Enquanto ele rodeava a mesa ela se sentia mais e mais perdida.

O olhar descrente do homem era também um olhar de reconhecimento e espanto, e a prendia ali a despeito de sua vontade de fugir correndo.

O coração de Bella disparou com a percepção da aproximação dele.

Ouviu a colega falar alguma coisa, mas sua voz estava distante e abafada pelo zumbido vertiginoso que ensurdecia seus ouvidos. Ela sentia que poderia desmaiar a qualquer momento, os sintomas já a alertavam.

Respirou devagar mais uma, duas, três vezes, querendo que aquilo fosse um pesadelo do qual ela logo iria acordar.

Parada na frente de seu novo chefe, Bella não poderia estar mais incrédula. A vida era realmente irônica com ela.

Se perguntou intimamente: Como eu vim parar aqui?

De repente voltou onze anos no tempo, em um dia especialmente doloroso de seu penúltimo ano do segundo grau.

- Eu te amo... Me perdoe. – A voz do rapaz soava desesperada.

- Eu não preciso te perdoar... – Ela falou com a voz fria, afiada como uma faca – Eu fui a estúpida. Eu deveria saber desde o começo. Eu não podia esperar nada diferente de você.

- Me deixe explicar, por favor... – Ele implorou, o olhar marejado.

- Nada do que você me diga vai mudar o que aconteceu... Ou como me sinto agora.

O rapaz, percebendo seu tom impassível, agitou-se internamente, antecipando o final daquilo. A observou calado, em franca agonia, enquanto ela despejava as palavras que ele desejara jamais ouvir.

- Adeus... Até nunca mais.

- Isabella? – A voz surpresa de seu superior a laçou de volta ao presente.

Bella respirou fundo, ignorando a dor antiga que lhe rasgava o peito, e forçou seu melhor sorriso simpático ao homem magnifico que estava em sua frente.

- Vocês já se conhecem? – Perguntou Graice.

A curiosidade da mulher era pertinente, mas ela estava alheia ao fato de ter em sua frente, mais do que remotos conhecidos numa situação de coincidência.

Ela ignorava que ali em sua frente, estava um homem e uma mulher que compartilharam, não apenas momentos íntimos, mas um amor imensurável que acabara em ressentimento e dor.

- Sim. – Edward falou com a voz pastosa, sem desviar o olhar de Bella – Somos naturais da mesma cidade. Estudamos na mesma escola...

- Mas que mundo pequeno, não? – Bella o interrompeu num tom superficial, receosa de que ele falasse demais.

- Que ótimo! – Graice felicitou-se – Isso é muito conveniente. Será então muito mais fácil trabalharem juntos.

Bella estremeceu por dentro.

Não. Aquilo não seria nada fácil. Seria a tarefa mais difícil da vida dela, depois daquela despedida.

Mas ela não cederia aos caprichos do destino. Se manteria firme em seus propósitos e seria a excelente profissional que sempre foi. E somente isso.

Será bom, de certa forma... Quem sabe assim eu expurgo esse fantasma da minha vida e consigo ser feliz com o Jake? Pensou ela.

- Bom, eu devo deixa-los agora. Preciso voltar ao meu setor e providenciar sua secretária. – Graice falou se voltando para Bella, que agora mirava fixamente o fundo da sala atrás de Edward.

- Ela estará em boas mãos. – Ele falou num tom divertido.

- Se precisar de mim, Bella, meu ramal é sete zero oito.

- Obrigada por tudo, Graice.

- Imagina. Não há de que.

Ambos permaneceram tensionados nas posições em que estavam.

A porta se fechou com um clique, e a atmosfera que cingiu o ambiente foi aterradora.

Bella se sentiu oprimida instantaneamente, e teria desistido de lutar contra a vontade de fugir se Edward não tivesse finalmente quebrado o silêncio.

- Eu nunca imaginaria que nosso reencontro aconteceria aqui. – Murmurou como se falasse consigo mesmo, a boca mal se movendo – Nem que você ressurgisse em minha vida como minha funcionária.

A garganta de Bella travou desconfortavelmente. Ela poderia responder àquilo com alguns impropérios. Mas ele agora era seu chefe, seu superior, e ela devia respeito a ele.

Engoliu em seco quando a possibilidade de abrir mão daquele cargo, daquele emprego, flutuou em sua mente.

Ela batalhara toda a sua vida por aquela oportunidade. Um cargo importante em sua área. Uma responsabilidade que honraria seus oito o anos de estudos, sacrifícios e dedicação, primeiro na universidade e depois em especializações no exterior. Era seu sonho, sua realização profissional que estava em jogo.

Obviamente ela ainda tinha um grande caminho a percorrer na vida, e sua competência profissional era notória e notada pelos colegas e empresários do setor. Ela facilmente conseguiria outra colocação tão boa quanto.

Mas não numa empresa tão conceituada como a CULDEN SA.

Pigarreou baixo e firmou seu olhar no de Edward.

- Eu sou uma profissional. – Falou com seriedade – Estou aqui para desenvolver o trabalho que me for designado. E garanto ao senhor que o farei com competência.

Edward se encostou na mesa, apoiando suas mãos na beirada. Parecia ainda mais surpreso.

- Você não precisa ser formal comigo, Bella. Sou seu chefe, mas nós não podemos fingir que nos conhecemos agora. – Falou estreitando os olhos.

Bella suspirou e mordeu o lábio. Ele parecia querer dificultar ainda mais as coisas.

- Eu respeitarei as formalidades da hierarquia, senhor Cullen. E prefiro que o senhor assim o faça também. O que houve no passado, é passado. Não interferirá nem influenciará no meu trabalho aqui.

Ele pareceu ponderar por alguns instantes e depois seu olhar caiu ao chão.

- Como preferir. – Falou sem encara-la – Gostaria que a chamasse de Isabella, então?

- Senhorita Swan é mais apropriado. – Bella disse ligeiramente constrangida.

Parecia mais que ela era o chefe e ele o submisso funcionário.

Ele ainda não a encarava. Mantinha um silêncio incômodo enquanto parecia raciocinar sobre algo.

- Bom, então vamos ao trabalho. – Disse erguendo o rosto sem fita-la, encaminhando-se para sua cadeira – hoje é seu primeiro dia, mas já tenho algumas incumbências a lhe passar.

- Estou à disposição.

- Sente-se.

Bella sentou-se na cadeira negra que ficava de frente para ele.

Enquanto Edward encarava os papéis em sua mesa, Bella torcia as mãos, aflita.

- Em vinte e quatro horas acontecerá uma reunião importantíssima para o futuro da empresa. Um novo cliente, uma grande distribuidora europeia sediada em Londres, deseja trabalhar com nossos produtos.

Ela assentiu, o olhar firme no rosto dele.

- Você deveria começar a dois dias atrás, mas fui informado pela senhorita Dallas que seria impossível, já que seu contrato com a MISUN encerraria apenas ontem, no final do expediente. Infelizmente, devido a isto, lhe restou pouco tempo para os preparativos.

Ela não entendeu onde ele queria chegar, mas manteve-se atenta.

- Apesar de estar um pouco em cima da hora, tenho ciência de que possui um passaporte em vigência, já que é exigido para contratação de nossos funcionários de alto posto.

Seu coração se apertou à medida que o caminho trilhado pelas palavras dele era iluminado pelo seu entendimento.

- Então eu sugiro que a senhorita solicite ao setor de documentação, o mais rápido possível, os portfólios da L’AUBE Distributeur, para que fique inteirada sobre o cliente, e em seguida corra com os preparativos para a viagem. O vôo está programado para as dezoito horas. Não podemos atrasar e correr o risco de perder nossa autorização de decolagem.

Bella sentiu seu queixo cair e sua boca se abrir com um estalo audível.

- Como? – Perguntou visivelmente confusa.

- Você irá comigo. – Edward falou exigente – É uma nova conta que iremos abrir, e você é a responsável por todas as contas dessa empresa agora.

Bella se preparou para argumentar, mas rapidamente lembrou-se de Graice falando na entrevista que fizera há dois meses.

- Você tem disponibilidade para viajar?

- Sim, claro.

- Mesmo viagens de última hora? Pode ocorrer a necessidade de uma reunião de emergência com algum de nossos clientes, e a maioria deles são sediados em outros países.

- Sem problemas.

Bella engoliu, um a um, seus argumentos. Ela sabia que isso poderia acontecer. Obviamente não tão depressa, mas isso fazia parte de seus encargos como gerente de contas.

Levantou-se resignada.

- Ok. Vou providenciar agora mesmo os documentos sobre o cliente e me organizar para a partida.

- Ótimo. – Edward falou mecanicamente e virou-se para a janela de vidro que se estendia ao longo de toda a parede sul da sala.

Bella deu dois passos e estacou com uma dúvida boba, mas coerente.

- Minhas passagens já foram providenciadas, eu suponho... – Incitou.

Edward virou-se para ela com um sorriso torto nos lábios. Seu olhar era divertido. Bella quase não se sustentou em pé quando aquela imagem a alcançou.

- Não é necessário providenciar passagens. – Seu tom era indulgente – Vamos no avião particular da empresa.

Bella estremeceu novamente.

Seis horas e cinquenta minutos dentro de um avião com Edward, e só com ele. Sem chance de fuga.

Como dizem, a esperança é a última que morre.

- Mais alguém nos acompanhará?

- Não. – Falou categórico – Na verdade você iria sozinha se o contrato já estivesse fechado. Como as negociações ainda não terminaram, minha presença é necessária.

- Tudo bem. – Respondeu tensa.

- Mais alguma coisa? – Perguntou ele, subitamente formal.

- Não. Com licença.

Bella controlou seus passos para não voar até sua sala.

Lá chegando, sentou-se no sofá posicionado ao canto e pressionou a mão no peito.

Estava hiperventilando.

Era muita coisa para um dia só.

Mas ela era uma profissional. E das competentes.

Não se deixaria abater.

Levantou decidida do sofá elegante e marchou até o telefone disposto em sua mesa para providenciar os registros do cliente.