenas está atrapalhando o seu sucesso, o nosso sucesso, pequeno...

De repente, o sorriso de Tom morreu em seus lábios.

Ouviram uma música vinda de algum lugar. Tom se virou para percorrer com os olhos a câmara vazia. A música se tornava cada vez mais alta, até o rei das serpentes parara para escutá-la. Era misteriosa, de dar arrepios, sobrenatural; fez os cabelos de Harry ficarem em pé e o coração de Draco inchar em seu peito. Então a música atingiu tal volume que todos a sentiram vibrar dentro do peito, e chamas interromperam no alto da coluna mais próxima. Um pássaro vermelho do tamanho de um cisne apareceu, cantando aquela música estanha para a abóboda do teto. Tinha uma cauda dourada e faiscante, comprida como a de um pavão e garras douradas e reluzentes que seguravam alguma coisa brilhante.

Um segundo depois, o pássaro voava direto para Harry. Deixou cair em suas mãos o objeto que carregava. Quando fechou as asas, pousando a uma considerável distância, na barba de Salazar, Harry viu que tinha um bico dourado, longo e afiado e olhos redondos e escuros.

- O que essa maldita Fênix faz aqui? – Tom apertou os punhos com força e em seguida voltou-se ao Basilisco – O que está esperando? Ataque!

A enorme serpente voltou a atacar na direção de Draco, mas num ato totalmente impensado Harry se colocou na sua frente, arremetendo com o objeto que a Fênix deixara cair em suas mãos diretamente no céu da boca da cobra. Uma espada. A bela Fênix deixara cair uma belíssima espada de prata cravejada de rubis em sua mão e agora esta era enfiada até a bainha contra o céu da boca do Basilisco. Mas quando o sangue quente encharcou os braços de Harry, ele sentiu uma dor excruciante logo acima do cotovelo. Uma presa comprida e venenosa estava se enterrando cada vez mais fundo em seu braço e partiu quando o Basilisco tombou para o lado e caiu, estrebuchando no chão.

Harry então escorregou e caiu nos braços de Draco que o encarava com verdadeiro terror. Não... Harry não podia morrer assim... Não podia perdê-lo! Não!

- HARRY! – o assustado grito ecoou duas vezes, ao mesmo tempo, deixando os trêmulos lábios de Draco e de Tom.

Tom encarava a cena completamente em choque. Aquilo não podia estar acontecendo. Não era Harry quem deveria morrer, não, aquele pequeno precisava viver, precisava viver para estar ao seu lado e ajudá-lo em seus planos.

Draco Malfoy.

Este sim devia dar adeus a sua mísera vida.

Mas o loiro parecia completamente alheio aos pensamentos do futuro Lord Obscuro enquanto amparava um ofegante Harry, ajudando-o a descer da estátua.

- Por que, Harry? Por que você fez essa loucura?

- Eu sinto muito, Dray... – murmurou com uma expressão de dor em seu rosto.

- Não! Resista! Você não pode me deixar, por favor, Harry...

Draco depositou o trêmulo corpo do amigo aos pés de um aterrado Tom Riddle que observava o moreno com um misto de culpa e frustração.

- Isso é culpa sua! – Tom encarava o loiro com verdadeiro ódio.

- Minha? Você que fez esta besta nos atacar!

- Mas era para VOCÊ morrer!

Harry apenas cerrou os olhos, alheio a discussão dos dois, ao corpo cada vez mais gelado e sem vida de Pansy que morria pouco a pouco em meio àquelas pilastras e alheio a uma atenta Fênix que o observava de longe. Precisava falar com ele mais uma vez. Estava prestes a morrer e por uma bobagem. Mas não podia deixar de se despedir da pessoa que mais amava:

- "Papai?" – com a vista turva tentou abrir a conexão.

- "Harry? O que houve?" – a estranhada voz de seu pai ecoou em sua mente.

- "Eu sinto muito, não pensei que as coisas fossem acabar assim, desculpe-me... Por favor, desculpe-me..."

- "Harry! – a voz do Lord parecia realmente assustada – Onde você está?"

- "Na Câmara..."

- "O que?"

- "Na Câmara Secreta".

- "Mas... Como... O que você fez?"

- "Desculpe, papai".

E com essa última demanda de energia a conexão se fechou.

- Tudo por causa desse maldito diário... – Draco murmurou com ódio, sentindo silenciosas lágrimas deslizarem dos seus olhos. Harry, o seu Harry, estava morrendo por culpa daquele maldito diário.

O diário!

É claro...

De repente, Draco alcançou aquele maldito livro de capa negra, encarando-o fixamente.

- O que está fazendo? – a ausente voz de Tom o questionou, mas sua preocupação estava centrada em Harry, tanto que nem percebeu quando Draco segurou a presa do Basilisco que caíra ao lado de Harry e a fincou pela primeira vez no diário.

- O QUE? NÃO!

- Seu maldito... – murmurou com ódio enquanto fincava várias vezes a presa na desgastada capa negra. Um rio de tinta jorrou do diário, escorreu pelas mãos de Draco, inundou o chão. Tom se contorcia, gritando e se debatendo e então...

Desapareceu. A varinha de Pansy caiu no chão com um baque seco e em seguida fez-se silêncio. Silêncio, exceto pelo pinga-pinga da tinta que ainda escorria do diário. O veneno do Basilisco abria a fogo no livro. O veneno... Draco cerrou os olhos, com o coração apertado, ouvindo como a respiração de Harry ficava cada vez mais lenta e notando sua face ainda mais pálida. Então chegou aos seus ouvidos um gemido fraco vindo do lado de uma das pilastras. Pansy estava se mexendo. E quando abriu seus belos olhos negros e os enfocou em seus amigos, ela logo se sentou, e praticamente se arrastou até eles.

- O que?... O que aconteceu?... – sua voz tremia – Oh, Harry, eu não sabia o que fazer, comecei a folhear aquele livro e de repente não vi mais nada... Oh céus, o que aconteceu, Draco?

As lágrimas já banhavam livremente o aristocrático rosto do loiro.

- Muita coisa, Pansy. Muita coisa aconteceu.

- O Harry está...?

- Temo que sim.

Um desesperado soluço deixou os lábios da menina, mas antes que ela ou Draco pudessem debruçar e chorar sobre o corpo do amigo, a Fênix levantou vôo e chegou rapidamente ao lado de Harry. Por um interminável segundo ela encarou o pequeno corpo estirado no chão e em seguida, abaixou a cabeça em cima do braço ferido, deixando algumas lágrimas peroladas que brilhavam cair em cima do ferimento. Na mesma hora, já não havia mais ferimento.

- Lágrimas de Fênix, é claro... – Draco murmurou maravilhado.

Segundos depois, um par de brilhantes olhos esmeraldas se deixava contemplar mais uma vez.

- Harry! – Pansy gritou e se jogou em cima do amigo – Oh Merlin! Que bom!

- Hehe... Calma, Pansy, preciso respirar.

- Oh sim, desculpe.

Com um radiante sorriso ela se afastou. E o pequeno Lord esticou seus braços em direção a um aliviado Draco que permanecia com um lindo sorriso em seus lábios. Este não pensou duas vezes e logo rodeou seu amigo em um poderoso abraço. O simples pensamento de perder Harry levara uma parte de seu coração para as profundezas do Limbo.

Não podia viver sem ele.

Simplesmente não podia...

- Meu herói... – Harry murmurou em seu ouvido, com carinho, e em seguida, desmaiou. As energias completamente esgotadas por aquele intenso dia.

-x-

Quando Harry abriu seus belos olhos verdes mais uma vez já era de manhã e ele se encontrava no inconfundível cenário da enfermaria. Contudo, algo estava fora de lugar, notou, observando que ao seu lado se encontrava uma mesa abarrotada de guloseimas e embrulhos de presentes. Aquilo parecia à vista da mesa do café da manhã na Mansão Riddle em seus dias de aniversário ou alguma comemoração para sua pessoa. Era incrível, mas não conseguia entender porque ganhara tantos presentes. Num segundo estava na Câmara Secreta com uma presa de Basilisco enterrada em seu braço e agora acordava na enfermaria, rodeado de doces. Algo muito estranho estava acontecendo, com certeza.

- Você virou o pequeno herói deles.

Uma profunda voz o sobressaltou e logo Harry pousou seus olhos no elegante homem que cruzava as portas da enfermaria.

Tom Riddle...

Com uma expressão de poucos amigos em seu rosto.

- Papai? – murmurou inseguro.

- Harry.

- Sinto muito, eu não...

- Você quer me explicar o que aconteceu? – a voz fria cortou o menino.

- Sim – baixou a cabeça com um suspiro.

- Sou todo ouvidos.

Harry respirou fundo, observando o olhar severo do homem que se sentava ao seu lado.

- Eu encontrei o diário no seu closet antes de vir para Hogwarts e acabei trazendo ele para cá movido pela curiosidade. Eu queria saber mais do seu passado, papai, das coisas que você nunca me contou.

- Se eu não contei foi por alguma razão – replicou friamente.

- Eu sei. Mas mesmo assim, quando comecei a conversar com Tom, descobri coisas que nunca imaginei. Poxa, eu nunca poderia imaginar como sua vida fora infeliz naquele orfanato muggle, você apenas comentou por alto. Ou então descobrir que a vovó Mérope era um gênio nas poções apesar de sua baixa aptidão para os feitios. E até que seu primeiro encontro fora com uma Revenclaw dois anos mais velha.

Tom o encarava em silêncio, mas seu olhar se encontrava mais brando.

- Eu sinto muito, papai. Mas a possibilidade de conhecer você aos 16 anos e descobrir os detalhes do seu passado parecia maravilhoso de mais para eu deixar escapar.

- E por que você não me falou nada?

- Porque você me obrigaria a devolver o diário – respondeu como se fosse óbvio.

- Certo. Até aí eu posso entender, mas e os ataques Harry? Por que você começou com isso?

- Foi idéia sua...

Diante do olhar reprovador, Harry retificou:

- Bom, idéia de sua memória adolescente. Queríamos afastar o Dumbledore e conseguimos. Mas as coisas fugiram do controle.

- Deu para perceber.

- De repente ele quis voltar a este mundo matando a Pansy. Falou alguma coisa sobre governamos juntos. Foi muito estranho, mas o pior foi que ele incitou o Basilisco a atacar o Draco, por sorte a Morgana apareceu e... Céus! E a Morgana?

- Ela está bem. Eu desci à Câmara e a libertei, não se preocupe, foi apenas um feitiço que Salazar inventou para conter as metamorfocobras.

- Oh, entendi. E os sangues-ruins que haviam sido petrificados? – olhou ao redor notando que a enfermaria estava vazia.

- Eles tomaram a poção de mandrágoras e voltaram ao normal. Dumbledore também voltou à escola, já conversei com ele e este pequeno incidente será esquecido.

- Mas ele não falou nada, como por exemplo, a idéia de me expulsar?

- É claro que não. O velhote ainda não está tão louco, ele prefere que você esteja sob vigilância.

- Típico.

- O meio-gigante também será solto e agora metade de Hogwarts acha que você é um herói.

- E por que isso? – arqueou uma sobrancelha, olhando mais uma vez para a montanha de presentes ao seu lado.

- Porque correu o boato de que você, como herdeiro de Slytherin, desceu valentemente à Câmara quando soube que sua amiga fora seqüestrada pelo terrível monstro e o matou com suas próprias mãos usando a espada de Gryffindor...

- A espada de Gryffindor?

- Sim, Godric Gryffindor possuía esta espada que agora é sua, e que por sinal já deixei em seu quarto. Acredito que por este motivo, Fawkes, a Fênix de Dumbledore, levou a espada até você, pois ela ainda permanece leal aos descendentes dos fundadores quando estes se encontram em verdadeiro perigo.

- Interessante. Mas quem veio com este boato?

- Pergunte a Srta. Parkinson.

Harry sobressaltou como se acabasse de se lembrar de algo muito importante:

- Ela está bem? E o Draco? Eles estão bem?

- Sim, tenha calma. Com certeza estão ótimos.

- Que bom...

- A Srta. Parkinson já espalhou para Hogwarts inteira seus feitos heróicos e neste exato momento deve estar sob os cuidados do senhor Zabini que depois de saber do ocorrido não a deixou sozinha nem por um instante.

- Esses dois são impossíveis.

- E o senhor Malfoy e o senhor Nott, acredito, estão lançando algumas maldições nos alunos que tentaram enviar doces com Poções do Amor para você.

O menino corou imperceptivelmente e seu pai deixou escapar um pequeno sorriso. Harry logo correspondeu ao sorriso, e assim o Lord não agüentou muito tempo e logo puxou seu filho para um forte abraço.

- Sinto muito, papai.

- Seu inconseqüente irresponsável. Você ficará de castigo até terminar Hogwarts! Se soubesse como eu fiquei preocupado... – suspirou, abraçando-o mais forte – Nunca fui muito tolerante e minha imaturidade aos 16 anos poderia colocá-lo em perigo como realmente fez.

- Mas você era muito bonito, papai – piscou um olho de maneira cúmplice.

E o Lord, por sua vez, apenas revirou os olhos com um imperceptível sorriso.

- Era?

- Bom, ainda é, é claro.

Tom balançou a cabeça e logo o encarou seriamente.

- Apenas me prometa uma coisa, Harry. Nunca mais faça algo desse tipo. Nunca mais me esconda uma coisa dessas.

- Certo, eu prometo, papai.

Mais uma vez eles compartilharam um abraço apertado. Harry sorria aliviado por estar rodeado por aqueles braços que lhe transmitiam tanta segurança, nos quais sentia que nada poderia lhe fazer mal, pois seu pai o protegeria de tudo e de todos. E Tom sentia seu coração mais leve ao ver que a única pessoa que amava se encontrava a salvo e se prometia que nunca deixaria que machucassem o seu menino, mesmo que para isso precisasse destruir a si mesmo, ou uma de suas almas, no caso. Harry sempre seria mais importante que tudo. E agora, com o menino encolhido em seus braços se dava conta do por que: simplesmente, porque Harry era tudo para ele. Sempre seria.

- Papai... – o menino o chamou suavemente.

- Sim?

- Você estava falando sério quando disse que eu ficaria de castigo até completar Hogwarts?

- O que você acha?

- Humm...

Harry apenas suspirou, lamentando-se, pois ainda faltavam cinco anos para que terminasse os estudos. Bom, com sorte ele convenceria seu pai a abrandar aquela cruel pena. Sim, seria impossível que Tom resistisse aos seus olhinhos de gatinho abandonado, era só esperar o momento certo. Afinal, era uma serpente, uma serpente em pele de felino.

-x-

Dois majestosos animais corriam pelo bosque que rodeava a Mansão Riddle. Um belíssimo Puma Negro de olhos esmeraldas e cicatriz em forma de raio na testa brincava com um imponente Tigre Branco de olhos acinzentados. Corriam, pulavam, rodavam pelo límpido gramado trocando pequenas mordidas carinhosas e olhares divertidos. Pareciam dois filhotes trocando carícias. Harry Riddle e Draco Malfoy finalmente aproveitavam o final daquele ano letivo aproveitando as férias na mansão do Dark Lord. Pansy e Blaise haviam seguido para a casa de verão dos Parkinson na costa francesa, pois o terrível acidente acabara servindo para unir aqueles dois e para Pansy contar com o carinho de seu pai e de sua mãe, juntos e sem discussões pelo meio. Enquanto isso, Theo fora obrigado a acompanhar seu pai a algumas viagens de negócios, pois este desejava que o filho já começasse a aprender a controlar as riquezas geradas pelo império Nott. E assim, Draco e Harry se viam sozinhos na mansão aproveitando aquelas deliciosas férias em meio a jogos, passeios noturnos e diversas brincadeiras.

O lindo Puma ronronou graciosamente ao sentir o peso do Tigre sobre o seu corpo. Fora capturado. O Tigre lambia graciosamente sua face enquanto o pequeno Puma ronronava feliz. Uma cena digna de ser imortalizada. Seus olhos brilhavam de uma forma estranha, mágica, mágica como a aura que rodeava todo o lugar. Seus corpos felinos estavam juntos de mais, o belo Tigre sobrepunha sua força sobre o Puma, acariciando-o, e este se deixava mimar com um ar feliz, sabendo que aquilo era muito mais do que podiam desejar. Estavam juntos. E permaneceriam assim para sempre.

A luz da lua banhava seus corpos quando seus olhos se encontraram mais uma vez.

Verde e Cinza.

Brilhando...

...Com carinho.

...Com desejo.

...Com amor.

De repente, sem que eles se dessem conta, voltavam a suas formas originais, permanecendo imóveis na mesma posição. Draco sobre Harry, encarando fixamente aqueles olhos verdes que tanto adorava, aquela face ligeiramente infantil que contrastava com os convidativos lábios rosados. O moreno usava uma túnica leve, na cor verde-clara e com ligeiros bordados nas mangas compridas, era própria para dormir e oferecia uma imagem etérea, quase angelical ao pequeno Lord. Draco, enquanto isso, vestia uma ajustada calça negra e uma camisa de algodão, folgada como as antigas camisas medievais, na cor bege, que acentuava o apaixonado brilho de seus olhos acinzentados.

- Harry... – murmurou com os lábios a escassos centímetros dos de Harry – Eu...

- Sim...?

- Eu não sei como dizer isso, mas... – podiam sentir suas respirações se chocarem. Estavam próximos de mais. E não queriam se separar.

- Dizer o que? – cerrou os olhos, oferecendo inconscientemente seus lábios ao amigo.

E este não precisou de outro convite.

Sem pensar duas vezes, guiado pelo impulso do coração, Draco baixou o rosto, juntando seus lábios com aqueles que há tempos desejava provar. O tempo parou. Foi um segundo eterno, apenas saboreando a textura um dos lábios do outro, num roce inocente e carinhoso, próprio de quem deseja conhecer e fazer daquele momento eterno e inesquecível.

- Draco... – Harry murmurou com deleite. E foi o que o loiro precisou para aprofundar aquele beijo que tanto ansiara.

Abraçando a cintura de Harry, Draco aumentou a intensidade daquele casto beijo, aproveitando que o moreno passara os braços em volta de seu pescoço e abria os lábios, convidando-o a uma exploração mais profunda. Novamente, Draco não se fez rogar. E com todo o amor que sentia explorou cada pedacinho da boca de Harry, brincando com a língua travessa do moreno e deleitando-se com o sabor de chocolate e hortelã que, como um poderoso afrodisíaco, levava-o ao paraíso em meio aquele profundo beijo.

O paraíso.

Sim, Draco finalmente conhecera o paraíso.

Assim como Harry, que se sentia completo, pleno, como se não precisasse de mais nada para ser feliz. Apenas daqueles lábios que exploravam sua boca com desejo e carinho.

Contudo, após alguns eternos e divinos minutos, a irritante necessidade humana se vez presente e os dois precisaram romper aquele delicioso contato para sorver um pouco de ar. Afastaram-se apenas alguns centímetros, com os olhos fixos um no outro, olhos que agora brilhavam mais do que nunca, com amor, desejo e carinho. Um lindo sorriso logo se instalou nos lábios de Harry. Um sorriso que mostrava o quão maravilhado o menino estava. Um sorriso que na mesma hora foi correspondido por Draco.

- Eu te amo.

Harry o encarou fixamente e acreditou naquelas palavras.

Draco era um Malfoy e os Malfoy nunca mentiam em assuntos como estes.

O coração parecia a ponto de explodir em seu peito, porque também o amava, amava há muito tempo. Como se aquele amor sempre tivesse existido.

Eram amigos.

Agora enamorados.

E para sempre companheiros e irmãos.

- Eu também te amo – respondeu por fim, com um radiante sorriso, e logo seus lábios eram tomados mais uma vez. Reforçando o seu desejo de que aquele momento não acabasse jamais.

Há alguns metros dali, duas serpentes observavam a cena, e se as serpentes sorrissem, seria isso que elas estariam fazendo.

- Eu sempre soube que o jovem amo estava apaixonado pelo menino Malfoy – comentou a serpente com aparência de uma Naja Negra.

- Cale a boca, filhote de lagartixa, você não sabia de nada – a outra replicou – Mas fico feliz que esses dois tenham finalmente se entendido.

- Creio que o Lord não ficará muito contente.

- Ele não precisa saber.

- Mas...

- Não agora. Tudo ao seu tempo, quando você for sábia como eu, se dará conta dessas palavras.

- Claro... – revirou os olhos.

- Agora vamos, os pombinhos precisam de intimidade.

Assim, com a malícia brilhando em seus olhos, as duas serpentes se afastaram.

Harry e Draco finalmente assumiam o incontestável amor que existia entre os dois. E isso apenas indicava que as confusões estavam prestes a começar, em meio a beijos apaixonados e carícias, e é claro, bagunçariam suas vidas como nunca no próximo ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Muitas pessoas seriam contra os dois, algumas delas poderosas, mas isso não iria impedir que eles seguissem em frente, enfrentando-os, pois agora estavam juntos e não deixariam que nada mudasse aquela situação. O ciúme, as mentiras, a super-proteção... Estas seriam apenas algumas provações pelas quais o jovem casal deveria se sobrepor. Restavam a fé, a esperança e o amor. Não sabiam se conseguiriam, mas não deixariam de seguir adiante.

Enquanto isso, há vários quilômetros dali, na prisão dos bruxos: Azkaban, um enorme cão preto se encontrava em uma das celas, protegendo-se dos Dementadores. Somente assim, em sua forma animaga, conseguia conservar sua consciência e arquitetar um hábil plano para escapar daquele tenebroso lugar. Seu objetivo era apenas um:

Encontrar Harry Potter.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Vocabulário:

Comprehendo in Corpus Corporis – Uma tentativa de latim que significa: presa neste corpo.



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