Muito além do Desejo escrita por LoaEstivallet


Capítulo 4
Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Galera,
foi mal a demora, mas eu fiquei sem net a semana passada, e essa semana minha caçula ficou dodói e eu não tive tempo de postar.
Mas ai está, novo cap.
Beijos



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Edward Cullen se espreguiçou na cama king size, sorrindo e ainda de olhos fechados, forçando-se a esquecer por alguns instantes de quem realmente estava ao seu lado.

Suas mãos se enroscaram delicadamente no cabelo de sua companheira, enquanto ele se apertava a ela, ainda preso àquela ilusão.

O sonho, mais uma vez, fora muito real.

Ele havia vivido uma outra vida nele, e sua esposa agora era aquela a quem ele amava, a quem nunca havia esquecido, cujo perfume ainda sentia impregnado em cada pedaço de seu corpo, cuja a imagem do rosto o perseguia e atormentava todas as noites quando ele fechava os olhos ao adormecer.

Passou a mão pelas curvas sinuosas da mulher que agora o abraçava com volúpia.

Por pouco não abriu os olhos quando ela atacou seu pescoço, subindo nele com a agilidade de uma gata. Isso acabaria com a fantasia.

Apertou fortemente as pálpebras, prendendo ali o reflexo da pessoa que desejava para si.

Ignorou os gemidos que ecoavam em seu ouvido. Aquela não era a voz que ele almejava ouvir. Apenas se permitiu recordar o som que o excitava por cima daquele que o desestimularia.

A mulher enfiou a mão por dentro de suas calças de moletom, arfando em satisfação ao encontrar o que queria.

Mas ela cometera um erro, uma falha gravíssima. Ao menos para o bem dele.

- Edward... – Ela sussurrou.

E a figura maravilhosa que ele atrelava fortemente em seus pensamentos, desvaneceu de imediato.

O homem ainda tentou, em vão, permanecer pronto para atender às expectativas da esposa.   Mas a decepção funcionara como uma queda brusca e violenta de grande altura. Fora rápida e definitiva.

Ele abriu os olhos com desgosto, fitando a belíssima mulher que o olhava inconformada.

- O que houve, meu bem? – Perguntou Tânia carinhosamente.

Edward suspirou e a deslizou para longe de seu corpo com o máximo de delicadeza possível. Sua esposa, dedicada e amorosa, não merecia aquilo.

Mas era inevitável.

Mesmo depois de onze anos, Edward ainda desejava a mesma mulher.

Isso não o havia atrapalhado durante todo esse tempo. Até agora.

Com pesar ele relembrou, num átimo, sua trajetória emocional até ali.

No inicio ele continuara sua vida com muita dificuldade, mas fora persistente, e alguns meses depois de ter seu coração despedaçado já estava engatado a várias outras mulheres, esbanjando-se no sexo desenfreado e sem compromisso, buscando o alívio que nunca vinha.

Tânia esteve sempre ao seu lado, compreensiva, companheira, sua amiga de infância, a melhor amiga. Acreditava piamente que se não fosse por ela, teria se entregado ao seu suplicio e estaria na sarjeta.

Por tudo que ela fizera por ele, por tê-lo erguido do poço sem fundo em que ainda se encontrava dois anos depois daquele incidente infeliz, pela confiança e bom relacionamento que mantinham, principiou um romance com a moça, o que muito agradou ambas as famílias, sócias na multinacional mais bem conceituada do ramo de cosméticos dos Estados Unidos.

O relacionamento tornou-se sério, e Edward sentia-se seguro ao lado da namorada, apesar de não nutrir sentimentos mais fortes por ela.

Quatro anos de um relacionamento fácil e conveniente então evoluíram para o compromisso e, apenas seis meses depois, ao casamento.

Já eram cinco anos de matrimônio. E ele, ainda assim, era torturado pelas lembranças.

Nem mesmo a mulher suave e elegante com quem partilhava sua vida era capaz de abrandar aquele sentimento.

E no momento tudo estava pior, mais acentuado.

Desde que Graice, sua grande amiga e confidente desde a época de faculdade, mencionou, numa conferência corriqueira, o sobrenome da candidata ao cargo de gerência de contas há pouco mais de um mês, ele não conseguia se relacionar intimamente com a esposa de uma maneira satisfatória, e os sonhos com a sua “menina” (como ele costumava chama-la num passado distante), que nunca cessaram, estavam cada vez mais reais.

Tivera medo de perguntar o primeiro nome da moça à amiga, não tinha certeza se estava preparado para confirmar a suspeita que se instalou em sua mente e coração. Mas isto o estava corroendo por dentro, minando sua tranquilidade tão arduamente adquirida.

Ele ainda permanecia sentado à borda da cama, o rosto entre as mãos como que para esconder seu desespero.

- Edward... – A voz da companheira soou atrás dele, enquanto sua mão deslizava por suas costas num gesto reconfortante.

- Desculpe-me Tânia... – Falou erguendo levemente o rosto – Esta renovação na empresa está me sugando... – Deu a melhor desculpa que poderia imaginar, afinal não estava tão longe da verdade – Estou preocupado com a efetivação dos novos contratos e... Preciso viajar hoje para Londres, preciso que a nova gerente de contas me acompanhe, mas ela nem começou a trabalhar ainda, são tantos detalhes a se providenciar...

- Shhh shhh shhh – A mulher silenciou o jorro de informações pousando o dedo nos lábios do marido – Eu sei que você está sobrecarregado... Eu posso compreender isso. Não vamos nos abalar por pouco. Nunca tivemos esse problema antes, e isso é passageiro, eu tenho certeza... Se acalme. – Finalizou o abraçando, pousando a cabeça dele em seu colo.

Edward não poderia se sentir pior. Canalha. Não, canalha era pouco.

Se xingou internamente, execrando-se por seus sentimentos.

Como podia não amar sua esposa, que dedicava toda a sua vida a ele, que o compreendia mesmo quando ele mentia descaradamente e usava a empresa como disfarce para suas fraquezas?

Olhou o relógio pousado em seu criado-mudo. Precisava ir para empresa, tomar as providências para a reunião em Londres e deixar as incumbências da semana organizadas e engrenadas, para que nada desse errado em sua ausência.

Levantou-se do colo da mulher em silêncio, seguindo para seu banho enquanto ela dirigia-se ao closet para fazer-lhe a mala.

- Angela, contate a senhorita Dallas, por favor. Preciso falar com ela urgentemente. – Edward solicitou a sua secretária enquanto entrava em sua sala.

- Sim senhor.

Quinze minutos depois, Graice ingressava no gabinete.

- Bom dia, Edward. Como estão os preparativos para a conferência em Londres?

- Tudo está encaminhado. Angela é muito eficiente. – Respondeu de sua cadeira, os olhos nos contratos à sua frente.

- Em que posso lhe ser útil?

Edward suspirou, suprimindo a ansiedade que o acometia.

- A nova gerente de contas começa hoje? – Perguntou com seriedade, voltando-lhe o olhar.

- Sim. Ela chegará em cerca de uma hora.

- Assim que ela por os pés na empresa você a trará aqui. Preciso correr com o protocolo da L’AUBE e ela deve estar por dentro de tudo o mais rápido possível.

- É claro.

- Minha agenda está lotada de compromissos para o dia todo hoje, então solicite a Angela que abra uma janela entre a palestra para os novos supervisores e a conferência com os sócios.

- Como preferir.

A mulher sorriu para o amigo, percebendo sua notória tensão, e se dirigiu rapidamente para a porta.

- E Graice... – Ele falou antes que ela saísse.

- Sim? – Voltou-se para respondê-lo.

- Bom dia pra você também. – Falou com um tom divertido.

Sorriu sutilmente, numa expressão que, ele sabia, sua amiga de anos reconheceria como um pedido de desculpas.

Graice meneou a cabeça, evidenciando sua compreensão, e deixou-o com seus pensamentos.

Uma hora e vinte minutos depois, o interfone soou baixo em sua mesa.

Seu coração perdeu uma batida.

- Sim Angela? – Falou para o aparelho.

- Senhor Cullen, A senhorita Dallas está aqui com a senhorita Swan.

Ele precisou de um segundo a mais para engolir e voltar a falar, disfarçando a tensão em sua voz.

- Faça-as entrar, por favor. – Disse enquanto já se levantava para recebê-las.

O único minuto que sucedeu pareceu se estender por horas, enquanto ele reconhecia a figura que entrava evidentemente hesitante, atrás de Graice, em sua sala.

Observou-a erguer levemente o queixo num gesto que deveria demonstrar segurança, mas que só evidenciou seu estado vacilante.

Edward rodeou a mesa em incredulidade.

Sim, ele estava novamente diante dela. Como o destino era cruel. Debochava de sua dor.

Ignorando completamente o que Graice havia dito naquele momento, Edward não conteve na boca o nome que queimava seu peito, ao qual ele evitara, de todas as formas possíveis, pronunciar durante os últimos onze anos.

- Isabella?

Ele sentiu o nervosismo crescer quando a moça respirou profundamente e sorriu. De imediato sentiu-se hipnotizado por aqueles olhos castanhos, tão familiares.

- Vocês já se conhecem? – Graice perguntou, acordando-o do transe.

- Sim. – Edward falou automaticamente, sem perceber que estava vidrado no rosto de Bella – Somos naturais da mesma cidade. Estudamos na mesma escola...

- Mas que mundo pequeno, não? – A moça o interrompeu num tom que soou rude para ele. Ele não compreendeu.

- Que ótimo! Isso é muito conveniente. Será então muito mais fácil trabalharem juntos. – Graice comentou.

Edward sentiu uma satisfação surpreendente ao se atentar para o fato de ter a ela como sua subordinada.

Sorriu internamente, regozijando o momento do reencontro a que tanto aspirou.

- Bom, eu devo deixa-los agora. Preciso voltar ao meu setor e providenciar sua secretária. – Graice falou se voltando para Bella, que pareceu absorta aos olhos do chefe.

- Ela estará em boas mãos. – Ele falou num tom divertido, intentando disfarçar a imensa alegria que sentia em tê-la ali, em sua frente, depois de tantos anos.

As moças se cumprimentaram e trocaram delicadezas enquanto ele a observava meticulosamente.

Ela estava completamente diferente da moça tímida e insegura de anos atrás. Seu olhar trazia força, altivez em seu brilho. E fisicamente, Nossa! Ela estava deslumbrante. Não que antes ela não fosse uma linda garota, mas agora, com o peso do amadurecimento, seu corpo ganhara formas mais definidas e atrativas, curvilíneas... Formas de mulher.

O som da porta se fechando fora baixo, mas suficiente para chama-lo à razão. Não deveria encara-la daquela maneira insistente.

A tensão evidente intensificou-se com o silêncio constrangido de ambos, enquanto Edward se debatia internamente com seus sentimentos.

- Eu nunca imaginaria que nosso reencontro aconteceria aqui. – Pensou alto – Nem que você ressurgisse em minha vida como minha funcionária.

Ele estava divagando sobre aquela idéia com tanto afinco que nem percebeu que havia ofendido, sem nenhuma intenção, a moça à sua frente.

Apenas quando ela pigarreou baixo e o encarou de maneira arrogante, Edward notou que havia falado demais.

- Eu sou uma profissional. – Falou com seriedade – Estou aqui para desenvolver o trabalho que me for designado. E garanto ao senhor que o farei com competência.

Suas palavras funcionaram como um soco no estômago. Edward se encostou na mesa, apoiando suas mãos na beirada discretamente, tentando não evidenciar a mágoa repentina e surpreendente que sua excessiva formalidade provocou.

- Você não precisa ser formal comigo, Bella. Sou seu chefe, mas nós não podemos fingir que nos conhecemos agora. – Falou perscrutando sua feição fria.

Bella suspirou e mordeu o lábio, num familiar gesto de perturbação.

- Eu respeitarei as formalidades da hierarquia, senhor Cullen. E prefiro que o senhor assim o faça também. O que houve no passado, é passado. Não interferirá nem influenciará no meu trabalho aqui.

Ele ponderou por alguns instantes.

Suas lembranças inundaram seu cérebro com as imagens da despedida, e dos motivos que a levaram a partir.

Seu coração pareceu contorcer-se dentro do peito, e um nó se formou em sua garganta.

È claro que ele havia fantasiado aquele reencontro diferente. Sonhado, dia após dia, ao longo desses onze anos, que ela se jogaria em seus braços reiterando as juras de amor que ambos fizeram, e deixando para trás todo o ressentimento, todas as mágoas.

Mas no fundo ele sempre soube da realidade. Ele sabia da gravidade do que havia e não havia feito, então a reação da moça era perfeitamente compreensível e previsível.

Seu olhar caiu ao chão com o sentimento de derrota.

- Como preferir. – Falou sem encara-la – Gostaria que a chamasse de Isabella, então?

- Senhorita Swan é mais apropriado.

Então era nítido que ela desejava manter o relacionamento no estritamente profissional. Nem mesmo uma amizade, ainda que superficial, ela permitiria que se instalasse entre eles.

Decidiu que era melhor se ater ao que era prioridade.

- Bom, então vamos ao trabalho. – Disse erguendo o rosto sem fita-la, encaminhando-se para sua cadeira – hoje é seu primeiro dia, mas já tenho algumas incumbências a lhe passar.

- Estou à disposição.

- Sente-se.

Edward tentou ser o mais profissional possível, atendo-se aos detalhes que cabiam naquele momento, em caráter de urgência.

Não lhe passou despercebido a hesitação de Bella em viajar. Só não soube definir se era motivada pela surpresa e despreparo ou pelo fato de ter de viajar com ele. Mas a moça conteve qualquer que tenham sido seus pretextos, e saiu em disparada para se organizar.

A ele restou a angústia que lhe comprimia o peito ao perceber que era solitário naquele sentimento que carregava desde os dezoito anos.

Fitou a paisagem urbana exposta por sua parede de vidro, tentando desestimular os anseios que teimavam em tentar emergir de seu âmago em resposta ao retorno daquela criatura em sua vida.


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Notas finais do capítulo

Meninas,
Eu prometo que vou tentar postar o cap de "Antes da aurora" até domingo. Mas se eu atrasar mais um pouquinho, por favor, compreensão, minha bebê tá precisando de mim em tempo praticamente integral!
Saibam que o cap já tá quase pronto, faltando apenas ajustes e um final legal.
Beijokaaaas