O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 17
Capítulo 17




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Se os estudantes de Hogwarts soubessem como o pequeno Lord odiava ser alvo de seus olhares, com certeza, pensariam duas vezes antes de encarar o jovem mago de olhos verdes e cochichar sobre suas façanhas. Porque era exatamente isso o que estava acontecendo naquele momento, enquanto todos apreciavam o primeiro jantar que inaugurava o ano letivo no Salão Principal. Obviamente, já era de conhecimento geral que o herdeiro do Lord das Trevas expulsara um Dementador do trem com um poderoso feitiço, e é claro, centenas de boatos corriam a respeito. Alguns diziam que ele havia torturado o Dementador até a morte com a Maldição Cruciatus, outros afirmavam que ele usara um Avada Kedrava, e havia aqueles que afirmavam tê-lo ouvido falar a língua das serpentes para desintegrar o guarda de Azkaban. Não existia um que não comentasse a respeito, e aquilo apenas irritava o pequeno Lord, que lançava olhares ameaçadores a qualquer um que se atrevesse a acercá-lo para perguntar sobre o ocorrido.

- Não ligue para eles, Harryzito, sabe como adoram uma novidade.

- Eu sei, Pan – suspira, remexendo o canelone aos quatro queijos, intocado, em seu prato.

- Não suporto esses Dementadores.

- Não há quem suporte, Blaise, meu pai mesmo diz que eles são a escória.

- É... Mas você ouviu o velhote, eles ficarão aqui até acharem o Black.

- Ainda não sei o que ele viria fazer em Hogwarts.

- Ninguém sabe, Pan. Mas não há como ter certeza, não é mesmo?

- É verdade. Agora mudando para um assunto mais sério, vocês viram o novo professor? O tal Remus Lupin? – a menina indicou o docente com um ligeiro aceno e um olhar horrorizado – Céus, o que são aquelas vestes?

Harry deixou escapar um pequeno sorriso com as palavras de sua amiga. Com certeza, o pobre professor Lupin já contava com a desaprovação de uma de suas alunas.

- Essa escola está indo para o buraco – Draco revirou os olhos.

- Agora que você percebeu isso, Dragão?

- Ora, faça-me um favor Blaise, esse velho perdeu completamente o senso se ridículo. Colocar o meio-gigante como professor? Espere até meu pai saber disso...

- Você tem razão.

O loiro suspirou com irritação, mas ao lançar um olhar de esgueira para lindo moreno de olhos verdes sentado ao seu lado, não pôde deixar de sorrir e comentar:

- Ainda sim, excluindo essas atrocidades, tenho a sensação de que este será um ano maravilhoso.

- Nossa, você está de ótimo humor, Draquinho.

- Isso, minha querida Pan – Blaise sorriu com malícia – deve estar relacionado ao fato de o Nott não ter se juntado a nós para o jantar, não é mesmo, Dragão?

O sorriso superior nos lábios do loiro e o olhar triste que Harry lançou em direção ao final da mesa, onde Theodore Nott remexia seu jantar, completamente sozinho, foi o suficiente para Blaise saber que estava certo. O herdeiro da fortuna Nott, provavelmente, já estava inteirado sobre a relação dos dois. E agora, era questão de tempo para Hogwarts inteira saber que o pequeno Lord e o herdeiro da fortuna Malfoy estavam juntos, pois o anel que brilhava no dedo de Harry já atraía centenas de olhares indiscretos.

- Estou cansado – Harry murmurou antes da sobremesa. Estava cansado de todos aqueles olhares curiosos em sua direção e da indiferença de Theo, que permanecia em seu próprio mundo, com a frieza de sempre estampada em seu rosto.

- Então vamos para o quarto.

- Não, Dray, pode ficar que eu vou sozinho.

- De jeito nenhum – o loiro, na mesma hora, levantou-se pronto para segui-lo – Eu vou com você.

Harry, por sua vez, apenas suspirou e assentiu em silêncio. Por mais que gostasse de Theo, não deixaria sua relação com Draco se perder por causa disso. E com isso em mente, despediu-se de seus dois amigos para seguir às masmorras:

- Nos vemos depois, Blaise. E durma bem, Pan.

- Boa noite – responderam em coro.

Assim, aquele que em breve seria o casal mais famoso de Hogwarts seguiu para as masmorras sob os olhares intrigados da maioria dos estudantes e até de muitos professores, e sob o olhar de um estudante em especial, isolado em um canto da mesa Slytherin, que encarava o loiro com verdadeiro ódio e apertava os punhos embaixo da mesa. Mas ele estava certo de que aquela palhaça a qual presenciava não duraria muito tempo. Oh, sim... Em breve, Harry estaria ao seu lado, pois o loiro nunca poderia chegar aos pés do pequeno Lord.

-x-

- Alguém me responde por que estamos nesse lugar?

- É muito simples, Draquinho, o Harry achou que Adivinhação seria uma matéria interessante e como ele já está cansado de saber Runas Antigas, escolheu cursá-la. E eu concordo plenamente com ele, então você e Blaise estão aqui para nos fazer companhia, é claro.

- Certo. Agora me lembro.

Naquele exato momento, as quatro serpentes se encontravam na sala de aula mais esquisita que haviam visto. Esta era basicamente a mistura de um sótão com um salão de chá antigo. Havia, no mínimo, vinte mesinhas circulares juntadas ali, rodeadas por cadeiras forradas de chintz e pequenos pufes estufados. O ambiente era iluminado por uma fraca luz avermelhada; as cortinas às janelas estavam fechadas e os vários abajures, cobertos com xales vermelho-escuros. A lareira acesa sob um console cheio de objetos desprendia um perfume denso, enjoativo e doce ao aquecer uma grande chaleira de cobre. As prateleiras em torno das paredes circulares estavam cheias de penas empoeiradas, tocos de velas, baralhos de cartas em tiras, incontáveis bolas de cristal e uma imensa coleção de xícaras de chá.

- E onde está a professora? – Blaise murmurou entediado. Os quatro estavam sentados ao redor de uma das mesinhas, assim como os outros alunos.

- Ela já deve estar...

Mas antes que Harry pudesse continuar, uma voz saiu subitamente das sombras, uma voz suave, meio etérea:

- Sejam bem-vindos. Que bom ver vocês no mundo físico, finalmente.

E ao contemplar sua nova professora, a primeira coisa que Harry fez foi arquear uma sobrancelha, num puro sinal de desdém.

Afinal, o que era aquilo?...

Bom, a julgar pelo olhar incrédulo de Pansy e pelo ligeiro tic que a amiga estava em um dos olhos, uma das respostas corretas seria que aquela mulher era um verdadeiro crime contra o bom gosto e o bom senso. Ela usava uns ósculos imensos que aumentavam seus olhos várias vezes, o corpo era magro de mais, e ela vestia um xale diáfano, salpicado de lantejoulas baratas. Em volta do pescoço fino, usava inúmeras correntes e colares de contas, e seus braços e mãos estavam cobertos de pulseiras e anéis de quinta categoria.

- Bem-vindos à aula de Adivinhação – disse a professora, que se acomodava em uma poltrona vermelha à frente da lareira, derrubando metades das coisas que se encontrava em uma mesinha ao lado desta – Sou a professora Sibila Trelawney e vou introduzi-los ao maravilhoso mundo do tarô, das bolas de cristal e das borras de chá. Mas devo alertá-los logo de inicio que se não possuem clarividência, terei muito pouco a ensinar a vocês. Os livros só podem levá-los até certo ponto nesse campo...

Harry suspirou pesadamente. Com certeza, seu pai não iria gostar nem um pouco de saber que ele escolhera uma matéria inútil que, ainda por cima, era lecionada por uma maluca lunática. Mesmo assim, estava cansado de ver Runas Antigas, já as sabia de cor, e também não queria passar mais tempo junto à indiferença de Theo. Era muito doloroso ver seu amigo ignorá-lo ou lançar-lhe um olhar de pena misturado a ressentimento. Oh não, não ia tolerar isso.

- Agora quero que vocês formem pares – continuou Sibila – e peguem a xícara que está em frente ao amigo.

Draco revirou os olhos, achando aquilo uma imensa maluquice, mas mesmo assim pegou a xícara de Harry enquanto o namorado fazia a mesma coisa.

- Certo – disse Draco depois de abrirem os livros nas páginas cinco e seis – O que você está vendo na minha, mon amour?

- Bom... – murmurou com a face ligeiramente corada – Você tem uma espécie de cruz torta.

Consultando o livro "Esclarecendo o Futuro", Harry continuou:

- Isso significa que você vai ter sofrimento e provações... Err... Sinto muito, Dray... Mas tem uma coisa que pode ser o sol – franziu o cenho – Então você vai sofrer, mas vai ser muito feliz.

- Parece que sua visão interior precisa de óculos, Harry – disse Blaise, e as jovens serpentes não puderam conter o riso.

A professora então veio até eles.

- Deixe-me ver isso, querido – disse ela num tom de censura a Harry, que apenas lhe lançou um sorriso sarcástico e entregou a xícara. Todos se calaram para observar. E ela girou a xícara no sentido anti-horário.

- Então...? – Draco questionou com um sorriso torcido – O que há no meu futuro?

- O falcão... Meu querido, você tem um inimigo mortal.

- Mas todos sabem disso – Blaise declarou – Qualquer um já pôde ver ele o Nott tentando se matar pelos corredores.

- Muito bem. Sugiro que tome muito cuidado com esse tal Nott – ela advertiu num tom misterioso.

Os quatro reviraram os olhos. Aquilo era tão obvio.

- Agora me deixe ver a sua – pediu, olhando para Harry. E a contragosto Draco entregou a xícara de seu namorado para aquela maluca.

Ao observar a xícara, girando no sentido anti-horário, a professora ofegou e deu um berro. Ouviu-se então uma onda de porcelanas que se partiam; Neville Longbottom acabara de destruir sua xícara. Sibila, no entanto, sequer percebera o incidente, a mão faiscante de anéis apertando o xale contra o peito e os olhos fechados num claro sinal de pesar.

- Meu pobre garoto... Meu pobre garoto querido... Não... É mais caridoso não dizer... Não... Não me pergunte...

A maioria dos estudantes encarava a mulher com um misto de medo e curiosidade. Mas Harry apenas suspirou e perguntou com desdém:

- E agora, o que foi?

- Meu querido – os olhos da professora se abriram teatralmente – você tem o Sinistro.

Harry arqueou uma sobrancelha.

Tá e daí?

- O Sinistro, meu querido, o Sinistro! – exclamou Sibila, que parecia chocada com o fato de Harry estar tão indiferente àquilo – O cão gigantesco e espectral que assombra os cemitérios! Meu querido menino, é um mau agouro, o pior de todos, agouro de morte!

Todos, exceto os jovens Slytherins, deixaram escapar um gemido abafado de terror. Os olhares, obviamente, estavam fixos em Harry e variavam desde pena a satisfação com sua pobre sorte. Mas aquilo, ao contrário do esperado, fez o menino suspirar e levar uma mão às têmporas, para em seguida encarar a professora:

- Isso é ridículo.

- Desculpe-me querido, mas...

- Ou a senhora é muito ousada, ou muito tola, para tentar prever a minha morte. A minha morte. – o olhar frio fez a pobre mulher tremer.

A maioria estremeceu com o tom seguro e gélido do pequeno Lord. E seus amigos apenas sorriram internamente, sabendo que Harry estava aliviando as tensões com aquilo.

- Acho... Acho que vemos encerrar a aula por hoje – disse a professora no tom mais etéreo possível tentando esconder o nervosismo – É... Por favor, guardem suas coisas...

Assim, não demorou em todos deixarem a sala de aula, com o grupo das serpentes lançando um olhar de desdém à professora que, extremamente pálida, deixava-se cair na cadeira vermelha em frente à lareira. Pansy e Blaise trocavam comentários divertidos sobre as reações que os alunos tiveram ao ouvir a fria voz de Harry rebater a professora, e o pequeno Lord, por sua vez, caminhava em silêncio, deixando-se abraçar por Draco enquanto seguiam para o Salão Principal. No entanto, a imagem de um imenso cão negro não saía de sua cabeça. Vira-o em algum lugar. Um sonho, talvez? Bom, de qualquer forma, tinha a estranha certeza de que logo saberia.

-x-

A manhã seguinte não poderia ter começado melhor, Harry pensava com sarcasmo, enquanto seguia com seus amigos em direção àquela cabana caindo aos pedaços que o guarda-caça insistia em chamar de casa. A cara de nojo de sua amiga Pansy, o sorriso de desdém nos lábios de Blaise e as reclamações de Draco que acompanharam todo o caminho desde a saída das masmorras eram o suficiente para Harry saber que aquele seria um longo e desgastante dia.

O guarda-caça, por sua vez, já estava à espera dos alunos à porta da cabana. Vestia um casaco de pele de toupeira, com Canino, o cão de caçar javalis, nos calcanhares, e parecia impaciente para começar.

- Vamos, andem depressa! Tenho uma coisa ótima para vocês hoje! Vai ser uma grande aula! Estão todos aqui? Certo, então me acompanhem!

- Aposto que ele está nos levando para a Floresta Proibida – murmurou Blaise.

- Apostado – concordou Harry, segurando na mão do namorado e ignorando deliberadamente a presença de Theodore Nott logo atrás deles. Não ia mais se deixar deprimir pela atitude imatura do amigo, não mesmo.

Logo eles chegaram ao local esperado, que para grande pesar de Blaise não estava nem perto da obscura floresta que rodeava a escola. Após contornar uma orla de árvores e cinco minutos depois eles estavam diante de uma pastagem baixa que se assemelhava a uma espécie de picadeiro. Não havia nada ali.

- Todos se agrupem em volta dessa cerca! – mandou Hagrid – Isso... Procurem garantir uma boa visibilidade... Agora, a primeira coisa que vão precisar fazer é abrir os livros...

- Como? – perguntou uma voz ao fundo, que Harry reconheceu como a de Rony Weasley.

- Ora, é só fazer carinho nele, é claro.

Aquela resposta com um ar tão óbvio fez Harry revirar os olhos.

- Não há duvidas de que esta escola está indo para o buraco.

- Concordo plenamente, Dray.

- É melhor você se afastar dessa coisa – o loiro opinou, puxando o namorado para longe da cerca e aproveitando para abraçá-lo pelas costas. Aquela cena fez a grande maioria arregalar os olhos e começar a cochichar entre si. Mas para conservar sua paz de espírito, Harry decidiu ignorá-los e apoiou a cabeça no forte peito de Draco.

Contudo, o barulho de trotes de cavalo desviou a atenção dos estudantes de volta à cerca onde puderam contemplar a criatura mais esquisita que já viram na vida. Tinha o corpo, as pernas traseiras e a cauda de cavalo, mas as pernas dianteiras, as asas e a cabeça lembravam uma águia gigantesca, com um bico cruel cinza-metálico e enormes olhos laranja-vivo. As garras das pernas dianteiras tinham uns quinze centímetros de comprimento e um aspecto letal.

- Um hipogrifo... – Harry murmurou embelezado. Sempre quisera voar em um desses, mas por alguma estranha razão seu pai nunca permitira tal coisa.

- Lindo, não acham? – o meio-gigante perguntou alegremente – O nome dele é Bicuço.

Os alunos, é claro, estavam chocados de mais para dizer alguma coisa.

- A primeira coisa que vocês precisam saber sobre os hipogrifos é que são orgulhosos. Sim, eles se ofendem com facilidade, portanto, vocês nunca devem insultar um bicho desses, porque pode ser a última coisa que vão fazer na vida.

- "Interessante" – Harry pensou.

- Vocês sempre esperam o hipogrifo fazer o primeiro movimento – continuo Hagrid – É uma questão de cortesia, entendem? Vocês vão até eles, fazem uma reverência e aí esperam. Se o bicho retribuir o cumprimento, vocês podem tocar nele. Se não retribuir... Bom, depois pensamos nisso. Agora, quem quer ser o primeiro?

Em respostas, a maioria dos alunos se afastou da cerca. Apenas os Slytherins permaneceram em seus lugares, mas ainda sim, encaravam o animal com apreensão. Este balançava a cabeça de aspecto feroz e flexionava a fortes asas; não parecia gostar nem um pouco do público.

- Ninguém? – disse Hagrid, num tom suplicante.

- Eu vou.

- Harry! – exclamaram Draco e seus amigos, até Theo arregalou os olhos, sentindo a preocupação invadi-lo. Mas o pequeno Lord não deu ouvido a eles e muito menos se importou com o sorriso feliz do guarda-caça, ele queria apenas se aventurar naquele animal que sempre desejara conhecer de perto.

- É assim que se faz Harry...! – contudo, o olhar frio do menino silenciou o professor.

Após cruzar a cerca e ingressar naquela espécie de picadeiro, Harry fixou seus olhos no hipogrifo e se aproximou devagar.

- Isso... Com calma, Harry, agora faça a reverência.

O menino seguiu as instruções e se curvou com calma. O hipogrifo continuava a fixá-lo com altivez. Nem se mexeu. Pansy se assustou quando ouviu o amigo pisar num graveto e agarrou a mão de Blaise, que entrelaçou seus dedos, parecendo tão ou mais assustado. Draco e Theo compartilhavam o mesmo olhar inundado de preocupação e receio.

- Ah – exclamou Hagrid, parecendo preocupado – Certo... Recue agora, Harry, devagarzinho...

Mas nesse instante, para surpresa de todos, o hipogrifo inesperadamente dobrou os escamosos joelhos dianteiros e afundou o corpo em uma inconfundível reverência.

- Muito bem, Harry! – o professor aplaudiu, extasiado – Certo... Pode tocá-lo! Acaricie o bico dele, vamos!

Diante do olhar chocado dos estudantes, Harry se aproximou cautelosamente do animal e estendeu a mão. Acariciou seu bico várias vezes e o bicho fechou os olhos demoradamente, como se estivesse gostando. Sinceramente, não entendia por que seu pai rejeitava a idéia de lhe dar um hipogrifo, eles eram tão bonitinhos.

- Vamos, saia daí Harry – Draco murmurou preocupado.

Mas o sorriso malicioso nos lábios do pequeno Lord indicava que este não pensava em se afastar, muito pelo contrário:

- Posso montar nele?

- O QUE? – Theo e Draco gritaram, ao mesmo tempo, para depois trocarem um olhar assassino.

Mas a pergunta de Harry fez os olhos de Hagrid brilharem.

- Mas é claro! – um grande sorriso adornava o imenso rosto – Isso, suba logo atrás das articulações das asas. E cuidado para não arrancar nenhuma pena, ele não vai gostar nem um pouco...

Harry se acomodou em cima do bicho. Afinal, não era muito diferente de montar um unicórnio. E quando pensava em falar que estava pronto, o meio-gigante já dava uma palmada no hipogrifo fazendo este iniciar uma corrida veloz que fez os cabelos de Harry lhe estamparem a cara. Pansy soltou um grito de horror quando viu o amigo subir aos céus naquele animal. E todos os alunos pareciam receosos, alguns se lembrando das palavras da professora Trelawney e murmurando entre si sobre as poucas chances de o pequeno Lord sair vivo desta.

Mas era uma sensação única.

O jovem Slytherin sorria maravilhado enquanto sobrevoava os céus montado naquele majestoso animal. O vento batendo em seu rosto, a sensação de liberdade, como se fosse o dono do mundo, era algo que sempre estaria gravado em sua memória. Não se comparava nem com a Nimbus 2001 Aero Advance, que ganhara de seu padrinho no ano passado. Em alguns minutos divinos, Harry sobrevoou os arredores de Hogwarts, a Floresta Proibida e até mesmo o imenso Lago Negro, onde Bicuço deu um vôo rasante, molhando uma das patas e proporcionando a Harry a maravilhosa sensação de ver seu rosto refletido a escassos centímetros daquela água gelada e repleta de Sereianos.

Agora, o pequeno Lord sobrevoava a pastagem onde estavam os outros alunos, que olhavam para o céu, maravilhados, contemplado a destreza com a qual Harry se mantinha no animal.

- Incrível... – murmurou Theodore, absorvido pela beleza e naturalidade do jovem mago que deslizava habilmente pelos céus.

O comentário, contudo, foi ouvido por Draco que entrecerrou os olhos.

- Pode olhar, Nott, mas tenha em mente que ele nunca será para você.

- Como é?

- Você ouviu, perdedor, não chegue perto do Harry ou vai se arrepender.

- E quem fará com que eu me arrependa? – perguntou com malícia, fixando seus frios olhos azuis nos raivosos olhos do loiro – Um filhinho de papai que ainda nem deixou as fraldas feito você?

- Ora seu...!

A imagem de Harry voando acima das árvores passara a um segundo plano para os estudantes, sendo contemplada apenas por um maravilhado Hagrid, pois as atenções agora estavam centradas nos dois Slytherins que pareciam discutir pelo pequeno Lord.

- Parece que Malfoy está com o Harry, mas Nott não quer aceitar isso – murmurou uma Gryffindor para a amiga que concordou em silêncio, observando àquela que prometia ser uma grande briga.

- Os dois estão disputando o filho do Lord...

- Sim, o que será que você-sabe-quem acha disso?

- Com certeza não deve saber ou esses dois teriam problemas.

E assim os cochichos seguiram. Mas Theodore e Draco não davam a mínima atenção a isso, mais preocupados em apontar a varinha um ao outro, e trocar olhares ameaçadores.

- Estou avisando, fique longe dele!

- Quem é você, garoto mimado, para dizer o que eu devo ou não fazer?

- Oh, você saberá muito bem quem eu sou se ousar chegar perto do Harry outra vez.

- Veja como estou tremendo de medo – sorriu com desdém.

- É mesmo? Então experimente isso, ESTUPEFAÇA!

O grito de terror de algumas jovens se misturou ao raio vermelho que deixou a varinha de Draco. Por sorte, Theo se jogou para o lado e conseguiu desviar do feitiço. Hagrid, na mesma hora, despregou os olhos de Harry para encarar o alvoroço que se formava entre os alunos, ficando estático ao notar o que realmente se passava ali.

- O que é aquilo?... – murmurou Harry, curvando um pouco o corpo para indicar ao hipogrifo que deviam voltar ao chão. Surpreendentemente, o animal acatou a ordem e Harry pôde observar todo o escarcéu que acontecia em sua ausência.

Não.

Não era possível.

Eles não estavam...

Sim, eles estavam.

- Theo! – Harry gritou – Não, por favor!

Mas era tarde de mais. Theodore, com os olhos brilhando de fúria, levantou-se do chão e para horror dos espectadores, lançou um poderoso feitiço ofensivo em direção ao rival. E Draco não tivera tanta sorte, pois antes que pudesse conjurar um escudo protetor, a poderosa maldição obscura lhe atingiu em cheio o braço direito fazendo com que ele fosse jogado para trás em meio a gemidos e espasmos de dor. Era como se centenas de agulhas perfurassem sua pele.

- Para trás! Todos para trás! Eu sou o professor! – Hagrid se aproximou de Draco e notou como as vestes do menino se enchiam rapidamente de sangue.

- Por Merlin! Não pode ser!

- Acalme-se Pansy...

- Mas Blaise...!

- Onde? Onde ele está? – uma voz esbaforida abriu caminho em meio ao círculo que se aglomerava ao redor da cena. Um desesperado Harry, imediatamente, ajoelhou-se ao lado do namorado para comprovar seu estado.

- Parece que o senhor Malfoy não está nada bem.

- Oh, é mesmo? Como você notou isso, idiota? É preciso levá-lo imediatamente para a enfermaria!

- Sim, sim! É claro! Eu sou o professor!

- Ora, saia da minha frente! – Harry ordenou com verdadeiro ódio, lançando um rápido feitiço de levitação em Draco para guiá-lo cuidadosamente à enfermaria. Pansy e Blaise, é claro, não demoraram a seguir o pequeno Lord que deixava o pobre professor com as palavras na boca e os demais estudantes ainda chocados.

Afastando-se na direção oposta, mas sem deixar de observar os movimentos de Harry, o jovem herdeiro da fortuna Nott aproveitava aquele momento para sair silenciosamente do local antes que se visse em problemas sérios por culpa do loiro imbecil que naquele exato momento, para seu completo desgosto, recebia olhares cheios de preocupação de Harry enquanto era cuidadosamente levitado até a enfermaria. E como se não bastasse, Theodore sabia que Harry colocaria toda a culpa nele, mesmo alegando que fora provocado por Malfoy, o que oferecia o risco de o pequeno Lord nunca mais querer olhar em sua cara por ter lançado um feitiço no namoradinho inútil dele. Por Merlin, aquilo era um absurdo, aqueles dois não podiam estar juntos, Harry merecia alguém melhor... Alguém maduro, poderoso, inteligente. E não um filhinho de papai que sempre obteve tudo o que desejou e jamais conhecera o significado da palavra: sofrimento.

Não...

Harry não podia continuar com Malfoy.

Harry precisava de alguém como ele. E Theodore apenas esperava que o pequeno Lord percebesse isso logo, antes que o imbecil de Malfoy o fizesse sofrer. Oh, sim... Porque ele faria, não havia duvidas quanto a isso.

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- Eu vou matar aquele desgraçado!

- Calma, Dray, a Madame Pomfrey já aplicou a poção necessária...

- Mas quando eu puder usar os meus dois braços eu vou enforcá-lo até que seus olhos saltem das órbitas! – o loiro murmurava com ódio, vendo-se deitado em uma das camas da enfermaria, com Harry sentado em uma cadeira logo ao seu lado. Pansy e Blaise haviam descido para a aula de Poções para avisar ao Prof. Snape o motivo da ausência de seus dois melhores alunos, e como o pequeno Lord se recusou terminantemente a acompanhá-los, a enfermeira não teve outra opção senão deixá-lo ali e seguir para os seus afazeres.

Draco, nesse momento, encontrava-se devidamente medicado e para sua total indignação, com o braço direito imobilizado para que a poção em gel fizesse efeito mais rápido. Se pensamentos matassem, Theodore Nott seria apenas história agora, pois o jovem herdeiro da família Malfoy não parava de murmurar cheio de ódio diferentes formas de se vingar do rival. Harry havia convencido o namorado a não fazer queixa a Lucius ou ao diretor, pois não queria mais problemas, e garantiu que conversaria com Theodore depois para esclarecer que não queria absolutamente nada com ele, o que deixou Draco bem mais satisfeito. Contudo, o fato de não poder mover seu braço direito por uma semana – tempo em que deveria aplicar a poção de cura para não voltar a sentir os efeitos da poderosa maldição de Theo – estava deixando o pobre loiro à beira de um ataque de nervos. Por sorte, um belíssimo moreno de olhos verdes estava ao seu lado para acalmá-lo. Ou tentar, pelo menos.

- Você precisa se acalmar, Dray – Harry suspirava enquanto tentava fazer o namorado comer o delicioso salmão grelhado com risoto de palmito que um dos elfos havia deixado para ele.

- Eu não quero me acalmar! E não quero comer essa gororoba! O que eu quero é matar aquele filho da...

- Draco!

- O que?

- Por favor, nós já conversamos sobre isso. Agora diga "Ahhh", sim?

Uma sobrancelha arqueada, ao mais puro estilo Malfoy, foi o que Harry recebeu como resposta.

- Você precisa comer...

- Mas não quero que você me dê na boca feito uma criança.

- Não mesmo? – o sorrisinho malicioso do pequeno Lord pareceu fazer o loiro ponderar a questão.

- Bom...

- Vai me dizer que eu não sou uma ótima enfermeira? – Harry perguntou divertido, aproximando-se para lhe dar um selinho.

- Sim, pode ser... – suas bochechas estavam levemente vermelhas, pois a imagem de Harry vestindo um traje de enfermeira que uma vez vira numa revista imprópria de Blaise fez sua imaginação voar longe.

- Dray... Er... Não precisa imaginar, ok?

Antes da pálida face de Draco se tornar roxa de vergonha Harry uniu seus lábios num carinhoso e apaixonado beijo. O maior não demorou a agarrar-lhe a cintura, puxando-o para mais perto, e Harry se deixou levar, acariciando os belos cabelos louros que se espalhavam pelo travesseiro branco. O roçar de seus lábios, a excitante dança de suas línguas e o ligeiro contato de seus corpos fazia daquele momento algo mágico que precisou ser desfeito apenas pela terrível necessidade humana de oxigênio.

- Que tal um acordo? – Harry perguntou, com a respiração ainda agitada.

- Sou todo ouvidos.

- Bom, se você comer tudo eu lhe garanto alguns beijos, na frente de todo o colégio se quiser.

- Humm...

- Então, o que me diz?

- Apenas alguns?

Revirando os olhos, o pequeno Lord sorriu:

- Certo, certo... Quantos vocês quiser.

- Oh sim, agora você está negociando com um Malfoy.

- Você é impossível, Dray.

- E é por isso que você me ama.

- Sem dúvida.

Assim, com um lindo sorriso nos lábios, Harry deu toda a comida para o namorado. E entre brincadeiras, mimos e beijos cheios de carinho, eles passaram aquela temporada na enfermaria que por incrível que pareça, Draco não achou nada ruim.

-x-

Dois dias mais tarde, o braço de Draco melhorava consideravelmente e ele nem sentia mais os formigamentos, mas é claro que quando Harry perguntava, ele ainda fazia uma carinha de dó apenas para ser mimado pelo moreno e este, com um sorriso divertido, não deixava de agradar o namorado. Theodore não havia mais se aproximado deles e nem lançado os olhares mortais de costume desde uma conversa a sós que tivera com Harry, na qual o pequeno Lord, pela primeira vez, tratara o amigo com frieza deixando claro que não o perdoaria se voltasse a fazer mal a quem ele amava. Dessa forma, o jovem herdeiro da fortuna Nott permanecia recluso em seus livros, consolando-se com o pensamento de que Harry ainda se arrependeria de suas palavras e viria correndo aos seus braços. É claro que enquanto isso não acontecia, Theo precisava cerrar os punhos enquanto observava o belo casal trocar carícias no Salão Principal, como acontecia agora.

- Vamos Dray, você já pode tomar o café da manhã sozinho.

- Mas você me deixou mal acostumado – murmura como a criança mimada que sempre fora.

- Harryzito, viu o que fez?

- Eu sei, Pan.

- É, você criou um monstro, amigo.

- Nem me fale, Blaise.

- Hei! Eu ainda estou aqui...

Uma gritaria na mesa Gryffindor, contudo, interrompeu o protesto de Draco:

- ELE FOI VISTO! ELE FOI VISTO!

- Quem? – a sague-ruim-Granger perguntou.

- SIRIUS BLACK!

Aquilo pareceu despertar o interesse de Harry que logo se voltou a um novato do primeiro ano que segurava a nova edição do Profeta Diário:

- Posso ver? – perguntou com um sorriso.

- É-É claro!

Com as bochechas ardendo de tão vermelhas, o menino passou o jornal para as mãos do pequeno Lord, sob o olhar ameaçador de Draco. Harry, porém, nem prestou atenção naquilo e se pôs a ler:

Segundo fontes confiáveis, o prófugo de Azkaban, Sirius Black, foi visto em um povoado trouxa, mas conseguiu escapar antes que os Dementadores o pegassem.
Mais uma vez este conhecido assassino consegue burlar os temíveis guardas de Azkaban e por motivos misteriosos
parece estar se aproximando da conceituada Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde, no exato momento, centenas de Dementadores o esperam.
Black, contudo, parece ser especialista em esquivar deles e dessa forma, surge a pergunta:
Será mesmo que aquela escola está preparada para proteger seus alunos?
Será o diretor apto para garantir a paz e a justiça naquele lugar?
Bom, por enquanto é impossível se saber.
Esperamos apenas que Black não consiga efetivar seus planos.
Rita Skeeter – Profeta Diário.

- O que será que ele quer? – Pansy murmurou receosa.

- Não sei, Pan – Harry observava a foto do assassino: preso por várias correntes e gritando para a câmera. Uma imagem, no mínimo, desagradável de se ver.

- Melhor subirmos para a aula.

Após um leve suspiro, Harry concordou com o namorado e logo se colocaram a caminho da primeira aula de DCAO do ano.

Sirius Black...

- "Esse homem não tem nada haver comigo" – foi o último pensamento que Harry dirigiu ao herdeiro da nobre família Black antes se sair do Salão Principal acompanhado de seus amigos.

-x-

O Prof. Lupin não estava na sala de aula quando eles chegaram. Assim, os alunos se sentaram, tiraram das mochilas os livros, penas e pergaminhos e estavam conversando quando o professor finalmente apareceu. Lupin sorriu vagamente e colocou a velha maleta surrada na escrivaninha, arrancando uma pequena careta de Pansy. Estava mal vestido como sempre, mas parecia mais saudável do que no dia do trem, como se tivesse comido umas refeições reforçadas.

- Bom dia – cumprimentou ele – Por favor, guardem todos os livros de volta nas mochilas. Hoje teremos uma aula prática. Os senhores só vão precisar das varinhas.

Alguns alunos se entreolharam, curiosos, enquanto guardavam os livros. Nunca tinham tido uma aula prática de Defesa Contra as Artes Obscuras antes, a não ser que considerassem aquela aula inesquecível no ano anterior, em que o professor tinha trazido uma gaiola de diabretes e os soltara na sala. Esse novo professor, porém, parecia saber o que fazer. E Harry arqueou uma sobrancelha, interessado, enquanto fechava a mochila para aguardar o aconteceria a seguir.

- Certo, agora queiram afastar as carteiras para o canto da sala, vamos precisar desse espaço.

Harry e seus amigos notaram com desagrado como alguns alunos faziam aquilo da estúpida maneira muggle. Suspirando, eles apenas pegaram as varinhas e lançaram alguns Wingardium Leviosa e logo já garantiram um bom espaço no meio da sala.

- Isso, perfeito. Então formem grupos de cinco, por favor.

Pouco tempo depois, seis grupos se encontravam formados. Apenas o grupo de Harry contava com quatro integrantes e ironicamente Theodore Nott estava sem grupo. Assim, para completo desgosto de Draco, o pequeno Lord permitiu com um leve aceno de cabeça que o moreno de olhos azuis se juntasse a eles. Não queria mais aborrecimentos e discussões. Estava cansado disso.

- Muito bem, prestem atenção – com um sutil movimento de varinha, o professor fez seis armários grandes e com aspecto desgastado aparecerem no meio de cada grupo, para surpresa de muitos, os armários se debatiam e chacoalhavam de maneira quase assustadora.

Harry arregalou os olhos.

Aquilo não podia ser...

- Vocês sabem o que tem aí dentro?

- Um bicho-papão – o pequeno Lord sussurrou. Parecia maravilhado com a possibilidade de saber o que era aquilo que mais temia.

- Muito bem Harry, digo... Senhor Riddle – se corrigiu depressa – Bichos-papões gostam de lugares escuros e fechados como guarda-roupas, a parte debaixo das camas, os armários sob as pias... Esses seis eu consegui em algumas semanas, pois se escondem com facilidade em um lugar tão imenso quanto Hogwarts. Agora, a primeira pergunta que devemos nos fazer é, o que é um bicho-papão?

Hermione Granger levantou a mão. Mas Harry também. E convenhamos, não foi difícil saber quem o professor escolheu:

- Senhor Riddle.

- São transformistas – respondeu ele – Capazes de assumir a forma daquilo que mais tememos. Com isso, não se sabe qual é o formato original deles.

- Excelente. Eu mesmo não poderia ter dado uma definição melhor – desse Lupin, que parecia enxergar no menino uma cópia melhorada de Lily Potter. O sorrisinho auto-suficiente nos lábios de Harry, contudo, fez o professor voltar à realidade – Vejamos... Senhor Longbottom, venha aqui, por favor.

Um trêmulo Neville se aproximou do professor. Harry poderia jurar que o menino estava mais pálido do que um fantasma e apostava com Blaise quanto tempo ele demoraria a desmaiar ou sair correndo dali.

- Diga-nos, Neville, qual é a coisa que mais pode assustá-lo neste mundo?

Os lábios do menino se mexeram, mas não emitiram som algum.

- Não ouvi o que você disse, sinto muito – o professor sorriu, encorajando-o.

- Er... – Neville olhou para os olhados meio desesperado, como se suplicasse a alguém que o ajudasse.

- Então?

- O... O... Professor Snape – disse num sussurro quase inaudível.

Quase todo mundo riu. Até Harry se entregou às gargalhadas, acompanhado de Blaise e do sorrisinho divertido de Pansy. Neville sorriu como se pedisse desculpas.

- O Prof. Snape? – Lupin questionou pensativo – É, assusta todo mundo.

Sem dúvida, este novo professor crescera vários pontos no conceito de Harry. Competente, divertido e não gostava de Snape. Razões suficientes para o pequeno Lord simpatizar com ele.

- E você mora com sua avó, não é mesmo? – continuou Lupin.

- Sim, m-mas não quero que o bicho-papão se transforme nela.

- Não, não... – sorriu com calma – Quero que pense nas roupas que ela usa. Pode fazer isso? – o menino assentiu – Ótimo, agora preste atenção...

O professor se inclinou ligeiramente e sussurrou algo para o menino, que arregalou os olhos, mas assentiu. Segundos depois eles se colocavam em frente a um armário e Lupin se voltava aos demais alunos:

- O feitiço que repele um bicho-papão é simples, mas exige concentração. A coisa que realmente acaba com o bicho-papão é o riso. Então o que precisam fazer é forçá-lo a assumir uma forma que vocês achem engraçada. Entenderam?... Então repitam comigo, por favor... Riddikulus!

- Riddikulus! – repetiu a turma.

- Essa aula é que é ridícula – murmurou Draco.

- Não diga isso, Dray. Até que está bem interessante – Harry sorriu, observando com interesse o professor continuar.

- Posso abrir o armário, Neville?

- S-sim.

Após um simples balançar da varinha de Lupin, ouviu-se o "click" de uma fechadura sendo aberta e para terror de Neville a maçaneta do armário girou repentinamente. A turma inteira conteve a respiração. De repente, o guarda-roupa se abriu com violência. Com o nariz curvo e ameaçador, o Prof. Snape saiu, com os olhos negros faiscando de ódio para Neville. Na mesma hora, o pobre menino recuou, de varinha no ar, balbuciando silenciosamente. E Snape avançou para ele, apanhando alguma coisa dentro das vestes.

- Ri... Rid-Rid... Riddikulus!

Ouviu-se um ruído que lembrava o estalar de um chicote. Snape tropeçou; usava um vestido longo, verde-esmeralda, enfeitado de rendas e um imenso chapéu de bruxo com um urubu carcomido de traças no alto, e sacudia uma enorme bolsa vermelho-vivo. Houve uma explosão de risos; o bicho-papão parou, confuso, e o Prof. Lupin o mandou de volta para o armário com um balançar de varinha.

- Muito bem! Muito bem! Aqui, coma isto Neville, é chocolate. Certo... Agora os grupos devem seguir cada um para o seu armário e enfrentar o bicho-papão um a um. Estarei circulando pela sala para ajudá-los, caso precisem.

Logo a sala de aula se viu invadia por risadas e gritos de terror. Cada grupo concentrado de mais em seu próprio armário para perceber o que acontecia com o do outro. E o professor sorria, caminhando pela sala, observando como os jovens estudavam e se divertiam. Com o grupo do pequeno Lord, é claro, não acontecia diferente e a excitação com a possibilidade de descobrir seus maiores medos assolava a todos. Pansy, porém, foi a primeira e logo se colocou na frente do armário. Um leve assentimento da menina e Harry balançou a varinha, abrindo a porta para ela.

Uma silhueta conhecida se aproximou dela. Seu pai, com um olhar triste e as malas prontas do lado do corpo. A bela aliança de ouro já não brilhava mais em seu dedo.

Seus pais...

Separados.

E ele ia embora.

- Papai... – a menina murmurou com os olhos cheios d'água.

- Pansy! – Harry a chamou firmemente e a jovem Slytherin pareceu cair em si. Era só um bicho-papão.

- Riddikulus!

Logo seu pai estava de patins, como uma vez quando foram ao parque, e tentava se equilibrar inutilmente. Todos riram e o bicho-papão se mostrou confuso.

- Sua vez, B! – a menina sorriu radiante, dando lugar ao amigo.

Este revirou os olhos com o apelido, mas logo se concentrou no bicho-papão que mudava de forma rapidamente. Uma Venemous Tentácula foi o que apareceu. Uma espécie de planta carnívora super-desenvolvida, que tenta comer tudo que tem por perto, podendo envenenar ou engolir até um humano com seus tentáculos com terminações em bocas cheias de dentes venenosos. Imediatamente, Blaise empalideceu. Um passado não muito distante nublava sua mente, lembrando-lhe de cinco anos atrás, quando aos oitos anos de idade encontrara com uma dessas plantas em uma viagem que havia feito com seus pais.

Fora um trauma inesquecível.

Na época, a planta lhe agarrou as pernas e estava prestes a engoli-lo. O pequeno Blaise podia até ver seus enormes dentes, sentindo o asfixiante aroma de pólen invadir suas narinas. Foi o pior momento de sua vida. Mas, por sorte, sua mãe apareceu e desgarrou a planta com um furioso feitiço, deixando apenas aquele horrível momento gravado na mente do menino.

- Blaise...! – ouviu o grito de Pansy – Raciocina! É só um bicho-papão.

- Um bicho-papão... – murmurou. É claro, estavam na aula de DCAO, aquilo era apenas um bicho-papão – Riddikulus!

A enorme planta, na mesma hora, passou a ser atacada por centenas de pássaros coloridos que a deixaram num estado ornamental, pronta para ser guardada num vasinho de flores. Assim, os risos não demoraram a surgir.

- Pronto, Dragão? É sua vez – menino sorriu, deixando Draco se adiantar ao bicho-papão.

- Hum... – com uma leve careta de desdém, Draco encarou a pequena plantinha que rapidamente adquiria outra forma.

Harry arqueou uma sobrancelha quando viu o bicho-papão adquirir a sua forma. E todos pareciam tão surpresos quanto ele, que achou realmente estranho observar a si mesmo parado adiante. Para horror de Draco, o Harry que acabara de aparecer o encarou com verdadeiro desprezo, um desprezo imenso e impregnado de ódio, e diante do olhar incrédulo dos jovens Slytherins – e do disfarçado sorriso de Theo – arrancou o belo anel de esmeraldas e diamantes que adornava seu dedo e o jogou no chão com um baque mudo.

Uma exclamação chocada deixou os lábios do loiro. E Harry se sentiu ao mesmo tempo, lisonjeado e assustado com aquilo.

Então o que Draco mais temia era que se separassem?

Não.

Não foi aquilo que deixou o loiro chocado, mas sim o olhar impregnado de ódio e desprezo que seu amado lhe lançava.

Não... Aquilo não podia ser real.

- Draco... – Harry chamou suavemente e o aludido pareceu despertar.

O seu Harry estava ali. Encarando-o com carinho e amor, como sempre o fazia, aquele era apenas um impostor.

- Riddikulus!

Logo o Harry falso vestia um lindo tutu rosa e parecia tentar dançar balé. O que arrancou gargalhadas divertidas de seus amigos.

- Hei! Só o Snape fica bem de mulher, eu não! – murmurou indignado, suas bochechas estavam vermelhas de vergonha.

O Prof. Lupin, que passava ao lado deles, não pôde conter um sorriso.

- Nott – Draco deu a vez, encarando-o com desdém.

- Malfoy – replicou no mesmo tom. E quando Theo se aproximou do bicho-papão, este voltou a tomar a forma de Harry, o que estranhou a todos novamente.

Contudo, uma imagem aterradora fez com que todos deixassem uma exclamação de terror escapar. Theodore Nott, pela primeira vez, deixou sua máscara de frieza cair em meio à sala de aula. Seus olhos arregalados e repletos de medo observavam como o Harry que acabara de aparecer começava sangrar na região do ventre.

Não...

Não podia ser verdade...

Não podia estar revivendo aquela cena. Uma cena que contemplara aos cinco anos de idade, no dia em que sua mãe falecera, devido a um aborto espontâneo, diante de seus olhos.

- Theo... – o verdadeiro Harry murmurou com pena, desviando os olhos para não ver a si mesmo cair no chão, com uma poça de sangue se formando embaixo do seu corpo. Ele sabia o que acontecera com a mãe de seu amigo e não pôde conter as lágrimas ao ver que o medo deste era que a cena se repetisse com alguém que amasse de verdade. Como um dia amara sua mãe.

Theodore não conseguiu reagir. Estava em choque. Uma silenciosa lágrima deixou seus olhos e ao ver aquilo, Harry não pensou duas vezes, colocou-se na frente do amigo.

Na mesma hora o bicho-papão mudou de forma.

E Harry arregalou os olhos ao observar aquele que era o seu maior medo. Tom Riddle, o seu pai, encontrava-se diante dos seus olhos com suas elegantes vestes negras manchadas de sangue. Seu pai caíra de joelhos, impotente, ensangüentado, com cortes por todo o corpo, sinais de maldições que o atingira e com uma expressão de dor e decepção brilhando nos apagados olhos escarlates. Estava morrendo. Seu pai estava morrendo e ele não podia fazer nada.

- NÃO!

O grito desesperado assustou a todos.

Imediatamente, Lupin se aproximou do grupo das serpentes e sentiu o coração falhar uma batida ao observar qual era o maior medo de Harry, o maior medo do único filho de seus melhores amigos. Harry temia a morte do Lord das Trevas. Harry temia que Tom Riddle morresse e o deixasse sozinho. Harry temia a perda do homem que assassinara sua família, e que agora era a única pessoa com a qual o menino podia contar nesse mundo.

- Aqui! – gritou o professor, colocando-se na frente de Harry.

A imagem de Tom Riddle deu lugar a um globo branco-prateado, uma lua-cheia, que Lupin repeliu quase descansadamente com um poderoso Riddikulus, mandando o bicho-papão de volta ao armário, no qual o trancou novamente.

- Por hoje é só – comunicou ele.

- Ahhhh... – protestaram os alunos.

- Sim, infelizmente o que é bom dura pouco. Por favor, peguem suas coisas no fundo da sala.

Lentamente os alunos foram se afastando, Harry havia se levantado do chão – pois caíra de joelhos ao observar a imagem de seu pai – sendo ajudado por Draco e limpava as lágrimas com um lencinho de seda que Pansy lhe oferecera. Seus amigos o encaravam com verdadeira preocupação e murmuravam palavras de consolo, dizendo que o Lord era indestrutível e que sempre estaria com ele. Até Theo havia se aproximado do amigo e o abraçara com os outros, ele e Draco sabiam o que era prioridade.

- Harry – o professor o chamou suavemente – Aqui, coma isto, vai fazer bem.

- Obrigado – deu uma mordida no chocolate. E assim, o grupo das serpentes seguiu para a saída da sala sob o atento e preocupado olhar de Lupin.

Antes de sair, Harry encarou o novo professor e deu um pequeno sorriso:

- Finalmente essa espelunca pode contar com um bom professor – e sem dizer mais nada, deixou-se guiar por seus amigos para fora da sala.

Remus, quando se viu finalmente sozinho, sentiu seus olhos se encherem d'água. Por mais ligado que Harry estivesse a Voldemort, ainda conservava uma bondade que conhecera apenas em Lily. Aquele menino era feliz e por mais que doesse admitir, parecia amar o seu pai, o homem que havia destruído sua família. E enquanto seguia para sua sala, as palavras que lera mais cedo no Profeta Diário assaltavam a mente do professor. O que Sirius acharia disso? Teria o animago realmente ajudado o Lord a entrar na casa dos Potter?... A dúvida o assombrava desde que ficara sabendo da fuga daquele que um dia fora seu melhor amigo. E não podia parar de se perguntar: o que Sirius Black buscava? Quem ele era de verdade? Estava do lado do Lord? Ou ainda era leal aos Potter?

Eram tantas perguntas.

Que pelo menos por enquanto, não teriam nenhuma resposta.

Por enquanto, é claro...

Continua...


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