- até que enfim, vocês voltaram! Eu já estava suando frio aqui. – Mikey disse sorridente quando meu viu no colo do Gerard.
- nós precisávamos de um minuto a sós, Mikey. – Gerard disse tranqüilo. – você sabe... recuperar o tempo perdido. – ele riu e eu dei um leve tapa no braço dele.
- Mikey, muito obrigada por tudo. Você foi um verdadeiro anjo. – eu disse já de pé no chão.
- eu? Eu não fiz absolutamente nada. – ele respondeu cínico, com um sorriso no canto da boca.
- o Gerard me contou tudo sobre a carta. Ele não sabia que você me mostraria. Você salvou nossas vidas. – eu olhei pro lado e Gerard me encarava com os olhos molhados.
- obrigado, meu irmão. – Gerard e Mikey se abraçaram forte e eu deixei escorregar mais algumas lágrimas. Dessa vez de alegria.

Voltamos pra casa e deixamos Mikey na entrada da porta.
- pra onde vocês vão agora? – ele perguntou inocente.
- ter de volta tudo o que perdemos longe um do outro. – Gerard disse sorrindo. – O nosso amor.
Nos beijamos apaixonados e nem vimos quando Mikey deu as costas e saiu de fininho.

Gerard parou o carro em frente ao edifício onde morávamos. Eu olhei pra ele e a incerteza estava estampada na minha cara.
- não precisa ficar assim. Eu nunca a trouxe aqui. Eu nunca faria isso com toda a nossa história.
- você fala sério? Ela nunca conheceu nosso apartamento? – ele me olhou no fundo dos olhos e colocou as mãos nos dois lados do meu rosto, fixando nosso olhar.
- não. Eu nunca estragaria todos os momentos que passamos aqui, juntos. Esse lugar é só nosso e unicamente de nós dois. – ele sorriu um instante e desviou o olhar pra minha barriga. – quero dizer... de nós três.
Eu sorri ao ter certeza de que ele falava a verdade. Seus olhos não mentiam. Ele ainda me amava como antes, eu não tinha mais dúvidas.

Subimos até nosso apartamento e tudo estava exatamente igual à última vez que estive ali. Nada fora do lugar, nem mesmo o controle remoto da tv. Parecia que ele nunca mais tinha voltado ali. Ele estava lendo meus pensamentos...
- eu não vim mais aqui desde aquele dia no hospital. – ele terminou a frase com dificuldade. – eu não agüentaria passar por tudo aquilo. – ele abaixou a cabeça triste e eu levantei seu rosto com um dedo.
- não importa. Nada mais importa. Vamos esquecer tudo o que passou. Agora estamos juntos e nada nem ninguém irá nos separar novamente. – era como se eu estivesse junto com ele no momento em que ele tinha dito a mesma coisa à sua mãe, há tempos atrás... Eu repeti a sua fala.
- eu te amo, Annabelly. E amo você também, meu filho. Ou filha. – nós sorrimos e demos início a mais um de nossos beijos.
O celular dele começou a tocar insistentemente, desviando nossa atenção. Nós nos encaramos, eu com aflição e Gerard irritado. Quando ele viu quem era, eu pude ver também e me senti pior do que ele.
- você não vai atender? É a sua mãe. – eu tentei não parecer irritada, mas foi em vão.
- eu não faço mais parte da vida dela. – ele desligou o telefone e voltamos a nos beijar.

*~*

Como não podia deixar de ser diferente, Jessy se sentou conosco à mesa e eu tive que contar tudo o que tinha acontecido pra ela. E quando eu digo tudo, é ‘tudo’ mesmo. Eu não podia omitir nenhum detalhe. Ela era terrível.
- mas então as duas estavam mentindo? Como elas tiveram coragem...
- é o que parece, Jessy. Minha mãe e Alexia são amigas desde que nossos pais se conheceram. Eu não tenho dúvidas de que elas armaram tudo isso. – Gerard disse com cara de quem ainda tinha algumas dúvidas.
- ela deveria ser presa, isso sim. – Jessy bufou. Ela sempre adorou me defender...
- Gerard, nós precisamos ir. Minha mãe deve estar preocupada. Eu não falei com ela desde ontem de manhã.
- tudo bem. Vamos então.
- passe lá em casa depois pra gente conversar mais, ok?
- pode deixar. Eu vou te visitar quando o bebê nascer.
Nos despedimos dela e saímos da lanchonete. Do lado de fora, eu me senti estranha. Um calafrio passou pelo meu corpo e eu fiquei tonta.
- Anny, o que foi? – Gerard perguntou preocupado.
- eu não sei. – respondi ainda passando mal.

Quando olhei pro lado, virando a esquina vinha uma pessoa que reconheci de imediato. Meus olhos faiscaram de raiva e percebi que Gerard estava do mesmo jeito. Mas não pra ele, e sim para a mulher que o acompanhava. Eu não a tinha reconhecido de primeira, pois ela estava usando um grande chapéu e óculos escuros. Eles não pareciam ter percebido nossa presença a poucos metros de distância e continuavam a conversar animadamente enquanto caminhavam em nossa direção.
Olhei pra Gerard e ele estava com o olhar fixo nela. Segundos se passaram até eu me dar conta de que Gerard já não estava mais ao meu lado. Ele estava mais a frente, caminhando até onde os dois cúmplices estavam.

O frio estranho percorreu meu corpo novamente. Algo não estava certo.

*~*