Muito além do Desejo escrita por LoaEstivallet


Capítulo 13
Onze anos atrás e mais algumas verdades parte 1


Notas iniciais do capítulo

Vamos fazer uma viagem no tempo....Esta é a primeira parte da história de Bella e Edward há onze anos...Enjoy!



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Naquela mesma tarde, depois do expediente, Bella seguiu para a casa de seu irmão, como combinado no dia anterior ao final do jantar em família que promovera pela chegada da mãe.

Emmet parecera estranhamente preocupado, mas não quis adiantar o assunto que desejava discutir com ela. Por conhecer tão bem o irmão, acreditou que ele notara sua apatia.

Ao estacionar o carro na entrada da casa tão conhecida, respirou fundo e se olhou no espelho.

Ela ainda podia identificar a tristeza no próprio olhar. Àquela hora Edward deveria estar embarcando em seu avião particular, seguindo para Los Angeles, sem previsão de retorno. Aquilo estava mexendo com ela de uma maneira que ela nem pensava ser possível.

Controlou sua respiração, tentando se acalmar. Deu pequenos tapinhas na bochecha para afastar o ar deprimido e saiu.

O próprio irmão lhe abriu a porta.

- Oi pequena... – Ele falou, abraçando-a com carinho.

- Oi ursão... – Ela respondeu em seus braços.

- Vem, vamos entrar... Precisamos ter uma conversa muito séria.

Bella estremeceu com a seriedade na voz de Emmet. Ele costumava ser sempre brincalhão, abusado e espontâneo. Quando ele agia assim, como seu pai costumava agir, sério, cauteloso, era porque o assunto realmente era grave.

- Bella, eu vou te perguntar uma coisa que eu já perguntei há anos atrás e você me respondeu com uma evasiva que não me convenceu, mas eu deixei passar, por acreditar que na hora em que se sentisse à vontade me contaria... – Emmet falou com sobriedade, sentado ao lado da irmã no sofá da sala – Eu preciso que me responda com a verdade.

Isabella sentiu o ar lhe faltar. Será que Alice tinha contado tudo ao seu irmão? Não. Conhecia muito bem a melhor amiga. Ela nunca faria isso.

- O que quer saber, Emm? – Perguntou hesitante.

- O que aconteceu naquele último ano em Forks. Porque você saiu de lá antes de concluir o penúltimo ano, e porque nunca mais quis pôr os pés lá.

- Emm... – Ela tentou escapar – Porque isso agora? Você sabe o porquê, eu expliquei ao papai e à mamãe... Falei pra você. Eu já viria de qualq...

- Não tente me enrolar mais Isabella! – Emmet a interrompeu, fazendo soar em sua voz toda a sua autoridade de irmão mais velho – Eu sei o que aconteceu entre você e Edward Cullen.

Bella arregalou os olhos em surpresa.

- A-Alice lhe contou? – Questionou estarrecida.

- Alice sabe? – Emmet perguntou com indignação – Eu sei que ela é sua melhor amiga, mas... Eu sou seu irmão! Nós sempre contamos tudo um ao outro! Como pode ter contado a ela e não a mim?

Apesar da angústia, Bella expirou em alívio. Sua amiga lhe fora leal, como sempre, afinal.

- Emm, o que, e como, você sabe?

- Você vai me contar?

Ela suspirou.

- Vou.

- Eu sei de tudo... E... Edward é um grande amigo... Foi meu colega de Clarkson.

Bella assimilou aquilo por alguns segundos.

- Mas... Como? Ele... Ele não fez fisioterapia, até onde sei, e... Você já estava na universidade quando ele entrou...

- Nós nos conhecemos na fraternidade... Ele era um calouro quando nos tornamos amigos. Nos falamos até hoje, quase todos os dias. Nos vemos muito pouco, mas eu me abro com ele sempre que tenho um problema, assim como ele faz comigo.

A boca de Bella abriu-se sem seu comando consciente. Ela estava pasma.

- Ele... Ele sabe que você é meu irmão?

- Ficou sabendo há uns dias... Nos encontramos num restaurante por coincidência e, no meio da conversa eu falei que minha irmã estava trabalhando na empresa dele, coisa que tinha acabado de descobrir... Então ele ficou confuso, me disse que não se lembrava de nenhuma Dwyer... Eu expliquei que você não tem o sobrenome da mamãe e disse seu nome. O resto você pode deduzir.

Bella recostou no sofá, chocada.

Coincidência em cima de coincidência, o destino parecia mesmo querer junta-los novamente.

- E então? – Emmet a interpelou – Vai me contar ou não?

- Porque quer que eu conte se você já sabe? - Ela perguntou com a voz fraca, ainda confusa.

- Eu conheço a versão dele. Quero conhecer a sua.

Bella estreitou os olhos, muitíssimo interessada.

- Você me conta a versão dele depois? – Barganhou.

- Depois. – Emmet sentenciou, arqueando uma sobrancelha.

Isabella cruzou os braços em frente ao peito, numa tentativa vã de se proteger da dor que sabia que viria ao relembrar seu passado doloroso.

Fechou os olhos antes de respirar devagar, e finalmente começar a contar a história.

Onze anos atrás...

- Bom dia pai... – Bella cumprimentou, assim que Charlie surgiu com a expressão cansada na cozinha – Chegou tarde ontem.

- Foi dia de contagem, querida. Sabe como são essas coisas. Mas você não está atrasada pra escola?

- Não. Não tenho a primeira aula hoje. A senhorita Lewis está fora num congresso. Mas já estou de saída. Vou ficar estudando na biblioteca. Tem alguns assuntos que eu preciso rever...

- Tudo bem, meu amor... Ah, seu irmão ligou ontem, logo depois que cheguei.

- O Emmet sempre liga tão tarde...

- Ele está na universidade agora, Bells... Tem aulas o dia todo... Vai para festas com os amigos à noite... Sabe como é seu irmão. Ele pediu que você ligasse hoje, assim que chegasse da escola.

- Tudo bem, eu faço isso. – Falou se levantando e jogando a mochila nas costas – Agora tenho que ir. Até a noite, pai.

- Até querida.

Isabella entrou na biblioteca concentrada no livro que procuraria, não percebendo o garoto que vinha apressado, com o rosto enfiado num exemplar de “matemática aplicada”.

Eles se esbarraram com certa violência, indo os dois ao chão.

Bella sentiu sua respiração falhar miseravelmente ao notar os olhos verdes daquele garoto a fitarem com tanta intensidade.

- Me desculpe, eu... – Ela começou, já corando.

- Não, me desculpe você... – Ele a interrompeu com delicadeza, pondo-se de pé e lhe oferecendo a mão para ajuda-la a levantar – Eu vinha tão distraído que não te notei.

- Normal – Ela murmurou desconcertada – Ninguém me nota.

O rapaz sorriu, deslumbrando ela com sua beleza.

- Eu não acredito muito nisso – Ele falou ainda sorrindo – Você não é do tipo de garota que não se nota... Muito pelo contrário.

Ela corou ainda mais, pelo tom sedutor que ele usara e pelas palavras elogiosas que eram tão novas para ela.

- Meu nome é Edward...

- Cullen! – Ela completou num murmúrio, alarmada.

Ele era um dos rapazes mais ricos e assediados da escola, da cidade, do estado! Como ela não o havia reconhecido?

Ah, sim. Talvez pelo fato dele ser do último ano, andar com o grupo de populares da escola e nunca ter cruzado com ela na vida.

Ela já o havia visto algumas vezes, mas sempre de longe, e nunca prestara muita atenção. Afinal o que ela ganharia observando um garoto daquele? Provavelmente um coração partido e algumas humilhações.

- E você é...? – Ele perguntou, ignorando o jato de questionamentos internos da menina.

- Isabella... Isabella Swan.

- Prazer, Isabella. – Ele falou, estendendo-lhe a mão mais uma vez, num gesto simpático.

- Me chame de Bella... – Ela falou acanhada – Eu não gosto muito do meu nome.

- Deveria... – O rapaz replicou – É um nome muito bonito, assim como a dona. Mas acho que Bella faz mesmo mais sentido.

Ela sorriu, em resposta ao sorriso torto e hipnotizante dele.

- Você é do primeiro ano? – Ele perguntou, parecendo muito interessado.

- Não – Ela respondeu achando graça. Ela sabia o quanto parecia mesmo uma garotinha com seu corpo de tábua e seu rosto inexpressivo – Eu estou no penúltimo.

- E porque eu nunca te vi antes? – O tom do menino foi quase indignado.

- Talvez porque eu não faça parte da elite da escola. – Ela falou irônica – Ou porque eu vivo escondida aqui, até que minha redenção chegue.

Ela não sabia por que estava sendo tão sincera com aquele riquinho esnobe, mas não conseguia se deter.

- Redenção? – Ele perguntou confuso.

- A formatura. – Ela respondeu como se aquilo fosse óbvio.

- Ah... – Edward murmurou sem graça – Você vai embora...

- Sim. Assim que conseguir concluir esse suplício.

Ela riu, se entretendo com a expressão divertida dele, e ele a seguiu, fazendo-a se arrepiar com sua gargalhada rouca.

Bella então se abaixou para pegar sua mochila e o livro dele.

Ele a impediu, segurando seus braços.

- Deixa que eu faço isso. – Ele falou já recolhendo tudo.

Ela leu o título do livro que ele segurava e sorriu.

- Matemática aplicada? – Perguntou em tom zombeteiro.

Ele pareceu notar, mas educadamente disfarçou.

- Eu adoro matemática. Qualquer coisa relacionada com números e problemas a serem solucionados me interessa. – Falou sério.

- Você será um ótimo administrador então... – Ela concluiu – ou contador, ou estatístico...

- Eu quero administração. Seguir os passos do meu avô é o meu objetivo. – Falou com segurança, surpreendendo-a.

Ela nunca imaginou que um garoto como ele seria tão cavalheiro com uma menina como ela. Nem que ele seria inteligente e interessado em algo que exigiria tanta dedicação e estudo. Afinal ele era rico. Não precisava se preocupar em estudar ou mesmo trabalhar.

- E você... O que pretende fazer? – Ele indagou, acordando-a de suas divagações.

- Administração também. – Respondeu dispersa.

Ela ainda não entendia porque ele continuava ali, puxando conversa, quando tinha uma turma de amigos populares e cobiçados e um bando de garotas arrasadoramente lindas esperando por ele.

Seu estômago se retorceu em uma ansiedade desconhecida.

Teve medo de algo que não soube definir.

- Então você também é boa em matemática? – Edward perguntou com um ar levemente descrente.

- Acho que sim. – Bella respondeu séria – Eu... Tenho que ir. Tenho algumas coisas pra estudar antes do segundo horário.

O rapaz pareceu um pouco insatisfeito aos olhos dela, mas Bella achou melhor não dar vazão àquilo. Uma amizade entre duas pessoas de mundos tão distantes não poderia dar em algo que prestasse.

- Tudo bem. Não vou te atrapalhar mais... – O garoto falou, num tom que Bella não reconheceu – Te vejo por aí?

- Claro, claro – Ela respondeu nervosa – A gente se bate pela escola.

- Tchau, Bella. – Ele disse, lhe entregando a mochila.

- Tchau.

Naquela tarde, depois de falar com seu irmão por horas, Bella deitou em sua cama, se forçando a parar de pensar naqueles olhos verdes.

- Mas que droga! – Esbravejou para as paredes – Porque que eu não consigo parar de pensar nele? Isso era tudo que eu não precisava! Me interessar por um garoto que está totalmente fora do meu alcance... Mas que droga! Droga!

Passou assim o resto de seu tempo, indignada consigo mesma por permitir que aquilo acontecesse.

Nunca na vida tinha se interessado por alguém. E a primeira vez tinha que ser por um rapaz que era proibido pra ela?

O que piorava a situação era pensar na possibilidade dele ter se interessado também.

Ele demonstrara uma curiosidade além do normal sobre ela. E, aparentemente, teria prolongado a conversa se ela não o tivesse interrompido, estimulada por sua imensa insegurança.

Passou a mão pelos cabelos tentando se acalmar. Era só um deslumbramento passageiro, tentou se convencer. Afinal ele era realmente bonito e sedutor, com seu cavalheirismo e inteligência.

Sacudiu a cabeça ao lembrar do sorriso do garoto.

- Mas que droga!

No dia seguinte, ao estacionar sua caminhonete decrepita em uma das vagas do Forks High School, Isabella se pegou extremamente ansiosa para ver o sorriso brilhante de Edward Cullen.

Beliscou o próprio braço em repreensão, não notando a aproximação do rapaz.

 - Ai... – Gemeu baixinho, esfregando o local que ela mesma havia machucado.

- Você é masoquista? – Uma voz rouca num tom divertido soou em suas costas.

Bella se virou incrédula, dando de cara com os olhos de esmeralda com que sonhara toda a noite.

- O-oi... – Cumprimentou envergonhada – Eu só... Só estava testando uma coisa.

Se chutou internamente pela desculpa ridícula que havia inventado. Se ele não achava antes, agora com certeza a acharia uma estúpida sem noção.

Edward riu.

- Você é estranha, Bella Swan... – Falou brincalhão – E eu me sinto estranho perto de você...

Bela engoliu em seco a intensidade com que ele disse aquilo. O olhar dele parecia ler tudo que ia em sua alma. Ela se sentia nua.

- Eu queria saber se pode me ajudar... – Ele sondou – Sabe, você disse ontem que é boa em matemática, e eu tenho tido alguns problemas com a matéria...

- Você afirmou ser bom com números... – Ela cortou.

- Eu disse que adoro matemática, que me interesso pela disciplina, não que sou bom nela.

Bella recordou suas palavras no dia anterior, e constatou que ele estava certo.

- É verdade. – Falou desconcertada, mordendo o canto do lábio inferior.

Edward pareceu distraído por um momento, os olhos desfocados. Mas logo picou seguidamente, encarando-a com um sorriso.

- E então? Pode me ajudar?

Bella se sentiu angustiada. Aquilo só pioraria seu estado. Passar algum tempo com ele lhe daria mais situações em que pensar e estimularia mais seu interesse, que já passava um pouco além do aceitável.

Mas o que ela teria a perder mesmo? No fim do ano ele iria embora da escola, provavelmente se mudando para uma grande cidade, ou talvez para outro país. Ele não desfilaria com ela pelos corredores, provavelmente nem contaria a alguém que estavam se encontrando, ninguém saberia. Sua vida absolutamente antissocial não mudaria muito. Ele só estava pedindo uma ajuda afinal. Algumas aulas na biblioteca e ele esqueceria dela em dois tempos.

- Tudo bem... – Aquiesceu, sentindo o coração palpitar – Do que precisa?

Edward sorriu um sorriso inquietante, fazendo Bella quase engasgar com as borboletas que sentiu em seu estômago.

“Oh, merda... Eu acho que tô me apaixonando...” Pensou.

- Eu posso te pedir uma coisa? – Edward interrompeu a explicação de Bella sobre logaritmos.

Havia uma semana que eles se encontravam na biblioteca todos os dias, depois do final das aulas.

Cada dia mais Bella se via atordoada com as sensações novas e desconcertantes que Edward lhe provocava.

Tentava escapar do sentimento crescente em seu peito, mas estava ficando cada vez mais difícil impedir a queda. Era impossível não se apaixonar por ele. E durante as duas horas que passavam juntos, ela se via desejando tocar-lhe a face, os cabelos, os lábios...

Às vezes ela tinha um vislumbre de interesse por parte dele, mas se repreendia, não querendo se iludir. Um garoto como Edward Cullen não se interessaria por alguém tão insignificante quanto ela.

- Posso? – Ele repetiu a pergunta, enquanto ela tentava se concentrar em alguma outra coisa que não fosse a intensidade no olhar dele.

Como não confiava em sua voz, ela preferiu apenas assentir com um movimento de sua cabeça.

- Toma um sorvete comigo?

Bella, surpresa, entendeu o pedido, mas não acreditou.

- Hã?!

- Toma um sorvete comigo, hoje, quando a gente sair daqui. – Ele falou devagar, como se explicasse algo muito complicado a uma criança.

Bella ponderou as palavras dele. Ele estava convidando ela para um encontro?

As palavras saíram sem que ela se desse conta.

- Você está me convidando para um encontro? – Perguntou alarmada e incrédula, se indignando com sua gafe logo em seguida.

- Não. – Ele falou parecendo constrangido – Ainda... – Completou rapidamente, retorcendo os dedos das mãos.

Bella prendeu a respiração inconscientemente. Ele disse que não, mas frisou o “ainda”...

- Bom... – Ela tentou parecer tranquila – Tudo bem... Eu não vou fazer nada mesmo depois daqui.

Edward sorriu, e ela sorriu em resposta, represando o jorro de emoções que a inundavam naquele momento.

- Foi legal... – Edward falou, em pé em sua frente, no degrau logo abaixo de onde ela estava.

Ele havia seguido seu carro até sua casa, apesar dos protestos dela. Seu argumento fora a noite já escura e deserta. Bella insistiu que conhecia Forks bem demais, e não existia a mínima possibilidade de se perder no caminho curto até seu bairro, mas Edward fingiu não ouvir, acompanhando-a de perto em seu volvo reluzente.

Ela não podia negar que estava se sentindo radiante com tanta atenção por parte dele. Mas seu coração se retorcia com o receio de se magoar. Ela estava tão envolvida...

- É... Foi legal... – Bella concordou, perdida nos olhos verdes tão profundos de Edward.

- Eu gostaria de repetir a dose... Se você quiser...

Ela apenas meneou a cabeça positivamente, perturbada com a proximidade de seus rostos.

Edward estava exatamente de sua altura, apesar de estar no degrau mais baixo da pequena escada. Ela podia sentir o aroma fresco de seu hálito, que a entorpecia.

Num gesto inesperado, mas muito, muito delicado, o rapaz deslizou a ponta dos dedos em sua bochecha, fazendo-a suspirar em meio ao rubor.

- Você é linda, Bella... – Edward murmurou, já um pouco mais próximo – Eu me sinto... Como se fosse sugado por seus olhos... Eles me fascinam...

Bella prendeu a respiração, antevendo o que aconteceria.

Ela esperou, descrente e ansiosa, reprimindo o conflito de emoções para se ater aos movimentos dele.

Edward moveu a mão vagarosamente até a nuca dela, envolvendo-a com firmeza, fazendo-a sentir um arrepio desde a base da coluna até o alto da cabeça. A puxou com suavidade, fitando seus olhos com veemência, até que seus lábios se tocaram.

Bella não sabia muito o que fazer, era seu primeiro beijo.

Ela ansiara tanto por aquilo que não se lembrara de sua falta de experiência.

Teve medo que ele notasse e desistisse. Agora que sentira o sabor de sua boca, não queria perder aquilo.

Imitou os movimentos brandos que ele fazia, seguindo seu ritmo. E logo seus lábios se encaixavam com perfeição e se moviam em sincronia, provocando uma aceleração exacerbada no coração de Bella.

Durou mais do que ela pensara que duraria, e quando afastaram os rostos, ela notara que estavam abraçados. Nem sabia quando tinha envolvido o pescoço dele, ou quando os braços fortes do rapaz haviam lhe rodeado a cintura.

Ela se surpreendeu ao perceber a respiração acelerada de Edward, que sustentava nos lábios um sorriso quase vitorioso.

- Agora eu posso confessar... – Ele sussurrou em seus lábios, intercalando palavras e selinhos.

Bella o olhou confusa.

- Eu nunca precisei de sua ajuda com matemática... – Ele admitiu constrangido – Não fique zangada comigo... Mas foi a única idéia que eu tive pra me aproximar de você... Eu não consegui tirar você de minha cabeça desde que a gente se esbarrou na biblioteca...

Bella arregalou os olhos involuntariamente, deliciando-se com a constatação de que ela estava certa o tempo todo. Não se iludira. O que havia enxergado desde o primeiro dia era mesmo interesse.

- Eu nunca senti isso, Bella... E tão rápido. Já fiquei com algumas garotas, mas... Não é conversa, acredite... Com você é diferente. Eu nem sei bem explicar...

Ela sorriu, feliz por ser correspondida em sua primeira paixão.

O olhar que Edward lhe direcionou pareceu aliviado.

- Tudo bem... Eu acredito em você. – Ela disse, se controlando pra não gritar e pular de alegria na frente dele.

Edward a apertou um pouco mais contra si, iniciando outro beijo, agora um pouco mais profundo, levando Bella às nuvens.

Bella estava sentada no banco de uma das praças mais desertas de Forks, esperando por Edward.

Sua cabeça dava voltas e mais voltas com suas indagações obsessivas.

Era fato que ele gostava dela, ela podia ver isso na maneira como a tratava, como falava com ela, como a olhava... Mas o fato dele nunca se aproximar na escola, nunca leva-la aos lugares onde os amigos dele estavam, nunca tê-la apresentado a algum deles, a incomodava.

Eles já estavam juntos há dois meses afinal.

Ele ainda não a tinha pedido em namoro, mas eles se viam todos os dias, depois das aulas e depois do jantar... Nos finais de semana passavam o dia todo juntos, ou em La Push, em alguma das praias desertas da reserva, ou iam até Port Angeles, assistir a um filme ou comer em algum restaurante.

Bela inventava desculpas para seu pai, criando amigas que não existiam ou passeios solitários para espairecer a mente estafada pelos estudos. Claro que Charlie acreditava, visto que Bella nunca mentira na vida. Pelo menos até agora.

Ela sabia que Edward não a estava enganando, ou mantendo um romance paralelo com ela e mais alguma garota, já que os boatos sobre ele corriam à solta no colégio. Se ele estivesse com alguém, todos saberiam e isso chegaria aos ouvidos dela.

Então uma questão inquietante a assaltou.

Ninguém sabia dela. Logo o fato de todos afirmarem que ele estava solteiro não queria dizer nada. Se ele a escondia, podia muito bem esconder outra também.

Mas a mais provável, e humilhante, suposição era que sua condição de “nerd transparente” estivesse determinando a atitude do rapaz. Obviamente que o fato dela também ser filha do dono de uma farmaciazinha, um homem divorciado e sem status ou dinheiro, fazia toda a diferença.

Bella se levantou indignada. Estava fazendo papel de idiota.

Começou a andar em direção à calçada para ir embora quando sentiu a mão quente de Edward em seu pulso.

- Hei... Eu nem estou atrasado... Porque não ia me esperar?

Ela se voltou para ele com os olhos marejados, a raiva cingindo sua expressão. Percebeu Edward arregalar os olhos, reagindo com surpresa à sua atitude incomum.

- O que houve, Bella? – Perguntou com o cenho franzido – Está chateada?

- Você ainda pergunta?

Sua voz soou embargada e colérica ao mesmo tempo, e ela segurou as lágrimas com dificuldade.

Edward segurou-lhe o queixo.

- O que tá acontecendo? – Perguntou com cautela – Está aborrecida comigo? O que eu fiz?

- O que você não fez...

- Eu não tô entendendo...

- Você tem vergonha de mim, não é? – Ela indagou, quase enfurecida.

Edward emudeceu por alguns segundos, ficando claramente desconcertado.

Bella tomou aquilo como uma confirmação.

Se soltou dele e passou a caminhar a passos largos, as lágrimas deslizando por seu rosto.

- Bella, espera... – Ela o ouviu gritar.

Não olhou pra trás. Continuou a andar trôpega, tentando não cair.

Em determinado momento passou a correr. Corria feito uma desesperada. A dor e a humilhação lhe esmagando o peito.

Como fora estúpida em acreditar que Edward Cullen a levaria a sério a ponto de lhe assumir.

Inesperadamente se sentiu puxada de forma brusca.

Edward a segurou pelo braço, fazendo-a se voltar para ele.

- Escuta, droga! – Ele falou arfante – Eu tô apaixonado por você! Eu te amo! Não tenho vergonha, eu só quis te proteger, nos proteger...

Ela não acreditava nos próprios ouvidos. Ela dizia que a amava?

Se refez da surpresa, segurando a raiva dentro de si como um bote salva-vidas.

- Proteger do quê? – Perguntou esbravejando.

- Eu não tenho a melhor reputação do colégio, Bella... Antes de você aparecer eu... Eu fiquei com muitas garotas... Garotas como eu, do meu círculo de amizades... Eu ando no meio dessas pessoas e sei como elas podem ser cruéis... Principalmente se sentirem que existe uma ameaça a elas...

- Eu não sou ameaça a ninguém, Edward! Eu sou ninguém!

- Você é alguém pra mim... Alguém muito importante que eu não quero arriscar perder...

Ela o encarou cansada. Da corrida, da discussão, de sua mágoa.

De certa forma o que ele dizia fazia sentido.

- Eu tenho medo do que essas pessoas podem fazer pra me separar de você, apenas pelo simples prazer de te espezinhar por você não fazer parte da “elite” – Ele disse em tom de desprezo – Eu não me importo com o que eles pensam... Só não quero colocar em evidência o que tenho com você. Se eles notarem o quanto você é importante pra mim... Eu nem quero pensar no que eles são capazes...

- E você quer manter amigos assim?

- Eles não fazem por mal, Bella... Não são pessoas ruins. Apenas são assim, porque foram criados pra serem assim. Até pouco tempo atrás eu era como eles... Você me fez mudar... Mas eu não quero arriscar nosso relacionamento só pra fazer vista à escola toda que você é minha namorada... Eu prefiro...

- O quê? – Ela o interrompeu.

- Não quero que a escola saiba que namoramos. Eu prefiro manter isso protegido.

- Espera... – Ela pediu confusa – Você disse, namorada?

- É o que você é... Minha namorada. Ou não?

- Eu não sei... Sou? Você nunca me pediu.

- Desculpe... Eu não achei que precisava. Eu não desgrudo de você... Achei que estivesse meio óbvio. – Ele falou dando de ombros, num tom culpado.

- Não me importo tanto com isso. – Ela falou já mais calma – Mas quando você diz “protegido” na verdade quer dizer “escondido”. E isso me mata.

Edward se aproximou dela, certo de que agora ela não o repeliria. Contornou sua cintura com os braços.

- Eu posso exibir você pra todo mundo amanhã então, se você precisar disso pra ter certeza de que eu te amo...

- É a segunda vez que você diz que me ama... – Bella murmurou, quase esquecendo o motivo de sua chateação.

- Eu te amo... – Ele repetiu – Muito. Eu nunca amei ninguém... E acho que nunca vou amar mais alguém além de você...

- Não me iluda, Edward... – Bella choramingou.

- Não tô te iludindo... Eu só não quero... Não posso perder você... Eu faço o que você quiser, Bella. Eu coloco no jornal da escola que estamos namorando... Eu só mantive segredo até agora pra nos preservar... Mas se você quiser...

- Tudo bem, Edward... – Bella aquiesceu, convencida – Se você acha que é o melhor, eu confio em você...

Então ele a beijou, sôfrego, quase desesperado. Parecia estar com medo de alguma coisa.

Bella correspondeu ao beijo, sentindo no peito uma angustia estarrecedora.

Colocou a emoção de lado, repetindo incessantemente a si mesma que deveria esquecer seus receios e aproveitar o amor que Edward lhe oferecia sem pedir nada em troca.


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